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Notas do Autor - A Gym Leader's Life 3
Vocês não têm ideia do sofrimento que foi pra trazer esse especial pronto! kkkkkkkkkkkkkkkk
Fala aí, pessoal! Tudo certo? Cá estamos na nossa quarta semana seguida de postagem, e dessa vez com mais um capítulo da série A Gym Leader's Life. Dessa vez trazendo um pouco do Wattson, o que já os faz perceber que o próximo capítulo vai ser trocação franca de porrada no ginásio de Mauville, né? Acho que a essa altura do campeonato vocês já sabem como é o esquema aqui em AEH.
Este era talvez o especial que mais me preocupava, pelo simples fato de que eu tinha certeza de que não saberia como lidar com o Wattson. A personalidade dele não era algo que eu via encaixar no cargo de líder de ginásio, e eu não sabia como trabalhar um especial legal com esse jeito tiozão dele. Até que o Canas e o Dento me deram a ideia de usar esse jeitão todo palhaço (nesse caso literalmente) para poder quebrar o clima pesado do capítulo e virar o jogo. E como deu certo! Eu curti bastante o resultado final.
Bem, este foi o último especial da Omega Saga. Agora vamos em direção ao encerramento da temporada! Que venha a batalha de ginásio e o final do arco de Mauville!
Até a próxima! õ/
Fala aí, pessoal! Tudo certo? Cá estamos na nossa quarta semana seguida de postagem, e dessa vez com mais um capítulo da série A Gym Leader's Life. Dessa vez trazendo um pouco do Wattson, o que já os faz perceber que o próximo capítulo vai ser trocação franca de porrada no ginásio de Mauville, né? Acho que a essa altura do campeonato vocês já sabem como é o esquema aqui em AEH.
Este era talvez o especial que mais me preocupava, pelo simples fato de que eu tinha certeza de que não saberia como lidar com o Wattson. A personalidade dele não era algo que eu via encaixar no cargo de líder de ginásio, e eu não sabia como trabalhar um especial legal com esse jeito tiozão dele. Até que o Canas e o Dento me deram a ideia de usar esse jeitão todo palhaço (nesse caso literalmente) para poder quebrar o clima pesado do capítulo e virar o jogo. E como deu certo! Eu curti bastante o resultado final.
Bem, este foi o último especial da Omega Saga. Agora vamos em direção ao encerramento da temporada! Que venha a batalha de ginásio e o final do arco de Mauville!
Até a próxima! õ/
A Gym Leader's Life - Capítulo 3
Wattson
Mauville
era envolta por um incomum clima chuvoso naquela tarde. Wattson caminhava pela
rua principal com um guarda-chuva aberto, com passos apressados. Nas costas,
levava uma grande bolsa que parecia lotada. A expressão no rosto do velho homem
era de desconforto devido ao peso que carregava, mas era o que tinha que fazer
naquela hora.
O
líder de ginásio era uma pessoa respeitada na cidade inteira. E ele se sentia
responsável por fazer tudo por lá funcionar da forma correta. Wattson foi um
dos engenheiros que idealizaram o projeto da Usina de Nova Mauville, que gerava
eletricidade para toda a região de Hoenn. No entanto, não só à usina e ao
ginásio se restringiam as atividades dele.
Dobrando
algumas esquinas para as ruas mais afastadas do centro da cidade, o homem
chegou a um casarão de arquitetura bem antiga. O aspecto melancólico do lugar o
freou por um momento, mas ele respirou fundo e passou pelo portão da frente em
direção à recepção.
A sala
da entrada do casarão era muito bela, de aspecto muito antigo, mas bem
conservado. A iluminação que vinha de fora era pouca, dando à sala um tom
amarelado que realçava o papel de parede e o carpete. Atrás do balcão, uma
senhora que trabalhava como recepcionista o recebeu.
— Sr.
Wattson, que prazer vê-lo novamente! — a senhorinha sorria de orelha a orelha.
— Já estávamos sentindo a sua falta.
— Boa
tarde, Sra. Brunswick. Faz mesmo um bom tempo que não venho aqui. Andei ocupado
agora que o ginásio reabriu por causa da nova temporada da Liga. Tive mais
desafiantes essa semana do que no início das temporadas passadas.
—
Então quer dizer que a Liga desse ano vai ser bem movimentada.
— Nem
me diga! Mas tomara que esse movimento caia logo ou eu vou acabar ficando
doido. Mas então, cadê elas?
— Já
vou te levar lá, só um segundo.
A
recepcionista fez algumas anotações rápidas em um caderno e seguiu para a porta
que dava para a parte de dentro da casa, com Wattson a seguindo de perto. O
interior do local era bem diferente do belo exterior e a recepção bem decorada.
As paredes dos corredores eram bem antigas, com a tinta de tom frio de azul
descascando em várias partes. As partes que ainda tinham a tinta intacta ou
apresentavam o aspecto encardido de bolor, ou já tinham marcas de infiltração.
Uma única lâmpada incandescente velha iluminava o local de forma precária.
O
estômago do velho começou a revirar só de imaginar o que viria em seguida. E
ele sabia. Ao terminar de atravessar aquele corredor, que sempre parecia bem
mais longo do que realmente era, os dois chegaram a um refeitório onde quatro
mesas longas comportavam inúmeras crianças, todas elas magras e pálidas.
Wattson não sabia se havia perdido a capacidade de distinguir as cores, ou se
aquele cinza mórbido que dominava o local era de verdade.
—
Crianças, adivinhem quem está aqui hoje — a Sra. Brunswick anunciou a chegada
da visita, atraindo os olhares daquele salão para ela e Wattson.
Ao
perceberem a presença do líder de ginásio, todos correram até o homem, que por
pouco não se desequilibrou com tantas crianças o cercando. Elas já começavam a
demonstrar animação por causa da enorme sacola que ele carregava.
Era
sempre daquele jeito. Transtornado com o abandono daquelas crianças, Wattson
pensava em compensar a situação trazendo alguns brinquedos de tempos em tempos,
mesmo que isso significasse tão pouco perto do que aqueles órfãos não tinham.
