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Notas do Autor - Capítulo 19
Vocês podem pensar que eu fiquei louco, mas a verdade é que eu fiquei mesmo kkkkkkkkkkk Eu estava tão ansioso pra chegar a esse capítulo logo que já não conseguia pensar em mais nada! Esse bendito capítulo 19 é a porta de entrada para uma grande mudança na história, em especial para a Miriam, que agora a gente sabe que não veio pra Hoenn só pra ter uma jornada como qualquer outra pessoa. E a descoberta dessas informações, pelo que eu tenho planejado, vão continuar gerando consequências lá no começo da segunda temporada.
Começando pela revelação do que todo mundo já sabia. O carinha do final do capítulo 18 é mesmo o Ethan! E olha só! Ele está vivo! Antes que vocês chamem o Dento de mentiroso pelas 500 vezes que ele ficou berrando "Ethan morre" no Discord, ele só disse que o personagem morreria. Não disse que seria ainda em Johto. Mas isso também não quer dizer que vai ser em Hoenn. Talvez ele apareça em mais alguma região, vai saber...
Tivemos uma breve aparição da Lisia, criando uma cena que prepara o terreno para o próximo contest que o Ruby vai ter que encarar. Da última vez ele não conseguiu a vitória, apesar de um resultado bem melhor que o esperado. Agora ele vai vir mais preparado para fazer uma boa atuação. Será que agora vai?
E por fim uma cena especial que era um dos meus checkpoints. Checkpoint aqui em AEH são cenas que eu crio pro futuro e acabo ficando louco pra chegar logo nelas. Os últimos foram a captura do Jet e a batalha no ginásio de Dewford.
Essa cena final explica o motivo da Miriam não querer encontrar a Anabel tão cedo, como ela havia dito no capítulo 18, começa a clarear o grande segredo da Miriam que foi citado na batalha contra o Spiritomb no navio, enfim. Ainda tem muita coisa pra ser revelada. E como a própria Anabel disse, o que a Miriam acha que vai acontecer quando o Ruby e a Sapphire descobrirem a verdade? Porque mentiras não se sustentam por muito tempo...
Espero que tenham gostado do capítulo. Até a próxima! õ/
Capítulo 19
Faces da Fronteira
—
Vamos atracar em cinco minutos!
As
palavras de Briney soaram como música para os ouvidos do trio de viajantes, que
enfim poderia desfrutar de terra firme após dias em alto-mar. A vasta faixa de
areia da praia de Slateport já podia ser vista de onde estavam com a cidade
crescendo ao fundo. O barco se aproximava da costa, sendo recebido por revoadas
de Wingulls rodeando-os. Peeko saiu de seu poleiro na cabine do piloto para
interagir com os demais de sua espécie.
O cais
tomou forma logo em seguida, e o tempo que levaram para atracar condizia com o
que o velho ex-marinheiro havia dito. Ao pisarem nas tábuas do ponto de
desembarque Ruby e Sapphire suspiraram aliviados, como se estivessem libertos
de uma prisão que durara dias. Miriam se mantinha em silêncio, mas seu humor
parecia um pouco melhor do que quando deixaram o navio abandonado.
— O
que vamos fazer primeiro? — Sapphire perguntou, sem conseguir esconder a
animação. — Quero passar a tarde inteira na praia!
— Você
vai ter tempo de sobra para se divertir depois que reservarmos os quartos no
Centro Pokémon — disse Ruby, que observava as ruas da cidade na esperança de
encontrar o local. — Eu quero visitar a feira da cidade, dizem que dá pra
comprar suprimentos lá com preços bem menores que os do PokéMart.
— É
verdade — Miriam falou ao se aproximar. — Eu desembarquei em Hoenn por aqui e
fiz algumas compras na feira. A gente vai conseguir economizar um bom dinheiro
se comprarmos por lá.
