Notas do Autor - Capítulo 34

 


Agora sim, estamos oficialmente em Verdanturf! Olha, sendo bem sincero a ideia pra esse capítulo veio do mais absoluto nada, mas foi muito importante trazê-lo aqui porque é nele que começaremos a apresentar algumas coisas a mais do background do Ruby. E eu não tinha nem ideia de quando eu ia começar a tocar nesses pontos. Mas agora demos a partida, e estamos com caminho aberto para desenvolver essa parte.

Estamos chegando ao terceiro contest de AEH. Sempre esses benditos me dando trabalho, mas até que esse correu bem mais rápido do que o de costume. Veremos como o Ruby se sai, ainda mais agora com ele sabendo que a modalidade de apresentação será totalmente diferente do que ele esperava kkkkkkkk

No mais, queria trazer um pouco mais do Wally na história. Quando falamos de Verdanturf, pensamos logo nele. É sempre bom aproveitar essas oportunidades pra trabalhar esses personagens secundários, ainda mais que o Wally tem um passado como amigo de infância do Ruby.

Acho que por hoje é isso. Tô meio baqueado de saúde, então me perdoem se as notas estiverem confusas de entender. Foi difícil manter o raciocínio kkkkkkk Mas espero que se divirtam com este capítulo, é um dos que eu mais estava querendo postar.

Até breve! õ/


Capítulo 34

 A lacuna que nunca se completa


— Como é possível uma cidade na encosta de um vulcão ativo ser tão bonita?


Ruby estava boquiaberto com a beleza de Verdanturf, a cidade onde disputaria seu próximo Contest para tentar garantir mais uma fita. Logo que passou pelo pórtico de entrada, o trio foi surpreendido com a simplicidade do local. As pequenas ruas ladrilhadas margeadas por casas simples com belas fachadas, os fartos canteiros de flores, árvores e outras plantas espalhados ao longo dessas mesmas ruas, dividindo-as na área principal que dava para uma praça com um chafariz ao centro que tinha esculturas da linha evolutiva da Roselia. Esta praça era um ponto movimentado da cidade, pois dali se tinha fácil acesso a todos os lugares importantes, desde o Centro Pokémon, às áreas residenciais e até mesmo ao Contest Hall.


— Bem, o solo vulcânico é bem fértil — Sapphire observou. — Não é surpresa que as plantas daqui sejam tão vivas. O ar puro também ajuda.


— Mas é justamente sobre o ar que eu estou falando! Tem um vulcão em cima de nós, como isso aqui não está debaixo de um manto de cinzas? — o garoto ainda parecia confuso.


— Porque nessa região quase sempre o vento sopra pro norte — disse Zinnia. — É muito raro ele mudar de direção, então o manto de cinzas acaba indo todo pras rotas que ficam na outra encosta da montanha. Que inclusive já passei por lá, e vocês têm que ver aquilo ali um dia. É um lugar lindo! Apesar de não ser legal ficar lá por muito tempo respirando aquelas cinzas...


— Bom, eu tenho que ir até Fallarbor para disputar o Contest depois desse, então vamos passar por lá de qualquer jeito. Será que deveríamos levar máscaras para respirar melhor?


— Não precisa, a rota é bem curta. Desde que a exposição não seja prolongada a gente vai passar por lá sem problemas. E a própria limpeza pública de Fallarbor se encarrega de remover as cinzas que caem por lá, então a cidade está sempre limpa.


— A gente pode pensar em Fallarbor depois, acho que o melhor a fazer agora é reservar os quartos no Centro Pokémon — disse Sapphire. — Sempre que tem algum Contest pra acontecer os quartos lotam muito rápido.


— Tem razão — Ruby assentiu com a cabeça. — Vamos fazer o check-in, depois comer alguma coisa, e aí vamos ter tempo para conhecer mais a cidade.


Pois foi durante a caminhada para o Centro Pokémon que Ruby cruzou com uma pessoa já conhecida na rua, mas que pela expressão do garoto não era bem o encontro que ele gostaria de ter naquela tarde.


— Ora ora ora, veio assistir um Contest de rank mais alto pra tentar aprender alguma coisa? — o tom debochado da menina era o que mais incomodava Ruby.


— Vim competir, não que isso seja da sua conta — Ruby foi quem deu um sorriso debochado em seguida. — Mas e você, Emily? Está aqui porque não conseguiu vencer um Contest desse nível ainda? Não, não pode ser. Você que é o grande talento da nova geração não teria dificuldades só com isso. Com certeza deve estar tirando férias. Mas cuidado pra não relaxar demais, ou o prazo pra conseguir as fitas pro Grande Festival pode acabar se esgotando!


Emily fechou a cara quase que de imediato. Já era a segunda vez que Ruby a vencia nessa competição não oficial de deboche que os dois travavam desde que se conheceram, ainda em Rustboro. Pior ainda foi perceber que Sapphire, logo atrás do garoto, virou o rosto pro lado pra não demonstrar que estava segurando o riso.


— Ainda não competi nesse rank porque achei que seria de bom senso me preparar melhor antes. Mas vamos ver se esse seu sorrisinho tosco vai continuar quando você for varrido lá — Emily tinha um tom ríspido na voz. — Eu não quero nem imaginar a tragédia que vai ser a apresentação de um rei da cafonice que nem você em uma apresentação em duplas.


Ruby travou por um breve momento, quase deixou transparecer uma expressão de surpresa, mas já tinha sido o suficiente para Emily perceber que aquela informação era nova para o menino.


— Ruby, você sabe que os Contests de Verdanturf são apresentações em duplas, não sabe? — a garota tinha um sorriso triunfante.


— M-mas é claro que eu sei! Como se eu fosse deixar passar uma informação tão importante dessa — o garoto gesticulava histérico tentando convencer a rival de que ele dizia a verdade, mas sequer conseguia olhar na cara dela. — Não tem como eu cometer um erro de amador como este!