O
velho, porém, não reagia muito bem àquela cena. Anos se passaram sem que ele se
acostumasse com aquilo. Toda vez que via aquelas crianças sorrindo em meio
àquela escuridão sua vontade era de ir embora o quanto antes. Mas tinha que
ficar. Era o que precisava fazer.
Após
distribuir os brinquedos e dar uma grande palestra para as crianças sobre nunca
desistir dos seus sonhos e como elas poderiam algum dia se tornarem treinadores
de grande sucesso, Wattson finalmente concluiu o seu trabalho lá. Não gostava
de ir até o orfanato não por desgosto daquelas crianças, mas porque não sabia
lidar com a tristeza e o desamparo daqueles que sabia que nunca haviam feito
nada de errado para merecerem aquilo. Estavam jogadas às obras do acaso, e o
líder era uma das poucas figuras de onde conseguiam tirar um mínimo de
esperança.
Mas
antes de passar pela porta que o levaria de volta à recepção ele foi
interrompido por Brunswick, que lhe pedia mais uma vez para resolver um velho
problema.
— Ele
mais uma vez não saiu do quarto. Não come há dois dias e não se relaciona com
as outras crianças. Está magérrimo, qualquer hora vai acabar adoecendo.
— Ok,
me leva até ele.
Wattson
foi levado por uma escadaria velha para o andar superior. A cada degrau pisado,
as tábuas rangiam como se fossem ceder a qualquer momento, causando desconforto
para ele. Alcançaram um corredor, este um pouco melhor em questão de aparência,
que dava acesso aos quartos.
Uma
das portas foi aberta por Brunswick, que se virou para o velho com um olhar de
preocupação.
— Por
favor, veja o que o senhor pode fazer para ajudar. Nós não sabemos mais o que
fazer com esse garoto.
O
líder entrou no quarto. Sentado na cama estava um garoto ruivo. Ele olhava fixo
pela janela, quieto e solitário, sem sequer fazer um movimento mínimo ao notar
a entrada de Wattson. O líder de ginásio logo estranhou as feições do garoto.
Era um olhar vago, mas que escondia raiva e ressentimento. Lembrava muito o
mesmo quando criança, sempre culpando o mundo e as outras pessoas pelas coisas
ruins que havia passado. Mas o que mais o surpreendeu foi o porte físico do
garoto. Estava muito magro, mais até do que as demais crianças do orfanato.
Wattson
deu um leve pigarro, o que parece ter despertado o menino do transe. O ruivo
fixou seus olhos cinzas no homem, que por pouco não se arrependeu de ter lhe
chamado a atenção. Era como se aquela criança fizesse uma avaliação de cima a
baixo do velho naquele momento.
— O
que você quer? Eles acharam que iam me deixar feliz ou impressionado trazendo
um líder de ginásio pra vir falar comigo? Desde quando vocês se importam? Estão
preocupados porque se eu morrer de fome eles é que vão ter que se explicar.
A fala
e as atitudes do garoto eram agressivas. Wattson se sentia quase intimidado,
pois aquela recepção hostil era bastante difícil de lidar. Ele não sabia como
deveria tentar se aproximar do menino, pois era ele quem havia assumido o
controle da situação.
— Olá,
rapazinho! — o líder então resolveu iniciar a conversa da forma mais próxima do
natural que podia. — Como se chama?
— Não é
da sua conta! Por que não volta lá embaixo pra ser bajulado pelas outras
crianças? Aposto que faria muito bem pro seu ego!
Wattson
se esforçava para não recuar. Não queria dar àquele garoto a certeza de que
estava no comando da conversa. Ele conhecia aquele tipo de comportamento. Já
viu vários casos assim. Ele mesmo já foi um caso assim. Resolveu ignorar a
resposta atravessada e tentou ver até onde conseguia levar aquele diálogo.
— Eu
já estive com elas, mas soube que você tem andado muito isolado nas últimas
semanas e não tem se alimentado direito. Estou aqui pra conversar com você,
caso queria me dizer o que está acontecendo.
Wattson
caminhou até a cama e se sentou ao lado do garoto, apoiando uma mão no ombro
dele.
—
Você... — o homem tentava encontrar a melhor maneira de fazer aquela pergunta
sem criar uma situação desagradável. — Chegou aqui recentemente?
O
garoto encarou Wattson por um momento, notando a expressão de pesar do homem. O
menino, porém, tinha uma expressão impaciente, se sentindo constrangido pela
ação do homem.
— Sim,
estou aqui há um tempo — disse estapeando a mão do velho para que não o
tocasse. — Mas não é como se eu estivesse precisando de ajuda. E se eu
precisasse eu jamais pediria a um treinador.
— Algum
treinador já te causou algum mal?
— Não
te interessa!
Wattson
não sabia ao certo o que acontecia na mente daquela criança, mas pela primeira
vez em muitas idas àquele orfanato ele se viu intrigado. Se todas as outras
pessoas ali lhe traziam uma sensação de tristeza e impotência por não poder
ajudar todos da maneira adequada, agora ele via alguém que despertava nele uma
curiosidade que nunca havia sentido. Ele sentia que aquele garoto precisava de
ajuda mais do que tentava fazer parecer.
— Eu
não sou seu inimigo, e as pessoas daqui também não são — disse Wattson. — Por
que não deixa a gente te ajudar?
O
menino cruzou os braços e virou as costas para o velho, que nada pôde fazer a
não ser encerrar aquela discussão por ora.
— Bom,
eu não vou te forçar a nada. Mas não pense que vai conseguir ir a algum lugar
estando sozinho o tempo todo. Fique bem, garoto.
Na
noite daquele mesmo dia Wattson entrava pela porta de seu apartamento,
cambaleando de embriaguez e com dificuldade de assimilar o que estava a sua
volta. Não sabia nem como havia conseguido chegar a sua própria casa, mas tinha
a certeza de que aquele garoto havia mexido com seus nervos.
Caminhou
direto para seu quarto após trancar a porta da frente. Olhou para o relógio:
duas e quarenta e três da madrugada, foi o horário que identificou com bastante
dificuldade devido à sua vista que parecia multiplicar tudo que enxergava.
