Notas do Autor - Capítulo 40


E concluímos nossa maratona de 5 capítulos semanais até o Carnaval! Olha só, nem eu me reconheço agora que fiz isso kkkkkkkkk

E que maneira melhor de fechar essa sequência do que atingindo uma marca de 40 capítulos, não é mesmo? Mais uma dezena concluída, e fim da nova estadia em Mauville também. Um mini-arco de transição, e agora a gente começa o de Lavaridge, onde algumas coisas interessantes devem acontecer.

Bom, o capítulo 40 não poderia ser um simples capítulo de transição, e mesmo sendo pequeno como os últimos eu resolvi colocar um fato importante para a história, que é esse primeiro contato entre o Ruby e a Courtney. Ter um protagonista e um vilão dividindo o mesmo espaço assim sempre causa uma tensão, mas aqui as coisas correram de uma forma diferente. Quem já conhece a dinâmica desses dois no mangá já tem uma ideia, mas como será que as coisas vão acontecer por aqui?

Bem, nada mais a dizer, só aquela sensação gostosa de dever cumprido. Agora é descansar nesse feriado e começar a planejar os próximos passos até Lavaridge.

Até lá, pessoal! õ/


Capítulo 40

 Por trás da máscara

Art by: Auko


Mauville estava tão movimentada quanto da primeira vez que o trio passou por lá. Até porque não se esperava menos de uma cidade situada no coração de Hoenn, com saídas em direção aos quatro cantos da região. Sapphire era quem estava na frente, parando logo na entrada e respirando fundo para sentir de novo o ar da cidade após algumas horas caminhando debaixo do sol quente. Ruby e Vivi estavam atrás, ambos conversando sobre contests e técnicas usadas em apresentações. Zinnia vinha no meio, em silêncio, apenas observando as características da cidade.


Quando pararam perto do ginásio Ruby puxou um mapa, procurando entender melhor a posição em que estavam, e quanto tempo poderiam levar até chegar ao próximo objetivo.


— Vivi, daqui até o rancho da sua família deve levar quanto tempo?


— Olha... — a garota iniciou a resposta, mas ficou um tempo pensando, provavelmente calculando o a média de tempo que levara em suas experiências. — Geralmente de seis a oito horas.


— Ainda é bastante chão. Melhor passarmos a noite aqui na cidade, e amanhã vamos embora bem cedo — sugeriu o garoto.


— Por mim tudo bem — disse Sapphire. — Tem alguns lugares na cidade que não deu tempo de conhecer da outra vez.


— Contanto que você não torre as nossas economias no cassino, pode fazer o que quiser — Ruby comentou baixo, enquanto ainda olhava o mapa.


— Mesmo se eu quisesse, eles iam me impedir de entrar — a menina respondeu emburrada. — Mas eu tô ofendida por você achar que eu sou o tipo de pessoa que ia perder a linha em um cassino.


— Que seja. Bom, todo mundo de acordo?


Zinnia e Vivi assentiram, dando uma resposta positiva à sugestão de Ruby. Tão logo a decisão foi firmada, os quatro se dirigiram ao Centro Pokémon para fazer as suas reservas. Após se acomodarem nos dormitórios, todos resolveram sair para agir suas próprias coisas.


Sapphire foi até uma das praças procurar por treinadores para praticar um pouco. Zinnia queria experimentar tudo que pudesse nas famosas sorveterias da cidade. Vivi, por sua vez, foi até uma galeria comercial focada em treinadores, pois ouvira falar que lá havia sido inaugurada uma lojinha com artigos para coordenadores.


Ruby foi o único a fazer algo que não era apenas para ele. Com Sapphire e Zinnia sendo duas distraídas por natureza, sobrava para ele a tarefa de sempre abastecer os suprimentos básicos no PokéMart de cada cidade.


Assim foi feito. Após pegar todos os itens necessários para continuar a viagem e pagar a conta no caixa com as economias do grupo, o garoto estava de volta às ruas da cidade, podendo enfim pensar em algum lugar aonde pudesse ir para fazer algo para si próprio.


Depois de pensar um pouco, Ruby decidiu ir até um pequeno café de esquina situado perto do Centro Pokémon, inspirado nos que se espalhavam por toda a parte em Kalos. Porém, apesar do ambiente aconchegante, o café era pequeno, o que o fazia lotar mais fácil.


Quando o garoto atravessou a porta, notou que o lugar estava abarrotado de gente, quase não dava para andar perto do balcão de atendimento. Depois de disputar lugar com várias pessoas, quase sempre sendo empurrado para trás, Ruby conseguiu fazer seu pedido. Assim que caminhou com seu capuccino para fora daquele espaço apertado, o garoto sentiu a sorte sorrir para ele pela primeira vez desde que tinha adentrado o estabelecimento. Uma das mesas havia acabado de ficar livre.


Sem perder tempo, o menino avançou em direção ao local, mas assim que se sentou percebeu que outra pessoa havia feito o mesmo, mas na outra cadeira. Ele arqueou uma das sobrancelhas e dirigiu o olhar em direção à figura que dividia a mesa com ele, já pensando numa forma de dar um fora naquela pessoa inconveniente. Mas as palavras não saíram.


Ruby não sabia dizer o que naquela garota o intrigava tanto. Por alguma razão, ele sabia que não eram os cabelos tingidos de rosa em um corte chanel, por mais que tivesse que admitir que eram chamativos. Talvez fosse o mesmo olhar intrigado que ela lhe dirigia.


— Ah, me desculpe. Eu não vi que você também vinha na direção dessa mesa — a garota tinha uma voz suave, mas sem parecer submissa. Era quase como se ela estivesse testando até onde seu charme colocaria o garoto contra a parede. — Bem, o café está lotado. Se importaria se dividíssemos?


— Ahn... — Ruby não conseguia esconder que se sentiria desconfortável na presença de alguém que não conhecia, mas também não a deixaria sem lugar para se sentar. — Claro que não. Pode ficar à vontade.


A moça então relaxou em sua cadeira, a afastando da mesa para dar espaço suficiente para que ela cruzasse as pernas. E justo esse espaço maior possibilitou que Ruby reparasse em como a maneira que ela se vestia poderia dizer pelo menos um pouco sobre a sua personalidade.


