Archive for 2019
Notas do Autor - Capítulo 20
E ainda deu tempo de postar um último capítulo nesse ano de 2019! kkkkkkkkkkk
Eu queria ter terminado a Omega Saga esse ano, depois as coisas foram se enrolando e passei a almejar pelo menos concluir o arco de Slateport até esse período acabar, mas não deu. Ficou faltando um capítulo pra alcançar a segunda meta, mas pelo menos podemos terminar mais esse ano com a certeza de que a fic caminha bem apesar dos imprevistos, e vamos com foco total para fechar essa primeira temporada em 2020, quem sabe ainda no primeiro semestre.
Este vigésimo capítulo (olha só, consegui chegar a 20 de novo!) trouxe uma reviravolta que até mesmo eu fui pego de surpresa. Vou confessar a vocês uma coisa. Não era pra revelação da identidade da Miriam pra Ruby e Sapphire acontecer na Omega Sala. Ela a princípio aconteceria logo no começo da Alpha Saga, daria um burburinho tremendo que ia rachar o trio e os separar por um longo tempo. Mas eu simplesmente não consegui encontrar uma maneira de separá-los. Acho que os três se destacam muito bem juntos, cada um extrai o melhor dos outros dois. É uma química que mesmo vocês leitores têm percebido e comentado comigo lá no Discord. Passei a perceber o quanto o Ruby precisa da Sapphire e da Miriam, o quanto a Sapphire precisa do Ruby e da Miriam, e o quanto a Miriam precisa do Ruby e da Sapphire. Então meu plano de fazê-los brigar nessa altura da história acabou indo por água abaixo kkkkkkkkkkk Óbvio que eles deverão enfrentar desavenças futuramente, mas acho que o momento não era esse. Logo, adiantei um pouco mais essa questão da Miriam. Pelo menos já amarra essa ponta solta logo. Então já vamos avançar com isso e resolver essa história mal contada de uma vez por todas.
Esse capítulo foi uma contribuição de Hoenn para o evento da equipe chamada Ethan Week — pelo próprio nome vocês já percebem que foi ideia daquele louco do Dento. Mas se por causa dele consegui postar mais um capítulo, então valeu a pena kkkkkkkk Fora que o Ethan combina bem com as loucuras que acontecem em AEH, apesar de que dessa vez ele quase jogou três adolescentes na fila da forca... Tomei bastante cuidado para não fugir da essência do personagem. Claro que teve mudanças na personalidade por ele ter envelhecido um pouco, mas sempre consultei o Dento para ter certeza de que as características mais marcantes estavam sendo mantidas. E ele disse que estava tudo certo, não apontou nenhum erro. Espero que pra vocês tenha ficado assim também.
No mais eu só posso desejar a todos um ótimo fim de ano. Que a gente consiga em 2020 fechar essa bendita primeira temporada, e que Ruby, Sapphire e Miriam continuem amadurecendo, assim como todos nós.
Valeu, galera! Agradeço muito a quem tem se mantido firme até aqui.
A gente se fala! õ/
Capítulo 20
Pânico no museu!
Ruby e
Sapphire voltavam de uma manhã de treinos na Rota 110, pois o garoto se
preparava para seu próximo contest. Miriam não havia acompanhado a dupla.
Preferiu ficar no Centro Pokémon dizendo que havia acordado se sentindo indisposta.
Com a
competição se aproximando o menino ficava mais nervoso. Seu humor estava
bastante instável, pois agora sentia cada vez mais o peso de ser visto como um
novato promissor após sua atuação em Rustboro. Repetir o resultado anterior,
porém, não seria o suficiente. Era preciso vencer desta vez para manter viva a
chance de conseguir uma vaga no Grande Festival.
— Vai
ser um contest focado em batalhas dessa vez, não é? — Sapphire tentava acalmar
o companheiro ajudando-o a pensar na melhor estratégia. — Por que não tenta
usar o Treecko agora? Ele parece te obedecer quando é algo mais voltado para
combates.
— O
problema é como eu vou convencê-lo a batalhar usando os golpes de forma
artística. Ele é um metido a brutamontes. Não sei se vai topar a ideia.
— Tudo
depende de como você vai lidar com ele. Você tem que dar espaço pra ele se
sentir ouvido também. Tenho certeza que se um respeitar o outro as coisas vão
caminhar pra frente. A minha relação com o Torchic melhorou de uns tempos pra
cá, apesar de ainda ter que corrigir algumas coisas. E ele parece ser mais
cabeça dura do que o Treecko.
— Não
sei, Sapphire. Eu tenho medo de usá-lo em um contest e passar vergonha por ele
não querer me obedecer. Mas a Skitty não se daria bem em uma competição de
batalhas como essa, e a Clamperl ainda não tive tempo de ver quais os atributos
que ela tem.
Os
dois começaram a caminhar de volta para Slateport. Já se aproximava do meio-dia
quando chegaram ao do Centro Pokémon e foram surpreendidos por Ethan saindo às
pressas pela porta da frente.
—
Aonde você vai? — Sapphire perguntou, fazendo o rapaz parar de imediato.
—
Parece que aconteceu alguma coisa no Museu Oceânico. Eu vou lá olhar. Se
quiserem ir depois a gente se encontra, eu vou adiantar aqui, fui!
Os
dois ficaram observando o garoto sumir de vista ao dobrar a esquina. Ruby já
estava estranhando a situação, e seu descontentamento ficou evidente quando
mais uma vez o ímpeto de sua amiga o deixou com um mau pressentimento.
— Eu
quero ir lá.
— Alô,
Terra para Sapphire! Eu não sei se ficou muito claro para você, mas o Ethan
acabou de dizer que aconteceu um problema lá. O que é que você quer fazer indo
até o local? Pode ser perigoso.
—
Ethan é um treinador experiente e já teve alguns feitos incríveis quando
viajava como a gente. Não sei se você sabe, mas ele esteve envolvido em vários
incidentes com a Team Rocket em Johto.
— E
você acha que vai me convencer a ir até lá agora que disse que ele é um ímã de
catástrofe?
Da
porta do Centro Pokémon saiu Miriam, visivelmente desanimada e aparentando
estar sem energia. Provavelmente não havia dormido bem aquela noite. Com
olheiras profundas e o cabelo levemente desarrumado a mais velha encarou os
outros dois com seu semblante de má vontade.
— O
que vocês dois estão discutindo?
— Miriam,
eu sei que dentro dessa sua cabeça existe um pouco de juízo! — esbravejava
Ruby. — Poderia convencer Sapphire de que é uma má ideia irmos até um lugar que
o Ethan claramente disse que está com algum problema acontecendo?
— Onde
é?
— O
Museu Oceânico — Sapphire respondeu.
—
Vamos lá ver o que houve, eu não aguento mais ficar aqui sem nada pra fazer.
Acho que pegar um pouco de ar e ver alguma novidade vai me ajudar a ficar
melhor.
As
meninas saíram andando na frente, deixando apenas Ruby observando perplexo as
duas se afastarem.
— Isso
é algum tipo de brincadeira? — gritou. — Eu tenho cara de idiota?