Antes de deitar na cama, abriu seu guarda-roupa e pegou uma sacola do fundo do
móvel e a jogou em uma poltrona que havia no canto do quarto.
—
Amanhã vou usar isso pra dar uma lição naquele pivete — foi o último resmungo
que ele conseguiu dar antes do álcool o fazer desmaiar na cama.
• • •
A noite
passou, e na manhã seguinte lá estava o homem em frente ao orfanato de novo. Já
entrou de vez na recepção, causando surpresa em Brunswick.
— Sr.
Wattson, você de novo? E o que significa isso?
—
Depois eu explico, cadê aquele garoto de ontem?
— O
Ian? Deve estar no quarto, como tem se mantido há tanto tempo...
Wattson
caminhou direto para a parte de trás da recepção, que dava no corredor de
acesso aos quartos. Brunswick foi desesperada atrás dele, uma vez que as
visitas deviam ser marcadas com antecedência, logo as regras da casa estavam
sendo descumpridas.
O
líder de ginásio foi subindo as escadas e dobrou o corredor em direção ao
quarto do garoto. Parecia ter decorado o caminho no dia anterior. Quando abriu
a porta, já estava preparado para lidar com a expressão rancorosa da criança,
mas foi surpreendido ao ver o cômodo vazio.
— Ele
finalmente saiu do quarto? — perguntou o homem.
— Não
que eu saiba — comentou a recepcionista, igualmente surpresa. — As meninas
teriam me avisado, estamos observando esse menino desde que ele chegou.
Após
um bom tempo procurando quaisquer sinais de Ian, ninguém no orfanato conseguiu
encontrá-lo. Os funcionários da instituição já começavam a ficar preocupados.
Se algo acontecesse a um dos órfãos eles poderiam ser severamente
responsabilizados, mas não tinham nem ideia de onde procurá-lo ou a situação
que se encontrava.
— Não
tem nenhuma pista que vocês podem me dar sobre o garoto que pode indicar onde
ele teria ido?
— Não
sabemos nada sobre ele, apenas que perdeu os pais recentemente. Pelo que parece
os dois eram pesquisadores do Centro Espacial de Mossdeep, mas tentaram reagir
a um roubo.
Wattson
se manteve reflexivo. Havia ouvido falar daquele caso. Os pesquisadores
trabalhavam para o Centro Espacial, mas moravam em Mauville. Tinham uma
condição financeira boa e moravam em um bairro nobre da cidade. A casa tem
estado vazia desde então.
— Vou
verificar uma coisa, não saiam daqui e me liguem caso ele apareça.
O
líder saiu apressado cruzando as ruas de Mauville. Os olhares das pessoas eram
de surpresa e alguns até mesmo de estranheza devido a sua aparência naquele
momento. Mas o homem ignorava. Não era fácil reconhecê-lo daquela forma, ainda
mais com a rapidez com que ele ia correndo até seu destino.
Quando
chegou a uma área residencial de alto padrão, o líder caminhou até uma bela
casa que estava vazia. Parecia habitada uma vez que os pertences pessoais da
família ainda estavam no local, mas não havia ninguém lá.
Wattson
circulou em volta da residência, caminhando devagar pelo jardim e observando
tudo com atenção, a fim de encontrar algum detalhe que pudesse servir de pista
do paradeiro de Ian.
—
Droga, nada aqui — o homem se sentou na escada da porta da frente e começou a
murmurar suas deduções. — Ele poderia estar vindo para cá. Será que se perdeu
no caminho?
O
homem então começou a pensar no trajeto entre o orfanato e aquela rua,
procurando mentalizar os lugares que separavam os dois pontos. Foi então que
ele percebeu que havia uma rua que dava em um local que o colocou em estado de
urgência.
— Mas
que merda!
E
assim ele saiu correndo de volta pelo caminho de onde veio.
• • •
— O
que você tem pra nos dar, moleque? — a voz áspera de um homem de pouco menos de
trinta anos podia ser ouvida de uma esquina a outra daquela viela suja.
Ian se
mantinha quieto, recuando cada vez mais contra os muros daquele quarteirão
enquanto o homem e alguns comparsas o cercavam, aparentando estarem sob efeito
de drogas.
— Não
te conheço, aqui só circula quem é da área. Se não tiver nada pra passar pra
gente tá fodido!
O
homem arremessou uma garrafa que estourou no muro, logo ao lado da cabeça do
menino. Ian não sabia se o homem fez aquilo apenas para intimidá-lo, ou se
realmente tentou acertar a sua cabeça e acabou errando o alvo devido ao seu
estado entorpecido. Tudo que sabia era que da garrafa quebrada um cheiro forte
de álcool exalou por todo o local.
O
garoto havia entrado na rua errada enquanto caminhava até sua casa, entrando
sem querer na área industrial da cidade que era temida por seu índice de
criminalidade.
Os
quatro tiraram Mightyenas de suas Pokéballs. Usando Pokémons iguais era
possível perceber que se tratava de uma gangue que trabalhava em equipe para
praticar seus atos. Os caninos encurralaram Ian, que já não tinha mais para
onde correr. E nem conseguiria, pois sendo uma criança seu porte físico tornava
impossível ele conseguir correr mais que aqueles Pokémons.
Quando
os Mightyenas deram o bote para atacar o menino os quatro foram atingidos de
uma vez só por uma densa descarga elétrica. Todos ali presentes tiveram sua
atenção voltada para um Manectric acompanhado de um homem velho vestido de
palhaço.
— Ninguém
encosta nesse garoto! — o homem bradou apontando o dedo para o centro da
confusão.
—
Wattson! — Ian gritou por instinto, não conseguindo esconder a sua surpresa. —
O que está fazendo aqui? E que roupa é essa?
—
Longa história, moleque, agora corre aqui e fica atrás de mim.
— Eu
não pedi sua proteção! Vai embora!
O
líder de ginásio caminhou até o garoto e o puxou pela gola da camisa, o jogando
atrás de si de modo que não pudesse ser alcançado pelos delinquentes sem que
eles passassem pelo homem antes.
— Eu
não perguntei o que você quer, seu pirralho revoltado! Não interessa se você
pediu ou não por proteção, eu sou o líder de ginásio dessa cidade e pra mim
isso é o que tem que ser feito. Agora fica quieto aí enquanto eu lido com esse
problema em que você nos meteu!