— Claro que não, eu sei que você jamais cometeria um deslize como esse. Logo você, que é um coordenador tão talentoso e promissor — agora era Emily quem havia tomado o controle da troca de farpas. — Estou ansiosa pra ver a sua apresentação, tenho certeza que ela vai me divertir muito. Boa sorte, fofo!


A última piscada da garota foi o golpe de misericórdia pra deixar Ruby bufando de raiva. Ele tinha praticado as apresentações de forma exaustiva, para só a poucos dias do concurso descobrir que deveria refazer o planejamento do zero.


— Se você sabia que o Contest era em duplas, por que treinou cada um individualmente? — Sapphire perguntou de forma inocente.


— Não sei, Sapphire. Vai ver é porque eu sou burro. É só por isso — Ruby deu um tapa na própria testa, e a mão foi descendo o rosto enquanto a sua vontade era de enfiar a cabeça em um buraco e nunca mais sair dali de dentro.


Os três chegaram ao Centro Pokémon, e como previsto por Sapphire o lugar estava abarrotado de gente. Eles mal tinham espaço para andar pelo saguão, já que além do trânsito habitual de viajantes que usavam o Túnel Rusturf para pegar uma rota mais rápida de Rustboro até Mauville, agora tinham que lidar com a leva de coordenadores que competiriam no final de semana.


Ruby estava começando a ficar com dor de cabeça por causa do falatório de dezenas de pessoas ao mesmo tempo, de um modo que não conseguia colocar a cabeça pra pensar. Zinnia e Sapphire já estavam atentas às pessoas que trabalhavam no local. Além das enfermeiras e seus Pokémons assistentes estarem trabalhando em um ritmo frenético que nem ao menos lhes permitia esconder a expressão de sobrecarga atrás daquele sorriso habitual que sempre tinham, a recepção da hospedaria também estava com uma fila enorme, tal como o refeitório.


— Eu estou com um mal pressentimento — Ruby comentou, analisando a situação.


— Um minuto da atenção de todos, por favor — uma das enfermeiras começou a falar usando o microfone do balcão de recepção para superar o volume da multidão. — Gostaria de lembrar a todos que estamos em um ambiente com uma ala hospitalar, então pedimos que todos colaborem para diminuir o barulho para não atrapalhar o descanso e a recuperação dos pacientes. Acredito que a maioria aqui são treinadores, e não gostariam de ver algo assim acontecendo a seus Pokémons companheiros.


Pela primeira vez desde que entraram no prédio, Ruby, Sapphire e Zinnia sentiram a barulheira cessar um pouco. Ainda havia conversas baixas, mas pelo menos dessa vez os três já conseguiam ouvir seus próprios pensamentos de novo. A enfermeira, por sua vez, continuou com o comunicado.


— Também temos mais uma coisa a dizer. Não é do nosso agrado ter que dar este tipo de aviso, mas infelizmente todos os quartos da hospedaria já estão ocupados. Aqueles que não conseguiram fazer uma reserva infelizmente terão que procurar vagas nas pousadas da cidade. No entanto, ainda podem continuar vigiando a nossa lista de vacância para o caso de algum quarto ser liberado — mais uma vez o falatório começou a subir o volume, e agora com algumas reclamações de pessoas na fila para reservas. — Por favor, contamos com a compreensão de todos!


O grupo saiu desolado da clínica. Os três pareciam não ter rumo naquele momento, e Ruby era quem mais expressava preocupação. Sem um lugar confortável para passar as noites não seria possível descansar o suficiente para ter um bom desempenho no Contest.


Voltaram para a praça e se sentaram em um dos bancos que rodeava o chafariz para tentar improvisar uma solução de última hora.


— O jeito é procurar uma pousada — disse Sapphire. — O quanto isso vai impactar as nossas economias?


— O suficiente para passarmos aperto durante algumas semanas — Ruby respondeu. — Se dermos sorte ainda conseguimos um quarto para grupo, que deve sair mais barato do que se sobrarem só os individuais.


Largados naquele banco e sem saber o que fazer, os viajantes pareciam esperar por um milagre agora que as opções estavam ficando mais restritas. Sapphire estava frustrada, até abriu um pacote de salgadinhos para tentar se acalmar. Zinnia cruzou as pernas e procurou relaxar enquanto pensava em uma saída. Ruby era o mais frustrado. O garoto só queria um descanso, não era pedir demais. Mas não tinha nem um lugar pra tomar um banho.


A aura derrotada do trio chamou a atenção de uma moça que passava pelas redondezas. Aparentando ter a mesma idade de Zinnia, ela carregava em um dos braços uma sacola de compras com alguns mantimentos, enquanto a outra mão tentava impedir que o vento jogasse a franja dos seus cabelos esverdeados na frente dos olhos. Ela passou os olhos em cada um dos três, e só parou quando percebeu o garoto que estava ali sentado.


— Ruby? É você?


Sapphire e Zinnia na mesma hora viraram para o menino, se perguntando de onde ele e aquela moça se conheciam. O garoto assim que levantou a cabeça para ver quem havia chamado seu nome teve uma surpresa ao ver que se tratava de uma velha conhecida.


— Wanda?


— Ruby! Eu não acredito que você está aqui em Verdanturf! Desde quando você chegou? — a moça parecia bastante animada com a presença do menino.


— Chegamos hoje cedo, eu e as meninas — Ruby então notou a expressão confusa de suas companheiras de viagem, antes de perceber o equívoco que havia cometido. — Ah, claro! Vou apresentar vocês. Estas são Sapphire e Zinnia, estão viajando comigo. Meninas, esta é Wanda, uma conhecida minha desde a infância. Sapphire, ela é a irmã mais velha do Wally.


— Ah, claro! Bem que eu estava achando você familiar — disse a menina, estendendo a mão. — Prazer em te conhecer.


— Então você já conhece meu irmãozinho também? Então, Ruby, o Wally nos disse que tinha te encontrado algumas vezes durante a jornada dele, e que estavam competindo nos Contests. Ele vai ficar feliz em te ver.


— O Wally está aqui em Verdanturf? — indagou Ruby.