Suas roupas eram leves, condizentes com aquele dia quente. Apenas uma calça jeans e uma blusa branca de mangas curtas. Mas ao mesmo tempo, alguns traços provocativos, além dos cabelos coloridos, como um brinco posto em apenas uma das orelhas, usando a assimetria como um toque de irreverência, e um decote que Ruby se esforçava ao extremo para não olhar, por achar muito exagerado.


Percebendo a situação, a garota pigarreou, despertando o garoto do transe em que se encontrava. Continuar a conversa talvez o tiraria daquele estado de desconforto.


— Você não é aquele menino que venceu o contest de Verdanturf no último fim de semana?


— S-sim, eu mesmo — aquela era a primeira vez que Ruby era reconhecido como coordenador, e por isso não sabia muito bem como reagir ao fato de que estava começando a se tornar um rosto conhecido do público.


— Impressionante — a garota disse com um tom mais devagar na sua voz, ao mesmo tempo em que digitava algo em seu PokéNav, o que fez Ruby se questionar se aquele interesse era forçado. — Qual é o seu nome mesmo?


— Ruby...


— Ok, Ruby. Eu me chamo Courtney. Quantos anos você tem?


— Hã, dezesseis. Eu tenho dezesseis — Ruby mal conseguia conter o nervosismo, dada a presença forte daquela garota, de modo que seus impulsos eram mais rápidos que seu raciocínio. — E você? Ah, desculpa! Eu não devia ter perguntado!


Courtney riu com o jeito atrapalhado de Ruby. O menino não sabia dizer se ela se divertia com aquilo por achá-lo um idiota ou de uma forma mais inocente.


— Relaxa, meu bem! Eu não me importo com essas coisas. Eu tenho dezessete.


— Dezessete? — o garoto exclamou em surpresa. — Você é mais nova do que eu pensava.


— Como é? — a garota arqueou a sobrancelha, mas ao mesmo com um tom descontraído em sua face. — Tá dizendo que eu pareço velha?


— NÃO! Pelo amor de Arceus, não é isso. É só que...


Ruby começou a corar assim que percebeu o que estava prestes a dizer. Courtney ficou curiosa com o que ele ia acabar dizendo, e começou a tentar forçar a explicação.


— É só que...


— Eu não sei como dizer isso de uma maneira não constrangedora — o garoto entrelaçava os dedos das mãos rapidamente enquanto desviava o olhar para o teto ou qualquer outro lugar que não fosse a cara de Courtney. — Seu corpo já é bem mais desenvolvido do que a maioria das pessoas da sua idade.


Courtney ficou surpresa com o comentário do garoto. Ruby paralisou em frente à garota com uma cara de paisagem como se a alma tivesse deixado o corpo há muito tempo. Quando a mais velha assimilou a situação, ela apenas deu um gole no chá, e após colocar a xícara de volta à mesa, entrelaçou as mãos as usando de apoio para o rosto, que ficou mais próximo do menino.


— Olha só, então você também repara nessas coisas — ela disse com um sorriso travesso. — No fim das contas você não é tão inocente quanto parece, garotinho.


— Eu não falei com essa intenção...


— Então por que ficou tão nervoso? — o mesmo sorriso continuava estampado no rosto de Courtney. — Você não tem muita experiência com garotas, não é?


— Podemos mudar de assunto?


— Como queira — disse a moça, colocando uma pequena quantidade de adoçante no seu café e mexendo com uma colher, mas sem deixar sumir seu sorriso descontraído. — Bem, está de passagem aqui em Mauville? Onde vai ser seu próximo contest?


— Em Fallarbor. Mas antes vou para Lavaridge porque uma amiga que está viajando comigo vai enfrentar o ginásio de lá. Nós paramos aqui para estocar os suprimentos e passar a noite.


Ao ouvir um suspiro vindo de Courtney, Ruby notou de relance que a garota tinha um sorriso diferente de antes. O tom descontraído, quase debochado, dela agora dava lugar a uma sensação estranha. Era como se aquele sorriso fosse uma máscara.


Ela que, por sua vez, encarava a xícara de café enquanto tinha aquela expressão vaga, subiu seu olhar para a janela do estabelecimento, encarando na direção da rua, mas era claro que o lugar para onde ela olhava era mais distante, bem além das paredes das construções do outro lado da rua.


— Entendo. É bom poder correr atrás de algo. Ter esse tempo é um privilégio.


Sem saber como lidar com aquela mudança repentina de clima, Ruby recorreu à sua melhor estratégia, que era se fazer de desentendido.


— Do que você está falando? — o garoto indagou. — Você tem só um ano a mais que eu. Você também tem esse tempo. Quer ser uma treinadora ou coordenadora também? Por que não vai atrás?


Courtney ficou surpresa ao receber aquela contestação. Pela primeira vez foi Ruby que a deixou sem resposta. Ela agora não olhava para lugar algum, parecia tentar desembaralhar seus pensamentos, enquanto o garoto apenas aguardava a conclusão daquele questionamento.


Poucos segundos se passaram até que Courtney concluísse que tentar achar uma resposta seria um esforço em vão. Ela deu mais um sorriso discreto e voltou a mexer a colher na xícara, sem sequer perceber que não havia colocado nada dessa vez que pudesse misturar ao café.


— Você é uma pessoa boa, sabia?


Ruby virou o olhar para o outro lado quase que de imediato. Receber elogios não era seu ponto forte.


— Também não é pra tanto — disse o menino, tentando disfarçar seu desconforto. — Eu só não vejo razão pra alguém não seguir os próprios objetivos.


— É complicado. Muito complicado, pra dizer a verdade.


Ruby sentia certa curiosidade ao ver a mudança repentina de humor de Courtney. Aquela máscara de garota provocativa parecia ter caído. Mesmo assim, não conseguia ler o interior dela por completo. Ainda havia algo que ele não conseguia decifrar, mas não sabia o que era. Só sabia que aquilo lhe causava uma sensação estranha, quase como um alerta dizendo que ele deveria se afastar. Mesmo assim ele não poderia ser indelicado com alguém que acabara de conhecer e nunca fizera mal algum a ele.


Percebendo que terminou seu capuccino, Ruby se levantou da mesa, se dirigindo à garota que o acompanhou naquele breve momento.


— Eu tenho que ir. Mas foi um prazer, Courtney.


— Ah, claro. O prazer foi todo meu.


— Espero que pense no que eu disse. Quem decide o rumo da sua vida é você, e mais ninguém. E você parece ser uma pessoa bem decidida e firme. Eu acho que você consegue alcançar o que quiser se tiver essa postura.