Wattson
ainda agarrou a mão de Ian, fazendo o menino abri-la para receber um balão em
formato de coração.
—
Segura isso aqui rapidinho, só pra eu poder batalhar melhor.
— Qual
é a tua, otário? — o líder do grupo começou a encarar Wattson com um olhar
ameaçador. — Não vai pensando que não vai arrumar problema com a gente só
porque é velho! Mightyena, arrebenta esse Manectric com o Assurance!
— Thunder Wave!
Ao
comando de Wattson, seu Manectric envolveu o líder da matilha em um vórtice de
energia elétrica, interceptando sua movimentação. Wattson sorriu triunfante.
—
Certo amigo, os outros três vamos derrubar de uma vez só. Discharge!
Ian
estava boquiaberto com o que via a sua frente. Não sabia se era com aquele show
de luzes ou se a destreza de Wattson como treinador o havia tocado de alguma
forma. Tudo que sabia era que naquele momento estava feliz de ver um grande
treinador em ação. Agora entendia porque líderes de ginásio como aquele velho
homem eram tão admirados.
Com
três dos quatro Mightyenas derrotados em um único golpe, os arruaceiros logo
perceberam a diferença de nível entre eles e o treinador daquele Manectric.
Wattson virou seu olhar para o líder do bando para lhe dar um último aviso.
— Só
sobrou você, e seu Pokémon está paralisado. Tem certeza que quer levar isso
adiante?
Contrariado,
o homem recuou seu Mightyena para a Pokéball, e assim fizeram os outros
integrantes do grupo. Após eles dispersarem, Wattson caminhou de volta até Ian,
com Manectric ao seu lado. Um breve silêncio rompeu entre os dois, até que o
garoto começou a rir.
— O
que houve? — indagou o treinador se animando com aquela reação.
— Eu
só não digo que você foi incrível porque você tá ridículo com essa roupa!
O
velho riu junto com o menino. Talvez aquela fosse a forma dele agradecer e ao
mesmo tempo não demonstrar os sentimentos. Mas havia conseguido tirar um
sorriso daquele rosto carregado de rancor e sofrimento. Havia cumprido sua
missão, ainda que não da maneira que esperava fazer aquilo.
• • •
Wattson
e Ian caminhavam de volta para o orfanato. O líder continuava chamando a
atenção das pessoas na rua com sua roupa de palhaço, mas não se importava.
Estaria realmente incomodado caso algo ruim tivesse acontecido ao menino.
—
Então garoto... — o homem não sabia como encontrar as palavras certas para
perguntar aquilo. — O que aconteceu com você foi por causa de treinadores? Por
isso você não gosta de nós?
Ian
ficou em silêncio por alguns segundos. Wattson por um momento pensou ter tocado
naquele ponto delicado cedo demais, mas logo a resposta veio.
— Sim,
foi por causa de treinadores estranhos. Eles eram encapuzados e usavam
uniformes, eram um grupo de três. Queriam roubar documentos importantes e meus
pais foram mortos tentando evitar. Eu sei que não são todos os treinadores que
são ruins assim, mas me perguntava onde estavam os bons naquele momento? Não
tinha um líder de ginásio ou membro da Elite para salvar os dois? Por isso eu
comecei a culpar todos.
O
menino percebeu que Wattson ficou em silêncio o observando. Ele se assustou e
logo tratou de se explicar.
—
M-mas isso já passou! Eu sei que era besteira minha! Depois da forma como você
batalhou hoje eu sei que posso contar com vocês! Eu agradeço muito por você ter
vindo me ajudar mesmo depois de tudo aquilo que eu te disse ontem.
— Não
precisa se desculpar, garoto — o líder disse com um suspiro. — Você está
coberto de razão. Nós não somos os heróis que a mídia tenta pintar pra
população. Eu sou apenas um treinador profissional exercendo minha profissão
que é decidir quem vai e quem não vai pra Liga. Da mesma forma é a Elite. Mas
eu tenho um senso de responsabilidade com a cidade. E a minha preocupação não
era ser nenhum tipo de salvador da sua vida. Era apenas evitar que algo ruim te
acontecesse. Você ia se machucar, o orfanato ia responder judicialmente, eu ia
ver a cidade que tanto amo ter seu nome manchado por conta de um crime contra
um menor de idade. Ninguém ia sair ganhando com isso.
Quando
retornaram ao orfanato, a Sra. Brunswick correu até Ian o abraçando forte. A
mulher se segurava para não chorar, tamanha era a preocupação. Após ser solto
pela recepcionista, Ian virou-se para Wattson e o encarou por alguns segundos.
O garoto deu um sorriso.
— Bem,
acho que vou subir para o quarto.
— Isso
mesmo, vai logo — disse o velho. — Você tem que pegar suas coisas.
Tanto
Ian como Brunswick olharam surpresos para Wattson, e em seguida trocaram
olhares confusos. O líder percebeu a situação e deu uma gargalhada enquanto
massageava a sua barriga avantajada.
— O
que foi, moleque? Achou que ia ficar aqui pra sempre? Brunswick, traz a
papelada! Nós vamos pra casa!
FIM DO CAPÍTULO
Notas do Autor - Capítulo 24
Está oficialmente iniciado o último arco da Omega Saga! Ansiosos pelo desfecho? Eu estou! Depois de tanto tempo finalmente estamos prestes a alcançar essa marca de novo. Já consegui formular tudo aqui com relação a roteiro e sequência de eventos, e agora falta o especial do Wattson e mais 4 capítulos do plot principal, totalizando 5 capítulos para cumprir essa meta (ShadZ gênio da matemática).
E o arco final da temporada não podia começar devagar. Já tivemos a revelação do Vince, aquele garoto perturbado que apareceu pela primeira vez em uma cena discreta lá no finalzinho do capítulo 4. É um personagem que ficou na fila por muito tempo pois eu não encontrava brechas para trazê-lo de volta à história. Por coincidência, o primeiro encontro entre ele e os protagonistas na Hoenn antiga também aconteceu em Mauville.