— Sim, como Verdanturf é caminho pra onde ele vai, ele resolveu parar aqui durante o fim de semana pra assistir o Contest imaginando que você viria. Ele deve estar treinando por aí, então por que vocês não me acompanham até lá em casa? Ele saiu bem cedo hoje, então daqui a pouco deve estar chegando também.


— Eu adoraria poder rever o pessoal depois de anos, mas primeiro temos que procurar uma pousada e fazer uma reserva — disse Ruby. — Não achei que a cidade estaria tão cheia esse fim de semana, então acabamos não vindo pra cá com muita pressa.


— Então vocês não conseguiram vaga no Centro Pokémon? — Wanda questionou com tom de preocupação na voz. — Nem pensar que vocês vão pagar pra ficar em uma das pousadas daqui. Esse fim de semana elas estão cobrando caro por causa do Contest! Venham comigo. Tenho certeza que meus pais vão deixar vocês ficarem lá em casa. Temos um quarto de hóspedes com duas camas, as meninas podem ficar lá, e você dorme com o Wally no quarto dele, que tem um colchão extra.


— Obrigado, Wanda! Você salvou a gente de verdade! — Ruby balançava a mão da mulher em um misto de euforia e alívio.


— Imagina! Você sempre foi um grande amigo pro Wally, não tem como a gente deixar você numa situação difícil. Quer dizer, a única situação difícil pra você vai ser dormir junto com o Wally. Você lembra que sempre que você ia dormir na nossa casa ele ficava tagarelando até tarde, né?


Aliviados com o convite, o trio seguiu Wanda até a residência da família de Wally. Agora teriam um lugar onde passar as noites durante a estadia em Verdanturf, ou seja, um problema a menos para resolver.


• • •


— Ruby, estamos muito felizes em ver você — a mãe de Wally e Wanda sorria enquanto retirava as compras das sacolas. — Quando você estiver com sua família de novo, diga que eu mandei um abraço e que eles estão convidados pra vir aqui quando quiserem.


— Eu acho meio difícil eles virem, porque meu pai teria que se ausentar do ginásio, mas se tiverem a oportunidade de aparecer lá em Petalburg eu tenho certeza que eles vão adorar ver vocês — comentou o menino.


Todos já estavam na cozinha. As compras frescas seriam utilizadas justamente para o almoço que a família estava preparando. Zinnia não pôde deixar de notar como os produtos estavam bem cuidados.


— As verduras e as frutas estão muito bonitas — disse a draconid, sem tirar os olhos das tamato berries quase reluzentes que estavam sobre a mesa.


— Aqui em Verdanturf sempre tem uma feira organizada pelos pequenos produtores que aproveitam a fertilidade das terras próximas ao Monte Chimney para plantar — explicou Wanda. — Tivemos muita sorte de escolher viver aqui, nós nem sabíamos disso. E se você gostou da aparência, espere só até provar o sabor!


— Então quer dizer que vocês dois são os rivais do Wally na jornada dele? — o pai do garoto puxou conversa com os mais novos enquanto dobrava o jornal que esteve lendo até então. — O Ruby dispensa apresentações, ele já é de casa. Mas quanto a você, Sapphire, o Wally disse que você parece ser uma ótima treinadora.


— Eu não diria que eu estou com essa moral toda — a menina coçava a parte de trás da cabeça com um sorriso sem jeito. — Mas eu estou fazendo o melhor que posso pra chegar nesse nível. E sobre o seu filho, eu ainda não vi como ele batalha, mas tive a oportunidade de assistir a apresentação dele em dois contests, e foi impressionante. Se ele batalhar tão bem quanto se apresenta, então eu é que vou ter que começar a treinar mais.


— Eu não sei se o Ruby chegou a comentar sobre isso com vocês, mas o Wally tinha um problema grave de asma quando era mais novo — disse a mãe do garoto enquanto começava a cortar os legumes. — Ele era muito debilitado quando criança, porque ele não podia fazer esforço físico que já entrava em crise.


— Acho que eu ouvi o Ruby e o Wally comentando algo por cima quando nos encontramos em Rustboro — Sapphire comentou.


— Foi por isso que viemos para Verdanturf. O ar aqui é mais puro, mesmo Violet não sendo uma metrópole, ainda tinha um grau de poluição que prejudicava muito uma pessoa frágil como o Wally era.


— E ficamos impressionados quando ele voltou pra casa essa semana — disse o pai. — Ele está bem mais forte agora.


Coincidência ou não, naquele momento em que todos falavam do garoto um barulho foi ouvido vindo da entrada da casa. O som da fechadura da porta sendo acionada marcava a chegada de mais alguém. Os passos foram ficando mais altos na medida em que a presença se aproximava da cozinha, e quando Wally adentrou o local sua expressão foi de surpresa ao ver que tinha visitas.


— Ruby, Sapphire! Finalmente vocês chegaram!


— Você falando assim até parece que combinamos de nos encontrar aqui — disse o garoto rindo.


— Eu sabia que você ia aparecer, por isso fiquei aqui para ver o contest. Nós não nos vemos desde Slateport, precisamos colocar a conversa em dia.


Wally levou todos até seu quarto. Ruby entrou como se estivesse na própria casa, tamanha era a sua intimidade com o garoto. Zinnia pediu licença antes de seguir os dois e Sapphire foi quem estranhou um pouco estar entrando no quarto de um garoto, ainda que soubesse que não vinha nenhum tipo de maldade de Wally.


Aos poucos a conversa foi se desenrolando. Ruby e Sapphire contaram a ele sobre as coisas que aconteceram após Slateport, desde as revelações envolvendo Miriam, a separação do grupo, os ocorridos em Mauville e a chegada de Zinnia.


— E por que você veio pra cá? — questionou Sapphire.


— Bom, depois de Slateport eu fui pra Dewford, porque ainda não tinha enfrentado o ginásio de lá — contou o garoto. — Depois que consegui a insígnia de lá eu queria voltar e tentar de novo o contest de Slateport, mas ainda vai levar mais uma semana pra ele acontecer de novo. Então eu fiz mais algumas sessões de treino com o Brawly na Caverna de Granito para fortalecer a minha equipe. Fiz o caminho por Rustboro pra já eliminar uma parada que eu teria que fazer de qualquer jeito. Reconhece isso aqui, Ruby?


