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Notas do Autor - Capítulo 22


Já era hora do menino Rubens começar a fazer as coisas andarem pra frente! Comparado à Sapphire e Miriam ele estava muito atrás. Mas aos poucos a gente vai acertando as coisas e colocando ele na linha kkkkkkkkkkkkkkk

Contests são muito difíceis pra mim, vou confessar. Mas fazendo os de Slateport serem em batalhas foi uma boa oportunidade que encontrei de ganhar tempo para pensar em boas apresentações e ao mesmo tempo dar uma avançada nas coisas da parte desse relacionamento entre ele e o Jeff. Este foi o último contest da Omega Saga, mas em compensação na Alpha Saga já devemos ter dois contests bem próximos um do outro, que seriam Fallarbor e Verdanturf. Vou precisar me virar pra fazer as ideias brotarem. Talvez eu acabe pedindo ajuda ao Lord e ao Dento de novo kkkkkkk

Bom, com isso Slateport está finalizada! Agora que venha o arco de Mauville, para encerrar essa primeira temporada de Aventuras em Hoenn! E vocês achando que eu não ia chegar lá de novo, né? kkkkkkk

Valeu, galera! õ/


Capítulo 22

O grande momento de Jeff


Era chegado o dia do contest de Slateport. O evento havia sido adiado por alguns dias após o incidente com a Team Aqua no museu oceânico da cidade, o que havia sido bom para Ruby no fim das contas. Afinal, o garoto ganhou alguns dias a mais para definir suas estratégias e ensaiar com seu Treecko para que dessa vez a fita de vencedor não escapasse.

Sim, desta vez a vitória seria dele, era o que pensava. Ao ficar em terceiro lugar no contest de Rustboro, logo o primeiro em que competiu, Ruby era um dos novatos que atraíram a atenção dos entusiastas e dos especialistas como um nome promissor para aquela temporada.

O garoto se levantou o mais cedo que podia, já se arrumando para o dia movimentado que viria. Após sair do banho, como sempre com a toalha enrolada na cabeça, ele espalhava uma quantidade absurda de vapor pelo quarto, o que só não acordava Sapphire porque o sono da garota era pesado como o de ninguém mais que conhecera na vida.

Ao passar pelo criado mudo que separava as camas viu novamente o bilhete deixado por Miriam antes de se separar da equipe. Ainda mantinha guardado um sentimento de culpa por ter permitido que aquilo acontecesse, mas também não tinha mais tanta confiança em deixar que viajasse junto com ele alguém que por tanto tempo fingiu ser outra pessoa. E sabia que Sapphire se sentia do mesmo jeito.

Já estava terminando seu café da manhã quando sua companheira de viagem desceu para o refeitório. Parecia acabada como quem não havia dormido direito. Seu rosto inchado, especialmente em torno dos olhos azuis da menina, deixava fácil entender o motivo. Quando ela se sentou, encostou a testa na mesa sem ao menos encarar o garoto.

— Eu chorei a noite inteira — disse, sem acrescentar mais nada.

— É, eu ouvi — Ruby não sabia ao certo o que dizer em resposta, achou melhor controlar a situação apenas se limitando a terminar de comer sua torrada.

— Eu acho estranho isso. Mesmo sabendo que a Miriam escondeu tanta coisa de nós, como eu ainda consigo ficar incomodada por ela não estar mais com a gente?

— É porque apesar dela ter mentido você deve sentir que ela não é uma pessoa ruim. Isso faz parte. Mas não fomos nós que a expulsamos. Pode ter sido motivada pelo ambiente que ficou depois de contar a verdade, mas ela saiu por conta própria. O que a gente pode fazer agora é seguir nosso caminho e torcer pra que algum dia a gente a encontre de novo e consiga resolver tudo.

Ruby virou sua xícara de café, o que pareceu um simbolismo para encerrar aquele assunto pelo menos por enquanto. Sapphire não parecia ter fome, o que era algo muito estranho considerando que ela era vista com frequência comendo alguma coisa, nem que fosse apenas uma fruta. O garoto imaginou que aquela falta de apetite era um sintoma da tristeza de sua amiga, mas mudou o tópico da conversa porque aquele assunto o deixava desconfortável.

— Hoje é um dia crucial para a minha carreira de coordenador. Não conseguir a fita aqui em Slateport deixará minha situação ainda mais complicada a respeito de me classificar pro Grande Festival. Sei que isso vai soar grosseiro, mas eu tenho que deixar a Miriam de lado por ora. Espero que não fique chateada.

— Não, eu entendo — disse Sapphire, que logo em seguida respirou fundo procurando se recompor. — Eu também tenho que esquecer um pouco isso. Hoje vamos resolver esse contest. Você pega a sua fita, amanhã eu treino um pouco pela manhã e nós vamos direto para Mauville!

— Concordo. Afinal, de Slateport até Mauville não vai ser longe. Eu li em um guia sobre Hoenn que foi construída uma pista de ciclismo conectando aqui e lá. Nós podemos alugar bicicletas e chegar lá antes do anoitecer.

— Nossa, eu tinha me esquecido disso! E o aluguel das bicicletas é barato. Ruby, eu não sei o que seria de mim sem um nerd como você pra ficar lendo os guias. Eu ia fazer tudo do jeito mais difícil.

— Fico feliz em ser útil, apesar de ainda não saber se ser “nerd” na sua visão é algo positivo ou negativo — o garoto riu. Dessa vez não se sentiu ofendido, mas pelo contrário estava aliviado ao ver que sua amiga estava voltando ao seu humor habitual.

Sapphire se levantou para ir pegar alguma coisa para comer. Ruby ficou observando a menina caminhar para o balcão do refeitório novamente cheia de energia. Agora que ela estava com a cabeça distraída novamente, o garoto enfim pôde voltar seu foco para a competição da qual participaria algumas horas depois.

Passado o café da manhã os dois se dirigiram ao Contest Hall da cidade. Ali no saguão era onde a dupla teria que se separar, já que ela iria para as arquibancadas e ele para a entrada da sala dos competidores. Ruby foi pego de surpresa quando viu Sapphire erguer o punho para ele.

— Vai lá que hoje é a sua vez! — ela disse com o braço na mesma posição, esperando que o coordenador retribuísse o cumprimento.

— Dessa vez não vai ter erro, eu prometo — Ruby então encostou o seu punho de leve no de Sapphire selando a promessa que sabia que podia cumprir, pois sentia que seu time agora estava mais preparado do que da última vez.

Já sozinho Ruby seguiu para dentro da sala para poder se preparar para a sua apresentação. Não demorou muito para que encontrasse Wally, seu velho amigo de infância que agora também era um rival nas competições.

— Ei, como vai? — o garoto acenou discretamente para não chamar atenção.

— Wally, tudo bem? — Ruby achava engraçada a timidez exagerada do amigo, mas não tocava no assunto para não o deixar ainda mais constrangido. — Espero que tenha praticado bastante, porque hoje eu não vou aliviar pra você.

