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FanArt #03 - Shiny Reshiram


Descrição: "Eu sei Leer!"
Desenhista: Shiny Reshiram
Técnica: Paint Tool Sai

"Bom, eu fiquei inspirada pelo seu novo post em Hoenn sobre fanarts, então, veio a minha mente uma coisa, e fiz isso. Não sou do tempo dessa piada interna da Aliança, mas tem graça na mesma e ver vocês comentando sobre no Discord da Aliança rendeu bons momentos de gargalhada. O desenho não está lá com grande esforço porque sim, foi meio a pressa, e coisas a pressa tem naturalmente um charme engraçado. Então, eu espero que gostem :heart:"

Se antes eu dizia que essa maldição do Torchic que usa Leer ia me perseguir pro resto da vida, agora ela está oficialmente registrada em imagem...

Para quem não é dos tempos da primeira AEH pode parecer algo sem sentido, mas a verdade é que há muita história por trás disso. Um Torchic usando Leer? Como, quando e por que? Calma que eu vou explicar.

Tudo começou lá pelos idos de 2011. Eu, jovem dinâmico e como tal propenso a fazer m*, tinha acabado de trocar de lugar com o Lino na Aliança. Ele escreveria Kanto que era minha, e eu ficaria com Hoenn que era dele. Até aí tudo tranquilo, tudo indo na mais perfeita harmonia. Comecei a fic, com as aventuras de Ruby e Sapphire, que na época ainda se chamavam Brendan e May, e os capítulos foram seguindo normalmente.

Até que chegamos à grande batalha de ginásio contra a Roxanne. E assim como nessa versão nova da história, na antiga o confronto final era entre o Dan e o Nosepass. Eu fiz o maior planejamento, tudo calculado. Para não ficar abusando do Ember na época, montei uma estratégia onde o Dan usava Leer para diminuir a defesa do Nosepass e assim dar mais dano com os outros ataques.

Sapphire venceu a batalha. Que lindo. Que maravilhoso! Só que não. O próprio Lino me advertiu nos comentários, com o Canas assinando embaixo, que Torchic era um Pokémon que não conseguiria aprender Leer sob qualquer circunstância. Nem tutor, nem Egg Move, nem o raio que o parta! Aquilo quebrou minhas pernas, porque o Dan já tinha usado Leer em batalhas anteriores, e naquela altura do campeonato eu teria que revisar muitos capítulos para poder corrigir tudo.

Eis que o gênio do improviso ilumina minha mente com uma grande desculpa. Aproveitei o embalo do arco filler da Grande Criação em Sinnoh e disse ao Canas que havia um motivo para aquilo ali.

Cerca de seis capítulos depois foi dito que o engano na verdade era uma homenagem/referência ao acontecido, que o Torchic era um protótipo dos experimentos de mutação genética que havia fugido, e que o Leer que ele sabia usar era resultado de experiências para descobrir se era possível inserir golpes em Pokémons que antes não eram possíveis.

Resumindo: a Team Rocket catou um Torchic por aí e usou PkHex nele (quem já jogou Pokémon no 3DS sabe do que eu tô falando).

O Canas ficou tão impressionado com o "plot twist" (e eu ainda não acredito que ele engoliu a história) que eu fiquei mal de ter mentido pra ele por um motivo tão bobo quanto não admitir que cometi um erro e eventualmente acabei abrindo o jogo pra ele, que obviamente riu da minha cara e disse que ainda estava impressionado, só que dessa vez com a minha capacidade de criar desculpas mirabolantes e fazer todo mundo cair na conversa, por mais absurda que ela pareça.

E a partir daí essa se tornou um dos memes mais icônicos da Aliança Aventuras, junto do número 17, da frase "Serena, olha meu peixe" e mais recentemente o "Ethan morre".

E fiquei feliz de ver a Shii eternizar esse meme em uma fanart. Essa está devidamente guardada a partir de agora na galeria de Hoenn. Valeu, Shii! õ/


Notas do Autor - A Gym Leader's Life 2


Está chegando a hora da segunda batalha de ginásio! E assim como aconteceu em Rustboro, ela é precedida de um capítulo simples contando uma pequena parte do passado do líder a ser enfrentado, no caso de agora o Brawly.

Sério, pessoal. Eu tive uma dificuldade pra pensar em um plot pra este especial que vocês não têm noção! kkkk Por isso eu gostaria de agradecer imensamente ao Canas pela ideia de fazer aquele acontecimento envolvendo o velho Oswald, que nem teve chance de mostrar a que veio. Só foi citado para dar um nó na cabeça do nosso surfista preferido e fazê-lo repensar alguns conceitos.