Wally estendeu a mão fechada para seu amigo. Quando Ruby abriu a mão, o outro deixou cair um pequeno brasão metálico que o garoto reconheceu logo de cara.


— Essa insígnia! — Ruby olhou chocado para o amigo. — Wally, você derrotou o meu pai! Isso é incrível!


— Eu quase me matei pra vencer essa batalha, mas de alguma forma eu consegui — o menino riu. — O Wally do passado nunca acreditaria se eu dissesse que um dia ele iria vencer uma batalha contra o tio Norman.


— Essa é a insígnia do ginásio de Petalburg? — Sapphire olhou fixo para o objeto. — Legal, eu quero uma também.


— Ganha do meu pai que você consegue a sua — disse Ruby. — Mas já vou avisando, batalhar contra ele é pesado.


— A velha fama dos líderes do tipo Normal, não é mesmo? — Wally riu, fazendo com que imediatamente ele e Ruby se lembrassem da infame Whitney e sua Miltank no ginásio de Goldenrod.


— Pelo menos o meu pai não tem uma Miltank, né?


— Não sei se isso é uma boa notícia como parece, porque aquele Slaking é tão impiedoso quanto.


— É, o Shogun é assustador mesmo...


— Vocês estão me dizendo que o pai do Ruby usa um Slaking no ginásio dele. É isso mesmo? — Sapphire indagou, já demonstrando nervosismo por conhecer a fama ruim daquela espécie.


— É, querida... Boa sorte, viu? — disse Zinnia enquanto mascava um chiclete.


O tempo passou e o almoço ficou pronto. Por sorte a família de Wally sempre comprava os mantimentos em maior quantidade, e assim não foram surpreendidos pela chegada repentina das visitas.


Como Wanda disse mais cedo, o sabor dado pelos ingredientes comprados por eles era muito melhor do que qualquer coisa que eles já tinham comido antes. Resultado de um ótimo trabalho de cultivo e também de preparo.


— Ei, Sapphire — Wally chamou a atenção da menina. — Quantas insígnias você já tem?


— Ainda estou com três, só batalhei em Rustboro, Dewford e Mauville. Depois que a gente sair de Verdanturf vou desafiar o ginásio de Lavaridge.


— Ué, então eu te passei? Eu estou com quatro insígnias! Mauville, Dewford, Rustboro e Petalburg.


— Você está fazendo as coisas bem rápido então — Ruby comentou. — Se acalma um pouco, aproveita esse fim de semana que você vai ficar por aqui e descansa. Senão vai acabar sobrecarregando você e seu time. Ainda mais porque vocês estão disputando os contests enquanto desafiam os ginásios da Liga.


— Eu sei, é que depois que treinei com o Brawly lá em Dewford eu senti que fiquei mais resistente, quase como se a minha asma tivesse ido embora. Isso me deu uma sensação de liberdade que nunca achei que eu ia ter, então acho que acabei me empolgando um pouco.


Ruby sorriu. Ele estava verdadeiramente feliz por ver que seu amigo parecia estar finalmente se libertando daquela doença horrível que por tanto tempo o privou de viver como um garoto normal.


— Sapphire, quando vocês estiverem indo embora de Verdanturf o que me diz de batalharmos? Queria testar meu time contra o seu.


Sapphire se viu surpresa com o desafio repentino, mas sua determinação logo subiu. Um sorriso se fez em seu rosto, já que havia recebido o tipo de convite que para ela era irrecusável.


— Uma batalha contra um treinador que tem quatro insígnias vai ser bom pra me preparar pro próximo ginásio — disse a menina. — Vamos, com certeza!


— Ok, vocês podem batalhar o quanto quiser, mas pelo menos se alimentem bem porque saco vazio não para em pé — disse Wanda, incentivando os mais novos a terminarem de comer antes que a refeição esfriasse.


O comentário de Wanda arrancou algumas risadas, principalmente de Wally. Os dois estavam sentados lado a lado, e tinham entre si uma sintonia muito forte e positiva. Sapphire percebeu que Ruby sorria ao olhar pra eles, mas quando parou para prestar mais atenção percebeu que havia algo naquele sorriso. Algo diferente do último que ele deu poucos minutos antes. Este último vinha acompanhado de uma carga melancólica que causava estranheza na garota. Era como se Ruby tentasse criar uma cortina por fora para esconder seu interior, que parecia estar sufocando.


Após o almoço os quatro viajantes saíram para apreciar mais a cidade. Wally os levava até os pontos que achava mais interessantes. Verdanturf, apesar de pequena, possuía vários pontos interessantes para quem gostaria de um fim de semana sossegado em uma cidade pequena. A praça bem arborizada, sorveterias, cafés, mais do que se podia imaginar em uma cidade daquele tamanho.


Wally explicava que após a construção do Contest Hall na cidade o comércio começou a se desenvolver, pegando embalo no movimento que lá se criava durante a temporada de contests. E por serem de rank 1 já não se tratava de contests do nível mais baixo, uma vez que ali só participavam aqueles coordenadores que já haviam conquistado uma fita, subindo assim o nível das competições e atraindo mais espectadores que não estavam dispostos a ver coordenadores inexperientes cometendo erros bobos.


A noite então chegou, e todos já estavam de volta à casa de Wally. Como sugerido por Wanda, Sapphire e Zinnia foram para o quarto de hóspedes. Ruby foi junto com Wally para o quarto do amigo. Ele já estava vestido para dormir com uma regata e uma bermuda, sendo situada no vasto planalto conhecido como a Região das Terras Altas de Hoenn e na encosta de uma montanha, Verdanturf era uma cidade quente, e naquele dia específico fazia um calor um pouco mais forte que o habitual.


Os dois deitaram para dormir. Ruby estranhou o fato de Wally não ter puxado assunto, pois era o que sempre fazia quando um ia dormir na casa do outro nos tempos de escola. Talvez o dia seguinte dele seria corrido, quem sabe? Mas não durou muito até que o menino falasse algo.