Chegando
ao local se depararam com fitas da polícia para conter a aproximação de pessoas
curiosas. Ao verem as autoridades o trio percebeu que a situação era bem mais
séria do que imaginavam. Poderiam estar lidando com criminosos. Não só isso,
mas todo o cenário ao redor os levava a crer que se tratava de uma crise
envolvendo até mesmo reféns.
Estavam
tentando olhar para o interior do museu, mas as cortinas haviam sido fechadas
de forma a impossibilitar a visão do prédio. Perceberam então um chamado de
Ethan, que estava na esquina escondido atrás da parede do prédio.
— Aqui,
rápido! — chamou o rapaz.
Os
três se aproximaram dele, que os levou para fora do campo de visão das pessoas
que se aglomeravam na fachada do museu. Se certificando de que não estavam
sendo vistos ou ouvidos, Ethan começou a falar.
—
Parece que tem alguns baderneiros arrumando confusão lá dentro. O que acham de
invadirmos o local e botar pra quebrar?
—
Ficou louco? — Ruby repreendeu. — E se forem perigosos?
— Não
esquenta! Eu já lidei com criminosos de verdade quando tinha a idade de vocês.
Um bando de arruaceiros vai ser moleza. Vamos!
Quando que Ethan pulou o muro Sapphire foi atrás dele animada. Miriam sequer sabia se tinha a intenção de entrar na confusão, apenas pulou atrás dos
dois por impulso. Ruby ficou aflito, sem saber o que fazer.
—
Droga, agora se eu for visto sozinho aqui eu vou parecer suspeito! O que eu
faço? — disse esfregando a cabeça com as duas mãos, até que acabou pulando
junto. — Droga, esses três vão me pagar por isso!
Com
muita dificuldade o garoto conseguiu dar um pulo que possibilitou pelo menos
que ele colocasse as mãos em cima do muro. Fazendo um esforço tremendo
finalmente colocou seu corpo para cima, em seguida pulando para o outro lado e
por muito pouco não torcendo o tornozelo ao cair de mau jeito.
Com
rapidez Sapphire o puxou para detrás de uma parede, onde qualquer ângulo de
visão de quem estava na rua não alcançava. Os três se reuniram em torno de
Ethan, que começou a passar as orientações.
—
Vamos entrar por aqui, a barra parece que tá limpa.
O
cômodo por onde entraram era uma sala de almoxarifado que naquele momento
estava vazia. Aquela região do prédio parecia estar tranquila para que andassem
de um setor para o outro até chegarem perto da zona de ação. Quando se
aproximaram da porta que dava para o saguão principal do museu foi que
conseguiram ver a situação por uma fresta.
Ruby,
Sapphire e Miriam, principalmente, tiveram um choque ao verem inúmeras pessoas
trajadas com uniformes que carregavam o símbolo da Team Aqua, responsável por
uma desagradável situação que vivenciaram a caminho de Dewford poucas semanas atrás. Os três estavam trêmulos, e Ethan logo percebeu. Com sua
experiência, tentou acalmá-los.
— Não
precisam se preocupar. Essas organizações criminosas seguem um padrão muito
comum. As roupas deles indicam que são agentes de baixo escalão. Vai ser
moleza!
Ao
tentar abrir a porta o rapaz sentiu seu braço ser segurado com força, levando
um puxão de volta. Miriam o encarava com uma expressão severa.
— Isso
não é brincadeira, Ethan. Tem pessoas sendo mantidas como reféns ali.
— Não
por muito tempo. Vamos impedir esses bandidinhos de quinta categoria e libertar
o museu e os reféns.
—
Esses bandidinhos de quinta categoria a quem você se refere quase mataram a
gente há um mês! Eles não vão dar nenhuma brecha pra gente fazer o que bem
entender.
A
discussão se tornou mais alta, e os quatro foram surpreendidos pela aparição de
dois membros da facção com Mightyenas em posição de ataque. Os caninos
exagerados dos Pokémons aliados aos seus rosnados intimidadores foram mais que
o suficiente para que os invasores se rendessem sem oferecer resistência alguma.
Todos
eles foram levados para o saguão principal, onde se encontravam os demais
reféns. Agora eles estavam sob os olhares de pelo menos doze guardas inimigos
que fariam o que fosse necessário para conter qualquer tentativa de resistência
por parte dos civis que eram mantidos presos dentro do prédio.
—
Achei esses quatro tentando escapar — disse um dos membros da Team Aqua
enquanto os rendia em um canto.
— Bom
trabalho, envie pelo menos três agentes para vasculharem o restante do prédio —
respondeu outro dos criminosos, que estava do outro lado do salão. — Pode ser
que haja mais gente escondida. Não podemos deixá-los ir pra rua, ou isso pode
acabar atrapalhando nossos planos.
O
tempo passava devagar, a tensão em cada nervo dos três mais novos era asfixiante.
Ethan, no entanto, parecia bem tranquilo. O rapaz ajoelhou-se de costas para o
trio e sussurrou a ideia que lhes dava a certeza de que o que viria a seguir
era nada menos que caos e destruição.
— Dá
pra fazer tudo sem machucar ninguém, mas pra isso vou precisar da ajuda de
vocês — disse o treinador. — Venham comigo pra me dar cobertura, mas quando
estiverem sozinhos em situações como essa não façam sob hipótese alguma o que
eu estou prestes a fazer agora.
Após
aguardar o momento oportuno onde todos os guardas prestavam atenção em lugares
diferentes o rapaz sacou uma Pokéball do bolso com rapidez e liberou um Pokémon
com aproximadamente a mesma altura que ele. Seu corpo era dividido entre uma
parte amarela do lado da barriga e uma coloração azul-esverdeada do lado das
costas. Além da estatura, sua própria pose era imponente, mais ainda quando a
criatura acendia vigorosas chamas na região de sua nuca.
Os
membros da Team Aqua voltaram seus olhares para a origem da comoção. Ethan
sorria confiante, pois agora que havia encontrado uma brecha para colocar seu
melhor parceiro em batalha as coisas se tornariam bem menos complicadas.
Miriam, Sapphire e Ruby, no entanto, continuavam temerosos.
— Tinha
treinadores aqui esse tempo todo! Ninguém revistou esses aí — gritou um dos criminosos. — Impeçam eles a
qualquer custo!
— Eu
já dei a minha cartada, agora é a vez de vocês — disse Ethan para os três. — Se
quiserem sair daqui sãos e salvos terão que lutar. E os outros reféns não são
treinadores para se defenderem. Não é legal deixar todo mundo aqui sendo
detido por esses patifes. Se vocês estão comigo, ótimo. Se não é melhor se
afastarem, eu posso acabar pegando um pouco pesado e não é incomum sobrar pra
quem estiver por perto.
Sapphire
foi a primeira dos três mais novos a tomar a iniciativa e sacar sua Pokéball,
liberando sua Shroomish para o confronto.
— Não
tem jeito. Ou a gente entra na briga ou vamos ficar pra sempre dependendo dos
outros — a menina então se virou para Miriam. — Aproveita que a gente não tá em
um barco dessa vez!