Como no capítulo 16 tivemos a revelação impactante de que o Brawly pretende abandonar o cargo de líder de ginásio, e nesse especial contamos como ele entrou e o que o levou a tomar essa decisão, agora resta mostrar o resultado dessas duas coisas. A resposta final que ele encontrou para resolver voltar à vida de liberdade. Mas talvez ele ainda esteja um pouco incerto. Será que vai sobrar pra Sapphire a tarefa de libertá-lo de uma vez dessas dúvidas, e fazer o cara encontrar a resposta que precisa, seja ela qual for?

Estou feliz por ter mais um líder representado nesse especial. Por enquanto a meta está sendo cumprida. O próximo vai ser mais difícil, porque nem sei como trabalhar com ele. Mas temos tempo de sobra até lá, vou pensar em algo!

Até a próxima! õ/

A Gym Leader's Life - Capítulo 2

Brawly


Quando se viu na beira da mesma praia onde cresceu, Brawly abriu um sorriso. Passara tanto tempo fora que havia se esquecido de como era estar em casa. Dewford ainda era a mesma ilha com aspecto aconchegante ao fim da tarde. Mal podia esperar para contar a todos sobre sua nova conquista.

Ele havia vencido um importante campeonato de surf em Alola, onde esteve morando durante os últimos dois anos. Após uma estadia vitoriosa o rapaz voltava à sua terra natal com grande prestígio entre os fãs do esporte, sendo mais um a representar a grande tradição de Hoenn na modalidade em competições internacionais.

Ao seu lado um homem de aparência perto dos quarenta anos de idade também desembarcava na cidade. Seus traços o entregavam como alguém de Alola. Era um importante amigo que o surfista que fez nas ilhas paradisíacas, além de ter sido um importante mentor por ser um homem muito sábio.

— Kola, esse aqui é o meu reino — Brawly sequer conseguia disfarçar a euforia de estar naquele lugar de novo. — Já dominamos Alola, então bora dominar isso aqui também.

— Vai com calma, garoto — o homem ria da pressa de seu amigo. — Vamos aproveitar essa chegada. Eu também quero conhecer Hoenn, mas se tivermos muita pressa não vai dar tempo de construir boas lembranças.

— Cara, mal posso esperar pra te mostrar todas as praias que temos por aqui. Eu garanto que a gente compete de igual pra igual com Alola.

— Isso é uma boa notícia pra mim. Onde tiver praia boa eu quero estar.

Brawly e Kola seguiram a caminhada até a casa onde o rapaz morava antes de viajar para o exterior. O rapaz morava sozinho já há algum tempo, mas mesmo assim ambos encontraram a casa toda limpa, para surpresa do visitante.

A mobília estava com alguns lençóis por cima para evitar o acúmulo de poeira. As janelas estavam limpas e o chão encerado. Uma casa pequena, porém cuidada com todo o zelo possível que a fazia parecer até luxuosa apesar de seu tamanho.

— Ela não precisava fazer isso tudo — disse o rapaz enquanto tirava os lençóis de cima dos móveis.

— Ora, ora, parece que teve alguém te esperando esse tempo todo — Kola encarava Brawly com um sorriso suspeito e os braços cruzados. — Agora começo a entender o motivo de você nunca ter dado ideia pras garotas que tentavam algo com você lá em Alola.

— Que isso, Kola! — Brawly ria dos comentários do amigo. — Eu apenas não tô preparado pra ter um compromisso com outra pessoa. E quem manteve a minha casa bem cuidada esse tempo todo é uma amiga de longa data, quase uma irmã. Não consigo vê-la de outra forma e nem quero.

Kola apenas deu um discreto sorriso de canto e voltou sua atenção à arrumação da casa, ajudando Brawly a descobrir a mobília.

— Se você diz...

Após terminarem de preparar a casa, Brawly levou Kola até o quarto onde o homem ficaria para que lá ele pudesse deixar suas coisas. Em seguida voltaram à sala. O mais novo foi até a cozinha, que era separada do cômodo anterior apenas por uma meia-parede onde ficava uma bancada, e caminhou até a geladeira para pegar alguns ingredientes para fazer o jantar, até que se deu conta do engano que havia cometido.

— Vish...

— O que houve? — Kola perguntou.

— Eu meio que abri a geladeira no automático. Esqueci que a gente acabou de chegar. Não tem nada pra comer — Brawly caiu na risada.

Os dois então juntaram todos os trocados que conseguiram tirar do bolso e pediram uns sanduíches de fast food. Não era o ideal para matar a fome deles, mas era o que tinha de possível naquela noite. A partir do dia seguinte eles pensariam no que fazer para conseguir dinheiro.

Após a refeição Brawly e Kola foram dormir. O mais jovem estava ansioso por rever as pessoas com quem conviveu durante tanto tempo. Depois de alguns anos estando longe ele queria ver como as coisas tinham mudado, o que havia de novidades e matar a saudade dos velhos hábitos de quando ainda morava na ilha.

