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- Capítulo 29
A Guardiã da Tradição

As
estrelas ainda podiam ser vistas no céu mesmo que o sol já estivesse dando
sinais de que apareceria no horizonte a qualquer instante. Aos poucos a
claridade começava a se expandir pelas terras de Hoenn, mas um local remoto nos
arredores de Meteor Falls continuava na sombra proporcionada pela montanha.
O ar
gélido da madrugada que se despedia inundava uma caverna remota na localidade,
cujo interior abrigava um grupo de pessoas ao redor de uma fogueira. Drake, Sidney
e Phoebe, membros da Elite 4, grupo de treinadores mais poderosos da região,
conversavam com uma mulher de idade avançada. Seu corpo, bastante magro, com rugas
e os ombros curvados para frente, indicava que aquela pessoa já percorrera um
longo caminho na vida, e mesmo assim ela se mantinha com postura firme perante
três figuras tão conceituadas.
A anciã
se mantinha de um lado da fogueira, sentada em um altar guardado por duas
estátuas de Salamence, uma de cada lado. Do outro lado, Drake estava ajoelhado
perante a anfitriã, com seus dois companheiros logo atrás.
— Já faz
um tempo que você não vem aqui, garoto — disse a senhora, com um sorriso terno.
— Ela
chamou o Drake de garoto? Ela perdeu o juízo? — Phoebe cochichou para Sidney.
— Fica
quieta — o rapaz cochichou de volta. — Ela é a alta anciã do clã Draconid, a
pessoa que foi mestra de Drake no passado.
— Ela? —
a menina se surpreendeu, olhando novamente para a velha mulher que permanecia
no mesmo local, à espera de uma resposta de seu discípulo. — Quem olha pra ela
não imagina que pode ser uma pessoa tão poderosa.
— Mais
poderoso que qualquer um de nós é o tempo, minha querida — a anciã falou,
assustando os dois mais jovens. — A única coisa que podemos fazer contra o
tempo é manter vivo o legado de nossos povos.
A dupla
se aquietou, enquanto a anciã olhava para Drake ainda esperando que seu pupilo
se manifestasse.
— Vim
porque fui chamado, Mestra. Ouvi dizer que a herdeira do clã e Guardiã da
Tradição fugiu de nossas terras. Estou aqui para oferecer minha ajuda em prol
de nosso povo.
A anciã
deu um profundo suspiro, meneando sua cabeça baixa em tom de desaprovação.
— Minha
neta Zinnia sempre teve um espírito rebelde. Desde criança. Tem um coração
enorme, mas não é disciplinada e parece não compreender o valor da história de
nosso povo, e muito menos a importância da posição que ocupa. Tentei de todas
as formas colocá-la nos trilhos, mas foi em vão. Queria que você tivesse sido o
mestre dela para ver se dava jeito, mas entendo que tenha recusado.
— Ainda
que eu considere a sua neta, com todo respeito, imatura, minha recusa foi
devido ao meu compromisso com a Liga Pokémon na época. Teria sido uma honra
orientar a descendente da pessoa que me ensinou um dia, mas o momento não era
oportuno.
— E
assim segue a sina. Nosso membro mais ilustre, considerado o treinador mais
poderoso que Hoenn já viu, nunca teve um pupilo para ensinar.
— E
creio que nem haverá, pois ainda tenho que me dedicar às minhas obrigações na
Elite.
A anciã
deu um riso de descrença ao ouvir as explicações de seu aprendiz.
— Isso é
o que você diz. Eu sinto que você não considera ninguém como digno de receber
um treinamento seu. Mas por outro lado é interessante, pois se um dia você adotar
um discípulo, então podemos ter certeza de que é alguém com grande potencial.
Drake
suspirou. Não gostava daquele tipo de conversa, pois o fazia se sentir forçado
a encontrar alguém a quem passar todos os ensinamentos que recebera, o que
considerava não ser tarefa dele, mas sim de pessoas como Zinnia. O homem
acreditava que a descrença do clã para com a Guardiã da Tradição acabaria
fazendo com que ele tivesse responsabilidades que não deveria.
— Vamos
direto ao ponto — disse o mestre dos dragões. — Houve um incidente em Mauville
há poucas semanas envolvendo duas facções criminosas que andam atuando na nossa
região há algum tempo. O atual Campeão esteve lá para tentar conter o problema,
e fui informado que Zinnia esteve lá no dia do ocorrido. Pelo que me foi
contado, ela entrou em combate com os criminosos e aparenta ainda estar lá por
perto.