— Como se você tivesse aliviado da última vez, sua apresentação em Rustboro foi ótima! Mas dessa vez eu tenho vantagem, porque esse contest vai ser focado em batalhas e eu já tenho duas insígnias.

Só então Ruby se lembrou que Wally estava cumprindo a busca por insígnias da Liga Pokémon de forma paralela aos eventos como coordenador. Mas não foi o suficiente para que abalasse sua confiança. Sabia que seu Treecko era forte o bastante para enfrentar quem viesse pela frente, e dessa vez ele estava satisfeito porque poderia enfim participar de combates.

Wally olhava de um lado a outro da sala. Sua expressão era confusa, como quem procurava por algo ou alguém.

— O que foi? — Ruby perguntou ao notar a inquietude do amigo.

— Aquela garota que competiu com a gente em Rustboro, a Emily, não está aqui.

— Mas hoje não é o dia dela — Ruby falou com naturalidade, até perceber que Wally não havia entendido nada. — Ela venceu o contest em Rustboro, então ela avançou para a categoria de nível um, onde vai disputar com outros coordenadores que possuem uma fita. Nós ainda não temos fitas, então permanecemos na categoria de acesso.

— Ah, eu não sabia que era separado desse jeito.

— Francamente, Wally — Ruby deu um suspiro. — Isso serve para tornar as competições mais niveladas e dar a oportunidade de vários coordenadores coletarem fitas suficientes para se classificar para o Grande Festival. Você deveria tirar um tempo para ler o regulamento oficial.

O garoto riu enquanto esfregava a cabeça. Outras pessoas reagiriam de forma negativa ao que Ruby havia dito, mas ele já estava acostumado. Wally sabia que seu amigo não era assim por maldade, apenas por ser alguém com pouca paciência sobrando.

— Você sabe que eu não sou muito atento a detalhes. A Eliza era sua irmã, então quem herdou o talento para ser coordenador foi você.

Ruby não disse nada. Parecia estar observando o movimento na sala dos competidores, mas seu olhar era vago. Wally logo percebeu que havia tocado em um assunto complexo e tratou de desviar o foco da conversa.

— Estou ansioso para ver o que você tem guardado para a apresentação de hoje.

A chamada para que os participantes fossem ao palco foi feita. Todos se dirigiram ao local onde seriam apresentados. Sob aplausos do público os coordenadores entraram e se organizaram em algumas filas de frente para a mesa dos jurados. Sentados à mesa e já apresentados ao público estavam Glacia e Frederick, como da última vez, e agora acompanhados por Lisia, que também seria responsável por avaliar as apresentações daquele dia. Ruby sentiu a ansiedade espetar seu peito por um breve instante ao ver uma das coordenadoras que o inspirou a seguir esse caminho. Não queria fazer feio na frente dela.

— Hoje vamos avaliar a capacidade dos coordenadores de comandar seus Pokémons em batalha ao mesmo tempo em que coordenam movimentos mais condizentes com o estilo de seus companheiros. Um coordenador deve saber mostrar força, mas sem perder a essência de seus parceiros de batalha! — a introdução de Frederick levantou aplausos do público.

— Vocês serão testados em uma batalha simples — completou Glacia. — Ao contrário do que muitos pensam, o resultado da batalha terá o mesmo peso na avaliação do que a parte técnica, então vencer as suas batalhas será determinante para que possam levar a fita hoje.

— Mesmo assim não deixem de colocar todo o potencial de seus Pokémons à vista. Vencer a batalha não adiantará nada se não for feito com movimentos que realcem seus principais atributos — concluiu Lisia.

O telão exibiu uma lista de confrontos que seria a programação daquele dia. Para a surpresa de Ruby e Wally, os dois se enfrentariam naquela tarde. Ambos trocaram olhares confusos, sem saber ao certo como reagir àquela revelação.

— Bem, parece que um de nós vai ficar pra trás hoje — disse Wally mostrando um sorriso sem graça.

— Bom, pelo menos significa que a chance de nós dois sermos rejeitados logo de primeira vai ser menor — Ruby dava um riso disfarçado.

Os coordenadores foram mandados de volta à sala de espera para que as chamadas para as batalhas começassem a ser feitas. Ruby tentava esconder seu nervosismo. Sabia que Wally era mais experiente em batalhas, afinal, o garoto estava disputando as classificatórias para a Liga Pokémon ao enfrentar os ginásios da região. Já ele havia apenas tido sua primeira experiência em batalhas reais no último fim de semana, quando ajudou seus amigos a neutralizarem a ação de alguns membros da Team Aqua.

Ele suava frio. Desde o princípio sabia que seu amigo era um dos favoritos por ter conhecimento de como batalhar, mas enfrentá-lo logo de cara reduzia bastante suas chances de sair vitorioso daquele contest. Descobriu naquele momento que a tranquilidade que havia mostrado perante a superioridade do amigo em batalhas era apenas de fachada.

A hora passava devagar. O tempo parecia querer prolongar aquele desconforto o máximo possível. As batalhas transcorriam sem nenhuma interrupção, e a partir delas Ruby podia ver na prática como tudo acontecia. Os movimentos eram calculados com todo o cuidado por cada dupla de coordenador e Pokémon, a precisão era milimétrica. A execução de todas as estratégias deveria ser perfeita para não dar aos jurados a chance de apontar algum erro, e cada coordenador parecia se esforçar o máximo possível para isso.

Depois de algum tempo a competição teve uma pausa. Desde o momento em que os confrontos foram sorteados Ruby e Wally não se falaram mais. Cada um foi para um canto e lá ficaram sozinhos, aproveitando os últimos minutos que teriam para pensar em como ser bem sucedido nessa próxima prova que teriam.

Viajando em pensamentos mistos, Ruby só foi desperto quando Harriet, a apresentadora do evento o chamou para sua batalha. Era chegada a hora. O ar quase faltava, trazendo à tona aquela mesma sensação asfixiante que havia tido em seu primeiro contest, ainda em Rustboro. Quanto tempo se passou desde então?

— Que venham os próximos coordenadores para o centro da arena! — anunciou a apresentadora. — Wally, da cidade de Verdanturf, e Ruby, da cidade de Violet!

Os dois garotos se colocaram lado a lado na porta da sala de espera, trocaram olhares uma última vez antes de subirem ao palco e enfim caminharam até o local juntos. O público os recebia com aplausos, pois os dois haviam deixado uma ótima primeira impressão desde o contest de Rustboro, marcando seus nomes na lista de novatos promissores daquele ano.

O público parecia bem maior naquele momento. Era como se Ruby estivesse vendo cada pessoa da platéia dobrada. O Contest Hall de Slateport era do mesmo tamanho que o de Rustboro, então devia ser apenas impressão dele. Ou pelo menos era o que esperava.