Quando amanheceu os dois acordaram bem cedo para andar pela cidade. Sem café da manhã, Brawly levou Kola até uma região de mata para que pudessem pegar algumas berries para comer. Após encherem o estômago, os dois caminharam até um local liderado pelo anfitrião.

— Onde estamos indo?

— Visitar um velho amigo — Brawly respondeu, mantendo o mesmo sorriso de sempre. — É um parceiro de longa data. É um senhor de idade que tem uma barraca de aluguel de pranchas perto da praia norte.

— Será que ele tem parafina? A minha prancha tá precisando.

— Claro! Ele com certeza vai arranjar uma pra tu. O nome dele é Oswald. Esse cara me deu uma força muito grande pra eu começar a surfar. Minha família nunca teve grana, então quando eu era moleque ele me deu minha primeira prancha e me ensinou a surfar.

— Pô, maneiro! Ele deve ser um cara muito gente fina.

— Gente fina é pouco! Ele é parceirão mesmo.

A caminhada se estendeu por mais alguns metros até chegarem ao local de destino. A surpresa, no entanto, se deu por parte de Brawly ao ver a barraca em estado de abandono. As madeiras estavam podres e o telhado improvisado com palha e folhas de árvores tropicais já não existia mais. Também não havia nada lá dentro, a não ser os restos de pranchas velhas, que já não eram sequer possíveis de serem restauradas para uso.

O rapaz tinha uma expressão confusa, mas logo se aproximou da cabana para checar qualquer detalhe que pudesse lhe dar uma dica do que havia acontecido.

— Estranho, será que ele mudou de lugar ou se aposentou? — indagou enquanto revirava as coisas em volta.

— Brawly? — uma voz feminina o chamou, fazendo-o se virar no mesmo instante. — Brawly, é você mesmo?

A dona da voz era uma bela garota de longos cabelos loiros, olhos azuis e pele bronzeada de sol, aparentando ter a mesma idade de Brawly, algo por volta dos dezessete anos. Ela não pôde deixar de abrir um largo sorriso ao rever seu amigo de infância.

— Casey! Quanto tempo! — o rapaz alegrou-se ao vê-la. — Diz aí, como anda a vida?

A garota deu uma rápida corrida até Brawly. Quando se aproximou o suficiente, segurou as duas mãos do rapaz, com um largo sorriso no rosto.

— Eu estou ótima! Não sabia que você ia chegar hoje!

— Na verdade cheguei ontem no fim da tarde — só então ele percebeu algo estranho. — Mas pera aí. Se você não sabia quando eu ia voltar, por que tu arrumou minha casa?

— Bem, eu não podia deixar o lugar todo largado. E sei que se fosse o caso de eu não ter arrumado você não faria também. Ia dormir em cima da poeira mesmo.

— Pior que eu ia mesmo — Brawly ria enquanto coçava a parte de trás da cabeça. — Ei Kola, essa é a Casey. Ela é sobrinha do Oswald, o cara que te falei. Casey, cadê o velho? Ele fechou a cabana mesmo?

Casey ficou em silêncio por um instante, desviando seu olhar para o chão com uma expressão angustiada. Kola previu a situação e se afastou um pouco, enquanto Brawly ainda aguardava a resposta, sem sequer notar a mudança de comportamento de sua amiga.

— Sabe, seu tio foi o cara que eu mais senti falta quando estive fora de Hoenn. Até hoje eu me lembro do dia que ele...

— Brawly, eu preciso que você me escute agora.

A garota pressionava as mãos contra o próprio peito, lutando em seu interior para conseguir dizer o que precisava. Não sabia o que viria após aquele momento, mas era o que precisava ser feito.

— Brawly, o tio Oswald morreu.

O rapaz ficou estático, tentando assimilar as palavras que havia escutado. Não sabia se havia entendido direito, mas no fim das contas entendeu que realmente ouviu o que havia imaginado, e começou a dar uma risada reprimida por uma voz trêmula.

— Qual é, Casey? Não era tu que sempre dizia pra eu não brincar com esse tipo de coisa? O que foi isso agora?

— Fechamos a cabana porque ele adoeceu poucos meses depois de você ir embora para Alola. Ele resistiu por mais ou menos um ano, mas acabou falecendo já faz dez meses. Eu queria ter te contado, mas eu nunca tive coragem.

Brawly não tinha reação para uma situação como aquela. Tudo que podia fazer naquele momento era ficar encarando Casey ainda aguardando que aquela fosse alguma pegadinha de mau gosto.

— Olha Casey, eu realmente não sei o que dizer...