No momento estou com um pequeno bloqueio para continuar escrevendo, mas já tentando arrumar maneiras de prosseguir. Culpa do Wattson. É um líder com o qual tenho dificuldade de trabalhar, mas já peguei alguns toques com o Canas e o Dento, e espero poder concluir esse especial em breve e voltar ao plot principal. Uma vez que eu esteja de volta ao plot principal, a história flui novamente. Sigo na intenção de terminar a Omega Saga no mais tardar até a última sexta-feira de Junho.
Até lá vai rolar bastante coisa, mas seguimos trabalhando firme!
Capítulo 24
Fraqueza exposta
Depois
de uma rápida travessia pela pista de ciclismo que cruzava a Rota 110, Ruby e
Sapphire já conseguiam ver o topo de alguns prédios no horizonte. Mauville dava
seus primeiros sinais de proximidade para os aventureiros enquanto as bikes
corriam de encontro à brisa fresca que dava aos dois um ânimo a mais para
continuar pedalando mesmo debaixo daquele céu ensolarado, isento de nuvens.
Ser um
treinador ou coordenador licenciado em Hoenn tinha suas vantagens como, por
exemplo, desfrutar de descontos em vários serviços, como compras na rede de
lojas PokéMart e prioridade na reserva de quartos no Centro Pokémon ou em
coisas mais simples, como o aluguel das bicicletas que estavam usando naquele
momento.
Assim
que chegaram ao ponto de saída a dupla já desceu das bicicletas e foram
empurrando-as até a porta. Assim que saíram da recepção já deram de cara com a
entrada da cidade de Mauville, local onde Sapphire desafiaria o líder de
ginásio local pela sua terceira insígnia.
—
Depois de fazermos a reserva no Centro Pokémon, nós podemos procurar alguma
coisa pra fazer. Sei lá, talvez tomar um sorvete — disse Sapphire.
—
Sério? Achei que você já ia largar tudo no quarto e ir correndo pra algum lugar
no meio do mato pra treinar pro seu desafio no ginásio — Ruby tinha um leve tom
de deboche, sabendo o quanto a amiga andava trabalhando duro nos últimos dias.
— Ah,
qual é! Uma hora ou outra a gente precisa de descanso. E eu estava parada sem
fazer nada desde que saímos de Dewford. Minha passagem por Slateport foi nula
no sentido de progredir no desafio dos ginásios, então só restava compensar
essa “folga” treinando pesado.
—
Relaxa, eu só estava brincando. Você tem se esforçado demais ultimamente e eu
também não tive descanso por causa do contest. Eu também acho que a gente
deveria se divertir um pouco antes de você enfrentar o ginásio.
Depois
de uma rápida passagem no Centro Pokémon, onde Sapphire deixou seu Taillow para
uma avaliação, já que o mesmo já se encontrava na sua fase final de recuperação,
a menina e Ruby saíram à procura de um bom lugar para comerem alguma coisa.
Escolheram
uma sorveteria, como combinado logo que chegaram à cidade. O estabelecimento
tinha uma pequena varanda onde ficavam algumas mesas, com um guarda-sol para
protegê-los naquele dia quente. Lá mesmo eles se sentaram enquanto degustavam a
sobremesa.
— Seu
Torchic já tem nível para evoluir — comentou Ruby. — Por que ainda não
aconteceu?
— Sei
lá. Acho que o Pokémon tem que se sentir bem pra isso. E o Torchic ainda não
vai muito com a minha cara, ele batalha e vence mais pelo próprio orgulho.
Então não quero forçar a barra, vou deixar que ele evolua por conta própria.
—
Entendo. Mas você já tem duas insígnias. As batalhas vão começar a ficar mais
pesadas agora, o nível vai subindo a cada líder que você derrota. Todos os seus
Pokémons estão no primeiro estágio, isso pode acabar te atrapalhando no futuro.
Ruby
tinha razão, por mais que Sapphire não quisesse ouvir aquilo. A menina treinava
forte com seu time diariamente para poder contornar aquele problema, mas na
verdade sabia que cedo ou tarde um Pokémon evoluído seria necessário. Só não
queria privá-los de sua liberdade de escolha.
— Eu
sei que uma hora eles vão acabar evoluindo. Meu método é esse, deixar que eles
saibam quando é a hora. Tenho certeza que no momento certo vai acontecer.
A
conversa entre os dois foi interrompida por conta de uma confusão que se
formava do lado de fora da sorveteria. Ao saírem às pressas para ver o que
acontecia, Sapphire e Ruby perceberam que uma batalha ao ar livre ocorria entre
um garoto da mesma idade que eles e um outro um pouco mais novo.
O mais
velho tinha cabelos escuros e uma expressão rancorosa no rosto, e usava um
Houndour, um Pokémon incomum em Hoenn. O garoto que batalhava contra ele, por
sua vez, tinha um Minun que parecia estar seriamente machucado.
—
Minun, não vamos nos dar por vencidos — disse o treinador do roedor elétrico.
— Eu
já avisei que vocês têm que saber a hora de desistir — disse o rapaz. — Feint Attack!
O
golpe foi forte. Minun caiu de forma definitiva, encerrando a batalha. O garoto
mais novo tremia em preocupação ao ver o estado de seu Pokémon, sem saber o que
fazer. Só queria pegá-lo e sair correndo em direção ao Centro Pokémon. Quando
fez a menção, porém, de ir até ele para pegá-lo a voz do mais velho pôde ser
ouvida por toda aquela parte da rua.
— Fire Fang.
Houndour
avançou em direção ao Minun desacordado com suas presas em chamas, pronto para
dar um golpe definitivo, mas o mesmo foi interceptado por um Torchic que usou
um Sand Attack para atordoá-lo.
Sapphire apareceu correndo na frente de Minun e seu treinador com a intenção de
acobertá-los para que saíssem dali em segurança.
— Pega
ele e vai pro Centro Pokémon imediatamente! Quanto mais cedo você for melhor! —
a garota então se virou para o treinador que estava agora a sua frente a
encarando com um pesado olhar de desagrado. — O que você pensa que está
fazendo? Essa batalha já terminou!