E assim ele caminhou para fora do café, tomando seu rumo naquelas ruas movimentadas e deixando Courtney ainda na mesa, reflexiva com aquela lição que não esperava receber de um garoto mais novo que ela.


Sem mais reações, ela apenas retomou o gesto habitual de mexer seu café, ainda que, mais uma vez, não tenha colocado nada para misturar.


• • •


Enquanto caminhava de volta para o Centro Pokémon, Ruby passou por uma praça e percebeu que Sapphire estava no local. Mesmo depois de todo aquele tempo, a menina ainda batalhava com outros treinadores que ali estavam. Ela tinha uma expressão visível de cansaço, mas ao mesmo tempo parecia estar aproveitando ao máximo aquele momento.


Ruby se sentou em um banco próximo para acompanhar a batalha, que a partir dali não durou muito até seu desfecho com uma vitória para a menina. Após retornar Shroomish, ela viu que seu amigo estava logo ao lado e caminhou até ele com um largo sorriso no rosto.


— Acho que fiz umas seis ou sete batalhas. Acredita que eu ganhei todas? — disse ela enquanto abria uma garrafa d’água dada por Ruby. — Fechei o dia a cem por cento!


— Nesse ritmo que você está eu ficaria preocupado no lugar da líder do ginásio de Lavaridge — Ruby respondeu. — Mas acho que você foi além do necessário. Seis batalhas é muito. Talvez você aguente, mas seus Pokémons com certeza se desgastam mais do que você, porque são eles que estão ali no confronto. Tente não puxar muito o limite deles, por segurança.


— Eu sei, eu sei. É que a gente acabou se empolgando. Mas saber que eles aguentaram tanto me deixa até aliviada. Sinto que a gente consegue intensificar um pouco mais os treinos pra que eles se desenvolvam mais rápido.


— Sim, mas um passo de cada vez, como você e a Zinnia disseram pra mim — o garoto então pega as sacolas de compras e se levanta do banco. — Enfim, vamos voltar? A essa altura, a Zinnia e a Vivi já devem ter chegado também.


Sapphire sorriu para o menino, mantendo suas mãos atrás. Os dois logo começaram a caminhar de volta para o Centro Pokémon, onde poderiam dar aquele dia por encerrado.


— Vamos — disse a menina. — Mas deixa eu tomar banho primeiro hoje? Acho que eu tô precisando mais do que você.


— Você com certeza está precisando mais do que eu — Ruby então sentiu um soco leve no seu ombro, acompanhado de uma risada de Sapphire.


— Idiota!


• • •


Courtney se encarava no espelho do vestiário em que se encontrava. As roupas leves que usava mais cedo agora davam lugar ao uniforme carregado de peças da organização onde trabalhava.


A garota se encarava no espelho com expressão de dúvida. Aquela conversa com Ruby ainda estava rodando em sua cabeça. Especialmente o que ele havia dito ao final daquele encontro.


— Por que eu não vou atrás? — ela parafraseou o garoto. — Honestamente... Eu não sei.


Ela então colocou uma das mãos sobre o peito, e abriu um sorriso discreto, mas pela primeira vez naquele dia um sorriso um pouco mais autêntico do que os que ela estava acostumada a mostrar.


— Mas descobri algo do qual eu quero ir atrás. Agora com certeza.


Ao sair do vestiário, ela caminhou pelos corredores da sede da organização. Qualquer membro que passasse pelo seu caminho a cumprimentava assim que a via. Muitos deles com um semblante até ansioso ou preocupado, para não dizer com medo.


Após uma caminhada breve, Courtney parou em frente a uma porta automática. Quando ela se abriu, ela adentrou a sala onde se encontravam duas figuras. Uma delas, um dos homens ali presentes se dirigiu a ela com um tom de desprezo.


— Você está atrasada. Por onde andou?


— Cuidando da minha vida, Tabitha. Às vezes você deveria tentar cuidar da sua também.


Ela então se virou para a outra figura, esta aparentando mais paciente. Ou talvez fosse apenas uma serenidade de fachada. Sua expressão séria por trás daqueles óculos era ilegível.


— Peço desculpas por fazê-lo esperar, mestre Maxie. Quais são os próximos passos?


FIM DO CAPÍTULO 40

  


Notas do Autor - Capítulo 39


Eu nem tenho muito a comentar sobre este capítulo, ele é mais um daqueles que servem de transição para os próximos eventos. Mas aproveitei para trazer um pouco mais da Vivi, que é a personagem que há menos tempo entrou na história, e ao mesmo tempo ela será essa ponte entre o grupo principal e os famosos Winstrates que sempre testam os treinadores nos jogos.

Mas o destaque do capítulo mesmo fica com essa reunião do Drake e do Wattson, já preparando o terreno pra hora que entrarmos em Lavaridge. Achei que já seria bom apresentar os personagens que farão parte da trama na próxima cidade pra deixar vocês pensando em como vão ser as coisas quando finalmente chegarmos.

Acho que é isso por enquanto. No mais, é continuar firme na estrada até Lavaridge, e torcendo pra que a Sapphire coloque esse Psyduck pra funcionar a tempo...

Até a próxima! õ/


Capítulo 39

Missão de busca


Wattson estava terminando de arrumar as coisas para abrir o ginásio. Após preparar as prateleiras com as equipes determinadas para cada nível de desafiante, o líder pegou uma vassoura e foi até a parte externa varrer a fachada. Os funcionários ainda não haviam chegado, mas o veterano já estava adiantando as tarefas para que estivesse tudo em ordem assim que desse o horário.


— Olha só pra você, varrendo a calçada igual um velho — o líder foi pego de surpresa ao ouvir a voz grave e rouca que vinha de trás.


Ao se virar, Wattson notou que era Drake quem estava atrás dele. O Elite mantinha sua postura firme, fumando um cachimbo como de costume, enquanto encarava o velho amigo com uma expressão debochada. O líder de ginásio abriu um sorriso de canto, continuando a varrer o local, mas sem ignorar a visita.


— Você é a última pessoa que pode me chamar de velho por aqui, sua caveira idiota — disse o mais baixo, seguido de sua risada estridente característica. — Foi você que mandaram pra fazer a supervisão dessa vez?


Drake deu mais uma puxada no cachimbo, prendendo o fumo por um breve momento, até que soltou a fumaça. Wattson percebeu os ombros do mais alto relaxando levemente, mas preferiu esperar antes de fazer mais algum comentário.