—
Também tenho que passar no Contest Hall da cidade e fazer a minha inscrição
para a próxima competição — o menino então se virou para Briney, dando ao velho
a quantia em dinheiro por ter realizado viagem. — Obrigado pelo serviço, sei
que deu bastante trabalho para o senhor nos trazer até aqui.
— Não
tem problema, garoto — disse o navegador. — Já fiz viagens bem mais longas
durante a minha vida, e eu e Peeko estávamos precisando viajar um pouco depois
de tanto tempo parados no mesmo lugar. Os anos passam, mas esse velho aqui não
consegue perder o sangue de marinheiro.
Após
se despedirem do homem os viajantes seguiram em direção à cidade. Slateport mesclava os aspectos típicos de uma cidade de veraneio e a imponência de uma zona portuária fundamental para a economia da região, que havia sido construída há pouco tempo. Além
disso, a grande concentração de pessoas na praia e nas ruas era um indicativo
da alta temporada, bem como do contest que se aproximava.
Os
três não perderam tempo e se dirigiram ao Centro Pokémon para efetuar suas
reservas. Ao chegar ao local já se dirigiram à porta de entrada quando a mesma
se abriu, revelando um rapaz de cabelos negros que vinha na direção oposta.
Sapphire olhou rápido para o rosto da pessoa, mas passou direto. Uma fração de
segundo foi o tempo necessário para a garota parar e se virar bruscamente,
apontando para o garoto com o dedo indicador.
—
VOCÊ!
O
rapaz se virou depressa ao notar que o grito foi disparado para ele. Seus olhos
caminharam de cima a baixo analisando a menina, mas pela expressão que tinha em
seu rosto ele parecia não reconhecê-la.
— Eu
conheço você?
— Se
me conhece? Tá de brincadeira comigo, Ethan?
Seus
olhos se arregalaram com a surpresa de ver que a menina era uma conhecida.
Depois de alguns segundos a encarando foi que a mente dele se iluminou,
percebendo de quem se tratava.
—
Sapphire? — seu tom de voz demonstrava surpresa e alegria, ao mesmo tempo em
que ele já esfregava a mão na cabeça da garota. — Caramba, você cresceu pouco
mesmo depois de todo esse tempo! E aí, pirralha? Tudo jóia?
— Por
que você continua me chamando de pirralha, seu idiota!? — Sapphire tentava dar
socos nos ombros de Ethan, mas a diferença de altura dificultava a tentativa.
—
Hahaha, continua tentando, tampinha! O que vem de baixo não me atinge!
— QUEM
É A TAMPINHA AQUI, CARA? EU VOU TE DAR UMA LIÇÃO AINDA!
Ruby e
Miriam observavam a cena sem entender nada do que acontecia. O garoto estava
constrangido de ser notado pelos pedestres perto daquela gritaria, mas a menina
assistia a cena com certa curiosidade.
— São
seus companheiros de jornada? — Ethan perguntou, ainda empurrando Sapphire pela
cabeça para não ser agredido. — Como vocês aguentam essa monstrenga todos os
dias?
— Boa
pergunta, sério mesmo — disse Ruby, que dava de ombros ignorando os gritos de
“quer morrer?” de Sapphire.
Quando
Ethan conseguiu se desvencilhar de Sapphire, o rapaz pôde ficar frente a frente
com os dois companheiros de viagem da menina. Ele sorria, parecendo orgulhoso.
— Eu
conheço a Sapphire desde que ela era uma garotinha. Vim pra Hoenn há uns sete
anos, mais ou menos, e o Professor Birch me ajudou muito quando cheguei aqui.
Tentei enfrentar a Elite na época, e até cheguei a batalhar com o Campeão. Só
que na época o Campeão era o Drake, então vocês já devem imaginar o que
aconteceu... — ele ria coçando a cabeça.
— Bem
feito! — Sapphire mostrava a língua como uma criança fazendo birra.