Miriam teve sua mente invadida pelas memórias daquela noite em alto-mar. O medo e a
impotência ainda estavam muito vivos em sua memória. “Uma desafiante da Batalha
da Fronteira não pode mostrar fraqueza, um membro da Polícia Internacional muito menos”, pensou consigo mesma. Olhava ao
redor, vendo a expressão de medo e desamparo estampada em cada refém, e aos
poucos seu sangue começava a ferver. Era seu dever proteger aquelas pessoas,
era sua profissão. Era pra isso que estava em Hoenn esse tempo todo.
Uma
Nidoqueen apareceu no saguão, que começava a se transformar em um campo de
batalha. Por sorte nenhum artefato do museu estava naquela área, que era apenas
a entrada do prédio. A criatura se colocou à frente de Typhlosion e Shroomish,
dando a entender que estaria assumindo uma posição de comando.
— Não
precisa dizer mais nada. Essa é uma batalha que eu vou levar pro lado pessoal.
Ruby
era quem ainda estava com receio de entrar em batalha. Conhecia algumas nuances
por conta de ter assistido muitas batalhas do seu pai e aprendido bastante com
ele, mas não mudava o fato de que era um coordenador, e seu foco principal não
era aquele. Mas não tinha como voltar atrás. Ele se sentia mais seguro ao ver suas
companheiras de viagem com Pokémons mais preparados para lutar, acompanhadas de
um treinador veterano. De forma tímida, e até mesmo receosa, sacou sua
Pokéball. Olhou para o dispositivo sendo chacoalhado por sua mão trêmula, mas
decidiu que tinha que ir em frente.
— Não
achei que fosse fazer isso tão cedo...
De sua
Pokéball foi revelado o Treecko, Pokémon inicial e membro mais problemático da
equipe do garoto. Por outro lado, era o que aparentava ser o mais forte. O
lagarto analisou a situação e presumiu que era a chance de ouro que ele tanto
aguardava.
— Hora
de chutar umas bundas! — disse Ethan. — Que bom que resolveram tomar uma
iniciativa nessa briga.
— Não
é como se a gente tivesse alguma escolha — Ruby retrucou. — Quero que saiba que
se nós não sobrevivermos a essa missão suicida eu vou atormentar você pela
eternidade, onde quer que sua alma vá.
Os
capangas da Team Aqua colocaram em batalha Poochyenas, Mightyenas, Zubats,
Golbats e um ou outro Octillery. Eram pelo menos dez adversários para os quatro
lidarem. Porém, a desvantagem numérica não parecia ser algo que deixasse Ethan
apreensivo. Pelo contrário, ele parecia estar gostando.
—
Vamos fazer o seguinte — disse Ethan. — Eu e Miriam temos Pokémons de nível
mais alto, podemos cuidar dos caras que estão usando Octillery, Golbat e
Mightyena. Sapphire e Ruby, vocês vão contra os que estão com Poochyena e
Zubat, porque eles parecem estar em um nível menor.
— Tá
dizendo que eu não tenho capacidade de batalhar contra os de alto nível? —
Sapphire retrucou.
— Você
até tem, por já ter duas insígnias. Mas o Ruby não parece ter treinado muito
para batalhas, pois o foco dele são os contests. Você vai dar cobertura pra
ele. Não se contenham, isso é uma batalha de risco real. Se soltem para poder
extrair o máximo de poder dos seus parceiros. Se precisarem de ajuda Typhlosion
e Nidoqueen vão interceder.
Não
era como uma batalha comum ou um desafio de ginásio. Os Aquas estavam dispostos
a limpar a área de problemas o mais rápido possível. Por isso se tornavam
impulsivos na hora de atacar.
—
Vocês não vão ficar de conversa fiada! Octillery, use o Octazooka!
Quando
o adversário tomou a iniciativa do ataque Ethan agiu com rapidez. Seu
raciocínio fazia parecer que ele tinha muito tempo para executar sua defesa,
algo que os outros três ainda não tinham.
— Tai,
Desvie! — o disparo feito pelo Pokémon aquático então passou reto enquanto o
Typhlosion inclinou seu tronco para permitir que o ataque passasse reto e
saísse por uma janela, estilhaçando o vidro. — Cubra o campo de visão deles com
Smokescreen!
A
nuvem preta que se formou entre os dois lados da zona de conflito era densa,
impedindo qualquer um de ter visão sobre seu inimigo. Os criminosos se
mantinham em alerta, aguardando qualquer ataque que viesse do outro lado. Ethan
já tinha memorizado o posicionamento de cada um dos oponentes, assim como seu
Typhlosion. Os dois já sabiam onde atacar.
—
Vocês três, troquem suas posições! Se alguém do outro lado memorizou onde nós
estávamos antes de lançarmos a fumaça pode ser que vocês sejam alvo de ataques
furtivos. Essa técnica é uma faca de dois gumes, ela tira a visão de todos.
Tai, já sabe onde eles estão, certo? Ataque com Fire Pledge!
Enquanto
o bombardeio de chamas atingia os Pokémons adversários, e algumas vezes até
seus respectivos treinadores, Miriam tinha a brecha que precisava para entrar
de vez na briga. Queria sua revanche mais que qualquer outra coisa. Era a sua
vez de se vingar pela terrível noite que passou por causa deles. Era hora de
dar o troco.
Ela e
sua Nidoqueen ouviram um bater de asas grandes vindo do outro lado da fumaça.
Na mesma hora focaram aquela direção.
— É
ali mesmo. Atravesse a fumaça e derrube esse aí com Body Slam!
O
Golbat que fazia todo aquele barulho não teve tempo de reagir. A Nidoqueen o
acertou com todo o seu peso, mandando o morcego para cima do seu treinador, que
caiu para trás junto com o impacto. A fumaça então começou a se dissipar.
Somente Typhlosion já tinha tirado de combate três adversários, Nidoqueen deu
conta do quarto. Faltavam seis, e agora Ruby e Sapphire entravam na briga com
Treecko e Shroomish.
Do
lado de fora já começava a se ouvir tremores e quebradeira. Os membros da Team
Aqua que guardavam a entrada do museu com Mightyenas e Crawdaunts acabaram
tendo a atenção dispersa pelo barulho inesperado vindo do interior do museu.
Eles então foram acertados por esferas de energia projetadas contra si, dando
passagem a uma mulher de cabelos roxos e um Alakazam que agora caminhavam em
direção à entrada.
— Seja
lá quem causou toda essa comoção lá dentro criou a distração perfeita. Nos deu
a oportunidade de abrir caminho sem colocar os civis em risco — disse a mulher
ao andar para a porta principal acompanhada de alguns policiais.
—
Senhorita Anabel, qual procedimento adotar agora?
— A
proteção dos reféns é a prioridade, extraiam todos! Mandem equipes para os
outros lados do quarteirão para reforçar o perímetro! Não deixem ninguém
escapar.
Ao
entrar no saguão do museu, Anabel se deparou com o caos que havia dominado o
local. Uma batalha múltipla ocorria lá dentro, complicando qualquer tentativa
da mulher assimilar o que estava exatamente acontecendo e como as coisas
chegaram àquele ponto. Foi surpreendida então ao ver Miriam envolvida no
conflito, lutando contra os criminosos.
