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Notas do Autor - Capítulo 32


 
Opa, meus caros! Como vão vocês?

Faz um tempo que a gente não tem capítulo por aqui, né? Meio ano, pra ser mais exato.

Mas a produção dos capítulos segue a todo vapor. Eu tinha travado no último que eu estava escrevendo, que é o 35, porque como eu já disse aqui contest não é lá meu ponto forte, mas agora que consegui romper essa barreira as coisas estão fluindo de novo. O 36 já está praticamente concluído e o 37 já começou a ser produzido. E eu não soltei os outros antes porque fiquei com receio de "queimar o estoque" e ficar sem nada. Bem, não adiantou muita coisa, a gente ficou parado por um bom tempo mesmo...

Este capítulo foi um prosseguimento da introdução da Zinnia ao grupo principal, pra fazer os três quebrarem o gelo aos poucos. A experiência da draconid será muito valiosa pra Ruby e Sapphire, que ainda têm muito a aprender. Especialmente a garota, que neste momento está buscando entender melhor como essa interconexão entre ela e o Dan funciona e como ela pode aprimorar isso.

E como se já não bastasse a Sapphy ter que se virar com essa missão, agora ela ganha uma nova responsabilidade. Eu precisava dar a ela um Pokémon aquático. Na AEH passada ela tinha um Marill, mas não quis repetir. Pensei também em um Sharpedo, mas sei lá, achei que ficou um pouco fora do perfil dela. Eis que me surgiu a opção do Psyduck, que é um Pokémon que eu gosto bastante por ele ter esse jeito meio tapado, e também porque já usei Golduck no Pokémon Emerald e ele é muito bom em Hoenn. Aí agora revisando os capítulos antigos eu lembrei que a Shelly tem um Golduck também, mas vamos lá... Se não pudesse ter bicho repetido, a cidade onde eu moro não teria 300 milhões de Shih-Tzus...

Verdanturf se aproxima! Lá vai ter um capítulo que eu gostei muito de escrever, e toda essa questão em volta do contest do Ruby, apesar da demora e de alguns bloqueios na hora das apresentações, também foi muito prazeroso. Eu pessoalmente fiquei satisfeito com os resultados que eu alcancei lá, e espero que vocês também gostem.

No mais, um feliz 2024 pra todo mundo. Que seja um bom ano pra AEH e pra todos nós que somos envolvidos por fanfics.

Até a próxima! õ/

Capítulo 32

 O Patinho Feio do Day-Care

Art by: Urswurs

O grupo continuava sua travessia pela Rota 117 em direção a Verdanturf. Já estavam praticamente na metade do caminho, em um dia onde Ruby havia feito bons progressos com sua equipe para o contest que se aproximava, especialmente com Clamperl, membro mais recente do time. O garoto estava confiante de que com as técnicas do Pokémon molusco ele poderia criar combinações interessantes para atrair a atenção dos jurados e conquistar sua segunda fita. Zinnia o aconselhava sobre como interagir com seus companheiros de equipe, e Sapphire era quem mais estava fazendo as coisas por conta própria, enfrentando alguns treinadores e Pokémons selvagens para se manter afiada para quando chegassem a Lavaridge.


— Você precisa dar tempo ao tempo — a mais velha orientava o coordenador, que ainda tinha certo receio com um de seus parceiros de equipe. — Tentar forçar uma aproximação com o Treecko agora não vai ser positivo. O que você tem que fazer é focar em treinar os seus outros Pokémons e ir interagindo aos poucos com ele.


— Mas eu deixo o Treecko bem à vontade, e não fizemos quase nenhum progresso.


— Você o rejeita, é bem diferente. Você tem medo de lidar com o temperamento ranzinza do Treecko, e por isso o mantém afastado. Dê atenção a ele, sem forçar amizade. Pergunte coisas simples, como se ele está bem, se precisa de alguma coisa, se quer mais comida e se quer treinar com você e os outros. São pequenos gestos que vão demonstrando de pouco em pouco que você quer que ele seja parte do grupo. Com o tempo ele vai acabar cedendo. E é aí que você pode começar a tentar criar mais intimidade.