— É
mesmo? — o garoto rebateu em tom de provocação. — Eu não me lembro do pirralho
ter admitido a derrota, então achei que ele ia continuar. Ele mesmo estava falando coisas como "não vamos nos dar por vencidos", ou algo do tipo.
Sapphire
sentiu o sangue ferver naquele momento. A garota não conseguia aceitar que um
treinador usasse seus Pokémons para ferir os outros. Ela cerrou os punhos, se
contendo para não agredi-lo ali mesmo, mas fez o que era esperado de sua
posição como treinadora. Faria justiça da forma correta.
O
garoto percebeu que ela gesticulou para que Torchic se colocasse em posição de
alerta. Sua expressão imediata foi de impaciência. Ele não tinha vontade
nenhuma de continuar batalhando, só queria sair dali o quanto antes.
— É
sério isso? Você vai me desafiar para uma batalha? — o rapaz esfregou o rosto
em descontentamento. — Escuta, garota, eu não tenho disposição pra lidar com
gente que brinca de ser treinador. Vamos fazer o seguinte. Eu vou relevar o
fato de você ter interrompido minha outra batalha contra aquela criança idiota
e vou deixar você seguir com sua rotina. Só não vem testar minha paciência.
— É
óbvio que é sério! Você acha que vai sair impune depois do que tentou fazer com
aquele garoto?
— Já
que é assim, então tenta me dar uma lição. Vou deixar que você comece.
— Não
precisa nem dizer! Torchic, use o Peck!
—
Houndour, Smog!
Uma
densa nuvem de gás tóxico foi disparada na direção do Torchic, que foi forçado
a parar o ataque e recuar para não ser pego pelo ataque e sofrer algum risco de
contaminação.
— Complete com o Faint
Attack!
De
trás do véu de poluição Houndour surgiu acertando um ataque furtivo que deixou
Dan sem condições de se defender ou esquivar. A diferença de níveis era clara,
o canino era muito mais forte que a pequena ave, e a força de seus ataques
causava muito mais dano do que se estivessem no mesmo nível. O Torchic tombou
para trás, já demonstrando sinais de que não aguentaria aquela batalha por
muito tempo.
Houndour
prendeu Torchic no chão com suas patas dianteiras. Sapphire estava em choque,
nunca havia sido pressionada daquele jeito, nem mesmo em uma batalha contra
líderes de ginásio. Ela simplesmente não encontrava maneiras de responder
àquela sucessão de ataques.
—
Torchic, use o Scratch para tirar ele
de cima de você!
Mesmo
com suas patas livres o ataque não alcançava a cabeça de Houndour, que era quem
ele estava tentando atacar. O garoto já não estava com tanta paciência, e
resolveu acabar logo com aquilo.
— Dark Pulse.
A
proximidade entre os dois fez com que o ataque fosse certeiro e bem mais
perigoso. A explosão de energia sombria entre os dois levantou uma nuvem de
poeira, dificultando a todos os presentes que se pudesse ver logo de imediato o
que havia acontecido. Mas não durou muito tempo até a visibilidade ser restabelecida.
Quando a poeira se dissipou, Torchic estava nocauteado e seriamente ferido,
enquanto Houndour permanecia no mesmo estado de quando havia começado a
batalha.
—
Torchic! — gritou Sapphire, desesperada e já cedendo a ficar de joelhos no meio
da rua onde os dois batalhavam.
— Eu
estou farto de perder meu tempo com crianças — disse o rapaz com a voz em tom
de fúria. — Vocês são medíocres, achando que são alguém porque conseguem vencer
batalhas brandas disfarçadas de desafios e colecionar medalhinhas coloridas.
Achou que fosse me derrotar porque confiou demais no seu Pokémon de baixo
nível. Você e aquele pivete do Minun são iguais, dois merdas que se dizem
treinadores.
Sapphire
estava sem reação, seus braços trêmulos eram o que tentavam sustentá-la para que
não caísse ao chão, mesmo que já estivesse de joelhos. Sua voz não saía, o nó
em sua garganta não deixava.
— O
que você achou que tinha a seu favor para ganhar de mim? — o garoto continuou.
— Amizade? Acreditar em si mesma? Perseverança? O que vence batalhas é poder, é
força! É isso que eu busco enquanto vocês, um rebanho de imbecis, insiste em
continuar nesse conto de fadas que são as jornadas e o desafio da Liga Pokémon.
A
garota enfim conseguiu se levantar, respirou fundo e dirigiu um olhar severo para
o seu adversário, se é que ainda podia chamá-lo assim. Já começava a enxergá-lo
como um inimigo.
— Acha
que tudo se resume a poder? De que serve o poder se você só vai usá-lo para
reprimir aqueles que são mais fracos? Você realmente vê alguma justificativa
nisso?
— Eu
vejo toda a justificativa nisso. Nossa sociedade se gaba de ser civilizada.
Somos apenas travestidos de seres racionais, mas nosso instinto predatório é
latente. Estamos apenas à espera de algum pretexto para nos libertarmos das
amarras que a sociedade a nossa volta nos impõe e poder voltar a alimentar
nossos desejos e instintos. Ou você caça ou é caçado. Eu e minha equipe nos
cansamos de ser caça, e decidimos nos tornar caçadores. E um dia vamos caçar os
degenerados que um dia ousaram nos caçar.
— Isso
é a coisa mais absurda que já ouvi — Ruby sussurrou enquanto amparava Sapphire.
—
Espero que você entenda que as coisas são assim na vida real, garota. Que isso
sirva de lição para te mostrar que tudo que você tem feito até agora imaginando
que era um objetivo de vida não passa de uma brincadeira infantil. Espero não
ser mais importunado por escória como vocês me pedindo para batalhar. Já perdi
tempo demais correspondendo aos anseios de gente que não merece o meu tempo.
O
treinador ergueu um dos braços, sinalizando para seu Houndour que um novo
ataque seria executado. O canino se postou pronto para avançar em Sapphire e
Dan, aguardando apenas o comando que veio logo em seguida:
— Fire Fang nos dois!
Mais
uma vez Houndour foi bloqueado antes que o pior acontecesse, dessa vez por um
Manectric que investiu na hora exata interceptando o ataque e afastando o
Pokémon de fogo.