—
Miriam? O que ela está fazendo?
Anabel
então percebeu que um Golbat se aproximava para pegar a garota e a Nidoqueen
pelas costas. As duas estavam distraídas com o oponente que enfrentavam no
momento. A mulher agiu rápido para evitar o golpe furtivo que poderia colocar
sua subordinada em perigo.
— Psychic! — ordenou para seu Alakazam,
que prontamente executou o ataque.
Ao
sentir o ataque disparado em suas costas, Miriam se virou para ver o que havia
acontecido. Seu espanto foi visível ao se deparar com Anabel entrando no meio
da confusão. Antes que pudesse falar qualquer coisa a mulher já tratou de se
impor.
—
Depois conversamos sobre isso. Diga para os seus amigos me ajudarem a dar
cobertura até que os outros oficiais extraiam os reféns.
—
Certo.
Conforme
os reféns eram removidos do meio daquele campo de batalha os integrantes da
Team Aqua começavam a perceber que não poderiam segurar aquele contra-ataque
por muito tempo.
—
Iniciar o plano de retirada! — comandou um dos líderes da equipe após receber
alguma informação por escuta.
O
mesmo golpe que Ethan usara no começo do confronto, o Smokescreen, agora era usado em larga escala por cada Octillery que
a equipe possuía. A visibilidade dos policiais e dos treinadores que os
enfrentavam foi prejudicada, e mesmo abafado pela fumaça que tomava o museu era
possível ouvir a gritaria do lado de fora.
Quando
a fumaça se dissipou, alguns minutos depois, todos perceberam que já não havia
a presença de nenhum membro da Team Aqua no prédio. Alguns dos reféns ainda
estavam lá, porém já acompanhados por oficiais da polícia.
Anabel
observava o salão quase vazio com uma expressão séria, mas não parecia estar
alterada. Ela era conhecida pela sua serenidade, então não estaria externando
sua frustração mesmo com a falha em deter os criminosos. Pelo menos a sua
prioridade, que era garantir a segurança e libertação dos reféns, havia sido
alcançada.
Do
lado de fora a imprensa marcava presença relatando o ocorrido. O prefeito da
cidade estava concedendo entrevistas, pois havia aparecido durante a crise para
tentar negociar com a organização criminosa, mas não havia obtido sucesso.
O trio
estava junto de Ethan, que vibrava com aquela experiência que não tinha há
tempos. Enfrentar bandidos parecia ser algo que o deixava animado. Ruby e
Sapphire estavam um pouco nervosos, mas também eufóricos com aquela adrenalina.
O garoto havia conseguido comandar seu Treecko e abater um Pokémon dos
inimigos, coisa que ele jamais imaginou que conseguiria fazer. Sapphire
derrubou pelo menos outros três.
Miriam era a única que não sorria com a situação. Sabia que lidar com criminosos não
era o conto de fadas que seus amigos faziam parecer. A verdade é que ela
julgava que tiveram a sorte ao lado deles o tempo todo naquele ato de
imprudência, e para piorar a situação se aproximava a última pessoa que ela
gostaria de ver naquele momento.
Anabel
parou logo a sua frente, o que chamou a atenção dos três treinadores que
estavam com a garota naquela hora. Ela tinha sua expressão de tranquilidade
habitual, mas Miriam a conhecia há tempos, sabia que por debaixo daquela
máscara de serenidade havia um sentimento de indignação. Podia notar isso pelos
braços cruzados de sua chefe. Anabel só fazia isso quando algo não estava
dentro do que ela julgava correto.
— Por
que não me reportou que isso estava acontecendo? — perguntou a líder da equipe
policial, o que causou estranheza em Ruby e Sapphire.
— Digamos
que foi um “convite de última hora” — a garota respondeu, olhando de relance
para Ethan com uma expressão de desagrado. O rapaz apenas sorria sem graça.
— O
que você fez foi muito sério. Colocou seus amigos e também os reféns em risco.
Pensei que já tínhamos conversado sobre as chances disso acontecer.
Sapphire
de imediato tomou a frente para intervir.
— Eu
não sei qual a relação entre vocês, muito menos por que você está
responsabilizando só a Miriam pelo que aconteceu. Mas cada um de nós veio por vontade
própria.
— Bem,
eu... — Ruby já se preparava para questionar quando foi acertado no braço por
um soco de Sapphire. — AU!
Anabel
deu um suspiro longo. Não podia mais permitir que aquela situação tivesse
continuidade.
— Bem,
eu vou me apresentar para vocês, exceto os que já me conhecem, como Ethan e Miriam — a mulher então iniciou sua introdução. — Meu nome é Anabel. Sou
coordenadora de operações da Polícia Internacional. Também sou treinadora, atuo
como um dos Cérebros da Fronteira.
Ruby e
Sapphire mantinham a atenção a cada palavra que Anabel proferia. Perceberam que
estavam lidando com alguém importante. A mulher então continuou sua explicação,
que viria com uma informação inesperada.
—
Aproveitei que a Batalha da Fronteira seria realizada aqui em Hoenn esse ano
para iniciar uma investigação em torno das atividades suspeitas da Team Aqua e
da Team Magma, outra organização similar que atua aqui na região. A Miriam é uma das minhas subordinadas. Ela
realiza um trabalho de investigação em campo, coletando informações sobre o
paradeiro e as atividades desses criminosos. Para manter a segurança ela tem
atuado sob disfarce, por recomendação minha, fingindo ser uma treinadora que
veio para Hoenn desafiar a Batalha da Fronteira. Dessa forma ela poderia entrar
livremente no local onde eu aceito meus desafiantes para relatar tudo que fosse
necessário. Ela é uma agente nova que recrutei esse ano.
Agora eu tive que desfazer o disfarce que ela estava usando, a partir do
momento em que vocês se envolveram com ela. Não posso permitir que treinadores
novatos tenham suas vidas colocadas em risco por conta do nosso trabalho. Nós
pedimos sinceras desculpas.
Os
dois não podiam acreditar no que acabaram de ouvir. Miriam não tinha onde
enfiar a cara, só tentava olhar para qualquer lugar que não fossem os olhos dos
seus companheiros de viagem.
— Isso
é verdade? — Sapphire perguntou para sua amiga, ainda chocada.
— Sim,
é verdade — Miriam respondeu, ainda desviando o olhar. Sua voz começava a ficar
embargada. — Eu precisava manter isso em segredo para que vocês não se
envolvessem demais, e mesmo assim eu não fui capaz de impedir vocês de
arriscarem suas vidas hoje. Para falar a verdade eu nem tentei. Eu não
imaginava que era a Team Aqua envolvida nesse problema de hoje, mas mesmo
depois de ter descoberto eu não fiz nada para manter vocês seguros.
Os
dois permaneceram em silêncio, bem como Anabel e Ethan. Miriam continuou.
— Eu
vou entender vocês se começarem a me odiar agora. Mas eu estava cumprindo
ordens. Eu não sou a pessoa que vocês sempre acharam que eu era. Depois de tudo
o que fizeram por mim eu continuei a mentir pra vocês.