— Eu e Dante demoramos muito pra nos entender — Sapphire entrou na conversa. — Foi depois que eu compreendi que estava tentando fazer tudo do meu jeito que nós começamos a melhorar a relação entre nós dois. Seria bom você tentar entender como seu Treecko se sente, e como ele quer fazer as coisas.


— Bom, tudo que eu sei é que ele não gosta muito das apresentações artísticas. Ele prefere batalhas mesmo. Tanto é que em Slateport ele foi muito bem, e parecia bem à vontade no palco.


— Então por que não coloca ele pra batalhar mais? Eu preciso praticar mais pra poder enfrentar o Ginásio de Lavaridge. Vocês dois podiam ser nossos parceiros de treino.


— É uma boa ideia que a Sapphire deu agora — concordou a draconid. — Batalhar é uma boa maneira de criar um vínculo com seus companheiros.


— Você é bem mais experiente do que eu, a gente vai acabar sendo esmagado!


— Não exagera Ruby. É só um treino — disse Zinnia. — E se for o caso eu te dou umas orientações pra você poder se sair bem. Vamos procurar um lugar pra poder começar o treino.


Achar o melhor lugar era difícil. A Rota 117 era uma das estradas intermunicipais mais bonitas de Hoenn. A estrada de terra era margeada por fileiras de árvores altas e em alguns pontos o gramado era mais alto. Dois pequenos lagos, um de cada lado da rota, fazia com que o caminho parecesse uma ponte construída pela própria natureza, deixando o local mais fresco. Por isso não era incomum ver algumas pessoas usando o local para correr e caminhar, servindo até como área de treino para atletas.


Sapphire encontrou uma clareira povoada por duas árvores frutíferas, mas para a decepção do grupo o local já estava ocupado por duas meninas que também já faziam sua pausa pro almoço. O que elas faziam ali trajando uniformes de escola era um mistério que ficaria na cabeça dos três. Já o trecho final da rota indicava aos viajantes que a cidade de Verdanturf se aproximava devido aos canteiros de flores construídos perto da entrada da cidade.


Tão logo o trio encontrou o local, Sapphire e Ruby começaram os preparativos para o treinamento após uma breve pausa para respirar melhor. Zinnia já se colocava entre os dois, projetando um campo de batalha improvisado e em seguida se colocando do lado de fora na reta da linha que dividia a arena em duas.


— Bom, vai ser aquele treino simples. Um contra um, as regras vocês já sabem — Zinnia alongava os braços, se preparando para arbitrar a batalha.


Sapphire lançou Dante ao campo de batalha. O Combusken saiu de sua Pokéball já alerta para iniciar a sessão de treinos. Ruby, ainda hesitante, sacou a Pokéball onde seu Treecko estava e o liberou do outro lado da arena improvisada.


O pequeno lagarto olhou a sua volta, percebendo o cenário se desenhando para uma batalha. Ele logo se animou para poder mostrar seu verdadeiro potencial mal aproveitado, mas ficou estático ao ver a forma evoluída de um Pokémon do tipo fogo bem na sua frente. Ele então olhou para trás e encarou Ruby, que ficou incomodado.

— Você é idiota por acaso? Tá querendo me matar, seu pivete de merda?


Ruby percebeu que Treecko soltava alguns grunhidos baixos e indecifráveis, mas algo dizia ao garoto que seu parceiro não estava satisfeito. Zinnia foi quem o despertou de seus pensamentos.


— Não é hora de ter dúvidas! Seu foco tem que ser em vencer a batalha!


— O que foi Jeff? Não me diga que está nervoso por ter que me enfrentar! Pode ficar tranquilo, é só um treino. Prometo que vou tentar não te machucar muito — Dan parecia se divertir com o desconforto do lagarto.


— Cala a sua boca! — o Treecko rebateu apontando pro seu desafeto. — Você pode ter crescido um pouco, mas continua sendo um frango metido a besta!


Os dois se encaravam de forma que conseguiam entender que estavam na mesma frequência. Tanto Dan quanto Jeff estavam ansiosos por aquela sessão de treino onde um poderia ir com tudo pra cima do outro. Apesar das provocações, cada um dos dois nutria certo respeito pelo outro como os dois membros mais antigos daquele grupo.