— Ei, Ruby.


— Sim?


— A Sapphire é forte? — Ruby não conseguia ver, mas Wally sorria olhando para o teto, como se já estivesse imaginando o confronto que teria contra a rival.


Ruby parou para refletir sobre a amiga. Ele que tinha acompanhado sua evolução desde que saíram juntos em jornada, então ele poderia dar alguma resposta ao garoto que pudesse saciar sua curiosidade.


— É sim. Bastante. Nós dois batalhamos uns dias atrás em um treino. Se não tivéssemos sido interrompidos ela ia limpar o chão com a minha cara.


— Caramba, mas a diferença é tanto assim? Você me venceu no Contest de Slateport, e já é bom em batalhas. Ela então deve ser realmente forte.


— Era um tipo muito específico de batalha que tivemos em Slateport, e mesmo assim eu venci por muito pouco. Você já tem quatro insígnias, Wally. Se batalhássemos hoje eu não teria chance.


— Eu só concordo porque você não treina para batalhas. Seu time é muito focado em contests. Mas você era talentoso quando seu pai nos deixava usar alguns Pokémons pra batalhar lá nas rotas perto de Violet. Eu tenho certeza que se você começasse a treinar pra valer poderia até ir pra Liga. Imagine só: eu, você e Sapphire disputando a Liga! E se caíssemos os três no mesmo grupo? Teríamos a chance de batalhar entre nós valendo tudo ou nada!


— Wally, eu acho que você está viajando demais — Ruby deu um riso. — Eu até tinha interesse em batalhas, mas os contests são importantes pra mim.


Wally respirou fundo. Sabia que não ia conseguir convencer o amigo cabeça-dura. Mesmo assim sorriu e se virou para dormir. E ele já entendia a razão pela qual Ruby era tão obcecado em ser coordenador.


— Você ainda sente falta da Eliza, não é? — Wally perguntou.


— Não tem como esconder nada de você, não é? — Ruby encarou seu parceiro de quarto, seu semblante agora era de tristeza. — Sim, eu quero continuar o legado dela. Eu não posso simplesmente me permitir focar em outra coisa e correr o risco de perder desempenho neles. Diferente de você eu sou péssimo em fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.


Um breve silêncio se fez presente no quarto. Nenhum dos dois sabia o que dizer ao certo. Wally, no entanto, não se sentia constrangido. Ele gostava quando Ruby conseguia se abrir mais um pouco, pois desde o dia que Eliza se foi ele não conseguia se permitir alcançar o mundo exterior.


— Que merda... — o visitante murmurou, se tapando com o lençol que usaria para se cobrir, como se tentasse se esconder de alguma coisa.


— Você que sabe, eu não vou te forçar a nada. Mas eu gostaria muito de te ver batalhando a sério algum dia. Só pra ver até onde vai a sua capacidade. Até lá, seja o melhor coordenador que puder, pela Eliza.


Ruby ficou alguns segundos sem dizer nada. Wally aguardava paciente a resposta do amigo. Foi quando ele deu um respiro fundo e finalmente saiu de baixo do lençol com uma expressão já mais resolvida.


— Eu vou sim. Mas me prometa uma coisa.


— Sim, pode falar.


— Nunca deixe que a Sapphire saiba que eu disse uma palavra tão vulgar.


Wally encarou o amigo por alguns segundos, sem entender como ele conseguia sair de um buraco emocional tão profundo para se preocupar com algo tão banal logo em seguida. O garoto riu, coçando seus cabelos verdes, tamanho era o absurdo daquele pedido.


— Ah, Ruby, “merda” nem é tão pesado assim.


FIM DO CAPÍTULO 34

  


Notas do Autor - Capítulo 33

 


Verdanturf já pode ser vista no horizonte! E com ela, mais um contest do Ruby se aproximando! Quem diria que eu chegaria no terceiro contest sem enlouquecer kkkkkk Mas o capítulo já está pronto, e eu vou ser sincero: esse foi o contest que eu mais gostei de fazer. Mas convenhamos, Verdanturf é a cidade mais marcante pra contests, né? Lilycove ainda tem o shopping, então dá pra discutir, sei lá. Verdanturf é Verdanturf, uma cidadezinha que aqui na segunda temporada nos traz de volta àquele clima gostoso lá do comecinho. Será que teremos outra cidade assim daqui em diante?

Ruby parece estar acertando as contas com o Jeff. Se eles conseguiram sobreviver até aqui do jeito que estavam, eu acredito que se eles se unirem essa relação vai tornar os dois muito fortes. Ruby entende de batalhas, só precisa praticar e encontrar motivação pra isso. Vamos aguardar pra ver.

E a Miriam... Surpresa! kkkkkkkk Aposto que vocês imaginavam tudo vindo dela, menos enfrentar os ginásios e tentar entrar na Liga, né? Imagina a cara da Sapphire quando descobrir isso! Mas a prioridade da nossa rainha Kantonesa segue sendo a Batalha da Fronteira. E está na hora de fazer ela enfrentar um Cérebro da Fronteira. Ainda faltam 5, e o tempo vai ficando cada vez mais curto. Comparada à Sapphire e Ruby ela anda meio atrasada...

Bem, é isso que tenho a comentar por hoje.

Até a próxima! õ/


Capítulo 33

Objetivos e resoluções


A entrada da cidade de Verdanturf já podia ser vista no fim da estrada de terra que atravessava a Rota 117. O tempo estava aberto, mas com o sol ameno de modo que os viajantes não precisavam se preocupar com o calor naquele dia. Uma leve brisa vinda dos pequenos lagos que margeavam a trilha ajudava a manter o clima bem tranquilo por ali.


O grupo estava em uma pequena pausa, a última antes de adentrar a cidade destino. Sapphire tentava treinar seu novo companheiro Psyduck, com Zinnia tentando dar algumas instruções, mas o pato era um completo avoado, deixando a garota de certo modo frustrada com a aparente perda de tempo enquanto a draconid tentava acalmá-la.