—
Vamos? — Anabel já chamava a garota para irem embora, quando Sapphire chamou a
atenção de ambas.
—
Esperem!
A
garota se colocou à frente de Miriam. Ruby caminhou para o lado dela, um pouco
desconfiado por tudo o que acabara de ouvir.
— Eu
estou sentindo muita raiva de você agora.
As
palavras de Sapphire acertaram com um peso enorme a consciência de Miriam. Ela
já esperava por aquilo, mas mesmo assim não tinha força suficiente para se
defender de algo daquele tipo. Mas sua companheira de viagem logo tratou de
explicar tudo o que sentia.
— Eu estou sim com raiva de você ter escondido sua identidade verdadeira.
Mas eu sei que era o seu dever. Então não é esse o principal motivo.
—
Então qual o motivo da raiva? — Miriam questionou curiosa.
— Eu
estou com raiva de você ter dito que a pessoa que esteve com a gente esse tempo
todo não era você. Aquela era você de verdade. Você só parece ter se convencido
do contrário. Não interessa se você é treinadora, policial ou o que quer que seja, apenas não negue quem você é de verdade!
Lágrimas
tímidas tomaram o rosto da garota. Toda a sua pose de força como a menina de
Vermilion que se fazia de durona por querer ser igual ao Tenente Surge
desmoronava diante de si. Não sabia a razão daquela atitude de Sapphire,
endossada por Ruby. Não merecia ser perdoada pelos dois. A frase seguinte de
sua amiga foi a que mais a surpreendeu. Nem mesmo Anabel esperava por aquilo.
—
Vamos? — Sapphire perguntou, imitando a policial de propósito.
—
Infelizmente ela não vai poder seguir viagem com vocês — disse Anabel. — É muito arriscado.
— Se
riscos fossem o suficiente para nos impedir de alguma coisa, eu e o Ruby sequer
teríamos saído de casa. A gente sabe que não vive em nenhuma utopia. Somos
responsáveis pelas nossas decisões.
— Ela
não é culpada por nos envolvermos nisso tudo — Ruby começou a falar. — E por
isso ela vai seguir com a gente. Nem a Sapphire e nem eu estamos contentes com essa situação. Eu me sinto enganado, para falar a verdade. Mas antes de qualquer ação a gente precisa colocar as verdades na mesa, e só aí tiramos uma conclusão.
Anabel
respirou fundo ao ver toda aquela cena. Estava diante de uma situação que não
era comum para ela. Ter suas decisões contestadas era praticamente impossível,
uma vez que todos a julgavam como a mais inteligente. Ela então olhou para
Miriam, aguardando algum posicionamento da menina, que não demorou muito a
acontecer.
— Se
eles estão dispostos a me dar a chance de me explicar, então eu quero atendê-los. Quero
continuar desafiando a Batalha da Fronteira, quero ir até o fim com essa
jornada.
— E
como ficaria a sua investigação? Seria uma oportunidade única de alavancar a
sua carreira.
— Eu
sei que isso era muito importante, mas agora que parei para analisar melhor eu
preciso dar pesos diferentes às coisas que quero realizar pra minha vida.
Anabel, eu agradeço muito por ter me aceitado na sua equipe, mas eu estou
pedindo dispensa do meu estágio. Eu decidi que vou me dedicar exclusivamente à
carreira de treinadora.
A
mulher fechou os olhos por um instante. A apreensão era enorme por parte dos
três jovens viajantes. A decisão final da chefe foi dada sem enrolações.
— Bom,
acho que não tenho como te impedir. Uma pena, você é muito talentosa, mas deve
seguir os seus sonhos. Se é ser uma treinadora o que vai te fazer feliz, então
eu aceito seu pedido de dispensa. Mas me prometa uma coisa.
—
Diga.
—
Quando for a vez de você me enfrentar, quero que dê tudo que tem. Use esse
tempo para evoluir o máximo que puder, porque quando esse dia chegar eu vou
batalhar com mais empenho do que jamais batalhei com outro desafiante.
Com um
último aperto de mãos Anabel e Miriam selaram a promessa de que dariam o melhor
de si dali em diante, para que tudo terminasse com uma batalha memorável. A
garota agora renascia em sua jornada em Hoenn com a melhor experiência que ela
poderia ter, que era a de aproveitar aquela longa viagem sendo ela mesma. Não
havia mais nada a esconder. Sua consciência há muito tempo não ficava tão leve.
FIM DO CAPÍTULO 20
Notas do Autor - Capítulo 19
Vocês podem pensar que eu fiquei louco, mas a verdade é que eu fiquei mesmo kkkkkkkkkkk Eu estava tão ansioso pra chegar a esse capítulo logo que já não conseguia pensar em mais nada! Esse bendito capítulo 19 é a porta de entrada para uma grande mudança na história, em especial para a Miriam, que agora a gente sabe que não veio pra Hoenn só pra ter uma jornada como qualquer outra pessoa. E a descoberta dessas informações, pelo que eu tenho planejado, vão continuar gerando consequências lá no começo da segunda temporada.
Começando pela revelação do que todo mundo já sabia. O carinha do final do capítulo 18 é mesmo o Ethan! E olha só! Ele está vivo! Antes que vocês chamem o Dento de mentiroso pelas 500 vezes que ele ficou berrando "Ethan morre" no Discord, ele só disse que o personagem morreria. Não disse que seria ainda em Johto. Mas isso também não quer dizer que vai ser em Hoenn. Talvez ele apareça em mais alguma região, vai saber...
Tivemos uma breve aparição da Lisia, criando uma cena que prepara o terreno para o próximo contest que o Ruby vai ter que encarar. Da última vez ele não conseguiu a vitória, apesar de um resultado bem melhor que o esperado. Agora ele vai vir mais preparado para fazer uma boa atuação. Será que agora vai?
E por fim uma cena especial que era um dos meus checkpoints. Checkpoint aqui em AEH são cenas que eu crio pro futuro e acabo ficando louco pra chegar logo nelas. Os últimos foram a captura do Jet e a batalha no ginásio de Dewford.
Essa cena final explica o motivo da Miriam não querer encontrar a Anabel tão cedo, como ela havia dito no capítulo 18, começa a clarear o grande segredo da Miriam que foi citado na batalha contra o Spiritomb no navio, enfim. Ainda tem muita coisa pra ser revelada. E como a própria Anabel disse, o que a Miriam acha que vai acontecer quando o Ruby e a Sapphire descobrirem a verdade? Porque mentiras não se sustentam por muito tempo...
Espero que tenham gostado do capítulo. Até a próxima! õ/
Capítulo 19
Faces da Fronteira
—
Vamos atracar em cinco minutos!
As
palavras de Briney soaram como música para os ouvidos do trio de viajantes, que
enfim poderia desfrutar de terra firme após dias em alto-mar. A vasta faixa de
areia da praia de Slateport já podia ser vista de onde estavam com a cidade
crescendo ao fundo. O barco se aproximava da costa, sendo recebido por revoadas
de Wingulls rodeando-os. Peeko saiu de seu poleiro na cabine do piloto para
interagir com os demais de sua espécie.