— Hoje não. Na verdade, eu vim conversar com você a respeito daquela situação que ocorreu em Nova Mauville.


— Descobriram mais alguma coisa sobre o ataque?


— Anabel ainda está investigando. Mas estou aqui por conta de um outro detalhe daquele dia que chegou ao meu conhecimento. Esse está mais pra um assunto pessoal que eu devo resolver.


— Tudo bem, me deixe terminar de varrer aqui e a gente entra pra conversar. Falta pouco.


— Você é lerdo demais. Me dá outra vassoura que eu te ajudo.


• • •

Tendo saído de Verdanturf poucas horas antes, Sapphire aproveitava a pausa pedida por Ruby para fazer uma nova tentativa de treinamento com o Psyduck. Mas não parecia que haveria muito progresso naquele dia. O pequeno pato continuava com a mesma expressão vaga e indecifrável de sempre, e a menina sentia que tentar se comunicar com ele seria bem difícil.


Zinnia aproveitou o momento para colher algumas frutas na beira da estrada, bem como deixar seus Pokémons livres para pegar um pouco de ar fresco, assim como também fizeram Sapphire e Ruby.


O garoto estava sentado em um tronco de árvore caído, e ali aproveitava para alongar os braços, pernas e a coluna. Ele então notara a dificuldade que a amiga estava tendo com a criaturinha aquática.


— Tudo bem aí, Sapphire?


— Eu não consigo entender qual é a desse Psyduck, ele não expressa nada! E eu tô começando a ficar realmente preocupada, porque eu não sei dizer se ele tem algum problema, ou se ele é assim mesmo. E se de repente ele tiver alguma necessidade de saúde ou fome e eu não souber?


— Eu acho que você não deveria ficar tão preocupada assim. Lá em Johto tem muitos lugares com Psyducks. Eu já vi vários, e eles são bem assim mesmo — Ruby tentava acalmar a amiga. — Desde que você não deixe ele sentir dor de cabeça, deve ficar tudo bem. Aliás, eles são bem mais expressivos quando algo está errado, então eu tenho certeza que você vai saber se for o caso.


— Paciência é a chave, Sapphire — disse Zinnia, se aproximando com algumas frutas apoiadas na barra da blusa. — Tentar entender os Pokémons nunca é fácil, mas se você ficar ansiosa desse jeito não vai conseguir pensar e notar as peculiaridades dele. Se adapte e faça as coisas no ritmo do Psyduck que as respostas vão começar a aparecer aos poucos.


Sapphire não parecia muito contente com as explicações dos seus amigos, que para ela pareciam mais como os sermões que seu pai lhe dava na infância sobre o porquê ela não deveria ser tão impulsiva, mas tentou acatar os conselhos, ainda que a contragosto. Lavaridge se aproximava, e um Pokémon aquático seria um trunfo importante para a equipe dela ao enfrentar um ginásio especializado no tipo fogo.


Zinnia se sentou no troco, logo ao lado de Ruby, e ofereceu as frutas. O garoto pegou uma, a esfregou na sua bermuda para tirar a sujeira, e começou a descascá-las com uma pequena faca que tinha guardada em sua mochila. Oran berries pareciam cair muito bem em dias quentes como aquele.


Enquanto Sapphire encarava a face desconectada do Psyduck, Ruby notou alguém se aproximando pela estrada. A menina interrompeu sua caminhada assim que notou o grupo a sua frente, e foi quando reconheceu o garoto que seu sorriso se abriu. Numa breve corrida, ela tratou de se aproximar do trio.


— Ruby! — exclamou a menina, enquanto segurava uma mecha de cabelo que havia se soltado de seu rabo-de-cavalo para que o vento não a jogasse contra seu rosto. — Quem diria que eu ia te encontrar aqui?


— Vivi? — Ruby indagou em tom de surpresa. — Você ainda estava em Verdanturf esse tempo todo?


— Sabe como é, eu quis tirar um descanso extra depois do contest. Mas cedo ou tarde temos que voltar ao trabalho, né?


Sapphire e Zinnia por um momento se mantiveram atentas à conversa, mas logo relaxaram ao ver que o clima estava amistoso. A experiência com Emily fazia as duas pensar que o Ruby tinha certo talento para criar rivalidades e entrar em jogos de provocações, mas aquele não parecia ser o caso. O menino, por sua vez, logo notou que suas companheiras estavam observando.


— Ah, que indelicado da minha parte! Estas são Sapphire e Zinnia. As duas estão viajando comigo — ele então se virou para a dupla. — Meninas, esta é a Vivi. Acredito que vocês se lembrem dela por ter se apresentado no contest.


— Prazer! — Vivi logo tomou a iniciativa, e as meninas responderam com um breve aceno. — Então, Ruby... Agora que você tem duas fitas, vai precisar competir em um contest R2. Pra onde você está indo agora?


— Bem, estamos indo para Mauville. De lá vamos pegar a saída norte, pois a Sapphire vai enfrentar o ginásio em Lavaridge, e eu vou tentar o contest R2 em Fallarbor. Ele não é o que tem a data mais próxima, mas como estou um pouco adiantado no número de fitas acredito que posso tirar esse tempo para pensar na próxima apresentação e praticar.


— Entendo, é uma boa estratégia — Vivi assentiu, e logo em seguida se dirigiu à Sapphire. — Então você é uma pretendente à Liga Pokémon, não é?


— Hã? Ah, sim, eu sou. Ainda tenho três insígnias, Lavaridge seria a minha quarta.


— Legal, parece que você vai ser rival do meu irmão, Vito. Mas vou avisando, ele é forte. Ele é o atual vice-campeão da Liga Pokémon, só perdeu a final para o Steven que é o atual chefe da Elite 4. E mesmo assim, ele competiu de igual pra igual.


— Sério? Então é exatamente o tipo de rival que eu procuro — Sapphire pareceu se animar com o aviso. — Já estou ansiosa pra conhecer ele.


Antes que as duas pudessem dizer mais alguma coisa, foi a vez de Ruby tomar de volta a atenção da coordenadora a chamando.


— Vivi, você já competiu nos contests na temporada do ano passado, certo?


— Sim, isso mesmo. Por quê?


— Eu vi que cada sede tem uma especialidade. Eles não mudam o tipo de contest de uma temporada pra outra. Pode me dizer qual é a modalidade de disputa em Fallarbor?