—
Mauville... — a senhora ponderou em voz alta. — Então ela já chegou ao centro
da região. Precisamos trazê-la de volta antes que se afaste mais. Se ela sair
de Hoenn será difícil de encontrá-la. Não saberemos onde ela pode acabar indo.
— Tem a
minha palavra de que a traremos de volta, mestra. Vamos mover nossas forças
para buscá-la enquanto o Campeão e as autoridades lidam com os fanáticos que
andam criando problemas como o de Nova Mauville.
— Estou ciente destes também, Drake — a anciã fechou sua expressão para um semblante bem mais sério. — Esses insolentes sem juízo não têm a mínima noção das forças com as quais estão mexendo. Eu adoraria ver as entidades primordiais os enterrando junto de sua ganância, mas o problema é que todos iríamos junto com eles. Vamos ter que puni-los com a justiça humana mesmo.
• • •
Os dias
que se seguiram após os acontecimentos na cidade de Mauville foram de
tranquilidade para os habitantes de Hoenn. Após o burburinho criado pelas ações
de criminosos na usina elétrica da cidade, que levou parte considerável da
região a ter seu abastecimento de energia interrompido, a população aos poucos
foi ocupando a conversa diária com assuntos mais recentes, fazendo com que o
incidente aos poucos fosse caindo no esquecimento.
Não para
as autoridades e para suas linhas auxiliares, que ainda tentavam rastrear o
paradeiro dos membros das organizações Aqua e Magma envolvidos no atentado. No
entanto, como criminosos de alto nível, seus rastros eram muito vagos para
proporcionar pistas relevantes para as buscas. Estavam todos foragidos, desde o
alto escalão até os recrutas mais baixos.
Para
Ruby e Sapphire a vida poderia enfim voltar ao normal. Após o almoço, ambos
fizeram o checkout no Centro Pokémon para deixar a cidade. Já na rua, encontraram Zinnia, que decidiu que seguiria viagem com eles a partir daquele momento. Após aceitarem a nova companheira, a dupla foi até o PokéMart da cidade para comprar alguns suprimentos, enquanto a draconid avisou que estaria aguardando na rua principal.
— Onde foi
que combinamos de encontrar com Zinnia mesmo? — Sapphire tentava arrumar os
itens dentro de sua mochila.
— Na
esquina onde fica o cassino da cidade. É logo na saída pra estrada que vai nos
levar a Verdanturf — Ruby já estava pronto, uma vez que sua habilidade de
organização era bem maior que a da menina. — Precisa de ajuda?
— Nah,
acho que já tá bom assim. Quanto tempo ainda falta pro horário combinado?
— Não
falta nada. Já deveríamos estar lá há pelo menos uns quinze minutos, mas você
se enrolou demais com sua mochila.
— E por
que não me ajudou?
Ruby
esfregou a mão no próprio rosto, mas respirou fundo e decidiu que o melhor a se
fazer naquele momento era apenas seguir até o ponto de encontro.
E assim
fez a dupla, que se dirigiu até o local combinado. A draconid estava encostada em uma
árvore no canteiro da calçada, com sua Whismur logo ao lado. Assim que a reconheceram, Sapphire e Ruby
já se aproximaram. Com um aceno positivo de cabeça de todos os três, finalmente
o grupo seguiu viagem pela rota 117.
A
caminhada transcorria com normalidade. Os dois mais novos ainda se mantinham
quietos, enquanto Zinnia observava o comportamento de ambos. Cabia a ela
quebrar o gelo, mas primeiro deixaria a dupla se acostumar à sua presença.
Ao final
da tarde resolveram interromper a viagem para montar o acampamento. Após tudo
estar pronto, Zinnia acendeu uma fogueira, pegou alguns utensílios que os
jovens carregavam e buscou algumas frutas e um pouco de água do lago que havia
nas proximidades. A draconid se mostrava uma cozinheira habilidosa, tendo sido
ensinada desde pequena.
Tendo
preparado o que parecia ser uma sopa, a mulher serviu Sapphire e Ruby, e em
seguida pegou uma porção para si. Os três se sentaram no chão, com exceção do
garoto que havia colocado uma espécie de toalha por cima, e assim começaram a
janta.
— Vocês
devem ter estranhado eu pedir de repente pra viajar junto — Zinnia tentava
iniciar a conversa, se virando para a menina. — Sapphire, não é? É como eu
disse naquele dia após a confusão em Nova Mauville. Estou interessada nessa
ligação que você estabeleceu com seu Combusken, pois isso é um fenômeno raro
mesmo entre treinadores de alto nível.
— Isso
eu entendi. Mas isso pode te ajudar de alguma forma?