— Não precisa se preocupar, eu acho que foi melhor assim — disse a garota, tentando disfarçar a voz embargada. — Eu não quero que ninguém nesse mundo passe pelo que ele passou nos últimos dias.

Aquelas palavras atingiram Brawly como um soco no peito. Não queria imaginar o que Casey queria dizer com aquilo. Não se conformava com o fato de pessoas boas terem que morrer torturadas por doenças, ou tendo suas vidas interrompidas antes da hora. Ele se perguntava se não seria o ideal que todos pudessem partir sem sofrimento, uma vez que a morte era algo inevitável.

• • •

Poucas horas se passaram após a notícia. Brawly estava sentado em um ponto isolado na beira da praia, com um olhar vazio em direção ao horizonte. Estava perdido em seus próprios pensamentos, aproveitando o momento de silêncio para tentar organizar a cabeça.

O sol estava forte no auge da tarde, mas o garoto estava confortável debaixo da sombra de uma palmeira. Uma brisa vinda do litoral passava pela área, amenizando o calor costumeiro de Dewford.

Ele estava tão distraído que sequer notou a aproximação de Kola que havia caminhado pela cidade até então, deixando o amigo sozinho para pensar. O homem se sentou ao seu lado, procurando palavras para começar o assunto.

— Então, tá tudo bem?

— Tô suave, cara. É só que é meio estranho tu passar um tempo longe da sua vida antiga e de repente voltar e perceber as coisas que mudaram.

— O tempo pode ser cruel às vezes, mas só resta seguir junto dele. Um dos antigos kahunas da minha ilha uma vez foi lá na aldeia onde eu vivia quando eu era criança, e ele sempre contava histórias. Em uma delas ele fala sobre um pescador que costumava pescar sempre no mesmo rio. Depois de alguns anos aconteceu algum problema que os peixes sumiram de lá, mas o pescador continuava entrando no rio todos os dias na esperança de que um dia os peixes voltassem. Ele passou a vida toda esperando. Nunca mais conheceu outras águas, e nunca mais comeu nenhum peixe.

— Por que está me contando essa história agora?

— Porque essa é a lição que o kahuna queria passar: quando você fica preso ao passado, você desiste de viver o presente e perde a chance de conhecer o futuro.

— Sinistro.

Kola mudou de posição, se recostando no tronco da palmeira para ter uma posição mais confortável.

— É assim que as coisas são, Brawly. Tudo nesse mundo tem seu tempo. A hora sempre chega, mais cedo pra alguns, mais tarde pra outros.

— Eu sei, mas vou sentir falta do velho.

— Mas isso é bom. Significa que ele proporcionou bons momentos pra você.

— É, faz sentido — Brawly deu um sorriso assim que as lembranças de sua infância voltavam à mente. — E foram ótimos momentos.

— Quer compartilhar alguns?

— Teve uma vez quando eu era moleque, devia ter uns dez anos. Eu, o Oswald e a Casey estávamos voltando da feira, aí passamos na frente de uma casa. Bem no jardim da frente tinha uma mesa com uma cesta cheia daquelas berries Iapapa. Cara, eu amo essa fruta!

— Lá vem... — Kola começou a balançar a cabeça negativamente, já prevendo onde aquela história ia dar.

— Eu abri o portão e entrei na cara dura pra pegar uma pra cada um de nós, só que do nada apareceu um Granbull do tamanho daqueles que tem lá na Ilha de Poni! Eu não tive tempo nem de pensar em nada, saí correndo e deixei o portão aberto. O bicho saiu no nosso rastro e nos perseguiu pela cidade inteira!

As histórias seguiram durante um bom tempo. Brawly podia ficar a tarde inteira contando todas as grandes aventuras de quando era mais novo, desde quando eles irritaram um grupo de Taillows sabe-se lá como, até o dia em que ele pegou sua primeira onda.

— Kola, acho que vou ficar em Dewford. Não quero mais sair daqui.

— Por que essa decisão tão de repente?

— Percebi desde ontem que a praia está com menos surfistas, e agora percebo que talvez tenha sido o fechamento da cabana. Eu tenho uma responsabilidade com esse lugar, porque é onde cresci. Tenho que fazer algo para manter a cidade no mapa dos viajantes.

Kola não alterou sua expressão em momento algum, apesar de por dentro estar surpreso com a mudança inesperada do seu amigo. Brawly sempre teve um indomável espírito de liberdade, mas agora parecia estar olhando para seu lar pela primeira vez em muito tempo.

— E já pensou em algo?

— Eu estava bolando uma ideia aqui antes de você chegar. Lembra do noticiário de ontem à noite? Parece que um dos ginásios da Liga Pokémon perdeu a licença. Acho que vou dar entrada na papelada para abrir um aqui em Dewford. Vou me especializar no tipo lutador. Aprendi bastante sobre eles com o Kahuna Hala.