— Cada um de vocês terá direito a apenas um Pokémon. Utilizem das melhores estratégias que puderem pensar para vencer a batalha, mas mantendo em ênfase as habilidades e atributos de seus parceiros. Presenteiem o público com uma batalha intensa e bela! — Harriet estava eufórica, o que de certa forma contagiava ainda mais os espectadores. — Podem começar!

— Certo Treecko, vamos vencer essa!

— Então esse é o seu inicial — Wally comentou com um sorriso. — Que coincidência, eu também decidi vir com meu primeiro parceiro. Ralts, hoje é com você!

A troca de olhares inicial não demorou muito. Treecko e Ralts logo começaram a travar a batalha, tão logo seus respectivos treinadores deram os primeiros comandos.

Jeff tinha uma agilidade acima da média, o que o permitia se esquivar mesmo dos ataques psíquicos de Ralts. Aquele, porém, era um oponente bem treinado, tanto para batalhas quanto para apresentações. Junto de seu treinador, ele parecia ter pleno domínio de todas as técnicas que queria executar.

— Você é bom — o psíquico comentou enquanto esquivava dos golpes de Jeff, o que chamou a atenção dele. — Vejo que sua vocação é para batalhas, mas eu consigo detectar alguns traços de insegurança na maneira como você se movimenta.

Jeff odiava Pokémons psíquicos justamente por eles serem bastante sensitivos, já que ele tinha alguns detalhes a esconder. Ele se perguntava se Dan havia sofrido com o mesmo problema quando enfrentou aquela Meditite em Dewford, quando de forma súbita foi atordoado por um ruído severo que bagunçou os seus sentidos na mesma hora.

— Incrível o Disarming Voice de Ralts! Treecko parece ter se desligado da batalha por um breve instante que foi o suficiente para que Wally e seu parceiro encontrassem uma brecha! — Harriet narrava a batalha eufórica, acompanhada por aplausos e gritos do público.

Ruby estava em clara desvantagem. Sabia que a velocidade de Treecko para desviar não ia funcionar para sempre. Os ataques psíquicos de Ralts tinham um alcance muito grande para impedir a estratégia de apenas ficar correndo.

— Vamos ter que começar a atacar. Treecko, tente o Quick Attack!

Se o combate a longa distância dava vantagem quase que total a Ralts, Jeff teria que forçar a aproximação. A estratégia era arriscada, mas o réptil fez bom uso de sua velocidade para acertar o seu adversário antes mesmo que ele ou seu treinador pudessem reagir.

— Pode continuar com seus ataques a distância, o Jeff aqui vai te pegar! — gritou o Treecko mais confiante.

— Foi um bom ataque — disse o Ralts, massageando o local onde fora atingido. — Mas não pense que vai ser tão fácil me acertar de novo.

O Ralts se colocou novamente em posição para que a batalha continuasse.

— Quer dizer então que o seu nome é Jeff. Nossos mestres parecem ser amigos, então me anima saber que provavelmente vamos nos encontrar mais vezes além dos contests.

— Que seja — respondeu o Treecko, convencido de que estava começando a tomar o controle da batalha. — Mas já que você sabe meu nome agora, que tal me dizer o seu?

— É uma longa história, mas eu não possuo nome. Não ainda. Não fui criado por ninguém. Meu mestre me encontrou na estrada, eu nunca fiz parte de um bando. Provavelmente fui esquecido ou abandonado por ali, mas não tenho lembranças. Mas não se preocupe, pois eu acredito que vou descobrir um bom nome pra mim na hora certa.

Jeff não sabia como reagir àquela conversa bizarra. Compreendia a razão daquele Ralts não ter um nome, mas durante tanto tempo já era algo estranho. Ele não podia pegar qualquer um para usar?

— Eu não vou tentar procurar alguma razão nisso, ou eu vou ficar doido.

— É, em vez disso eu acho que você deveria focar na nossa luta — disse o Ralts com um sorriso cínico enquanto mexia seus braços em um ritmo cadenciado e intrigante.

Jeff estranhou aquele movimento estranho, mas não demorou muito a perceber que estava em apuros quando uma parede de folhas surgiu na sua frente. Elas eram envoltas por uma misteriosa energia roxo-azulada, tomando como trajetória circular à volta do pequeno réptil de forma até bela para quem assistia de fora.

O Treecko já se colocou em alerta, de prontidão para qualquer eventual investida da parede de folhas em sua direção. Era um Pokémon do tipo planta, conseguiria suportar bem aquele golpe. Ralts utilizou a técnica Magical Leaf para criar a parede de folhas, e em seguida Double Team para se multiplicar no campo de batalha.

As coisas ficavam cada vez mais confusas para Jeff quando ele percebeu que as folhas agora estavam se afastando dele e se dividindo para circular os vários clones do seu adversário, que continuavam movimentando os braços no mesmo padrão do original. Seria difícil dizer onde estava o verdadeiro.

No ponto cego de Jeff, bem às suas costas, um dos Ralts parou o movimento e ergueu os braços para frente, com as pontas de suas patas dianteiras agora emitindo um brilho róseo. Com isso as outras imagens projetadas começaram a fazer o mesmo. Dessa forma, seu adversário não saberia qual era o verdadeiro, tampouco de onde viria o ataque.

No entanto, o Ralts foi surpreendido quando o Treecko se virou com rapidez para a sua frente e o acertou com um Quick Attack direto. Como ainda estava preparando o ataque, o Pokémon psíquico foi pego com a guarda baixa e recebeu todo o dano.

— Como você sabia que era eu? — o Ralts tentava se levantar, indignado com o fato de ter sido descoberto tão facilmente.

— Criar uma distração e atacar o oponente pelo ponto cego é uma estratégia bem manjada — disse Jeff. — Eu posso ser iniciante, mas em batalhas eu sei mais do que você. Não me trata como idiota, mané.

Jeff avançou com rapidez até Ralts. Sua velocidade e movimentação fluida impressionavam o público e os jurados. Antes que o psíquico pudesse se levantar, o Treecko o agarrou pelo braço e uma aura verde começou a emanar de ambos. O Ralts, no entanto, parecia estar recebendo dano, enquanto o réptil não escondia que estava sentindo uma sensação revigorante.

— Um Absorb... — o Ralts ia ficando cada vez mais fraco, sua voz já começava a falhar.

— Uma companheira de grupo me ensinou essa técnica. Foi mal, eu precisava recarregar a bateria antes de te dar a porrada que vai vir agora. Pra ficar bonito pra galera!

Jeff saltou para trás com um grande impulso para se fixar em um dos pilares da arena. Naquele momento todos os olhares estavam concentrados nele, e ele estava começando a tomar gosto por aqueles eventos que sempre considerou chatos e sem finalidade. Foi então que ele se impulsionou novamente, desta vez indo de volta à direção de Ralts, que já estava enfraquecido demais para tentar uma evasiva.