O cais
tomou forma logo em seguida, e o tempo que levaram para atracar condizia com o
que o velho ex-marinheiro havia dito. Ao pisarem nas tábuas do ponto de
desembarque Ruby e Sapphire suspiraram aliviados, como se estivessem libertos
de uma prisão que durara dias. Miriam se mantinha em silêncio, mas seu humor
parecia um pouco melhor do que quando deixaram o navio abandonado.
— O
que vamos fazer primeiro? — Sapphire perguntou, sem conseguir esconder a
animação. — Quero passar a tarde inteira na praia!
— Você
vai ter tempo de sobra para se divertir depois que reservarmos os quartos no
Centro Pokémon — disse Ruby, que observava as ruas da cidade na esperança de
encontrar o local. — Eu quero visitar a feira da cidade, dizem que dá pra
comprar suprimentos lá com preços bem menores que os do PokéMart.
— É
verdade — Miriam falou ao se aproximar. — Eu desembarquei em Hoenn por aqui e
fiz algumas compras na feira. A gente vai conseguir economizar um bom dinheiro
se comprarmos por lá.
—
Também tenho que passar no Contest Hall da cidade e fazer a minha inscrição
para a próxima competição — o menino então se virou para Briney, dando ao velho
a quantia em dinheiro por ter realizado viagem. — Obrigado pelo serviço, sei
que deu bastante trabalho para o senhor nos trazer até aqui.
— Não
tem problema, garoto — disse o navegador. — Já fiz viagens bem mais longas
durante a minha vida, e eu e Peeko estávamos precisando viajar um pouco depois
de tanto tempo parados no mesmo lugar. Os anos passam, mas esse velho aqui não
consegue perder o sangue de marinheiro.
Após
se despedirem do homem os viajantes seguiram em direção à cidade. Slateport mesclava os aspectos típicos de uma cidade de veraneio e a imponência de uma zona portuária fundamental para a economia da região, que havia sido construída há pouco tempo. Além
disso, a grande concentração de pessoas na praia e nas ruas era um indicativo
da alta temporada, bem como do contest que se aproximava.
Os
três não perderam tempo e se dirigiram ao Centro Pokémon para efetuar suas
reservas. Ao chegar ao local já se dirigiram à porta de entrada quando a mesma
se abriu, revelando um rapaz de cabelos negros que vinha na direção oposta.
Sapphire olhou rápido para o rosto da pessoa, mas passou direto. Uma fração de
segundo foi o tempo necessário para a garota parar e se virar bruscamente,
apontando para o garoto com o dedo indicador.
—
VOCÊ!
O
rapaz se virou depressa ao notar que o grito foi disparado para ele. Seus olhos
caminharam de cima a baixo analisando a menina, mas pela expressão que tinha em
seu rosto ele parecia não reconhecê-la.
— Eu
conheço você?
— Se
me conhece? Tá de brincadeira comigo, Ethan?
Seus
olhos se arregalaram com a surpresa de ver que a menina era uma conhecida.
Depois de alguns segundos a encarando foi que a mente dele se iluminou,
percebendo de quem se tratava.
—
Sapphire? — seu tom de voz demonstrava surpresa e alegria, ao mesmo tempo em
que ele já esfregava a mão na cabeça da garota. — Caramba, você cresceu pouco
mesmo depois de todo esse tempo! E aí, pirralha? Tudo jóia?
— Por
que você continua me chamando de pirralha, seu idiota!? — Sapphire tentava dar
socos nos ombros de Ethan, mas a diferença de altura dificultava a tentativa.
—
Hahaha, continua tentando, tampinha! O que vem de baixo não me atinge!
— QUEM
É A TAMPINHA AQUI, CARA? EU VOU TE DAR UMA LIÇÃO AINDA!
Ruby e
Miriam observavam a cena sem entender nada do que acontecia. O garoto estava
constrangido de ser notado pelos pedestres perto daquela gritaria, mas a menina
assistia a cena com certa curiosidade.
— São
seus companheiros de jornada? — Ethan perguntou, ainda empurrando Sapphire pela
cabeça para não ser agredido. — Como vocês aguentam essa monstrenga todos os
dias?
— Boa
pergunta, sério mesmo — disse Ruby, que dava de ombros ignorando os gritos de
“quer morrer?” de Sapphire.
Quando
Ethan conseguiu se desvencilhar de Sapphire, o rapaz pôde ficar frente a frente
com os dois companheiros de viagem da menina. Ele sorria, parecendo orgulhoso.
— Eu
conheço a Sapphire desde que ela era uma garotinha. Vim pra Hoenn há uns sete
anos, mais ou menos, e o Professor Birch me ajudou muito quando cheguei aqui.
Tentei enfrentar a Elite na época, e até cheguei a batalhar com o Campeão. Só
que na época o Campeão era o Drake, então vocês já devem imaginar o que
aconteceu... — ele ria coçando a cabeça.
— Bem
feito! — Sapphire mostrava a língua como uma criança fazendo birra.
—
Relaxa aí, fedelha. Sua hora vai chegar também. Ouvi dizer que esse tal de
Steven é bem forte. E agradeça que o Campeão não é mais o Drake e nem o
Wallace. Você seria transformada em pó enfrentando qualquer um dos dois.
Sapphire
cruzou os braços emburrada.
— Você
não tinha ido pra outra região? O que tá fazendo aqui em Hoenn? Veio apanhar
pra Elite de novo? Saiba que não vai nem passar da Liga, eu vou acabar com você
lá.
— Pra
sua sorte eu não vim competir na Liga. Esse ano eu tô desafiando a Batalha da
Fronteira.
—
Sério? — a menina ficou surpresa, e então apontou para sua companheira de
viagem. — A Miriam também tá desafiando a Batalha da Fronteira. Ela já tem um
símbolo.
Ethan se virou para a outra menina do trio com um sorriso entusiasmado.
—
Legal! Parece que somos concorrentes, então! Que tal a gente treinar junto
qualquer hora? Já tenho três símbolos, posso te dar algumas informações sobre
outros Cérebros da Fronteira.
—
Ah... — Miriam não sabia o que dizer, pois ainda estava processando a
informação de conhecer um outro desafiante da Batalha da Fronteira. — Claro,
vai ser um prazer! Eu preciso treinar bastante mesmo, vou enfrentar a Greta em
breve, assim que a gente sair da cidade.
Ethan
mudou sua expressão assim que a ouviu falar. Agora tinha uma expressão séria,
porém curiosa. Nenhum dos três viajantes entendia aquela mudança repentina na
maneira como o rapaz a encarava.
— Seu
sotaque... — disse, enquanto coçava o queixo. — Ele é familiar. De onde você é?
— Ela
é de Kanto — Sapphire respondeu. — Você viajou com pessoas de Kanto por um
tempo, não foi?
— Ah,
é verdade! — disse o rapaz. — Sim, realmente é o sotaque de Kanto. Me traz boas
lembranças dos meus amigos. O que será que eles estão fazendo agora? Digo, o
Forrest com certeza está cuidando do ginásio de Pewter, e a Amy... Bem, até
alguns meses atrás ela estava em Sinnoh, mas ela é imprevisível. Talvez agora
ela já esteja do outro lado do mundo e eu nem sei.