Já no lado dos treinadores, Zinnia e Sapphire tentavam encorajar Ruby a batalhar sem se colocar muito sob pressão. O garoto ainda tinha um pouco de medo de se envolver naqueles combates, mas nas poucas vezes em que foi exigido ele havia se saído bem. Para as meninas, ele devia investir em melhorar nesse ponto, até porque outros contests focados em batalhas poderiam acontecer no futuro, ou até mesmo havia o risco de aparecer novas situações que o obrigasse a se defender como em Slateport.


— Não se pressione muito, é só um treino — disse Zinnia. — A hora de errar e aprender é agora.


— Tenta ficar mais leve e sentir a maneira como a batalha flui. Você vai conseguir enxergar melhor o que tá acontecendo e vai poder deduzir os próximos passos — Sapphire completou. — Vamos, você começa. Já dê uma ordem pro Treecko pensando nas possibilidades de contra-ataque que eu tenho, e em como você pode anular cada uma.


— Isso é impossível! A menos que eu leia a sua mente eu não tenho como saber o que você vai estar pensando.


— Você não precisa ler a mente de ninguém, Ruby — disse a draconid. — Ela está falando sobre conhecer os pontos fortes do seu oponente. É como um jogo de xadrez. Observe ela e o Dante em ação, veja de quais atributos eles podem tentar tirar mais vantagem.


— Vai logo, começa!


Ruby não conseguia ficar calmo, mas sabia que não tinha saída. Ele parecia ser o único a não se sentir confortável naquela situação. Até mesmo o Treecko estava gostando da ideia de batalhar, então ele se sentia responsável por fazer aquele sacrifício para tentar melhorar sua relação com o companheiro de equipe. Então ele respirou fundo e decidiu enfim tomar a iniciativa.


— Vamos Treecko, comece atacando com Pound!


— Contra-ataque diretamente com Flame Charge!


Dante pegou impulso do chão e disparou com o corpo envolto em chamas para atacar o oponente de forma direta. Jeff, que já tinha se projetado na direção do Combusken não podia mais desviar e foi atingido em cheio. Seu ataque, muito mais fraco, foi anulado com facilidade pela diferença de força entre os dois.


— Desde quando seu Combusken sabe essa técnica? Eu não vi vocês usando em momento algum!


— Ele aprendeu faz poucos dias, mas ainda estamos praticando pra ele pegar o jeito — Sapphire sorria triunfante. — Vem pra cima, eu sei que vocês dois têm mais do que apenas isso!


Ruby observava seu Treecko se levantar com dificuldade. Já era incrível ver que seu companheiro tomou todo aquele dano de um ataque contra o qual tem desvantagem e ainda assim não foi derrotado de primeira.


O lagarto aos poucos foi se recompondo, até que conseguiu se assegurar de que conseguiria se manter de pé para batalhar por mais tempo.


— Treecko, nós temos que reconhecer que estamos em desvantagem, em praticamente todos os quesitos. O Dante é mais forte, mais rápido e tem a vantagem de tipo nessa batalha.


Jeff olhou para seu treinador com uma expressão contrariada. Não gostava de ser criticado, mas logo que o garoto voltou a falar ele percebeu que não era bem aquilo que ele imaginava que estava por vir.


— Você estar nessa desvantagem é culpa minha, pois nunca treinamos pra isso. E da mesma forma que você está em desvantagem contra o seu adversário eu estou em desvantagem contra a Sapphire. Eu sempre tive meu pai como alguém a se espelhar em quesito de batalhas, mas nunca parei pra realmente aprender algo sobre isso. Sempre achei que teorias eram o suficiente, então li muito sobre estratégias e métodos de treinamento achando que só isso bastava. Sapphire nunca estudou nada, e apenas com a experiência prática ela já desenvolveu um autocontrole e uma visão tática que eu nunca sonharia em ter fazendo as coisas do jeito que faço.


O garoto respirou fundo. Em seu subconsciente ele tentava ganhar tempo com aquelas palavras enquanto tentava encontrar uma solução para aquele problema.