— Eieiei, calma aí, garoto — Kola agora não conseguiu esconder seu espanto. — Tudo bem que você é um ótimo treinador, venceu o Grand Trial nas quatro ilhas, mas tem certeza que você está no nível de um líder de ginásio das grandes ligas? E o único Pokémon lutador que você tem até o momento é aquele Makuhita raivoso que a gente pegou perto de Hau’oli.

— Isso é o de menos. Quero fazer isso por Dewford. E pelo Oswald também, porque ele odiaria ver essa cidade se esvaziando.

O silêncio perdurou por pouco mais de meio minuto. Nenhum dos dois conseguia dizer muito naquele momento, até que Kola também deu sua decisão.

— Também vou ficar — disse o homem, arrancando uma exclamação de Brawly. — Tô gostando desse lugar, e também acho que se eu ficar aqui observando você eu vou aprender algo muito interessante.

— O que te falta aprender, bro? Tu é o cara mais sábio que eu já conheci.

— Ser sábio não significa saber tudo. Ainda falta muita coisa pra eu aprender.

— Então a gente vai aprendendo junto.

Pouco tempo depois Brawly tentou pela primeira vez trazer um ginásio para Dewford, mas não obteve êxito. Ele e Kola resolveram colocar em prática o plano B, que era reformar a cabana deixada por Oswald para que a cidade tivesse mais uma vez um local para aluguel e manutenção de pranchas de surf. Poucos meses depois, após treinar mais, o rapaz conseguiu passar no exame de aptidão e conseguiu a licença para operar um ginásio oficial da Liga na ilha.

A barraca ficou para Casey, a quem Brawly ensinou os processos básicos de conserto e preparação de pranchas. Kola permaneceu no local para ajudar com problemas mais complicados e enfim o ginásio de Dewford foi aberto, não demorando muito para se tornar famoso por ser um dos mais complicados da região de Hoenn. Não só pela localização remota, mas por possuir um líder realmente talentoso.

Com o tempo, o movimento de Dewford se multiplicou de forma que não houvesse mais alta ou baixa temporada. Os surfistas voltaram, pois agora tinham um local de apoio para qualquer problema que o equipamento sofresse, mas além deles os treinadores sedentos por uma vaga na Liga Pokémon também desembarcavam aos montes na ilha paradisíaca procurando superar mais um desafio em suas aventuras.

O movimento já era bem maior do que antes de Brawly ir embora. E pela primeira vez desde sua volta, ele pôde se orgulhar de uma conquista. Sua cidade, sua ilha, seu pequeno mundo, estava de volta ao mapa.

FIM DO CAPÍTULO

  


Notas do Autor - Capítulo 16


Chegamos finalmente ao momento em que a batalha contra o Brawly está marcada! Sapphire agora caminha em direção ao desafio para obter sua segunda insígnia, mas não será tão simples. Fiquei bastante satisfeito de ter começado o ano a todo vapor e poder chegar a esse ponto. Ainda tem algumas coisas que quero fazer aqui antes do Carnaval, e pretendo já colocar tudo pra funcionar o mais rápido possível.

Pra quem acompanha o blog desde a versão antiga da história, percebe-se que este capítulo 16 é equivalente ao 19 da AEH de 2011. Eu lembro que na época escrevi esse capítulo tão hypado, tão eufórico, eu estava tão convicto de que tinha feito algo legal pra preceder a batalha de ginásio que quando veio o feedback da galera eu fiquei com cara de tacho. Todo mundo meteu o pau no capítulo, e na época eu sinceramente não tinha entendido o motivo. Foi bom porque me motivou a fazer a batalha no capítulo seguinte dando o melhor que eu tinha, mas daí avancei a história sem nunca ter procurado entender a razão pela qual o 19 tinha sido um fracasso.

Aí eu peguei ele pra reler, porque às vezes eu readapto coisas da AEH antiga pra essa versão nova, e achei que podia tirar algo do capítulo daquela época pra usar neste. E acho que finalmente entendi o que deixou vocês tão putos da cara. Meu Arceus, o que era aquilo? Eu peço perdão, sério mesmo kkkkkkkkkkkkk

O importante é que vocês deram um bom feedback nessa versão nova, então fico feliz de ter conseguido consertar o que aconteceu na Hoenn antiga.

De resto não tenho muito a dizer, eu só queria compartilhar com vocês essa curiosidade mesmo.