O Treecko fechou seu punho e com ele deu uma marretada bem em cima da cabeça de Ralts. Para uma batalha onde várias técnicas foram apresentadas, um simples Pound foi o encerramento perfeito para realçar o estilo de batalha de Jeff, baseado na velocidade e na força física.

O salão aplaudia a batalha que havia sido demonstrada. Wally e Ruby retornaram seus Pokémons e se dirigiram um ao outro para se cumprimentarem antes de voltarem à sala de espera.

— Mandou muito bem! — disse o primeiro, mexendo uma parte daqueles chamativos cabelos esverdeados.

— Dei tudo que eu tinha pra poder vencer. Eu sabia que você ia ser difícil de enfrentar, mas foi além das minhas expectativas. Seu Ralts é muito bom! — respondeu Ruby. — Depois você vai me ensinar algumas coisas sobre batalhas, vamos nos tornar cada vez melhores!

— Quem venceu a batalha foi você, esqueceu? — Wally começou a rir. — Sou eu quem tem que pedir conselhos a você, e não o contrário!

As batalhas foram acontecendo em sequência. Ao final de todos os confrontos os jurados se reuniram para debater o resultado final. O tempo passava e o resultado não era divulgado, aumentando a apreensão na sala de espera onde estavam os competidores.

Alguns minutos a mais se passaram até que os jurados voltassem para seus lugares no palco principal. O público começava a murmurar, alguns ansiosos, outros já deduzindo qual seria o resultado. Harriet se dirigiu ao centro do palco onde daria o anúncio final. Já tinha o envelope com o resultado em mãos, restando apenas o momento mais aguardado daquela tarde onde ela o abriria para revelar de uma vez por todas quem foi o vencedor.

A apresentadora parecia se divertir com a tensão predominante no local, já que passava o dedo por trás do lacre do envelope o mais devagar que podia. Quando terminou de soltar a cola retirou o bilhete para ler em voz alta o anúncio definitivo.

— Senhoras e senhores espectadores, é com muito prazer que eu anuncio o vencedor do Contest de Slateport. O primeiro lugar fica com Ruby, da cidade de Violet!

Ruby arregalou os olhos na sala de espera, recebendo tapinhas nas costas de Wally. Seu cérebro parecia ainda não ter assimilado a informação. Sua primeira vitória em um contest, e logo na sua segunda tentativa. Um feito marcante que poderia consolidar de vez a sua carreira, assim como sua fama de ser um dos novatos mais promissores da temporada.

Ao ser chamado, ele se dirigiu até o centro do palco para receber a sua fita. Uma quantidade enorme de pessoas o aplaudia agora, inclusive os jurados que sorriam para ele com expressões de satisfação. Entre eles Lisia, uma das coordenadoras que ele mais admirava, uma de suas inspirações para que seguisse esse sonho.

— Senhores jurados, algumas palavras para nosso vencedor de hoje? — Harriet deu a deixa para que os avaliadores pudessem dar seu feedback.

— Nossas opiniões foram bem parecidas, então combinamos que eu falaria por nós três para poder poupar tempo — disse Lisia, já se levantando de sua cadeira. — Acreditamos que Ruby mereça o prêmio, não só pela sua capacidade de batalha que se mostrou acima da média, mas justamente pelo que tanto prezamos nesse evento que foi extrair o potencial máximo do melhor atributo de seu Pokémon. Treecko possui muita velocidade e força física, e toda a composição de batalha deles foi feita pensando nessas duas características. As evasivas e a movimentação rápida e objetiva foram simples, mas muito bonitas de assistir. Além disso, muito eficaz, sendo utilizada para forçar a aproximação a um oponente especializado em ataques a longa distância, o que geralmente representa uma desvantagem para seu estilo de luta.

Lisia caminhou até Ruby, levando consigo uma almofada que possuía uma pequena fita com uma medalha ao centro, a prova de que o garoto conseguiu superar pela primeira vez um desafio que o separava de seu sonho de disputar o Grande Festival. Agora só faltavam mais quatro.


— E é por isso que o consideramos merecedor dessa fita. Que você continue alçando vôos cada vez mais altos e possa nos surpreender daqui pra frente com apresentações cada vez mais fantásticas. Parabéns!

• • •

No fim daquela tarde Ruby e Sapphire estavam sentados em um banco numa praça próxima ao Mercado de Slateport. A menina não parava de falar sobre a batalha que viu Ruby travar. Ela estava eufórica demais para deixar o amigo sequer dizer algo.

— Eu acho que você devia começar a enfrentar os ginásios também! Vamos ser rivais e nos enfrentarmos na Liga, Ruby! Você leva jeito!

— Calma, contests já dão muito trabalho. Eu não sei como o Wally consegue conciliar as vidas de treinador e coordenador. É muito pesado.

— O Wallace conseguiu e foi Campeão de Hoenn e Top Coordenador.

— Eu sei, Sapphire. Só tem um detalhe. O Wallace é o Wallace. Eu sou um mero mortal.

— Você é muito pessimista!

Wally foi se aproximando logo em seguida. Assim como o Treecko de Ruby, seu Ralts estava fora da Pokéball. Um descanso que os dois mereciam depois da intensa batalha que travaram mais cedo. Enquanto os treinadores conversavam, os Pokémons também resolveram interagir, agora em circunstâncias bem mais tranquilas.

— Você me surpreendeu hoje — disse o Ralts. — Talvez eu ainda não tenha muita noção de batalhas, mas hoje tive um bom aprendizado.

— Você me deu uma trabalheira hoje que faz tempo que eu não tinha — disse Jeff, até que percebeu que o Ralts se alegrou com o comentário. — Mas não vai se acostumando, vou ser bem mais crítico da próxima vez que batalharmos.

— Eu me senti inspirado hoje, mesmo com a derrota. Por isso eu me decidi. Vou me especializar em ataques físicos. Assim quando lutarmos da próxima vez vamos medir nossas forças no mano a mano.

— Que seja. Boa sorte tentando me superar, “carinha do capacete verde”. Daqui pra frente eu só vou ficar cada vez mais forte!

— Era justamente o que eu queria ouvir.

Quem também se aproximou do grupo em seguida foi Ethan. O rapaz vinha sorrindo desde que surgiu no campo de visão dos jovens viajantes. Ele se dirigiu primeiro a Sapphire, dando uma bagunçada nos cabelos da menina, e em seguida a Ruby.

— Eu vi a sua apresentação hoje. Mandou muito bem!

— Bom, depois de você quase me levar pra morte no último fim de semana as batalhas acabaram ficando menos aterrorizantes pra mim — Ruby respondeu com um riso.

— E aí, Sapphire? O que vão fazer daqui pra frente?

— Agora que Ruby já resolveu sua vida aqui, a gente vai seguir pra Mauville. Lá fica o ginásio onde vou tentar minha terceira insígnia. Vocês estão indo pra onde?