— Mas eu não sou nenhuma dessas crianças que brincam de treinador no pátio da escola com Rattatas e Pidgeys recém capturados. Eu tenho conhecimento, só preciso me acostumar a colocá-los em prática. Não vamos deixar eles saírem cantando vitória tão cedo. A gente tem muita coisa boa pra mostrar também!


Jeff ainda não havia visto Ruby se portar daquela maneira. Mesmo conhecendo seus limites e sabendo dos seus defeitos, o garoto também conseguia demonstrar confiança naquilo que ele tinha como qualidade. Olhando de relance para seu treinador, o lagarto fez um aceno discreto com a cabeça, mas que foi percebido pelo menino. Era o sinal que Ruby precisava para saber que aquela batalha seria diferente do que estava esperando.


— Parece que vamos ver um bom trabalho em equipe entre vocês dois, finalmente — disse Sapphire. A menina tinha um sorriso eufórico, sabendo que teria um bom desafio pela frente. — Mas não espere que eu e o Dante vamos ficar comovidos com a nova amizade entre vocês. Agora mesmo é que a gente sabe que não vai dar pra pegar leve. Vocês vão ter que aguentar o tranco!


— Manda tudo que vocês têm, caso contrário podem acabar tendo uma surpresa desagradável — Ruby rebateu a provocação. — Treecko, inicie com o Quick Attack!


Jeff se impulsionou do ponto onde estava para correr na direção de Dante, mas seu movimento não era em linha reta, o que fazia com que o Combusken tivesse mais dificuldade para tentar prever onde seria o ponto de onde sairia o ataque. A movimentação irregular do lagarto, em movimentos em ziguezague, tinha como objetivo confundir seu adversário.


Mas Dan era bem mais experiente, e conseguia se manter calmo o bastante para agir apenas ao detectar uma mudança no padrão de movimento do Treecko. Quando isso ocorreu, através de um impulso extra quando ele já estava quase no alcance de seu alvo. Com um comando de Sapphire, o Combusken se esquivou com um salto por cima do oponente, deixando-o passar em linha reta e pousando em seu ponto cego.


— Agora, Ember!


Sem ter como reagir a tempo de se desviar Jeff foi atingido pela rajada de brasas, recebendo um dano considerável.


— Previsível demais — disse Dan com um sorriso debochado.


Jeff se segurou para não cair na provocação do rival. Respirou fundo para amenizar o dano das brasas, se virou para Dan e o olhou fixamente enquanto aguardava a ordem de Ruby.


Pound!


— Não deixa ele tomar a iniciativa! Sand-Attack! — Sapphire gritou.


— Ele vai tentar cegar você! — alertou Ruby. — Cancele o ataque e desvie!


A tentativa de esquivar o ataque foi bem sucedida, mas a experiência de Sapphire e Dante era bem maior, o que os possibilitou prever a troca dos adversários para a defensiva. Sem que Jeff pudesse se recompor do pouso após saltar para desviar da areia, o Combusken aumentou a pressão sobre ele e o levou ao chão com um golpe forte.


Jeff sentia o ar faltar já que Dan pisava forte em seu peito para mantê-lo imobilizado. A batalha parecia estar resolvida.


Mas antes que Dante pudesse finalizar seu oponente, o grupo foi interrompido por uma moça que os abordou com uma expressão angustiada. Ela estava ofegante, sinal de que havia chegado até eles depois de correr bastante. Entre uma arfada e outra, ela balbuciava o que parecia ser um pedido de ajuda.


— Por favor... Preciso que venham... Depressa! — disse, ainda tentando repor o oxigênio enquanto se apoiava com as mãos nos joelhos.


Ruby e Zinnia trocaram olhares confusos, mas diferente deles Sapphire tomou a frente para acudir a mulher.


— O que aconteceu? — indagou a menina numa tentativa de forçar urgência para que a pessoa lhes explicasse o que estava acontecendo sem muitos rodeios.


— Um dos Pokémons que eu cuido subiu em uma árvore e agora não consegue descer. Eu também não consigo subir lá porque meus joelhos não são muito bons. Algum de vocês conseguiria ir até lá buscá-la?


— Como é o temperamento desse Pokémon? — Zinnia questionou. — Se ele for agressivo vai ser mais complicado de estranhos como nós nos aproximarmos.