Quem o
comandava era um homem já com certa idade, calvo de cabelos e barba grisalhos.
Ele vinha andando firme e com um olhar sério na direção dos treinadores, com as
pessoas em volta abrindo passagem ao vê-lo se aproximar.
— Ouvi
dizer que tem um pessoal barulhento perturbando as pessoas por aqui — disse o
velho, ignorando o burburinho das pessoas em volta.
— E
quem é você pra se achar no direito de interferir na batalha? — o rapaz
retrucou com agressividade. — Se quiser terminar como ela então entra na fila!
— Quem
eu sou? Que bom que você perguntou. Eu sou Wattson, líder do ginásio dessa
cidade. É bom você parar de bancar o rebelde, ou eu vou ter que te dar uma
lição.
O
garoto ao ouvir aquilo começou a gargalhar alto, e não parecia conseguir
controlar o riso, estava realmente achando graça naquilo tudo. Foi então que
ele se virou para Sapphire.
— Olha
aí, seu super-herói chegou! Pede pra ele te ajudar. Vai treinar lá enfrentando
ele pra ver se seu time fica um pouco menos vergonhoso!
O
garoto se virou para Wattson com um semblante de puro deboche.
— Foi
mal aí, velho! Eu poderia limpar o chão com a sua cara facilmente, mas já perdi
tempo demais dando uma dose de realidade pra essa criançada. Tenho afazeres
mais importantes. Vá cuidar da sua vida!
Antes
que o garoto fosse embora, Sapphire o chamou uma última vez. Já sem paciência,
ele se virou para escutá-la.
— Qual
o seu nome?
O
garoto fez uma expressão de incredulidade. Não estava esperando por uma
pergunta daquela. Segurou o riso por muito pouco e respirou fundo.
— Você
por acaso acha que isso é algum episódio de anime ou algo do tipo? E se eu
disser meu nome, você vai dizer o que em seguida? “Vince, um dia eu vou te
derrotar”! Francamente, você não acha que já passou vergonha demais pra um dia
só?
Enfim
o garoto foi embora. As pessoas que observavam o conflito começaram a dispersar
aos poucos. Sapphire e Ruby não tiveram muito tempo para se lamentar naquela
hora. Eles precisavam levar Torchic com urgência para o Centro Pokémon. Antes
de saírem às pressas, Wattson segurou no ombro da garota.
— Eu
vou com você. Vamos deixar seu Torchic sob os cuidados do Centro Pokémon e lá
depois você me conta os detalhes do que aconteceu aqui.
Mais
tarde naquele dia, Wattson estava sentado à mesa do refeitório do Centro
Pokémon, com Sapphire e Ruby do outro lado. Eles escolheram a mesa mais
afastada, aproveitando que o local não estava tão cheio, para que não fossem
ouvidos.
—
Desculpa tomar o tempo de vocês dois. Mas eu queria que vocês me respondessem
qualquer coisa que sabem sobre esse garoto com quem vocês batalharam hoje cedo.
Sapphire
permaneceu calada e cabisbaixa. Não conseguia manter a cabeça vazia para poder
conversar sobre aquilo. Foi Ruby então quem tomou as rédeas da conversa.
— Nós
estávamos por perto quando esse cara tentou atacar covardemente um treinador e
Pokémon que ele havia acabado de derrotar. Sapphire interveio antes que ele
conseguisse, os dois começaram a batalhar e se não fosse por você ter chegado a
tempo a mesma coisa teria acontecido com ela.
— Fora
isso vocês não têm nenhuma pista de onde ele pode ter vindo, não é? — o líder
de ginásio cruzou os braços e fez uma expressão de lamento. — Entendo. Eu estou
observando tudo de diferente que eu vejo acontecendo por aí. Nos últimos dias
eu tenho sentido algo estranho com essa cidade, como se algo fosse acontecer.
Sou nascido e criado aqui, estou com setenta e um anos e nunca me senti
desse jeito. Tem algo errado acontecendo.
O
homem se levantou para ir embora, mas antes de sair dirigiu a palavra a
Sapphire uma última vez.
— Eu
desejo uma boa recuperação ao seu Torchic. Eu vi que aquele garoto comentou
sobre você ser uma desafiante da Liga, então quando estiver com a cabeça mais
tranquila pode ir lá me procurar que eu vou aceitar seu desafio diretamente.
Em respeito ao que você passou hoje, eu não vou te dar nenhum teste prévio como os outros líderes costumam fazer. Até
lá eu recomendo que você tenha um bom descanso e deixe seu Pokémon com a equipe
médica daqui, que eu te dou a certeza de ser uma das melhores de toda Hoenn.
Assim
que Wattson foi embora Ruby e Sapphire saíram do refeitório para subir as
escadas para o quarto que haviam reservado. No caminho até lá apenas silêncio.
Ruby sempre foi do tipo que não gostava de barulho excessivo, por isso às vezes
se irritava um pouco com o jeito cheio de energia de Sapphire. Mas aquele
silêncio o torturava.
Ele
sentia que parte da culpa era sua, já que não fez nada para tentar ao menos
revidar o que aquele treinador havia feito com a amiga. E nem conseguiria. Se
Sapphire não teve condições de vencer aquela batalha, o que o ele poderia
fazer?
Os
dois entraram no quarto. Sapphire já começava a caminhar em direção ao banheiro
quando Ruby a segurou pelo braço. O menino se assustou ao perceber a atitude
impulsiva, e imaginava que a garota acabaria brigando com ele como ela
costumava fazer quando se sentia constrangida. No entanto, não se teve
resposta. Ela apenas voltou seu olhar devagar para o garoto, uma expressão vaga
de quem não tinha mais ânimo.
O
silêncio se estendeu por mais alguns segundos. Ruby não sabia como dizer a ela
o que estava sentindo naquele momento. A sensação de impotência também era
dele, os dois estavam abatidos, mas de formas diferentes. Sapphire pelo choque
de realidade, e Ruby por vê-la daquele jeito.
— O
que houve? — ela perguntou. — Eu só vou tomar um banho e descansar um pouco,
não tô com muita vontade de fazer nada agora.