Ruby, por sua vez, estava um pouco mais afastado das duas companheiras de jornada. Jeff estava sentado ao seu lado, ainda emburrado pela batalha que havia tido no dia anterior, da qual só não saiu derrotado por conta da intervenção daquela garota chamada Lydia.


O garoto se sentia desconfortável. Não sabia qual seria a reação de seu parceiro caso tentasse puxar conversa. Mas se lembrou do sermão de Zinnia sobre como ele, como treinador, deveria tomar a iniciativa e procurar melhorar a relação dele com o Treecko. Sabia que não podia deixar aquela decisão se estender por muito tempo, porque precisava contar com ele para continuar a busca pelas fitas.


— É... Eu sei que perder é chato — “comecei mal”, pensou o coordenador. — Mas a Sapphire e o Dante são bem mais experientes que nós. Eles estão treinando há mais tempo. O que tivemos ali foi uma experiência.


Jeff não tinha muita vontade de olhar pra Ruby naquele momento, mas apesar de ter se virado de costas continuava ouvindo.


— Nós estamos começando. Vamos melhorar com o tempo, só precisamos continuar trabalhando juntos — o garoto logo sorriu. — Eu sei que você tem uma rivalidade com o Dante, então perder pra ele deve ser bem pior do que perder qualquer outra batalha. Eu não sei se tenho alguém a quem eu posso chamar de rival. O Wally é um adversário, mas é meu amigo há tanto tempo que eu não sei se conseguiria sustentar uma relação de competitividade com ele. Talvez a Emily... É, eu acho que odiaria perder pra ela de novo, só de pensar naquele sorriso cínico na cara dela eu já fico angustiado. Então eu te entendo bem, pelo menos nesse ponto nós somos bem parecidos.


Aos poucos o pequeno lagarto foi cedendo, até que finalmente se virou de frente para Ruby e começou a prestar atenção no que ele dizia. O garoto abriu mais um sorriso, dessa vez de satisfação.


— Você é o às da equipe. Eu preciso te deixar em forma pra poder vencer as apresentações focadas em batalhas. Não vou te deixar na mão. Eu conheço muito sobre teoria de treinos, mas na prática também estou aprendendo. Mas se trabalharmos lado a lado a gente vai encontrar um jeito de evoluir juntos. Eu não vou deixar você ficar pra trás com relação ao Dante. Da próxima vez que nós enfrentarmos ele e a Sapphire a gente não vai perder de jeito nenhum!


O garoto esticou o braço, apontando um punho cerrado pro seu Treecko. Jeff sequer hesitou ao responder o cumprimento, tocando o seu punho com o de Ruby. Ainda que tentasse bancar o durão, não tinha como não acreditar nas palavras de seu treinador pela forma como ele falava. Ruby podia ser inexperiente, mas falava muito bem e sabia como passar confiança quando necessário. Zinnia, mesmo focada no treinamento de Sapphire, observava os dois de longe e sorriu com satisfação ao ver que as coisas estavam melhorando.


— Os meninos estão começando a se dar bem — comentou a draconid. — Bora botar a cabeça desse pequeno aí pra funcionar?


— Falar é fácil, mas pra conseguir isso primeiro eu tenho que descobrir em qual universo ele tá vagando — respondeu Sapphire dando um suspiro na sequência.


O Psyduck inclinou a cabeça, parecendo nem entender que as duas falavam dele.


— Éeeeeh não tem jeito — disse a draconid. — Parece que vamos ter que respeitar o tempo dele.


— Eu queria poder usar o Psyduck no ginásio de Lavaridge. Lá usam Pokémons de fogo, ele seria perfeito, já que não vou poder usar a Shroomish. Zinnia, vamos fazer um treino? Pra eu tentar colocar o Psyduck pra funcionar.


— Sapphire, você tem treinado exaustivamente desde que saímos de Mauville. Seus Pokémons pelo menos estão conseguindo descansar por causa do revezamento, mas você está se levando ao limite. Tenta relaxar um pouco agora que estamos na entrada de Verdanturf. Uns dois dias pra recuperar a energia não vão te fazer mal.


— Mas eu sinto que preciso melhorar muito ainda! Os ginásios estão ficando cada vez mais difíceis, e eu não cheguei nem na metade deles!


— E se você continuar assim nem vai chegar. A exaustão vai te causar prejuízos no desempenho, no raciocínio e na saúde. E outra coisa, você vai ficar bem. Essa sua insegurança te impede de pensar direito. Você é mais forte do que imagina.


A menina suspirou fundo. Ela sabia que o que Zinnia falava era verdade. Sapphire por pouco nem se reconhecia, já que a garota nunca foi de se levar tão ao extremo. Ela nunca havia tocado no assunto com seus amigos, mas quando estiveram na Creche Pokémon de Lydia e Isaac a menina viu seu reflexo no espelho e reparou que estava começando a ficar com olheiras. Talvez fosse mesmo o momento de dar uma pausa.


Ruby havia terminado de conversar com Jeff. O garoto retornou toda a sua equipe para as Pokéballs e se dirigiu para as amigas.


— Foi uma boa conversa. Acho que estamos progredindo — o menino tinha um sorriso satisfeito. — O Treecko é bem forte, então se eu conseguir trazê-lo pro meu lado eu tenho certeza que as coisas vão começar a dar muito certo.


— Isso é ótimo, Ruby — Zinnia abriu um sorriso. — Mas assim como eu disse pra Sapphire, vou dizer pra você também. Tente não se forçar muito, dê um tempo pro seu Treecko. Quando as coisas são feitas com calma há menos espaço pra erros. Tenho certeza que vocês vão se entender.


— Obrigado, Zinnia — disse o garoto. — Sendo bem sincero, eu estava um pouco desconfiado quando você se juntou a nós, mas agora estou gostando bastante de ter você aqui.