— Por
mais estranho que pareça, não tenho nada a obter com isso. Porque é uma
habilidade que já desenvolvi no meu treinamento com os draconids, e justamente
por conhecermos esse dom é que sabemos que você é uma pessoa de grande valor.
Pessoas impuras não conseguem desenvolver esse tipo de elo. Pokémons são
criaturas muito sensitivas. Eles só vão demonstrar cem por cento de confiança
em pessoas que não tiverem má índole.
Sapphire
ficou surpresa ao receber aquelas palavras. O que Zinnia contava era um
indicativo de que Dante, seu Combusken, havia enfim compreendido que a menina
podia ser uma pessoa confiável, a ponto de se permitir dar uma abertura para
ambos alcançassem o interior um do outro.
— Meu
clã é muito antigo. Nossos ancestrais habitam as terras de Hoenn há séculos,
talvez mais de um milênio. Uma de nossas lendas diz que foram eles que
invocaram Rayquaza duas vezes para salvar o destino da humanidade.
—
Rayquaza? — Ruby demonstrava curiosidade na história contada pela draconid.
— Sim. É
dito que o mundo foi construído por duas criaturas ancestrais chamadas Kyogre e
Groudon. O primeiro cobriu tudo com os mares e o segundo estabeleceu as terras
para que pudéssemos habitar. Porém, a crença popular conta que eles passaram
séculos disputando o controle do mundo para expandir sua área de influência,
mas eram tão poderosos que se o confronto persistisse por muito tempo o planeta
poderia ter sido destruído. Para isso uma terceira criatura, Rayquaza foi
invocado e desceu dos céus para pôr os dois criadores sob controle, e assim
estabelecer o equilíbrio do nosso mundo. Reza a lenda que nessa altura da
história as primeiras civilizações já residiam no nosso planeta, e já
trabalhavam em conjunto com Pokémons para se sustentar. Daí alguns desses
humanos aprenderam a dominar os Pokémons do tipo dragão, e de alguma forma
descobriram como invocar Rayquaza para apartar o conflito. Estes teriam sido os
primeiros draconids, que mais tarde se juntariam para formar o nosso clã e
trocar conhecimentos sobre a arte de treinar os dragões.
— Os
draconids são mesmo incríveis — Sapphire comentou, se mostrando entretida com a
história.
— Do que
está falando? — retrucou Zinnia com um riso. — É claro que isso é só uma lenda.
Nada disso aconteceu de verdade, e esses três Pokémons ancestrais nem existem.
A única coisa que faz sentido nessa história que eu te contei é a união das
pessoas para compartilhar conhecimentos sobre os dragões, porque realmente é um
tipo de Pokémon que não é qualquer um que consegue treinar.
A
draconid, no entanto, quase deixou escapar uma inquietação ao dizer aquilo. Ela
sempre acreditou que aquela história não passava de lenda, mas o rugido que
havia escutado de dentro do Monte Chimney assim que fugira de seu clã ainda
estava muito vivo na memória, mesmo que ela não conseguisse ver o que havia por
baixo daquele manto de lava. Ela tentava se convencer de que havia sido alguma
explosão de gás ou algo do tipo que fez aquele barulho.
— E essa
conexão que a Sapphire criou com o Combusken é algo que qualquer treinador pode
desenvolver? — indagou Ruby.
— Desde
que seja alguém puro e consiga desenvolver um laço realmente forte com seus
Pokémons — disse Zinnia.
Ruby por
um instante pensou na relação que possuía com seus Pokémons, até que Treecko
veio à sua mente.
— Bem,
não se pode ter tudo na vida — disse o garoto em um sussurro quase inaudível.
— Já
está desistindo? Se você tiver algum problema de relacionamento com um de seus
Pokémons, provavelmente é algo que pode ser resolvido com o tempo. Eu posso te
ajudar a criar uma relação de confiança com ele, mas o resto é com vocês dois.
—
Agradeço muito por você oferecer ajuda, porque eu vou precisar mesmo. Digamos
que meu Treecko é bem temperamental, mas de alguma forma conseguimos ter um
pequeno progresso a ponto de eu conseguir a ajuda dele em um dos contests que
disputei.
— Isso é
uma boa notícia, porque significa que o que há entre vocês dois não é um caso
perdido. Mas vamos ter que trabalhar duro, pois o Treecko tem que sentir que
você está se esforçando para melhorar as coisas, senão ele também não vai tomar
a iniciativa.
Ruby fez
um aceno com a cabeça, concordando com a proposta de Zinnia de realizarem uma
nova tentativa para que o garoto se aproximasse de Treecko. Apesar de terem se
conhecido há pouco tempo, o garoto sentia que ele e Sapphire poderiam confiar
na draconid, e que a experiência e os conhecimentos dela seriam bem-vindos ao
grupo, já que ele e a treinadora eram apenas novatos.