— Querendo informações privilegiadas, né? Isso é trapaça — Vivi então notou que o menino fazia uma expressão confusa, mas ao mesmo tempo levemente constrangida, o que a fez rir. — Ei, ei! Eu tava brincando! Não é como se essas informações já não fossem públicas, até porque senão os coordenadores estreantes estariam com uma desvantagem injusta. O contest em Fallarbor é igual ao de Slateport. Ele é focado em batalhas.


— Ah, batalhas de novo? — o garoto engoliu seco.


— Sim. Acho que é mais pelo apelo, né? Fallarbor é uma cidade de cultura meio country, então o pessoal lá gosta de assistir uma boa briga. Apresentações artísticas não são o evento favorito deles.


Country? — Sapphire perguntou. — Tipo, viver no campo, em fazendas?


— É, o povo de Fallarbor foca muito em agropecuária, porque a proximidade da cidade com o vulcão do Monte Chimney torna o solo de lá muito fértil pra produção — Zinnia completou a explicação de Vivi.


— Parece que eu vou ter que treinar mais firme ainda. Eu não sou bom em batalhas.


— Ruby, do que você está falando? Você venceu o contest de Slateport — disse Sapphire, com as mãos na cintura. — E até lá temos tempo de sobra, vamos te ajudar a treinar.


— Eu sei de um bom lugar pra você treinar, Ruby — disse Vivi, com um sorriso travesso no rosto. — E eu posso levar vocês, porque estou indo exatamente pra lá. É o mesmo caminho que vocês vão fazer.


Ruby pareceu se animar com a sugestão de Vivi, além do apoio de Sapphire. A incerteza que rodeava a mente do garoto o havia deixado em paz, pelo menos naquele momento.


— Eu topo! Onde fica?


— É assim que se fala! — a coordenadora comemorou. — Minha família tem um pequeno rancho um pouco depois da saída norte de Mauville. Todos eles são fanáticos por batalhas. Até por isso eu costumo me dar bem nesse tipo de contest. Vocês podem enfrentá-los. É um desafio interessante pra você, Sapphire. E quanto a você, Ruby, quem sabe você não tira umas dicas boas pros seus próximos treinos?


Sem nenhuma objeção, Vivi se juntou temporariamente ao grupo. Ter mais alguém por perto tornaria a viagem mais fácil e agradável, especialmente para Ruby que agora teria uma coordenadora mais experiente para orientá-lo em alguns pontos importantes.


E assim eles terminaram aquele momento de descanso e seguiram em direção a Mauville, já ansiosos para pegar a próxima rota.


• • •

Já dentro do ginásio, Wattson e Drake tomavam seus lugares na sala de administração para conversar. O líder trancou a porta, a pedido do Elite, que preferia manter o sigilo do assunto.


— Então... — Wattson quis apressar o assunto, pois não tinha muito tempo sobrando antes da abertura do ginásio. — O que você quer saber sobre aquele dia?


— Vou ser bem direto. Aquelas crianças que acabaram se envolvendo no conflito... Tinha uma outra pessoa junto?


— Eram três jovens ao todo. Um deles era um garoto meio problemático, esteve junto comigo e me ajudou no confronto. Os outros dois eram Sapphire, uma desafiante que estava aqui na cidade para me enfrentar, e o Ruby que é um companheiro de viagem dela. Esses dois aí são boas crianças, apesar de terem sido imprudentes se intrometendo nesse assunto.


— Bem, Steven viu que havia outra pessoa que chegou logo em seguida, e que esses dois aí pareciam conhecer. Ele ouviu Roxanne afirmar que essa pessoa era uma draconid, alguns anos mais velha que os dois.


Wattson bebeu um gole do café que havia servido para ambos, mas ao mesmo tempo acenou positivamente.


— Sim, era uma garota. Eu a vi também, mas só no final, quando já tinha acabado a confusão. Ela tinha mesmo uma roupa bem diferente. Deixa eu adivinhar. Ela é uma pessoa que devia estar lá com seu povo, mas por alguma razão não está. É isso?


— Antes fosse só isso — disse o Elite dando um suspiro. — Ela tem um papel fundamental para o povo draconid, é a atual Guardiã da Tradição.


Wattson pôs a xícara de volta na mesa e se recostou no sofá com as mãos atrás da cabeça.


— Isso é um problema. Por que ela saiu do povoado?


— Apesar de ter sido escolhida como a nova guardiã, Zinnia ainda é imatura. Ela não tem muita noção da responsabilidade que carrega, e ainda questiona as histórias de nosso povo. Para ela, tudo isso não passa de uma pseudo-religião criada sem nenhum contexto histórico.


— Entendo — o líder mexia uma colher de açúcar que havia colocado no café. — Assim, eu realmente a vi no dia. Mas não sei em que mais posso te ajudar.


— A menina te desafiou aqui no ginásio, não foi?


— Sim, desafiou e venceu. E eu te digo uma coisa. Ela é boa. Ainda tem que cobrir alguns pontos fracos, mas tem potencial pra evoluir muito. Talvez ela faça um barulho na Liga. Você ia gostar de vê-la batalhando.


— Tomara que ela fique forte, mas não é em treinadores iniciantes que estou interessado no momento. É na Zinnia. Se a Sapphire te desafiou, você não teria alguma ideia de onde ela pode ter ido após deixar a cidade?


Wattson ficou um momento em silêncio, tentando se recordar de algo. Drake permanecia em seu lugar, paciente. Para o Elite, todo o tempo seria necessário para juntar as informações que ele precisava para descobrir o paradeiro da guardiã. O líder então estalou os dedos, parecendo lembrar-se de algo.


— Eles foram pra Verdanturf. O garoto é coordenador, então foi competir lá. Eu não me lembro bem se fui eu quem recomendou, ou se foi ideia deles mesmo, mas em seguida eles devem ir pra Lavaridge enfrentar a Flannery.


Drake balançou a cabeça em negativa ao ouvir aquilo. Com uma expressão de descontentamento, e com certo tom de cansaço em sua voz, ele se levantou e se preparou para sair.


— Bom... Se ela é tão boa quanto você diz, então vai ser praticamente uma insígnia de graça pra ela.


— Ei, não fale assim da Flannery — Wattson tentou intervir em favor da garota. — Ela está dando tudo de si, tenho certeza que ela vai superar essas dificuldades.