—
Então o líder do ginásio de Pewter foi seu companheiro de viagem? — indagou
Miriam.
— Sim,
ele mesmo. Você já batalhou com ele?
— Já
sim.
Ethan
então fez um sorriso malicioso.
— Quer
dar mais detalhes sobre como foi a batalha?
— Nem
ferrando — Miriam sorria como se nada tivesse acontecido.
Ethan
deu uma risada ao receber aquela resposta, mas não insistiu no assunto.
— Vão
fazer a reserva no Centro Pokémon ainda?
— Sim,
acabamos de desembarcar — respondeu Sapphire. — E depois vamos ao Contest Hall
porque o Ruby tem que se inscrever para a etapa desse fim de semana.
— Eu
posso esperar vocês. Também vou para o Contest Hall, combinei de me encontrar
com uma velha amiga lá. E Miriam, depois podemos ir a um evento da Batalha da
Fronteira aqui perto que vai começar no final da tarde. É bom para reunirmos
informações sobre o torneio. E ouvi dizer que dois Cérebros da Fronteira estão
na cidade.
—
Claro, vamos sim! — Miriam tentava passar euforia, mas no fundo torcia para
descobrir quem eram os Cérebros que estariam presentes no evento antes de
precisar ir até lá.
O
check-in no Centro Pokémon foi mais rápido do que imaginavam. Os três jovens tiveram
a sorte de encontrar um quarto vago, onde poderiam se hospedar. Deixaram o
excesso de pertences lá para então retornar às ruas da cidade para aproveitar
um pouco melhor sua atmosfera.
Desta
vez era Ruby quem estava com pressa. Parecia que o menino só ia sossegar quando
tivesse a sua inscrição realizada para o próximo contest. Suas companheiras de
viagem e Ethan acompanhavam o coordenador que seguia na frente de todos,
caminhando de forma desajeitada, sem conseguir esconder o nervosismo.
Levou
pouco tempo para que chegassem ao Contest Hall. A fachada estava lotada de
gente, mal dava para ver a porta de entrada. Os quatro foram se espremendo
entre as pessoas para poder passar e ver o motivo de tanta comoção.
Uma
bela garota acenava para todos os presentes, ao mesmo tempo em que concedia uma
entrevista para uma emissora de televisão. Seus olhos azuis tinham um tom claro
que combinavam com os cabelos turquesa. Seu rosto era moldado por linhas finas
e sua beleza reforçada por uma maquiagem que parecia ter levado horas para ser
feita.
— Não
acredito! — Ruby exclamou, boquiaberto. — É a...
— Ei
Lisia, aqui! — Ethan acenou para a garota, interrompendo o mais novo.
A
menina olhou de imediato para a direção de onde vinha a voz familiar, e quando
viu Ethan deu um breve aceno para ele, seguido de um gesto indicando que já
iria lhe dar atenção. Ruby voltou seu olhar para o rapaz com expressão de total
descrença.
— A
sua velha amiga é a Lisia?
— Sim
— ele respondeu.
— A
top coordenadora mais popular de Hoenn.
—
Aham.
—
Sobrinha de Wallace, ex-Campeão da Elite de Hoenn e um dos mais incríveis
coordenadores que o mundo já viu.
— Ela
mesma.
Ruby
apertou os dois ombros de Ethan, forçando-o a olhar diretamente em seus olhos.
— Nos
apresente e eu terei uma dívida de gratidão eterna com você!
— Ei,
calma! — o mais velho foi afastando as mãos do garoto de si. — Não é pra tanto,
eu posso te apresentar a ela sim.
Com o
fim da entrevista de Lisia a multidão foi se dissipando, uma vez que os
seguranças dela a rodearam e se prepararam para voltar para dentro do Contest
Hall. Ethan aproveitou a oportunidade para se aproximar, seguido pelo trio.
Os
guarda-costas fizeram menção de bloquear a passagem do quarteto, mas a
coordenadora gesticulou indicando que eram pessoas confiáveis.
— Há
quanto tempo, Ethan! — a voz de Lisia era suave e graciosa, harmonizando
perfeitamente com sua aparência angelical. A impressão que se tinha é que ela
era talvez o mais próximo que um ser humano podia chegar da perfeição. — Eles
estão com você?
—
Estão sim — respondeu o rapaz. — Estes são Sapphire, uma velha amiga, e os
companheiros de viagem dela, Miriam e Ruby, que também é coordenador.
Lisia
ficou intrigada ao ouvir o nome do garoto e olhou diretamente para ele. Ruby
sentiu seu coração bater mais forte, não se imaginava prendendo a atenção de
uma das inspirações para sua escolha de carreira.
— Você
é um dos debutantes que conseguiu o pódio em Rustboro, não é? Adorei as
apresentações de vocês três. Foram incríveis. Eu gostaria de ter assistido de
perto, mas não pude comparecer pois não estava me sentindo muito bem no dia. Eu
falhei com meu dever em meu primeiro contest como jurada, mas garanto que aqui
em Slateport eu vou me redimir com vocês.
Ruby
ficou vermelho como uma Tamato Berry.
Aquele reconhecimento inesperado foi o suficiente para quase enfartar ali
mesmo, naquela calçada. Não sabia onde esconder a cara.
— E-eu
sou um... Um... Um grande fã seu! É um-ma honra saber que você gostou d-da
minha apresentação!
Sapphire
e Miriam observavam a cena como se estivessem tendo o melhor dia de suas vidas.
Ver Ruby lutar daquela forma para não externalizar seus sentimentos em público
era um verdadeiro troféu por todas as vezes que foram vítimas da frieza do
amigo. Seus rostos estavam tão vermelhos quanto o de Ruby, mas era devido ao
esforço sobre-humano que faziam para não cair na risada.
— Por
favor, me diz que você tem uma câmera — disse a morena.
—
Infelizmente não, e eu me odeio muito por isso agora — Sapphire respondeu.
Lisia
continuava sorridente. A alegria radiante da celebridade contagiava qualquer um
que passasse por perto, exceto Ruby que não conseguia se manter calmo.
—
Estou torcendo muito para que uma nova geração de coordenadores apareça e
coloque um pouco de emoção nos contests — disse a moça. — Quero ver vocês repetindo as atuações de Rustboro nesse fim de semana.
Depois
de mais alguns minutos de conversa o trio saiu do Contest Hall e seguiu em
direção à feira ao ar livre. Ethan havia ficado com Lisia para colocar a
conversa em dia com sua velha amiga.
Ruby
mal conseguia falar qualquer coisa devido à euforia que tomava conta de si
naquele momento.
— Ela
sabe quem eu sou — o menino praticamente babava olhando pra cima, sequer
prestando atenção na rua. — A Lisia gostou da minha primeira apresentação.
— É
uma boa ideia então você parar de sonhar acordado e já definir o seu cronograma
de preparação para o contest — Sapphire alertou. — Escolha qual membro do seu
time vai participar e comece os ensaios o quanto antes.