— Vocês têm algo que me intrigam, e eu quero descobrir o que é — disse a mais velha. — Mas acho que o mais importante é ter com quem compartilhar boas memórias. Posso ser mais velha do que vocês, mas é a primeira vez que estou viajando por Hoenn também. Meu povo é bem fechado pro mundo externo, então eu nunca tive muita liberdade, sabe? Mas agora estou podendo ver tudo que existe nessas terras que meus antepassados defenderam arriscando suas vidas, e eu estou entendendo o motivo. É um lugar maravilhoso. Fico me perguntando se existem outros lugares, outras Hoenns lá fora.


— Você só vai saber indo até lá — Sapphire provocou. — Aproveite essa sua nova liberdade pra ver o mundo. Mas só depois que finalizarmos a nossa jornada juntos. Até lá queremos você com a gente. Mas vou te dar uma dica. Não existem outras Hoenns pelo mundo. Mas existem lugares tão únicos quanto. E essa é a parte interessante.


— É, foi mais nesse sentido que eu quis dizer mesmo — a draconid respirou fundo. — Bom, se ainda temos que explorar Hoenn, acho que podemos começar andando mais alguns metros. Eu nunca estive em Verdanturf, então vamos riscar esse lugar da minha lista de destinos que ainda preciso ir!


• • •


Depois de uma breve estadia em Fallarbor, Miriam atravessou as cavernas de Meteor Falls sem muita dificuldade e retornou a Rustboro. Depois de passar por algumas ruas a garota estava na entrada do prédio do Departamento de Polícia da cidade, que era a sede de toda a corporação em Hoenn. A treinadora engoliu seco, era a primeira vez que entraria em alguma instalação das autoridades de segurança desde que entregara o cargo de estagiária.


Ela passou pela porta automática, sendo surpreendida pela mudança súbita de temperatura provocada pelo ar-condicionado, contrastando com o calor que fazia do lado de fora. Caminhou até a recepção, onde foi atendida por um oficial do posto.


— Miriam Ashton — disse a menina. — Tenho uma reunião com a senhorita Anabel.


— Certo, deixa eu consultar a agenda dela... — o policial começou a vasculhar alguns documentos no computador da recepção, até que encontrou a informação que precisava. — Ok, Miriam. Pode esperar no corredor do andar de cima. A sala dela é a porta ao final do corredor. Creio que ela esteja terminando uma reunião agora, mas ela está sim à sua espera. Assim que possível ela vai te atender.


A menina fez um aceno com a cabeça em agradecimento e seguiu o caminho indicado pelo rapaz. Ao chegar ao local de espera a primeira coisa que procurou foi um lugar para se sentar, e encontrou um belo sofá creme entre dois vasos de planta.


Miriam jogou sua mochila em cima do sofá e se sentou logo ao lado. Enquanto aguardava ser chamada seus olhos passeavam pela sala. No teto apenas uma fileira de lâmpadas fluorescentes dando um brilho ainda mais forte ao já branco chão de porcelanato. Na área onde estava, além do sofá e das plantas, um filtro de água com alguns copos descartáveis e um pequeno aquário com alguns Luvdiscs pacificando o ambiente.


— Credo, isso aqui tá parecendo um corredor de hospital...  — a garota murmurou agoniada com a limpeza exagerada do lugar.


Não demorou muito até que a porta da sala de Anabel se abrisse. De lá de dentro saiu um homem de meia-idade, alto, com cabelo curto e grisalho e olheiras profundas como as de quem já vinha trabalhando há dias sem descanso. Seu sobretudo marrom esvoaçava de forma quase heroica na medida em que ele avançava com rapidez pelo corredor. Ao passar por Miriam, só teve tempo de dar um breve cumprimento.


— Boa tarde.


— Boa tarde... — a menina respondeu, sem entender bem quem era aquela pessoa.


— Miriam? — a voz de Anabel vinha da porta da sala. — Pode entrar!


Miriam respirou fundo, pegou suas coisas e seguiu pelo corredor. Anabel a esperava na porta, mas sua feição séria dessa vez dava lugar a um sorriso sereno. Seria porque elas não trabalhavam mais juntas? Miriam lembrava de alguém ter dito a ela certa vez que o fim da convivência rotineira quase sempre melhorava a relação entre duas pessoas, até mesmo da própria família.


Anabel saiu do meio da porta, dando passagem para a menina. Estendeu o braço na direção das cadeiras de frente para sua escrivaninha, sinalizando para que Miriam escolhesse uma para se sentar. Assim que a garota o fez, a mulher fechou a porta e girou a chave.


— Café? Chá? Água, biscoitos... Ali na mesa perto da estante, pode se servir à vontade. Você sabe que já é de casa — dizia a mulher enquanto dava a volta na escrivaninha para se sentar na sua cadeira.


Miriam meneou negativamente com a cabeça. Ainda estava um pouco nervosa para falar alguma coisa. Percebendo isso, Anabel deu um leve riso e, pondo as mãos entrelaçadas em cima da mesa, tentou quebrar o gelo.


— Como vai a vida? Ouvi dizer que você derrotou a Greta. Com isso já são dois Símbolos da Fronteira. Não esperava menos de uma garota talentosa como você.


— Obrigada. Pra falar a verdade eu não venci a Greta, mas ela achou que eu devia ficar com o símbolo.


— Se ela te julgou merecedora do símbolo, então você venceu o desafio. Existe muito mais numa batalha do que os resultados frios. Muitas vezes eles não dizem aquilo que precisamos saber. A Greta é excelente em analisar jovens talentos, então sinta-se honrada que ela viu esse potencial você, Miriam. Falando nisso... — Anabel deu uma risadinha enquanto coçava de leve a maçã do rosto com seu indicador. — Vocês duas até que têm personalidades parecidas.


— Pelo amor de Arceus, nem brinca com isso! Aquela garota é doidinha de pedra! — respondeu a menina, pela primeira vez se sentindo mais à vontade naquela sala.


Anabel riu com o comentário da menina, porque sabia que caso os papéis fossem invertidos Greta faria o exato mesmo comentário.


— Sapphire e Ruby não estão mais viajando com você, não é? Eu os vi em Mauville quando teve aquele problema na usina, e você não estava junto.