— Não se preocupem com isso. Ela é amigável, apenas um pouco hiperativa. Não vai machucar nenhum de vocês.


A mulher guiou o trio até o local onde seria feito o resgate. Era uma árvore bem alta, e em um dos galhos estava uma Skitty. De início todos estranharam que apenas a moça estava preocupada, pois a criaturinha felina tinha uma expressão descontraída em seu rosto, como se estivesse bem à vontade ali em cima.


— E aí? Quem vai? — Zinnia perguntou, já dando um tom de que não seria ela.


— Não olha pra mim, se vocês não vão subir aí eu muito menos — Ruby também recusou prontamente.


— Isso aí pra mim vai ser moleza — Sapphire tomou a frente com um ar triunfante. — Se afastem!


A garota dobrou os joelhos e apoiou os braços no chão, se posicionando como se fosse competir em uma corrida de atletismo. Ruby, Zinnia e a moça mal tiveram tempo de reagir quando a menina disparou na direção da árvore e com dois passos largos pegou impulso de subida no tronco da árvore apenas com os pés. Em um breve instante ela já estava lá em cima.


— Como você fez isso? — Ruby perguntou surpreso.


— Segredo — disse Sapphire com um tom debochado e já se virando para a Skitty. — Ei, para de preocupar sua dona e vamos descer, tá bem?


A garota agarrou a felina e desceu do galho, conseguindo amortecer a queda como se tivesse pulado apenas um pequeno degrau. Entregou a criatura no colo da moça, que a agradeceu aliviada.


— Salvando uma Skitty de cima da árvore... Parece até aqueles bombeiros da televisão — comentou Zinnia.


— Bem, eu tenho lá meu talento pra essas coisas — Sapphire ria cruzando os braços atrás da cabeça, demonstrando estar bastante relaxada.


— Eu nem sei como agradecer vocês — disse a moça enquanto se aproximava com Skitty em seu colo. — Falando nisso, deixa eu me apresentar. Meu nome é Lydia. Eu ajudo meu irmão a administrar uma Creche Pokémon logo ali no começo da estrada pra quem sai de Mauville. Se vocês estiverem vindo de lá devem ter notado um pequeno rancho na beira da estrada.


— Ah, então era isso aquele casarão de campo que eu vi — disse Ruby, parecendo reconhecer o local.


— Creche Pokémon? Como assim? O que é isso? — Sapphire não fazia a mínima ideia do que Lydia estava falando, até que o próprio Ruby esclareceu a dúvida.


— Uma Creche Pokémon é um local onde treinadores podem deixar seus Pokémons temporariamente. São muito usadas quando não podemos levar algum Pokémon com a gente para algum lugar específico ou quando queremos acasalar dois Pokémons para poder ter um filhote. A diferença desses lugares para o sistema de armazenamento é que no sistema eles continuam sendo mantidos nas Pokéballs, sendo trazidos para fora apenas para se alimentarem, enquanto nas creches eles possuem uma rotina de treinos básicos para que os Pokémons se mantenham em atividade durante o período em que os treinadores estão ausentes. Claro que o desenvolvimento é um pouco mais lento do que se estivessem treinando diretamente com seus treinadores, mas dependendo da situação pode compensar bastante.


— Exatamente, garotinho! — disse Lydia dando um estalo com os dedos. — Você conhece bastante sobre as creches!


— Quando eu morava em Johto uma vez a minha turma de escola fez uma excursão onde conhecemos uma creche perto de Goldenrod. É uma das mais famosas de lá.


— Ah, claro! Eu sei qual é. A creche que tem em Goldenrod é uma das mais conhecidas no ramo, e ela tem um padrão de qualidade que é referência. Mas eu garanto que a nossa é tão boa quanto! Se não estiverem fazendo nada podem vir conhecer as nossas instalações. E acabei de ter uma ideia! Como agradecimento por terem me ajudado a recuperar a Skitty, considerem-se convidados para almoçar com a gente!


Tendo passado a manhã inteira sem comer desde o café da manhã, era difícil para o grupo recusar um convite como aquele. Não só teriam uma refeição de graça como também conseguiriam guardar alguns mantimentos por mais tempo, o que ajudaria nas economias.