— Eu vou ficar aqui por mais um tempo, quero aproveitar que a Lisia está na cidade pra gente dar uma volta e colocar a conversa em dia. Já faz muito tempo que a gente não se vê.

Sapphire abriu um sorriso carregado de maldade para Ethan, que estranhou a reação da garota.

— O que foi?

— Nada, só comecei a imaginar o que aconteceria se eu contasse pra sua namorada que você tem andado com outras garotas aqui em Hoenn enquanto ela está em Sinnoh.

Ethan ficou pálido na mesma hora. Sapphire já tentava segurar o riso com todas as suas forças.

— Sapphire... Pelo amor de Arceus, nem brinca com uma coisa dessa. Ela vai me matar de verdade.

— E você, Wally? O que vai fazer agora? — perguntou Ruby.

— Agora tenho que correr atrás de insígnias, já que o contest aqui terminou. Depois que venci a Roxanne em Rustboro eu vim por Verdanturf e enfrentei o ginásio de Mauville. Então vou pegar uma balsa daqui até Dewford para enfrentar o líder de lá.

— Vai preparado, porque não vai ser fácil — Sapphire comentou. — Mas diga ao Brawly que eu mandei um oi. E cuidado com aquele Makuhita psicopata dele!

— Ok, recado anotado! — Wally fez um sinal de continência.

A estadia de Ruby e Sapphire em Slateport foi longa, mas já estava chegando a suas horas finais. Muita coisa aconteceu enquanto lá estiveram, e certos acontecimentos que ocorreram na cidade nesse tempo seriam decisivos para inúmeras coisas que ainda estavam por vir.

FIM DO CAPÍTULO 22

  

Meus 10 anos como escritor

Só lamento que o bendito WayBackMachine não tenha salvo os buttons do menu, daí ficam essas imagens bugadas kkk

Eu já sei onde isso vai dar: vocês me zoando, dizendo que eu sou velho. Mas o que eu posso fazer? São 10 anos de estrada, tendo passado pelos mais variados cantos me esforçando pra ter minhas histórias lidas e alguma alma bondosa dizer: "Ei, até que você é gente".

Não vamos mentir. Escritores, mesmo amadores como eu, precisam "publicar" as histórias em algum lugar. A própria palavra já diz tudo: tornar público, expor para outras pessoas. Buscamos reconhecimento, queremos alguém que nos dê a confirmação de que nosso esforço valeu a pena. Não dá pra negar.

Muita coisa aconteceu nesse tempo, e eu quero compartilhar com vocês.

Antes do início, o primeiro contato com a escrita

Volto ao ano de 2005, onde para um trabalho de escola a professora de Produção de Texto pediu para que cada aluno "escrevesse um livro". Cara, eu conheço gente que escreveu livros e publicou de verdade. O Canas, que dispensa apresentações, e a Tsuki, pessoa fantástica que me ajudou muito na retomada desse blog após meu longo hiato de dois anos sem escrever, publicaram livros (respectivamente "Matéria: Espada de Madeira" e "Garnet: Labirinto de Sombras"), e cara... Aquele trabalho não foi nem perto disso kkkkkkkkkk Mas é óbvio, naquela época eu já sabia que a professora não estava falando sério. Era mais precisamente criar uma história curtinha, imprimir e encadernar.

Eu escrevi uma pequena trama de mistério policial, da qual não tenho muitas lembranças porque a professora simplesmente nunca me devolveu o trabalho e eu não tinha o backup da história no meu computador. Talvez ela tenha gostado demais da história e resolveu dar um perdido em mim (aham Shadow, senta lá). E essa foi a minha primeira experiência com escrita e criação de histórias, mas também foi a única pelos próximos anos que se passaram.

2009 - "Isso aqui se chama fanfic"

Eu estava no Ensino Médio. Tive uma perda na família dois anos antes, minha cabeça estava simplesmente em lugar nenhum. Não estudava pra nada, não queria procurar nada pra me profissionalizar, não tinha interesse em nenhuma atividade que pudesse me desenvolver como pessoa ou profissional. Eu só passava meus dias jogando videogame e indo pros treinos de futebol.

Nessa época eu tinha o canal Animax em casa, então quando eu o encontrei eu comecei a acompanhar alguns animes. Já tinha tido experiências com animes "fora do mainstream BR" quando acompanhei Fullmetal Alchemist e Hunter X Hunter pela RedeTV (o foda era ficar esperando terminar aqueles programas de igreja que os caras faziam cadeirante sair andando), e dali com o Animax eu comecei a assistir alguns outros como Death Note e Bleach, que pra mim eram coisas completamente desconhecidas e que só a galera underground sabia da existência. Eu nem imaginava o tamanho do universo de otakus fedidos que existia nos confins da internet.

Nesse ano de 2009 uma prima minha, que também curtia essa parada de ficar assistindo anime e tal, me mostrou um site chamado Fanfiction.net, onde um pessoal escrevia por hobbie o que chamavam de fanfics (ficções criadas por fãs), histórias de obras já existentes imaginadas por pessoas que gostavam daquela categoria. Mas ao contrário do que vocês devem estar imaginando agora, não é aqui que começa minha caminhada nesse mundo, porque nessa época eu larguei um belo de um foda-se para as tais fanfics kkkkkkkkkk Fora que eu sempre achei o Fanfiction.net um site bem feio e confuso de usar.

Foi um pouco mais pro final desse ano que eu a vi mexendo no Nyah e lendo algumas fics de Naruto. Esse site eu já achei mais legal e bem construído (O TEMPLATE DESSA ÉPOCA ERA BEM MELHOR QUE O ATUAL E TIRARAM ISSO DE MIM), mas as fics ainda não me criavam interesse.

Foi no verão seguinte que tudo começou a se desenhar

Janeiro de 2010. Fomos passar alguns dias numa casa de veraneio da minha madrinha. Fomos eu, minha mãe, minha irmã e essa nossa prima.

Estávamos conversando sobre animes novamente numa tarde lá, e aí ela trouxe mais uma vez o assunto das fanfics. Dessa vez ela estava lendo uma comédia muito popular no site na época chamada "L, o Psicólogo", um crossover com vários personagens de animes diferentes. E ela começou a contar algumas cenas engraçadas, até que fui me interessando pela história.

Eu não tinha internet em casa naquela época, mas queria ler. Minha prima então compilou todos os capítulos em um documento do Word e depois levou pra mim em um pendrive. Assim eu poderia ler sem precisar procurar um lugar onde acessar o site.

Eu chorei de rir com a história, devorei os capítulos em tempo recorde. E de repente eu, que nunca tive o hábito de leitura e até hoje não a considero uma de minhas principais atividades, estava extremamente interessado pelo universo das fics ao ponto de eu mesmo querer criar algo nesse estilo. Eu queria criar algo que fosse tão engraçado quanto "L, o Psicólogo". Mas nem passava pela minha cabeça publicar a história. Sempre fui muito tímido, eu não achava que seria uma boa experiência mostrar algo para todos e de repente ser julgado com gente dizendo que eu fiz um trabalho horrível. Fui escrevendo porque queria, e só pra mim.