— Não, nós acabamos nos separando logo depois daquela vez que nos vimos. Apesar deles terem me defendido lá no museu, depois a situação realmente ficou estranha. Eu não tenho como culpar os dois, eu provavelmente me sentiria do mesmo jeito.


— Você gostava deles, não é mesmo?


— Ainda gosto. Queria poder estar com eles ainda, mas sei que eles provavelmente não vão querer conversa comigo.


— Eu sinto muito pelo que aconteceu lá em Slateport. Mas era a coisa certa a se fazer. Mesmo você se desligando da Polícia, seu nome ainda vai ficar ligado a ela e a mim por algum tempo. Isso os colocaria em risco caso você se torne um alvo.


— Eu entendo perfeitamente, senhorita Anabel. Foi melhor assim. Estar viajando sozinha nesses últimos tempos me deu a oportunidade de refletir mais sobre tudo que aconteceu até aqui. Depois que eu repensei o que passamos no caminho para Dewford cheguei à conclusão de que eles são minha responsabilidade. Se eles se machucarem ou até mesmo morrerem em um ataque da Team Aqua ou Team Magma, a culpa vai ser minha.


Anabel deu um longo suspiro. Para ela não era uma situação confortável saber que tinha que privar Miriam de viver como ela gostaria, mas a menina sabia desse risco quando tomou a decisão de aceitar o estágio.


— Por mim vocês estariam juntos ainda. Bem, eu torço para que vocês se resolvam em breve, porque quando a gente der um fim nos Aquas e nos Magmas, e a gente vai dar um fim neles, eu quero que vocês voltem a viajar em grupo e viver suas histórias juntos.


Miriam sorriu. Por um momento ela quase se arrependeu de pedir dispensa. Anabel podia ser rígida e exigente com relação ao trabalho, mas sempre apoiou a mais nova a seguir o caminho que desejava.


— Bom — disse a mulher já trocando o assunto. — Voltando a falar da Batalha da Fronteira, por que você ainda não me desafiou? Você tem o meu contato, sabe onde me encontrar, sabe que é só me pedir que eu arrumo um espaço na minha agenda para batalharmos.


— Ah, isso é porque eu quero que você seja a última que vou enfrentar.


— O chefe dos Cérebros da Fronteira é o Brandon, não eu. O natural é que você o enfrente por último.


— Mas você me ensinou bastante, por isso quero que você seja a última para que você me veja usar tudo que aprendi com você na minha força máxima.


— Eu não te ensinei nada sobre batalhas.


— Mas eu não estou falando de batalhas.


Anabel foi pega de surpresa com o comentário de Miriam. Não era muito do perfil da menina fazer tantos elogios. Pelo menos não com tanta sinceridade. Ela estava mais pro tipo que faria um comentário positivo velado por trás de alguma piada ou algo do tipo.


— Tudo bem então, se é assim eu vou esperar pacientemente — disse a mulher. — E já que é pra vir com força máxima, vou sugerir que você faça uma coisa. É um desafio novo que eu vou te passar, que vai dar bastante trabalho, mas que se você combinar com a sua disputa na Batalha da Fronteira vai te tornar uma treinadora extremamente forte. Considere isso como a última tarefa que estou te passando antes de dar baixa nos seus documentos.


— E o que seria essa tarefa?


• • •


Mais tarde naquele dia, Miriam estava em uma praça da cidade com sua equipe. Era um tempo livre que ela estava dando aos seus Pokémons depois de um trabalho tão duro. Enquanto Venomoth e Mudkip interagiam com o recém-chegado Zangoose, a Nidoqueen se mantinha próxima de sua treinadora.


— Achei que a Anabel ia me odiar depois que pedi dispensa, mas ela me deu apoio — a menina sentia que havia tirado um peso enorme de seus ombros. — Eu fiquei feliz, de verdade.


A Nidoqueen, que apenas ouvia a garota, acenou alegre com a cabeça.


— Ela nos deu uma tarefa bem ingrata pra usarmos como treinamento, sabia? Vai ser bem cansativo, mas acho que é o mínimo que podemos fazer depois do apoio que ela nos deu. Eu pensei muito no assunto, e decidi que quero fazer isso. Até pra enfrentar a Anabel no nível mais alto que eu puder. Eu quero dar a ela uma batalha que a faça sentir orgulho. Posso contar com você nessa missão?


A chefe da equipe de Miriam sorriu para sua mestra, batendo os dois punhos um contra o outro como quem dizia estar preparada para o que viesse. Após explicar o mesmo para o restante do time, a garota sentiu a mesma confiança vindo dos demais membros. Até mesmo o Zangoose rabugento se animou. Afinal, quanto mais oportunidades para sair brigando por aí, melhor para ele.


E assim a menina correu pelas ruas até o destino apontado pela Cérebro da Fronteira. Um lugar que ela já sabia onde ficava, um prédio conhecido. Ao entrar, perguntou na recepção pela pessoa encarregada do local e foi orientada por quais corredores devia seguir. Foi então que chegou para a segunda reunião que teria naquele dia, mas essa seria bem mais breve.


Na sala estava Roxanne, bebendo chá enquanto lia apenas mais um dos milhares de livros da biblioteca da cidade. Se a mulher ainda não havia consumido todo o acervo literário ali existente, devia estar bem perto de fazê-lo. A líder de ginásio reconheceu a menina logo que a viu entrar no local.


— Você não é a menina que estava com a Sapphire quando ela esteve aqui? Como é seu nome mesmo?


— Miriam.


— Hm, Miriam... Você é a pessoa de quem a Anabel estava falando, não é?


— Sim, eu mesma. Eu não sei se ela comentou com você, mas eu vim fazer um pedido.


Miriam retirou de sua mochila um papel enrolado em uma fita, e o entregou para Roxanne. Quando a líder abriu, reconheceu de imediato o documento.


— Este é o certificado que você ganhou quando passou no meu exame de admissão.


— Isso mesmo — a garota respirou fundo, tomando coragem para o que diria logo após. — E é fazendo uso dele como pré-requisito oficial do seu ginásio que eu te desafio para uma batalha valendo a sua insígnia!


FIM DO CAPÍTULO

  


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