Que venha a batalha de ginásio! Ou talvez não, porque vai ter coisa antes. ( ͡° ͜ʖ ͡°)

Capítulo 16

Seguir em frente


Logo pela manhã Sapphire já se encontrava no ginásio da cidade. Brawly a recebeu pessoalmente na entrada já com um grande sorriso, mesmo sendo tão cedo. Para ele não havia tempo ruim. A desafiante, por sua vez, esboçava todo o cansaço que podia, por não estar acostumada a se levantar antes das dez e meia.

Ela estava sozinha dessa vez. Ruby e Miriam resolveram voltar à Caverna de Granito para explorar o local mais um pouco. Até preferia que fosse assim, pois estava nervosa com o exame físico que teria que prestar.

— E aí? Preparada? — Brawly perguntava, demonstrando sua habitual energia.

— Sei lá, mas vamos ver isso logo.

— Não se preocupe. Vai ser tranquilão, te garanto.

Os dois foram para o lado de dentro da academia, onde Brawly mostrou um circuito com variados tipos de obstáculos, entre os quais havia voltados para saltos, corridas com passos regrados, escaladas e outros tipos de atividade.

— Compreendeu bem o que é pra fazer, ou ficou alguma dúvida?

— Não, acho que já entendi.

— Tudo bem — Brawly deu uma olhada rápida em seu relógio de pulso. — Vamos fazer um aquecimento rápido, e daqui a quinze minutos nós começamos. Libere os Pokémons que pretende usar, o teste é principalmente para eles.

Após alguns minutos variando entre alongamentos e exercícios para ritmar a respiração, Sapphire e seus companheiros de equipe estavam prontos para fazer o circuito. Brawly tinha um cronômetro em mãos, que usaria para marcar o tempo que a equipe desafiante levaria para completar a prova.

— Para serem aprovados para a próxima etapa, vocês devem completar esse circuito em vinte e cinco minutos ou menos, falou?

— Falou — Sapphire e seus parceiros se colocaram em posição de prontidão, esperando apenas a autorização do líder de ginásio para iniciarem.

Dan e Jet estavam com a garota, uma vez que a batalha seria de dois contra dois. Brawly, já habituado a enfrentar treinadores com Pokémons do tipo voador, estava precavido ao colocar um conjunto de obstáculos exclusivo para o pássaro.

— Beleza, em suas marcas... — Brawly olhava para o cronômetro que segurava em uma mão, enquanto a outra que estava erguida foi lançada para baixo. — Manda ver!

Sapphire e sua equipe dispararam para ganhar o máximo de tempo possível no começo da prova. A passada da garota e de Dan, bem como o bater de asas de Jet, estavam em alto ritmo, demonstrando que naquele momento eles já estavam dando tudo de si. Brawly observava com curiosidade o esforço da garota. Ela não estava nem um pouco disposta a fracassar naquele teste.

Pneus, barras, rampas, buracos e cordas. Argolas penduradas no teto também faziam parte do cenário. Sapphire, Dan e Jet passavam por cada obstáculo com atenção, porém com agilidade.

— Mantenham o foco, estamos indo bem! — Sapphire tentava dar breves palavras de incentivo aos seus Pokémons, mas ao mesmo tempo se preocupando para que as falas não atrapalhassem o ritmo de sua respiração.

Jet parecia não ter dificuldades para passar pelos obstáculos. Por ser pequeno e ágil, ele conseguia mudar de direção e retomar o equilíbrio com muita rapidez. Porém, a mesma falta de tamanho já não era tão favorável a Dan, que precisava fazer bastante esforço para saltar sobre obstáculos maiores. Sapphire muitas vezes parava a corrida para se fazer de degrau para o Torchic quando a subida era muito alta.

— Eu confio em você pra vencer mais essa pra nós — disse Sapphire ao pequeno Pokémon de fogo, ainda que a resposta do mesmo fosse de indiferença.

Na medida em que avançava pelos obstáculos, o esforço empregado por Sapphire, Dan e Jet para continuar era cada vez maior. Os três já começavam a dar seus primeiros sinais de desgaste, pois ainda que treinassem diariamente não estavam acostumados com exercícios físicos tão rigorosos.

Sapphire já sentia suas pernas fraquejarem. Seus ombros pareciam ter o triplo do peso naquele momento, e seu peito doía devido à falta de ar. Sentia que ia desabar a qualquer momento, e foi o que aconteceu. A garota caiu para frente, de joelhos, e parecia não encontrar mais forças para se levantar.

Ela respirava com dificuldade. Sua vista já se tornava inimiga ao lhe apresentar imagens turvas e duplicadas.

— Não dá mais... — sua voz mal saía.

A treinadora então foi cercada por seus dois parceiros de equipe. O Torchic a encarava com um semblante descontente, lhe dando as costas logo em seguida. O Taillow apenas a observava com atenção.

Quando Sapphire ergueu a cabeça conseguiu ver a pouco mais de quinze metros o final do trajeto. Ela olhou mais uma vez para a dupla que a acompanhava, novamente olhou para a linha de chegada e entendeu que deveria seguir tentando.