Quando essa prima minha voltou em casa um dia eu disse que tinha tentado criar uma história daquele tipo, e mostrei a ela quase 20 capítulos que eu havia criado em pouco mais de uma semana. Era um lixo, era crossoverzão clichê com piadas nada originais e situações esdrúxulas totalmente nonsense. Mas éramos aborrecentes de 16 anos cheios de merda na cabeça, a gente sabia ser feliz com pouco e é verdade o que digo quando o aumento do nosso senso crítico tira a graça de muita coisa. Se um dia vocês vão ver aquilo? NUNCA! Mas foi ali que eu comecei, porque ela disse que curtiu a história e que eu deveria postar aquele plágio mal feito no Nyah.

Reação do Shadow relendo suas fics antigas
Pois bem, dia 14 de Março de 2010, curiosamente também um sábado, eu publiquei o primeiro capítulo dessa vergonha alheia no Nyah. Levou uma semana até que eu começasse a ganhar leitores, mas quando aconteceu as coisas foram engrenando em uma crescente incrível.

Naquela época o Nyah possuía um sistema de RPG que detalhava o nível de cada usuário no site. Você ganhava experiência para subir de nível toda vez que publicava uma história ou comentava na de alguém.

O site era muito movimentado nessa época, e combinado a isso esse sistema de RPG que deixava todo mundo hypado pra upar a conta até o nível mais de 8000 era relativamente fácil ser lido e comentado por lá. O problema é que muita gente spammava comentários em tudo quanto é história só pra ganhar XP, e muito provavelmente muitos nem liam as histórias. Isso fica evidente com a quantidade de comentários (ou reviews, como eram chamados na época lá no Nyah) em que só se lia "KKKKKK ADOREI CONTINUA BJS", sem sequer mencionar algo da história. Por outro lado, era o que mantinha o movimento e era divertido, sem falar que os números de comentários bem ou mal ajudavam a história a atrair os olhares do público.

É, lá estava eu, sob o nick de "Alchemist" (fanboy de Fullmetal é foda, man) com minha humilde fic tendo conquistado mais de 300 comentários ao fim da primeira temporada que tinha 25 capítulos (uma média de 12 reviews por capítulo, o que era bom demais para o novato mongolóide aqui). Nas fics seguintes, onde eu já tinha alguns leitores consolidados, começaram a aparecer as tão desejadas e tão aguardadas recomendações. Se você está lendo isso e nunca fez parte do Nyah, só veio pelos blogs ou pelo Spirit, recomendação é uma ferramenta que existe lá até hoje, e é o maior troféu que você pode conseguir na sua história. Os comentários e favoritos não se comparavam nem de perto ao peso de uma recomendação no Nyah. Era a prova máxima de que você realmente despertou a admiração do leitor que a deu pra você. Era uma conquista de valor inestimável, e algumas delas começaram a aparecer nas minhas histórias. Para vocês terem uma ideia do quão foda é a recomendação, quando você manda alguma recomendação para uma história no Nyah (pelo menos na época era assim) ela não aparecia de imediato na história. Ela era mandada para a moderação do site analisar se era uma recomendação pertinente, se fazia sentido o que você estava apontando como o que você gostou da história. Isso ajudava a ferramenta a não ser utilizada por pessoas se passando por outras para fazer suas histórias ganharem status de forma artificial, ou mesmo autores desesperados trocarem recomendações por interesse. Era pra ser uma parada verdadeira, e eles se esforçavam para que a ferramenta de recomendações não fosse banalizada de alguma forma. Por isso era tão foda conseguir uma, porque provava pra todos que sua história despertou um sentimento verdadeiro em um leitor. E isso é do caralho!

Chega de crossovers! Onde entra Pokémon nessa história?

Pokémon sempre fez parte da minha vida. Eu assisti o episódio de estreia na Cartoon Network quando o anime veio para o Brasil. Com 10 anos de idade ganhei meu primeiro GameBoy, e um tempo depois o Pokémon Crystal e o Pokémon Yellow. O pirralho já sonhava com Pokémon toda noite, imagina ganhar um jogo e viver sua própria jornada o que não fez com a cabeça do dito cujo!

Me apaixonei e me dediquei aos jogos ao ponto de ter parente meu falando que eu ia ficar doido se não tirasse a cara do videogame.

Só que depois de um tempo eu fui me afastando da franquia. O anime já não me despertava mais tanto interesse como antes, começava a ficar chato e repetitivo. Só que aí minha prima (a mesma, tinha que ser) trouxe um emulador de Nintendo DS pra mim. Instalei no PC e vi que uma das roms era o Pokémon Diamond. Eu nunca tinha visto nada de Sinnoh, eu nem mesmo sabia que essa geração existia, só pra vocês terem uma ideia de quanto tempo eu fiquei alheio à franquia! Comecei a jogar e a nostalgia foi batendo forte. Depois de um tempo eu me peguei pensando como seria uma fic de Pokémon. Não demorou muito até que eu fosse procurar as respostas. Onde? Isso mesmo, no Nyah. E eu descobri que a categoria de Pokémon de lá era praticamente outro universo!

A primeira fic que eu encontrei lá foi uma chamada "A Jornada Nyah", escrita pelo Lino New. Exatamente, o primeiro escritor de Aventuras em Hoenn. Mas a gente chega nessa parte da história depois. O que ocorre é que eu curti muito a história, achei maneiro demais o modelo de narrativa de uma jornada Pokémon em forma de fanfic. E se antes eu tinha as aventuras engessadas dos jogos onde sempre acontecia a mesma coisa, agora eu tinha campo aberto para fazer as coisas acontecerem do jeito que eu quisesse.

Comecei a trocar ideia com o Lino, até que ele me apresentou um grupo chamado "Ficwriters" no MSN, um grupão que reunia um porradeiro de gente. Depois teve uma briga, a galera saiu do grupo e duas horas depois se reconciliaram e criaram um novo chamado "New Ficwriters". É, foi desse jeito mesmo, acreditem.

E é aqui que as engrenagens começam a se mover para direções mais decisivas.

No NF, como a gente chamava o grupo, eu tinha bastante contato com o Lino e trocávamos muitas ideias. É um cara que foi parceirão durante todo o tempo que fiquei na categoria de Pokémon no Nyah, e juntos iniciamos uma fic, e o que seria minha primeira história na categoria de Pokémon chamada "Pokémon New Generation Journey", mas como havia uma fic conhecida chamada "Pokémon New Generation" nós resolvemos mudar o nome para apenas "Pokémon New Journey". Basicamente era uma jornada que se passava com o filho do Ash, 25 anos após a jornada dele. Paramos em Pewter.

Mas dali as coisas começariam a tomar outro rumo.