— Dificuldades teremos nós se a Liga Pokémon desse ano acabar ficando inflada de competidores. Isso vai alterar as datas do nosso calendário de competições, além de afetar os contratos com os patrocinadores. Ela está colocando toda a operação em risco.


O líder mais velho apenas se calou, não conseguindo encontrar mais argumentos. A líder de Lavaridge estava sob forte pressão da supervisão da Liga devido ao desempenho questionável que vinha apresentando, e Wattson temia que a solução final dada pela Elite fosse a remoção dela do cargo antes de mostrar seu potencial.


— Eu também não gosto de prejudicar o futuro de uma pessoa jovem e cheia de sonhos, Wattson. Isso se aplica tanto à Flannery como à própria Zinnia. Mas eu tenho responsabilidades das quais não posso fugir, mesmo que isso conflite com algumas convicções que eu tenho. Enfim, preciso voltar pra Ever Grande.


— Já vai embora? O contest de Verdanturf foi anteontem. Se você ficar aqui pode acabar pegando a volta deles.


— Preciso estar lá pra agir algumas coisas da Liga. Eu acabei interrompendo uma reunião importante do Steven com a equipe, então temos que dar continuidade. Mas se o contest foi anteontem, creio que em até três semanas eles tenham feito o trajeto completo até Lavaridge. É mais ou menos o período que o Sidney estará na cidade para supervisionar a Flannery. Vou pedir pra ele estender um pouco a estadia e ficar de olho.


O Elite caminhou até a porta da sala. Wattson a destrancou e permitiu a passagem do velho amigo. Mas, antes de Drake ir embora, o líder fez uma última pergunta.


— E quanto à supervisão do meu ginásio?


— Não se preocupe. Glacia estará aqui na semana que vem para te acompanhar.


— Puta merda! Logo ela?


FIM DO CAPÍTULO 39

  

Notas do Autor - Capítulo 38

 


Olha, sinceramente não tem muito o que falar aqui. Este foi um capítulo bem de transição mesmo, pra dar um ponto final na estadia do grupo principal em Verdanturf (e dessa vez é sério, eu prometo kkkkkkkk), mas também aproveitei o espaço que tinha sobrando pra poder avançar com aquele pequeno mistério do Steven fugindo pra Sinnoh e dando o perdido em todo mundo na Liga Pokémon.

Pra quem achava que ele tava indo pra lá de férias, se enganou! Nosso cria trabalha incansavelmente. Aí juntou Pokémon e pedra, as duas coisas que ele mais ama na vida dele, e pronto. Deu no que deu kkkkkkkkkkkk

Já tinha um tempinho que eu estava querendo subir o tópico das Mega Evoluções pra história, eu estava com medo de acabar ficando com uma introdução muito tardia e não dar tempo de desenvolver adequadamente, mas acho que esse ponto aqui ficou perfeito pra fazer essa introdução. Se eu tivesse plantado essa semente lá no comecinho, quando a gente ainda tava assimilando o que era o mundo de AEH, talvez tivesse só ajudado a embolar mais ainda aquela bagunça de núcleos que foram os primeiros capítulos (eu falo assim de piada, ainda acho que foi necessário, e admitam: ajudou o final da primeira temporada a correr a mil por hora, né kkkkkk)

E pra quem achava que o Drake tinha esquecido da Zinnia, olha aí! Será que teremos uma caça nas rotas de Hoenn? Vamos esperar pra ver.

Até semana que vem! õ/

Capítulo 38

 A porta para um novo futuro



Após mais um dia de estadia em Verdanturf e uma sessão de treinamento de Sapphire batalhando contra a equipe de Wally, era chegada a hora de se despedir da charmosa cidade. O grupo estava na praça central, onde combinaram de se encontrar uma última vez, já que Wally, apesar de ter dito que seguiria para Slateport, ainda ficaria um pouco mais por lá, enquanto o trio voltaria a Mauville para pegar a rota ao norte em direção a Lavaridge.


Wally havia pedido para que ficassem mais um pouco conversando antes de partirem. Ruby acreditava que o garoto apenas queria estender um pouco mais a companhia por não ser possível saber quando seria a próxima vez que se encontrariam. Afinal, a diferença entre eles era de duas fitas, então havia um longo caminho a ser percorrido.


A surpresa só veio quando Emily apareceu na praça, se colocando junto a eles como quem já tinha alguma intimidade ali. Ruby arqueou uma das sobrancelhas, sem entender muito bem se a sua rival tinha perdido a noção, ou se estava ali com o intuito de arrumar problema.


— Ora, ora, veja só quem veio se despedir da gente — o garoto exibia um sorriso triunfante. — Finalmente se rendeu ao meu talento como coordenador e admitiu a derrota? Ou veio me pedir um autógrafo?


Emily nada disse. Apenas encarou Ruby com sua cara de sono por alguns segundos e se virou para Wally, ignorando por completo a existência do garoto.


— Eu só queria lembrar que temos pouco tempo para o seu próximo contest em Slateport, Wally — disse Emily, com os braços cruzados em sinal de impaciência. — Precisamos treinar logo para que você chegue lá preparado. Você está muito atrasado, precisa conseguir uma fita logo!


De início, Ruby não havia processado a informação. Mas poucos segundos foram necessários para que o garoto ligasse os pontos do que estava sendo conversado para logo constatar o óbvio.


— Wally, vocês por acaso estão viajando juntos?


Enquanto Emily arqueou uma das sobrancelhas como quem estava esperando para ver o que viria daquela pergunta, o garoto por sua vez deu uma risadinha sem graça, coçando a parte de trás da cabeça.


— É, a gente está viajando junto sim. Eu pedi para que a Emily me desse algumas dicas para os próximos contests, e ela aceitou me ajudar.


— PEDIU AJUDA PRA ELA? FICOU LOUCO?


— Por que ele seria louco de me pedir ajuda, hein? — Emily se aproximou de Ruby com um tom ameaçador.


— Porque ele é meu amigo, e deveria estar do meu lado! Ele sabe muito bem que nós não temos muita simpatia um pelo outro.


Emily rangeu os dentes com o que estava ouvindo. Para a menina, o fato de ter acabado de ser derrotada por Ruby em um contest só tornava a infantilidade do garoto ainda mais insultante.


— Eu estou de olho em você! — Ruby apontou para Emily. — Eu vou garantir que o Wally nunca baixe a guarda perto de você. Vai que você é uma Seviper assassina disfarçada de humana.