— Está perto demais para eu desistir. Eu vou completar essa prova, independente de cumprir o tempo, independente se eu vou sair daqui direto pra um hospital. Eu tenho que fazer isso.

Brawly permanecia em seu lugar, apenas acompanhando a prova sem tomar nenhuma iniciativa de interferir no andamento da mesma. Vez ou outra dirigia algumas palavras de provocação à menina.

— E aí, Sapphire? Vai desistir?

— Nem pensar!

A garota se ergueu com o pouco de força que ainda tinha e disparou em direção ao final da prova. O líder de ginásio se surpreendeu com a força de vontade de sua desafiante, afastando o dedo do botão para interromper a cronometragem. A menina corria com tudo que podia. Se fosse para cair, ela cairia do outro lado da linha de chegada.

O circuito finalmente foi concluído. Brawly pausou o tempo do cronômetro, e ao olhar para o tempo feito pelo time de Sapphire abriu um sorriso de satisfação.

— Vinte e três minutos e quarenta segundos! — o líder exclamou em tom de surpresa. — Nada mal.

— Qual é a próxima etapa? — Sapphire arfava de cansaço, mal conseguia encontrar forças para fazer sair as palavras de sua boca.

— Vamos dar uma caminhada pela praia. Vá beber uma água e me encontre na porta de entrada.

Assim que Sapphire saiu de perto de Brawly, um dos assistentes da academia o abordou com um semblante confuso.

— Que caminhada é essa? O teste já não terminou?

— Relaxa, cara — o líder respondeu com um riso descontraído. — Tá tudo no esquema.

Juntos, Brawly e Sapphire caminharam até a praia ao norte da cidade. Era lá que se situava a Caverna de Granito, e um dos points de surf mais aclamados da região.

Brawly, porém, decidiu levar Sapphire para um local mais escondido. Uma pequena faixa de areia se mantinha disponível entre as paredes da caverna e o oceano, o que só era possível por ser um horário onde normalmente a maré estava baixa.

— Pode deixar as coisas nesse canto — disse o líder, apontando para um local encostado nas rochas. — Ninguém vem aqui além de mim e a água não vai chegar aí agora. E vamos andar descalços. Vai ser chato entrar areia nos nossos tênis, além de ficarmos parecendo farofeiros.

Os dois começaram a caminhar por uma faixa de areia comprida, que levava ao outro lado da caverna. Sapphire ainda sentia seus músculos doerem devido ao esforço feito no circuito mais cedo. Mas ao mesmo tempo desfrutava do prazer de sentir a brisa litorânea bater contra seu rosto.

— É um vento bom, não é? — Brawly perguntou. — Eu sempre venho aqui sozinho pra colocar os pensamentos em dia. Mas também gosto de trazer os desafiantes gente boa aqui antes das batalhas. Conhecer eles um pouco, saber de suas histórias. De resto, esse aqui é um pedacinho da praia que eu peguei só pra mim. Sem chance de eu contar sobre esse lugar pra qualquer turista.

— E por que você tem essa curiosidade? — Sapphire então fez uma pausa, percebendo que a pergunta foi muito direta. — Desculpa, não tive a intenção de ser grossa.

— Relaxa — o líder deu uma risada. — Quando eu tinha mais ou menos a sua idade eu viajava pra tudo que é canto pra disputar campeonatos de surf. Conheci gente de todo o tipo, lugares incríveis e culturas muito diferentes da de Hoenn. Mas depois que assumi o cargo de líder de ginásio isso se perdeu. Agora fico preso em Dewford, sem muitas oportunidades de sair daqui. Eu amo esse lugar, é onde eu nasci e cresci, mas meu espírito de liberdade me diz que eu preciso ir pra outros lugares também. Assim eu posso sentir saudades daqui um dia.

Sapphire nada dizia. Apenas ouvia atentamente o que parecia um desabafo de um líder de ginásio exausto, apesar de manter sempre um sorriso no rosto. Nunca tinha parado pra pensar na hipótese de que aquelas pessoas também eram treinadores, algo muito maior que meros obstáculos para novatos como ela superarem. E então percebeu que tinha muito a aprender com aquelas pessoas.

— Vou te contar uma coisa. Fica só entre a gente, por enquanto.

— Claro, pode dizer.

— Talvez este seja meu último ano como líder. Assim que os ginásios pararem para o início da Liga eu vou entregar o cargo. Vou apostar mais uma vez na carreira de surfista profissional e deixar a academia funcionando pra ter uma renda extra.