Aliança Aventuras

No final de 2010 tudo parecia se desenrolar tranquilamente na vida, tirando o fato de que o Nyah tinha dado uma loucura de mudar radicalmente o layout do site e entrar com regras mais rígidas de escrita, o que desagradou muita gente. Tentamos uma migração pro Spirit, mas na época eu achei o site bastante confuso e não quis continuar por lá. Migramos pro FFSol, mas também não durou muito tempo. A maioria do grupo voltou para o Nyah.

Em Fevereiro um dos membros do NF, Little Celebi, me mostrou uma coisa que eu nunca achei que fosse ver na minha vida: uma fic postada em um blog só pra ela. De início eu achei aquilo estranho, mas ele comentou que estava bolando um projeto ambicioso sobre várias fanfics, cada uma escrita por um autor responsável por uma região diferente. No começo eu fiquei um pouco desconfiado, nunca nem abri um blog na vida e tinha dúvidas a respeito da maneira como ele seria divulgado e encontrado. Mas eu não ia perder nada por tentar, então aceitei o desafio.

Dessa forma, três escritores desse grupo do Nyah formaram a Aliança Aventuras. O Celebi era o fundador e idealizador da equipe e assumiu Johto. O Lino assumiu Hoenn. E eu fiquei encarregado de Kanto. Com o passar do tempo foi feito o convite para que um quarto membro vindo daquele grupo se juntasse à equipe. Esse cara com quem eu nem falava na época, simplesmente trocamos ideia duas vezes durante todo o tempo que esse grupo existiu. Se eu voltasse no tempo e dissesse a mim mesmo que esse cara se tornaria um dos meus melhores amigos minha versão do passado teria dado risada e dito que era impossível. Canas assumiu Sinnoh e não a largou mais.

Depois de um tempo eu troquei de posição com o Lino. Ele foi pra Kanto e eu vim parar em Hoenn. A Aliança foi recebendo membros novos com o passar do tempo e a equipe foi crescendo. Eu fui conseguindo leitores aos poucos, tinha um ritmo de escrita bem razoável que me permitiu chegar a uma marca de 22 semanas postando capítulos de forma ininterrupta.

A Era de Ouro da Aliança

Dizer que a gente ficou famoso pode soar muito presunçoso da minha parte. Eu digo que o Canas ficou famoso, até porque os números que Sinnoh conquistou na época são a prova disso. A gente meio que pegou um reconhecimento de tabela porque estávamos na equipe, mas a cobrança era muita e não conseguíamos manter o ritmo na época.

Eu sabia que estava conseguindo crescer meu número de leitores, mas eu ficava "trancado" em AEH, só saindo dali para outros blogs da Aliança e eventualmente um ou outro cuja história eu acompanhava.

Mas certa vez o Lord, que entrou em Kanto após a saída do Lino, me convidou para ver algo que ele considerou (de forma certa até) que eu acharia interessante. Fomos até um blog antigo chamado Arena Pokémon onde ele me mostrou um tipo de RPG de jornada que eles faziam usando os famosos chats. Eis que entrei no chat com meu pseudônimo (assim que entrei em Hoenn eu já usava o nick de Shadow Zangoose), e prontamente algumas pessoas presentes começaram a me reconhecer e me receber muito bem por lá. Foi algo simples, mas impactante. Ali caiu a ficha de que algo estava acontecendo e a Aliança estava se tornando bem mais conhecida na comunidade de blogs.

O que era pra ser algo fantástico pra nós foi na verdade a razão de muita coisa que deu errado em seguida. Muita gente admirava o projeto da Aliança, e eventualmente receberíamos pedidos de entrada de vários escritores para fazer parte da equipe.

Quando um bando de garotos começa a chamar a atenção de uma comunidade, e ser admirado (porque a gente era, recebíamos mensagens de escritores e leitores sempre elogiando, desejando sucesso e pedindo para que continuássemos as histórias), chega uma hora que as coisas saem do controle. A gente se convence que não tem mais nada a aprender e se isola no castelo de vidro que é o nosso próprio ego.

Eu posso me orgulhar de nunca ter destratado um autor que tenha vindo pedir ajuda ou pra eu ler a história dele ou dela, ou um leitor que tenha vindo apenas conversar. Mas não significa que eu não tenha agido de forma idiota. Era um problema geral da Aliança. Nos isolamos como seres intocáveis, criamos o nosso clubinho fechado e deixamos de desfrutar de uma das experiências mais incríveis que poderíamos ter, que é simplesmente interagir com uma comunidade inteira.

Quando um grupo inteiro se julga no topo, eventualmente interesses começam a entrar em conflito, e cada um tenta defender seu ego do jeito que pode. Aliado a isso passamos a escrever para cumprir metas em vez de escrever por prazer. Toda semana tinha que ter capítulo novo. Isso cansa, e chega uma hora que a escrita deixa de ser um prazer.

No começo de 2014 eu dei a Aventuras em Hoenn por encerrada, com 55 capítulos postados do plot principal mais os especiais, entreguei o blog para o Canas e resolvi me aposentar do ramo das fics. E assim fiquei por bastante tempo, parado e sem fazer mais nada. Fui viver minha vida.

Mas em 2016 o novo escritor de Johto e novo líder da equipe, o Dento, esse arrombado íngua demente, começou a me encher o saco pra voltar pra Hoenn e terminar aquilo que eu tinha começado. Mas terminar algo que eu não gostava mais, que era a Aventuras em Hoenn do jeito que era, estava fora de cogitação.

Aceitei voltar a escrever pra ver se ele calava a boca, mas decidi que eu começaria a história do zero. Usaria a mesma base da Hoenn que eu escrevi durante tanto tempo, mas com adaptações de roteiro, algumas mudanças que eu julgava que tornariam a história mais dinâmica e o aproveitamento de elementos que vieram com os remakes Omega Ruby e Alpha Sapphire. Ah, e claro: minha escrita agora é bem melhor do que antes.

Um novo começo

Quando tanto tempo se passa sem que você crie alguma coisa, a impressão que se tem é que o começo será do zero mesmo. Tudo que você tinha conquistado a respeito de leitores e tudo mais provavelmente teria desaparecido, e o esforço agora teria que ser dobrado para que pudesse voltar à estaca inicial.

Mas leitor da Aliança é um bicho tão incrível que parece que eles sentem o cheiro de algo acontecendo. Eu estava preparando o blog para a volta, deixando algumas postagens dos menus pré-prontas. Só que o imbecil que vos fala esqueceu de deixar o blog fechado enquanto fazia isso.

Tive a ajuda da equipe da Aliança, que estava renovada após os problemas internos que ocorreram no final de 2013 que ocasionou a saída de alguns membros e um desgaste enorme entre os remanescentes. E quanto aos leitores... Bem, eles vieram até o blog sabe-se lá o motivo e viram as atualizações. O pessoal ficou bem animado com a possibilidade de AEH estar voltando. E eu fiquei surpreso e ao mesmo tempo motivado, porque mesmo depois de tanto tempo fora após ter sumido e deletado tudo sem dar satisfação o que eu tinha construído antes não estava 100% perdido.