— Pois fique sabendo que EU SOU uma Seviper assassina! Mas o Wally estará seguro comigo, porque o meu veneno foi feito especialmente pra você, seu Zangoose escroto!


Emily então pegou Wally pelo braço e saiu puxando o garoto na direção do Túnel Rusturf. Wally, sem saber como reagir, apenas deu um tímido aceno para o grupo que agora ficaria para trás. Sapphire e Zinnia estavam sem reação. Para elas, talvez aquele tipo de confusão fosse normal entre coordenadores, então as duas acharam por bem não se intrometer.


Ruby estava paralisado com o que acabara de ouvir. Aos poucos sentiu seu rosto ficar vermelho, e mal conseguia formular os pensamentos.


— Escroto? Aquela garota me chamou de escroto? — o garoto começou a esfregar a cabeça, bagunçando seus cabelos e quase jogando a touca para cima. — Ela consegue ser mais vulgar a Sapphire! Eu não aguento mais essa menina! Eu já consegui vencer essa idiota ontem, mas vou treinar ainda mais para da próxima vez humilhar ela de verdade quando competirmos de novo!


O garoto fez menção de voltar para o Centro Pokémon, mas ao se virar deu de cara com Sapphire, com um sorriso que mais parecia disfarçar sua raiva do que qualquer outra coisa. Seus rostos estavam bem próximos, assim a menina esperava garantir que sua mensagem fosse clara.


— O que você quis dizer com “mais vulgar que a Sapphire”?


— Ahn... Nada.


• • •


A Elite estava reunida mais uma vez no gabinete do Campeão, situado no prédio da Liga na cidade de Ever Grande. Da janela da sala era possível ver o oceano que se estendia até o horizonte. Os quatro membros estavam sentados em seus respectivos lugares, bem como Steven, que tomou a palavra quando se certificou de que estavam apenas os cinco membros por perto para ouvir o assunto daquela reunião.


— Primeiramente eu gostaria de agradecer por toda a paciência que tiveram. Aquela viagem que fiz a Sinnoh logo que assumi finalmente me rendeu algum resultado, então vou poder contar a vocês pelo menos essa primeira parte.


— Muito bem, já era hora de você nos dar explicações mesmo — disse Glacia, arqueando uma das sobrancelhas. — Já faz quase três meses desde essa viagem, e ainda estamos aguardando a sua justificativa.


Steven percebeu que os membros o encaravam de maneira não muito agradável. Glacia e Sidney demonstravam uma insatisfação flagrante, enquanto Phoebe estava com um olhar mais desconfiado. Drake era o único que mantinha uma postura serena, talvez o mais indecifrável daquela sala, mas dessa vez não colocava sua voz em favor do Campeão, indicando que Steven já havia usado a paciência do homem.


O rapaz deu um suspiro longo, sabendo que aquela conversa poderia se tornar mais difícil do que estava esperando. Até porque o que para ele era um avanço, para os outros poderia ser interpretado como mais uma tentativa de enrolá-los. E o que estava por vir em seguida era um anúncio ainda mais arriscado.


— Bem, vou começar explicando alguns detalhes para que vocês entendam o contexto, mas vou ser o mais breve e suscinto possível. Cynthia, ex-Campeã de Sinnoh, é uma amiga de longa data. Fui para Sinnoh pois precisei dela para me colocar em contato com uma pessoa.


— E quem é essa pessoa? — Sidney questionou, mantendo os braços cruzados.


— Creio que vocês já devem ter ouvido falar de Fantina, líder de ginásio em Hearthome e que já foi uma grande coordenadora.


Todos na sala assentiram, indicando que a conheciam.


— Uma grande mestra de tipos fantasma — disse Phoebe, alegre. — Ela e Agatha foram minhas referências por muito tempo.


— Tenho todo respeito à Fantina, que é uma profissional formidável — disse Glacia. — Mas em que ela poderia colaborar com a Liga Pokémon de Hoenn?


Steven se levantou, e abriu uma das gavetas de sua escrivaninha. Os membros da Elite ficaram curiosos ao vê-lo colocar um pequeno baú em cima da mesa. O Campeão gesticulou para que os quatro se aproximassem, e assim que o fizeram, o rapaz abriu a tampa, revelando algumas pedras esféricas pequenas, que mais pareciam feitas de vidro ou alguma resina, e tinham seu interior colorido.


— Bolinhas de gude? — Sidney questionou. — Qual é, cara! Fala logo do que se trata, eu não tenho saco pra ficar decifrando enigmas!


— Eu não sei se vocês sabem, mas a Fantina é de Kalos — Steven começou a explicar, ignorando a habitual grosseria de Sidney. — E existe uma pessoa lá que eu gostaria de conhecer, pois ele tem feito algumas pesquisas interessantes que eu ando acompanhando.


— E o que isso tem a ver com a Liga? — Drake perguntou.


— Essa pessoa em Kalos é o Professor Augustine Sycamore, maior autoridade acadêmica da região. Ele é o responsável por entregar os Pokémons iniciais aos treinadores novatos, como o Professor Birch faz aqui, mas não fica só por isso. Ele tem conduzido pesquisas sobre um fenômeno que eles estão chamando em Kalos de “Mega Evolução”.


— “Mega Evolução”? — Glacia pareceu ter sua atenção atraída. — E o que a diferencia de uma evolução comum para ter uma outra categorização?


— Pelo que tenho visto nas pesquisas, a Mega Evolução é uma forma superior para uma mesma espécie Pokémon. Ela libera o percentual de poder que é naturalmente restrito, mas como o próprio organismo do Pokémon não suporta a exposição a essa explosão de poder por muito tempo ela acaba sendo temporária. Eles a seguram por tempo suficiente para terminar uma batalha, e depois voltam à sua forma original.


— Uma evolução temporária que libera um poder adormecido em um Pokémon... — Drake ficou pensativo. — Isso mudaria drasticamente a forma como batalhamos. Posso assumir que você deseja trazer isso para Hoenn?


— Não trazer, porque ela parece já estar em Hoenn — Steven empurrou o baú com as pequenas pedras mais para a frente. — A Mega Evolução tem dois requisitos que devem ser cumpridos, segundo as pesquisas indicam. O primeiro é um forte laço entre treinador e Pokémon, enquanto o segundo é a posse de uma Mega Pedra.