— Eu
sei, eu sei. Já estou com algumas ideias em mente. Amanhã cedo eu vou começar a
trabalhar nelas.
Quando chegaram à entrada da área da feira Sapphire e Ruby ainda conversavam
distraídos, quando a menina esbarrou seu ombro em um garoto que vinha na
direção oposta. Seu olhar cansado e enfurecido o fazia parecer mais
intimidador, fazendo os três ficarem em estado defensivo.
—
Presta atenção por onde anda! — disse com a voz áspera, saindo logo em seguida
carregando as sacolas com as compras que havia feito.
— O
que foi isso? — Miriam indagou em descrença. — Aguentem aí, vocês dois. Eu vou
trocar uma ideia com aquele idiota.
— Não
precisa — Sapphire segurou firme o ombro da amiga, evitando que ela fosse tirar
satisfação com o garoto. — Você tem andado muito tensa ultimamente. Extravasar
dessa forma só vai te fazer mal. Vamos aproveitar o que tem de bom na cidade,
ok?
— Ok,
certo — disse a mais velha, enfim se acalmando. — Mas da próxima vez nem tente
me impedir. Eu não gosto de gente que acha que pode fazer esse tipo de
grosseria sem motivo.
Enquanto
seus dois amigos se dirigiam para dentro da feira, Sapphire ficou observando o
garoto se distanciando, até que desaparecesse atrás das outras pessoas que
vinham para o mesmo local que ela visitaria naquele momento.
A
menina não se prolongou muito. Deixou a sua insatisfação reprimida de lado e
decidiu que seria mais proveitoso seguir o que ela mesma havia sugerido a
Miriam minutos atrás.
Em
poucas horas o grupo estava abastecido com os itens necessários para seguir
viagem. Os três, satisfeitos com o dinheiro economizado, rumaram de volta para
o Centro Pokémon para guardar os itens adquiridos. Durante as horas que se
passaram no período da tarde Sapphire e Ruby aproveitaram um pouco da praia da
cidade, mas Miriam permaneceu no Centro Pokémon relaxando.
Ao
final da tarde a menina resolveu seguir para o evento da Batalha da Fronteira
do qual Ethan havia lhe contado mais cedo. Pegou informações com a recepcionista do
Centro Pokémon para saber o local e para lá seguiu.
— Não queria estar indo até lá, mas preciso
saber se as informações que tenho do torneio ainda estão atualizadas —
pensou enquanto caminhava pelas ruas estreitas da cidade.
Quando
chegou ao local a cidade já começava a ser tingida de tons alaranjados. Alguns
postes começavam a se acender para a chegada da noite. O prédio onde
aconteceria o encontro dos participantes era simples, algo que lembrava um
salão de festas. A garota passou pela porta automática e se surpreendeu ao ver
a quantidade de gente que estava lá, desde desafiantes até pessoas que
trabalhavam na organização da competição.
Pessoas
conversavam por todos os lados. A interação entre os treinadores desafiantes
era constante uma vez que o modelo da Batalha da Fronteira não realizava
batalhas entre eles, o que diminuía a ocorrência de rivalidades mais
acaloradas.
Miriam viu Ethan conversando com outra pessoa ao longe, mas preferiu caminhar para
outro lado. Não estava com muita vontade de socializar com outras pessoas, só
queria encontrar um lugar onde pudesse buscar informações sobre o torneio e
voltar para o seu quarto reservado no Centro Pokémon.
A
menina continuou caminhando pelos corredores até acessar uma área que não
estava movimentada. Só havia duas pessoas conversando, e quando ela percebeu quem
eram seu corpo paralisou.
— O
que foi? Quer falar algo com a gente? — a primeira perguntou, uma menina loira
com cabelos presos em dois coques e trajando vestes de luta.
—
Greta, perdão por interromper nosso assunto dessa forma, mas ela é uma
conhecida minha, e preciso falar com ela — disse a segunda, que tinha um ar
mais sereno e se vestia com roupas muito mais elegantes. — Podemos continuar
nossa conversa mais tarde?
— Ah,
claro. Sem problemas.
Quando
a garota loira se afastou das duas e o corredor ficou vazio, a mulher ajeitou
seu cabelo lilás para trás da orelha, e falou em um tom cuidadoso para que
ninguém mais ouvisse.
—
Venha comigo.
Miriam finalmente começou a se mover. Não porque havia se acalmado, mas sim porque era
impossível recusar qualquer ordem daquela mulher. As duas entraram em uma sala
particular, e assim que a porta foi fechada a mulher girou a chave na fechadura,
deixando as duas trancadas.
— Pela
sua cara de espanto você não veio até aqui para me encontrar — disse enquanto
se servia de uma xícara de café.
—
Senhorita Anabel, eu não imaginava que você estaria aqui hoje.
— Não
recebo notícias de você tem um bom tempo. Você também não respondeu minhas
mensagens e não enviou nenhum relatório sobre as investigações.
— Não
foi possível.
—
Porque você realmente estava incomunicável, ou porque você se deixou levar pela
vida de aventureira?
Anabel
se sentou no sofá de couro preto ao centro da sala, gesticulando logo em
seguida para que Miriam fizesse o mesmo. A menina se sentou com as mãos
pressionando os próprios joelhos numa tentativa de esconder que suas pernas
estavam trêmulas.
— Não
precisa ficar tensa, eu não tenho a menor intenção de te aplicar uma punição ou
algo do tipo — Anabel fez uma pausa e tomou um gole do seu café. — Entendo que
uma jovem na sua idade tem ambições como treinadora, mas foi você quem escolheu
ser minha estagiária. E nós precisamos da sua ajuda.
— Eu
sei, eu cometi um erro ao te deixar sem informações por tanto tempo.
— Eu
soube o que aconteceu com o barco do Briney na rota para Dewford. E eu soube
que você estava lá pelas descrições que recebi dos passageiros. O importante é
que você está bem, mas deveria ter me relatado esse incidente.
—
Fiquei com medo de que você me tirasse dessa missão de campo se soubesse que eu
tinha me envolvido em alguma situação de risco. Eu sei que foi
irresponsabilidade minha não ter te contado o que aconteceu, mas eu queria
muito seguir viajando.
— Isso vai muito além de negligenciar o seu trabalho. Ao não me relatar o incidente, você atrasou nosso rastreamento dos criminosos, e isso deixa todos em risco, incluindo seus novos amigos. Eu não vou tirar você da
missão, mas preciso que você colabore melhor daqui em diante. Temos que ter o
máximo de informação possível se quisermos antecipar os movimentos da Team Aqua e da
Team Magma.
Anabel
se levantou do sofá e caminhou em volta da sala por um breve instante. Parou de
costas para a menina por alguns segundos, cruzou os braços e se virou de volta
para sua subordinada.
— Você
realmente se apegou aos seus dois companheiros de viagem?
— Sim.
— E
por quanto tempo você pretende se esconder deles atrás dessa identidade dupla?
A
menina ficou em silêncio.
— Uma
hora eles vão ter que saber a verdade — Anabel respirou fundo. — E cedo ou
tarde você terá que escolher entre o seu dever e a sua vida pessoal, Miriam.