O grande desafio nessa volta era justamente escrever. Depois de 2 anos longe daquela rotina insana de produção de capítulos a gente perde totalmente o ritmo e o hábito da escrita. Eu mesmo nunca mais fui capaz de recuperar esse ritmo desde que voltei a escrever. Tanto é que estamos há tanto tempo de volta à ativa e ainda vou terminar a primeira temporada da história. Mas foi assim que pude perceber que na verdade os leitores não estavam ligando muito pra isso. Eles apoiavam a história do jeito que ela vinha sendo postada, mesmo com grandes hiatos entre um capítulo e outro, e assim a gente se toca que a pressão por capítulos semanais e produção intensa é tudo coisa da nossa cabeça. Eu estava impondo a mim essa rotina desgraçada.

Hoje demoro um pouco para fazer a história andar, mas escrevo quando estou me sentindo bem pra isso. E isso afeta positivamente a fic.

Começamos então a juntar os cacos. A comunidade de fics de Pokémon nos blogs estava completamente abandonada. Mas não desanimamos. Essa é a nossa casa. Começamos a correr atrás do pessoal das antigas, e aos poucos os contatos foram reaparecendo. Conseguimos erguer um grupo no Discord que hoje conta com quase 40 pessoas de Brasil e Portugal, e esse número continua subindo. Blogs antigos voltaram à ativa, velhos parceiros como a Neo Aliança ressurgiram e hoje estamos com uma comunidade pequena, porém unida, de blogs parceiros, apenas aguardando mais gente que queira fazer parte dessa bagunça.

Voltei ao Spirit em busca de novas histórias e dessa vez aprendi a navegar pelo site com mais facilidade. Percebi que a categoria de Pokémon lá estava enorme, enquanto a do Nyah parecia estar bem mais abandonada. Resolvi entrar de vez no site com dois propósitos em mente: postar AEH lá, sob o título de Trails of Destiny: Gateway to Hoenn, para tentar conseguir mais alguns leitores, e encontrar e ajudar leitores novatos, porque o começo no ramo das fanfics é foda, e eu vejo muita gente promissora desistindo antes da hora por falta de incentivo. Era um trabalho árduo. Quando a gente escreve por muito tempo e vai melhorando o nosso senso crítico também aumenta, e assim passamos a nos agradar com muito menos coisas. Se antes nos divertíamos com qualquer história, hoje corremos desesperadamente atrás de ler apenas o que consideramos bom. Mas o que é bom? Eu cheguei à conclusão de que bom é aquilo que nos diverte. E tem muita história divertida por aí. Às vezes a pessoa comete erros de escrita e furos de roteiro por ser inexperiente, mas lendo a história dela você percebe que ali existe um potencial escondido, e que esse escritor novato talvez só precise de outros leitores e escritores para trocar ideias e seu talento verdadeiro ser revelado. Por isso meu grande desafio foi justamente tentar ler as histórias com o senso crítico desligado, apenas para incentivar esses novatos, e com o tempo eles escreveriam novas histórias e aí a gente poderia começar a apontar algumas coisas a serem melhoraras, de pouco a pouco.

Mas não só de novatos vive o Spirit. Às vezes eu queria ler alguma história diferente que fosse de alto nível, a gente precisa de um combustível pra continuar lendo e escrevendo. E lá eu encontrei escritores fantásticos com histórias incríveis as quais eu comecei a ler e acompanhar. E já divulguei essa galera toda pro pessoal do Discord que também frequenta o Spirit. Em um outro momento onde me peguei na presunção de achar que não tinha mais muita coisa a aprender foi com esses escritores que consegui muitas dicas valiosas que me ajudaram muito a encontrar alguns caminhos para tornar a fic mais dinâmica e interessante. Outra prova de que o aprendizado nunca termina.

Ok, hora de terminar esse post logo...

Se você leu até aqui, parabéns por aguentar esse veterano falando sobre sua caminhada. Não sei se compartilhar todos os meus erros e acertos ao longo desse tempo vai te ajudar em alguma coisa, mas obrigado pela atenção mesmo assim. Esse post é um dos mais importantes que já fiz.

Eu vou fazer alguns agradecimentos pontuais que sinto que são necessários, porque são de pessoas e grupos que fizeram parte dessa trajetória, que me ajudaram a chegar aos 10 anos de escrita ainda em atividade. Ontem mesmo eu comentava com o Canas que eu nunca imaginei que chegaria a essa marca podendo fazer um post no blog. Pra mim já estaria tudo abandonado e essa marca passaria despercebida.

Agradecendo primeiramente os escritores dos tempos do NF. Podemos não nos falar com tanta frequência hoje em dia, mas eu sei que a hora que eu der um oi vai ser como se nunca tivéssemos deixado de nos falar.

Meus parceiros de Aliança Aventuras, vocês são meus irmãos. A gente é foda, a gente já passou por tudo quanto é tipo de situação! Só bizarrice aconteceu quando estive com vocês, pessoalmente ou pela internet mesmo, mas foi muito bom! kkkkkkkkkkkkkkkkk

Ao povão do Discord, valeu por terem vindo fazer parte desse hospício! Qualquer um teria achado loucura nossa vontade de fazer os blogs voltarem a respirar, mas vocês vieram junto e fizeram muita diferença nessa retomada. Com um comentário extra para o Chinatsu, o artista genial responsável por dar vida a uma das personagens que mais curto escrever sobre. Termina logo sua HQ pra eu poder ler :)

Por fim os leitores. O mais importante eu quis deixar por último (se você está lendo isso e se encaixa em algum dos grupos acima, mas lê a minha história, fica suave que você está incluso aqui também). Aqueles que me acompanham desde o começo. Aqueles que passaram a me acompanhar na AEH nova. Aqueles que me receberam no Nyah e no Spirit. Aqueles que leram apenas um único capítulo de Hoenn e desapareceram. Você que é "leitor-fantasma", que só lê e não aparece. Todos vocês tiveram papel fundamental no que a AEH é hoje.

Canas, Dento, Vinnie e Angie. Os leitores mais antigos de AEH que estão na ativa acompanhando a história até hoje. Vocês são fodas!

Se você é um leitor da AEH antiga que sumiu e de repente de alguma forma está acessando esse post hoje, saiba que eu lembro de você. Ou pelo menos de 90% de vocês, porque eu fiz a burrice de deletar o blog todo daquela vez sem ter feito um backup dos comentários ç_ç

A todos os que estão comigo hoje, vocês são fodas. Tem hora que eu quero jogar essa porra toda pro alto de novo e ir embora viver minha vida, mas vocês não me deixam fazer essa idiotice de novo. É por causa de vocês que eu digo que eu vou terminar essa porra de uma vez.

NEM QUE PRA ISSO EU LEVE MAIS 10 ANOS



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