A notícia pegou Sapphire de surpresa. Ainda que ela não conhecesse tanto Brawly a ponto de saber sobre toda a vida dele, não podia deixar de estranhar como ele poderia, com tanta naturalidade, decidir renunciar a um cargo desejado por muitos.

— Eu passei os últimos sete anos da minha vida me sentindo trancado, aguardando vir até mim pessoas que estavam vivendo seus sonhos. Agora eu sinto que preciso ir atrás dos meus também.

— E você pode largar o ginásio assim?

— Tem aquela boa e velha burocracia, saca? Mas eu consigo lidar com isso de boa.

Brawly naquele momento encarava o horizonte, mas se virou para Sapphire exibindo o mesmo sorriso de sempre.

— Já te contei o meu sonho. Qual o seu?

A menina ficou imóvel após a pergunta, com o olhar distante em direção ao mar. Por um breve instante se lembrou do dia em que contou ao seu pai que queria sair em jornada e tentar a sorte como treinadora. Apesar de ter se divertido na estrada com Ruby e Miriam e ter experiências de emoção e adrenalina, outra até mesmo de terror, nunca parou para pensar se estava vivendo o seu sonho. Foi este o motivo para ter saído de casa, afinal.

— Bom — a treinadora ajeitou o cabelo que era bagunçado pelo vento costeiro. — Eu acho que é isso que eu tô tentando descobrir.

— Então veremos qual o tamanho da sua vontade de descobrir esse sonho — Brawly pôs as mãos na cintura, exibindo um semblante de confiança e imposição. — Te vejo amanhã no final da tarde. Aqui mesmo, só que batalharemos no topo da Caverna de Granito. E vou me certificar de chamar uma galera pra assistir.

— P-p-pera aí — Sapphire começou a tremer de nervosismo. — Eu nem fiz a segunda etapa! E que conversa é essa de “chamar uma galera”?

— Sabe como é, eu tava te gastando — o líder ria bastante. — A segunda etapa é a batalha. Tu foi aprovada hoje de manhã já. Eu só joguei essa conversa de “próxima etapa” pra te trazer pra cá.

Sapphire não teve nem tempo de reclamar. Brawly sequer a deixava dizer qualquer coisa. O líder parecia mais animado com a batalha do dia seguinte do que a própria desafiante.

— Bora voltar? Se a maré começar a subir a gente vai ter problema.

Os dois se puseram a caminhar pela mesma faixa estreita de areia, agora ainda menor por conta do avanço do mar tão comum naquele horário. Pouco tempo depois estavam de volta à cidade. Ao pararem na porta de entrada da academia, Brawly explicou com mais detalhes sobre a batalha.

— Essa é apenas uma academia que eu tenho. Ela é considerada oficialmente como o ginásio porque eu precisava de um endereço físico para cadastrá-lo na Liga Pokémon — dizia o rapaz. — Mas as batalhas são sempre no topo da Caverna de Granito. Em horário de maré alta as ondas vêm bastante altas e batem com força nas pedras. É um cenário perfeito para os desafiantes se sentirem inspirados. É a natureza demonstrando sua força, afinal.

— Mal posso esperar pra ver.

O líder de ginásio começou a rir, deixando Sapphire confusa.

— Tu não vai conseguir ver — disse o homem, exibindo um sorriso desafiador logo em seguida. — Eu não vou te dar tempo pra isso.

— É o que vamos ver — a garota respondeu no mesmo tom. — Aprendi muita coisa com você hoje. Até mais do que coisas relacionadas a batalhas e desenvolvimento como treinadora. Mas não pense que vou aliviar pra você amanhã. Tenho um objetivo claro, e preciso conquistar sua insígnia pra seguir em frente.

— Eu tô louco pra te dar essa insígnia, mas tu vai ter que merecer — Brawly estendeu o braço para Sapphire, com o punho ainda fechado. — Bateu mó curiosidade de ver o seu estilo de batalha.

Sapphire sorriu, e com um semblante de provocação rebateu o rapaz.

— Também não vou te dar tempo de analisar isso — a garota então retribuiu o gesto do líder, fazendo com que os dois tocassem seus punhos cerrados.

— É assim que eu gosto. A gente se vê amanhã. Descanse bem até a hora da batalha.

Assim que Brawly entrou na academia, Sapphire ficou encarando a porta por onde ele havia passado. Já se aproximava de meio-dia, mas a sensação que tinha era a de ter se passado um dia inteiro.

Naquele momento a treinadora era tomada por uma sensação de satisfação que não conseguia descrever. Talvez fosse uma mistura de sentimentos que tornava aquele momento tão único. Um novo amigo, um desafio importante se aproximando, uma conversa boa. Com certeza guardaria aquele dia como uma grande experiência, e se sentia mais madura para a importante batalha que teria no dia seguinte.

FIM DO CAPÍTULO 16

  

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