Sapphire
ainda refletia sobre a sua nova habilidade que a permitia compreender os
pensamentos de Dante. Sua curiosidade aumentava cada vez que pensava nas
possibilidades que poderiam surgir por causa daquilo.
— É
possível que eu consiga me comunicar com meus outros companheiros de equipe
como me comunico com o Dante?
— Você
acabou de desenvolver essa habilidade — disse Zinnia. — Precisa primeiro
aprender a controlar essa capacidade. Mas quando você a tiver não
só será possível se comunicar com toda a sua equipe, como também será mais
fácil. Claro que você precisará estreitar os seus laços com eles também, mas a
própria confiança que o Dante tem em você vai ajudar a mover os seus outros
companheiros.
O trio
terminou a janta. A fogueira permaneceu acesa para aquecer o local do
acampamento, já que a temperatura havia caído com o anoitecer. Zinnia se
aproximou do lago e lavou os utensílios com a ajuda de Sapphire e Ruby para que
os objetos usados não passassem a noite inteira com resíduos da comida, o que
poderia atrair Pokémons selvagens para o acampamento enquanto eles dormiam.
— Vamos
começar a trabalhar suas habilidades já a partir de amanhã, Sapphire. Acredito
que em poucos meses já vamos conseguir melhorar seu controle.
O grupo
então foi se deitar. A ida para Verdanturf seria mais do que uma viagem
rotineira de jornada. A partir dali, sob a instrução de Zinnia, Sapphire
aprenderia mais sobre o estranho poder que havia despertado em Mauville. A
menina demorou a pegar no sono naquela noite, pois sua ansiedade lhe dava a
certeza de que a partir dali ela enxergaria um mundo bem diferente do que
estava habituada.
Perto dali, de uma clareira, uma pessoa de baixa estatura os observava. Seus olhos estavam fixos no acampamento onde o trio de viajantes se retirou para descansar. Um sorriso se formou em seu rosto sereno, sendo revelado apenas pela iluminação projetada pela lua.
— Isso está ficando interessante — disse enquanto ajeitava o cabelo. — Vou ter que acompanhar os passos desse grupo e ver no que pode dar a descoberta dessa menina. E pensar que quando a vi lá em Dewford ela não dava nenhum sinal de que chegaria tão longe...
FIM DO CAPÍTULO 29
Cara que saudade eu tava de ler sua história, na moral
ReplyDeleteO começo com a reunião dos Elites com a avó da Zinnia foi muito bom, como até o Drake que é um velho respeita a avó da Zinnia que é mais velha ainda, basicamente viu Arceus criar o mundo de camarote.
Também gostei de ver a Zinnia interagir com os meninos, a garota é muito comédia, como pode, conta a maior lenda do povo dela e depois fala "é meme, galera, é meme, haha, humor e piadas", simplesmente cômico, já quero ver mais da garota Zinnia com o Ruby e a Sapphire na estrada e o que pode acontecer a seguir, sinto que posso me surpreender futuramente com o andamento das coisas.
Acho que não tenho muito o que prolongar, então vamos ao próximo capítulo
Seja oficialmente bem-vindo à Alpha Saga, meu camarada! Se prepara, porque aqui vai ser metralhadora de informação pra botar a história pra andar de vez kkkkk Mas por enquanto estamos trabalhando devagarzinho.
DeleteTodo mundo tem medo do Drake. O Drake respeita a véia. Imagina aí na escala de poder onde que ela não tá, né kkkkk Até porque pra ser a alta anciã dos draconids é porque ela não tá ali à toa. Zinnia já sentiu a fúria dela lá no começo da história, quando tomou uma paulada de leque na cabeça.
Falando na nossa draconid favorita, ela está colando com a dupla principal, que agora volta a ser um trio. Sapphire e Ruby se desenvolveram bem de Slateport pra cá, a Sapphire principalmente, mas eles ainda precisavam dessa figura da companheira mais experiente que ficou vaga após a saída da Miriam. Zinnia vem pra cumprir esse papel, mas ao mesmo tempo traz outras coisas na bagagem que só ela pode ensinar aos dois. Vamos ver como isso se desenrola. E não poderíamos ignorar o ceticismo dela kkkkkkk Tá cumprindo o dever como Guardiã da Sabedoria, mas do jeito dela kkkkkk
Bem-vindo de volta, Leucro! Obrigadão pela presença. Espero que goste da nova temporada. Eu, particularmente, to gostando bastante de escrever esse comecinho, então fico ansioso pra ver o que vocês vão achar. :v
Até a próxima! õ/