— E você acredita que isto que você nos mostrou sejam essas pedras? — Glacia não parecia convencida.


— A aparência e tamanho delas condizem com o que consta nos relatórios.


— E onde você as encontrou?


— Durante escavações em Meteor Falls e na Caverna de Granito. Uma delas também foi encontrada na montanha que cerca o Deserto das Miragens.


Drake se curvou para observar as pedras mais de perto. O homem não pôde deixar de notar a marca que havia no interior de cada uma delas, uma gravura multicolorida que lembrava um segmento de DNA.


— Eu conheço este símbolo.


Todos tiveram sua atenção atraída pelo veterano na mesma hora. Até mesmo Steven se surpreendeu com a afirmação de Drake, que continuava olhando fixo para os objetos a fim de ter certeza de que não estava enganado.


— O senhor se lembra de ter visto essa marca em mais algum lugar? — indagou o Campeão, curioso.


— Ela está gravada em um antigo artefato guardado pelo povo draconid.


— Seria o meteorito de Rayquaza?


Drake arregalou os olhos, enquanto o restante da Elite trocava olhares confusos. Steven percebeu a súbita mudança na atmosfera da sala, especialmente vindo do mais velho, que de pronto tomou a frente daquele encontro.


— Todo mundo pra fora da sala — disse o homem. — Preciso conversar com o Campeão.


— A reunião ainda não acabou, o Steven ia nos explicar mais sobre as Mega Pedras — disse Glacia.


— Por hoje acabou, ele pode continuar depois. Todo mundo fora.


Os três saíram da sala para retornarem aos seus afazeres. Steven observava Drake trancar a porta da sala e ponderava se tinha dito algo errado. Quando o draconid caminhou de volta até o mais novo, coçou o bigode e começou a encará-lo nos olhos.


— Como você sabe sobre o meteorito de Rayquaza?


— Bom, eu ouvi sobre. Por quê?


— Quem te contou?


— Por que quer saber?


— Quem te contou? — a segunda pergunta foi enfatizada pela subida no tom de voz de Drake.


Steven ficou encarando o ex-Campeão sem dizer nada. Drake também custou a dizer algo, mas enquanto os dois atravessavam aquele silêncio pesado o homem tentava buscar as informações em sua mente para tentar ligar os pontos.


— Foi a Roxanne?


Foi a vez de Steven arregalar os olhos, confirmando a suspeita do mais velho. Drake deu um suspiro pesado, sua expressão era de descontentamento com aquela situação.


— Espere! Não vai puni-la por isso, ou vai?


— Steven, deixa eu te contar uma coisa — Drake se sentou no sofá e acendeu um charuto. — Certos detalhes a respeito dos draconids e a mitologia de Hoenn são sigilosos. Eles estão guardados sob rigorosa segurança nos arquivos secretos na Biblioteca de Rustboro.


— A Roxanne tem acesso permitido ao setor por ser a líder de ginásio da cidade.


— Estou dizendo que ela não poderia ter te contado isso! Não em qualquer lugar, mesmo depois de você ter se tornado Campeão! Você deveria aprender sobre isso aqui, numa sala bem reservada, em uma reunião sigilosa.


— Sr. Drake, por acaso as lendas a respeito de Rayquaza são reais?


Drake se manteve olhando para Steven por um breve momento, notando que o rapaz aguardava apreensivo a resposta. O homem deu uma tragada no charuto para se dar tempo de escolher as melhores palavras para aquele momento.


— Sempre que me perguntam isso eu respondo que é um assunto que envolve a fé pessoal de cada um, que não vale a pena ficar debatendo. Faço isso para proteger a própria cultura do meu povo. Steven, eu sei que você é uma mente jovem com boas intenções. Você quer trazer inovações para a Liga Pokémon, quer criar uma estrutura melhor e subir a reputação de Hoenn como uma das ligas mais competitivas do mundo. Mas existem outras atribuições ao cargo de Campeão que você precisa compreender antes. E eu preciso ter certeza do quanto você está comprometido com isso.


O rapaz ficou a observá-lo em silêncio. Steven pela primeira vez trocava sua habitual serenidade por um olhar mais sério e determinado. Drake não se convenceu tanto por aquela mudança no semblante do Campeão, mas decidiu que ocultar aqueles fatos não seria a melhor decisão.


— A lenda é real. Impedir os Aquas e Magmas como você fez em Mauville foi importante, porque assim como Rayquaza, Groudon e Kyogre também são reais. Isso vai muito além de permitir que baderneiros destruam as coisas por aí, isso tem a ver com o futuro desse planeta. Essas criaturas têm poder para pulverizar o mundo inteiro, e por isso precisamos garantir que ninguém mexa com esse tipo de poder.


O mais jovem nada disse. Encarava Drake com um olhar sério, como quem compreendia muito bem a criticidade daquele fato ser verdadeiro. O veterano coçou o queixo, ainda frustrado com a maneira como aquela informação havia vazado, mas sabia que não era o momento para lidar com aquilo.


— E como se não bastasse tudo isso, justo agora a Guardiã da Sabedoria resolveu fazer papel de adolescente rebelde e fugir. Foi em Mauville que você disse ter visto a Zinnia, não foi?


— Sim, ela estava lá. A própria Roxanne a reconheceu como sendo uma draconid.


— Entendo. Nesse caso, estou indo pra lá — Drake se dirigiu até a porta. — Vou ver se encontro alguma pista que possa me levar até o paradeiro dela. Não existem muitos draconids além dos arredores de Meteor Falls, então sobrou pra mim ter que colocar ela na linha.


O veterano ajeitou seu sobretudo e apagou o charuto em um cinzeiro. Caminhou até a porta, mas antes de deixar a sala se virou para Steven novamente.


— Tudo que conversamos a sós morre aqui. Pelo menos por enquanto.


— Você tem minha palavra que essas informações não vão vazar — o rapaz fez uma breve reverência.


Quando se viu sozinho, o Campeão trancou a porta e caminhou de volta à mesa. Ao se sentar em sua cadeira, virou o baú com as mega pedras e ficou a observá-las por um breve momento. Entrelaçando os dedos das mãos, Steven deu um suspiro longo. Mas logo em seguida abriu um sorriso ao pegar uma das misteriosas pedras, esta com marcantes traços em vermelho, azul e preto.


— Talvez seja uma boa ideia eu mostrar isso ao Sr. Wallace.


FIM DO CAPÍTULO 38


  


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