Lydia os guiou até as instalações da creche. Como Ruby havia notado, era um rancho com território vasto, com os campos e pastos sumindo no horizonte — Lydia dizia que o território ia até o pé da montanha. Ao entrarem na casa eles logo foram recebidos por um rapaz que se parecia muito com a moça. Os mesmos cabelos azulados e os traços os fizeram logo perceber que ambos eram gêmeos.


— Este é meu irmão Isaac. Eu faço os trabalhos mais voltados para cuidar dos Pokémons. Ele sempre foi o mais inteligente lá em casa, então é quem cuida da parte administrativa.


— Apesar de que hoje estou trabalhando na criação também, porque é domingo e os outros funcionários estão de folga — disse o rapaz, em seguida dando um aceno para os convidados. — Prazer.


A mesa era simples, mas tinha comida o bastante para os cinco se servirem à vontade. Os Pokémons também comiam uma ração especial feita pela creche, e pareciam estar gostando muito. Entre os treinadores e os gêmeos, a refeição era acompanhada de uma conversa mais descontraída.


— Três insígnias é realmente impressionante — disse Isaac enquanto via Sapphire exibir suas conquistas. — Quando eu tentei sair em jornada só consegui uma. Eu nunca tive muito jeito pra treinar meus Pokémons, sendo bem sincero.


— E você conseguia batalhar muito bem — disse Lydia. — Treinar um time deve ser realmente difícil.


Sapphire ficava um pouco sem graça ouvindo aquilo. Para ela chegar àquele nível foi algo tão natural, e ela sentia que havia tanto caminho a percorrer, que nem ao menos tinha noção do quanto já tinha progredido. Ser um treinador de alto nível não era mesmo algo que qualquer pessoa poderia alcançar. Isso a fazia se perguntar em seu interior até onde conseguiria ir, ou se pelo menos chegaria a disputar a Liga.


Zinnia por outro lado sorria de forma discreta ao ver a reação de Sapphire. A draconid parecia saber as dúvidas que rondavam a cabeça da menina naquele momento, e sabia que grande parte da evolução dela se dava pelo fato de que ela aprendeu a reconhecer seus próprios limites.


Isaac permaneceu reflexivo por um breve momento, até que um estalo se fez em sua mente. Quando foi desperto de seus próprios pensamentos, o rapaz se virou para a irmã.


— Ei Lydia, uma treinadora como a Sapphire que já tem três insígnias pode ser capaz de dar um jeito nele.


Nele... — a moça tentava se lembrar de quem o irmão estava falando, mas não demorou muito para conseguir. — Ah! Você quer dizer o...


— Isso mesmo! Acho que a experiência dela vai ser o suficiente pra resolver esse problema.


— Desculpa interromper vocês dois, mas quem é ele? — Sapphire se via confusa.


Os gêmeos se viraram para ela sorrindo com confiança, o que assustou ainda mais a garota. Parecia que outra tarefa cairia no colo dela, e pela forma como eles falavam seria algo mais complicado dessa vez.


— Bom, aqui e em outras creches acontece algumas vezes de treinadores deixarem os Pokémons deles aqui e não voltarem para buscar — explicou Isaac. — Muitas vezes o treinador não quer mais manter o Pokémon, mas tem medo de largá-lo na natureza por achar que eles não estando mais habituados à vida selvagem não vão conseguir se virar sozinhos.


— Alguns pensam que isso não é ilegal, mas ainda é considerado abandono. E prejudica nossos serviços, já que teremos que prover uma maior quantidade de suprimentos pra manter aquele Pokémon vivo, abrigado e saudável do que o que foi planejado previamente — Lydia complementou, sem esconder um tom de frustração na voz.


— Na maioria das vezes conseguimos reencaminhar esses Pokémons para outros treinadores que passam por aqui, mas agora estamos com um carinha mais complicado — Isaac então notou um tom de relutância nos visitantes. — Não se preocupem, quando digo que ele é complicado não significa que é bravo ou algo do tipo. Ele apenas... Está em uma “frequência diferente”...