— Eu
sei que não posso te obrigar a ficar alegre depois do que aconteceu mais cedo,
mas eu não gosto de te ver assim — o garoto começou a falar, ainda um pouco
travado por conta de odiar se abrir para qualquer pessoa. — Mas eu quero que
saiba que você é uma ótima treinadora. É normal ter coisas a aprender ainda,
você começou sua primeira jornada há pouco tempo e mesmo assim já tem duas
insígnias e realizou batalhas incríveis!
Sapphire
se assustou com aquele sermão repentino. Ruby era uma pessoa fechada, muitas
vezes ranzinza, cujos sentimentos eram difíceis de identificar. Não sabia onde
ele queria chegar com tudo aquilo.
— Eu
também sinto um pouco de culpa por não ter conseguido fazer alguma coisa — ele
continuou. — E por isso eu prometo que vou treinar mais. Nós vamos treinar
mais, quero dizer. Você ainda vai perder outras batalhas no futuro, isso é
certo para todos, mas vai ficar forte para nunca mais ser derrotada dessa
forma. E eu vou ficar forte também, porque se um dia você precisar eu poderei
entrar na briga junto.
O
sorriso dele era sincero, e de certa forma até reconfortante. Nem parecia mais
o garoto mimado e resmungão que se recusava a comer berries recém-colhidas nas
árvores da estrada. Sapphire retribuiu o apoio do amigo com um sorriso, ainda
que tímido, mas que foi complementado por um abraço apertado. Se ela se sentia
frágil naquele momento, deixaria que seu melhor amigo fosse sua armadura, pelo
menos daquela vez.
—
Obrigada, Ruby — a menina agradeceu, ainda um pouco sem graça, quando os dois se
soltaram. — Acho que se não fosse por você, e até pela Miriam no tempo em que
ela ficou com a gente, eu poderia ter desistido antes de enfrentar a Roxanne.
— Eu
digo o mesmo. Se você não tivesse caído no quintal da minha casa eu poderia te
ver como uma visita qualquer, e não teria a vontade de sair de casa. Minha vida
tem sido um tédio nos últimos anos, e achei que quando eu e minha família
chegássemos a Hoenn ia continuar tudo igual. Não vou mentir que fiquei
intrigado com sua aparição bizarra.
Os
dois riram por um momento. Aos poucos o peso nas costas de cada um parecia
sumir devagar, mas com alívio.
— A
gente pode ver algum outro lugar na cidade pra visitar. É cedo ainda, não sei
se você conseguiria dormir agora por mais que tentasse.
— Eu
já tô melhor, mas tem uma coisa que eu ainda preciso fazer.
— O
Torchic?
— É...
Tendo
descansado do dia que se passou, Sapphire desceu até a ala hospitalar para
visitar Torchic. Com a autorização da enfermeira ela entrou em uma sala onde
alguns Pokémons estavam, alguns acompanhados de seus treinadores, outros
descansando.
Seu parceiro
estava em uma maca no canto da sala. Já parecia estar muito bem, passaria a
noite em observação apenas para que houvesse a certeza de que poderia receber
alta na manhã seguinte. A expressão da pequena ave não foi das melhores ao ver
Sapphire, se virando com rapidez para a parede ao lado.
— Eu
sei que você me odeia. Eu só nunca entendi o motivo. Sempre me esforcei pra ser
uma boa treinadora, sempre tratei vocês da melhor forma que eu podia. Mas agora
eu comecei a perceber que talvez não seja o suficiente.
Torchic
voltou a observá-la, mas sem expressar nenhuma reação. O olhar continuava seco,
cansado, mas pelo menos ele tentaria ouvir o que sua treinadora tinha a dizer.
— Eu
acho que nunca parei pra pensar no lado de vocês. Te coloquei em risco hoje porque
queria aquela vitória e não calculei a diferença entre a força dos adversários
e a nossa. Mas agora sei que só uma parte de mim queria a vitória pra fazer
justiça. Com o passar da batalha o desejo de vencer passou a ser voltado pro
meu próprio ego, e você se machucou seriamente por causa disso.
Sapphire
usou o braço para esfregar os olhos e ao mesmo tempo tapar o rosto para que
Torchic não visse outras lágrimas escorrerem.
—
Droga, eu odeio não conseguir me controlar.
A
expressão de seu Pokémon ficou um pouco mais serena. A treinadora respirou
fundo e se levantou de sua cadeira, já prestes a sair para permitir que seu
companheiro tivesse uma noite de descanso.
— Eu
só quero que você me ajude no ginásio de Wattson. Depois disso eu vou deixar
que você decida. Se você não gosta de me ter como treinadora eu não quero te
forçar a seguir viagem comigo ou gostar de mim. Mas uma coisa eu garanto — ela
fixou seus olhos azuis no pequeno. — Se você me der uma chance e continuar
junto comigo eu nunca mais vou permitir que algo assim aconteça de novo. Nem
com você e nem com os outros.
Sapphire
deixou a sala. Dan continuou encarando a porta que havia acabado de se fechar.
Quando viu que ninguém o observava o Torchic esboçou um sorriso de canto, bem
discreto.
— Essa
humana idiota...
• • •
Roxanne
havia acabado de finalizar uma batalha de ginásio. Seu desafiante, derrotado,
foi embora pisando com força no chão enquanto a líder só o observava com um
olhar de desinteresse.
Pouco
tempo depois Steven entrou às pressas e se dirigiu até o local onde a mulher
costumava ficar, o velho altar onde havia estátuas de Pokémons ancestrais. A
julgar pela expressão de ansiedade no rosto do rapaz, Roxanne já imaginava que
novidades tinham chegado.
— Pelo
visto você descobriu alguma coisa — disse a mulher.
—
Coloque um substituto temporário aqui no ginásio. Estamos indo para Mauville
depois de amanhã!
Roxanne
se surpreendeu com aquele comunicado repentino.
— O
que houve?
—
Tenho que resolver outras coisas agora, mas quando estivermos a caminho eu te
explico. Mas desde já eu digo que devemos ir até lá, ou as coisas podem acabar
ficando feias.
FIM DO CAPÍTULO 24