— A maioria dos treinadores que tentou adotá-lo desistiu logo de cara. Mas você parece ser muito habilidosa, Sapphire. Por que não faz uma tentativa com ele?


Sapphire a princípio ficou em dúvida. Não tinha como saber se conseguiria se dar bem com um Pokémon que não conhecia. Era bem diferente de quando fazia contato com um Pokémon selvagem, onde logo de cara ela conseguia definir o perfil dele e decidir se queria capturá-lo ou não. Agora o que estaria a aguardando era uma completa incógnita.


A menina voltou seu olhar para Ruby, procurando algum tipo de resposta, mas viu que o amigo estava tão confuso quanto ela. Virou para o outro lado onde estava Zinnia, esta parecendo mais tranquila.


— Todo Pokémon tem seu valor — disse a mais velha, escorada na cadeira. — Tentar não dói. De repente a gente descobre o que há com ele.


Após terminar o almoço todos se dirigiram até a área externa onde os Pokémons deixados sob os cuidados da creche ficavam. Mesmo para os menos detalhistas era possível perceber que a estrutura do local era boa, com bastante espaço para que as criaturas ficassem à vontade mesmo quando estivesse cheio, os recipientes de comida e água eram bem limpos, e o território era dividido para que eles pudessem ter o maior número possível de áreas simulando diferentes habitats, permitindo que a creche pudesse receber vários tipos de clientes.


O grupo foi guiado até uma área cortada por um córrego raso. Era possível ver alguns Pokémons comuns de se ver naquele tipo de habitat, como Lotads e Surskits, mas quem chamava mais atenção era um pequeno pato de penugem amarelada sentado em cima de uma pedra. Ele tinha um olhar fixado para uma direção específica, mas quem quer que tentasse olhar para o mesmo local acabaria não vendo nada.


— Esse aí é o famoso — disse Lydia.


— Um Psyduck? Não sabia que tinha essa espécie aqui em Hoenn — Ruby questionou.


— Na verdade eles não são nativos daqui mesmo, mas há uns anos abriram um Safari perto de Lilycove, e aproveitaram para colocar lá algumas espécies de outras regiões como um atrativo pra atrair treinadores pra lá — Isaac explicava. — Psyduck é uma dessas espécies, mas esse aí provavelmente já é nascido aqui em Hoenn, então dá pra considerá-lo como um conterrâneo nosso.


— Ele parece meio... Lerdo — Sapphire não sabia exatamente o que fazer com aquele Pokémon.


— Bom, você não gostaria de tentar treiná-lo? Talvez ele tenha um potencial que a gente não é capaz de enxergar. Pode ser que conviver com um treinador que sabe como desenvolver as habilidades dele seja positivo.


— Bom, pelo que a gente ficou sabendo o ginásio de Lavaridge é especializado em Pokémons de fogo — disse Ruby. — Pode ser uma boa ideia você ficar com o Psyduck.


— É verdade, mas será que vai dar tempo de treinar ele até lá? — Sapphire ainda se questionava. — Eu sei que ainda temos muito tempo até chegar lá, que tem a passagem por Verdanturf e tudo mais, mas o problema é que ele parece ter um ritmo mais lento.


— Se não der pra prepará-lo pro ginásio de Lavaridge, paciência — disse Zinnia. — Continua o treinamento tendo o ginásio seguinte como foco.


— E então? Topa? — Lydia já estava com a Pokéball pertencente ao Psyduck em suas mãos, pronta para entregá-la a Sapphire.


Ainda relutante, a treinadora concordou com a proposta. Um membro novo no time era sempre bem-vindo, e se conseguisse treiná-lo bem poderia se beneficiar de uma equipe mais forte e versátil. Mas acima de tudo sentia que não podia deixar aquele Psyduck ali, onde continuaria sendo um Pokémon abandonado. Ao menos com a garota ele poderia começar a sentir que alguém o desejava.


Ou era essa a ideia que vagava na mente da menina. O pequeno Psyduck permanecia alheio a tudo em seu entorno. Sapphire respirou fundo e o trouxe para dentro da Pokéball. Ela sabia que teria muito trabalho pela frente.


FIM DO CAPÍTULO


  


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