—
Relaxa aí, fedelha. Sua hora vai chegar também. Ouvi dizer que esse tal de
Steven é bem forte. E agradeça que o Campeão não é mais o Drake e nem o
Wallace. Você seria transformada em pó enfrentando qualquer um dos dois.
Sapphire
cruzou os braços emburrada.
— Você
não tinha ido pra outra região? O que tá fazendo aqui em Hoenn? Veio apanhar
pra Elite de novo? Saiba que não vai nem passar da Liga, eu vou acabar com você
lá.
— Pra
sua sorte eu não vim competir na Liga. Esse ano eu tô desafiando a Batalha da
Fronteira.
—
Sério? — a menina ficou surpresa, e então apontou para sua companheira de
viagem. — A Miriam também tá desafiando a Batalha da Fronteira. Ela já tem um
símbolo.
Ethan se virou para a outra menina do trio com um sorriso entusiasmado.
—
Legal! Parece que somos concorrentes, então! Que tal a gente treinar junto
qualquer hora? Já tenho três símbolos, posso te dar algumas informações sobre
outros Cérebros da Fronteira.
—
Ah... — Miriam não sabia o que dizer, pois ainda estava processando a
informação de conhecer um outro desafiante da Batalha da Fronteira. — Claro,
vai ser um prazer! Eu preciso treinar bastante mesmo, vou enfrentar a Greta em
breve, assim que a gente sair da cidade.
Ethan
mudou sua expressão assim que a ouviu falar. Agora tinha uma expressão séria,
porém curiosa. Nenhum dos três viajantes entendia aquela mudança repentina na
maneira como o rapaz a encarava.
— Seu
sotaque... — disse, enquanto coçava o queixo. — Ele é familiar. De onde você é?
— Ela
é de Kanto — Sapphire respondeu. — Você viajou com pessoas de Kanto por um
tempo, não foi?
— Ah,
é verdade! — disse o rapaz. — Sim, realmente é o sotaque de Kanto. Me traz boas
lembranças dos meus amigos. O que será que eles estão fazendo agora? Digo, o
Forrest com certeza está cuidando do ginásio de Pewter, e a Amy... Bem, até
alguns meses atrás ela estava em Sinnoh, mas ela é imprevisível. Talvez agora
ela já esteja do outro lado do mundo e eu nem sei.
—
Então o líder do ginásio de Pewter foi seu companheiro de viagem? — indagou
Miriam.
— Sim,
ele mesmo. Você já batalhou com ele?
— Já
sim.
Ethan
então fez um sorriso malicioso.
— Quer
dar mais detalhes sobre como foi a batalha?
— Nem
ferrando — Miriam sorria como se nada tivesse acontecido.
Ethan
deu uma risada ao receber aquela resposta, mas não insistiu no assunto.
— Vão
fazer a reserva no Centro Pokémon ainda?
— Sim,
acabamos de desembarcar — respondeu Sapphire. — E depois vamos ao Contest Hall
porque o Ruby tem que se inscrever para a etapa desse fim de semana.
— Eu
posso esperar vocês. Também vou para o Contest Hall, combinei de me encontrar
com uma velha amiga lá. E Miriam, depois podemos ir a um evento da Batalha da
Fronteira aqui perto que vai começar no final da tarde. É bom para reunirmos
informações sobre o torneio. E ouvi dizer que dois Cérebros da Fronteira estão
na cidade.
—
Claro, vamos sim! — Miriam tentava passar euforia, mas no fundo torcia para
descobrir quem eram os Cérebros que estariam presentes no evento antes de
precisar ir até lá.
O
check-in no Centro Pokémon foi mais rápido do que imaginavam. Os três jovens tiveram
a sorte de encontrar um quarto vago, onde poderiam se hospedar. Deixaram o
excesso de pertences lá para então retornar às ruas da cidade para aproveitar
um pouco melhor sua atmosfera.
Desta
vez era Ruby quem estava com pressa. Parecia que o menino só ia sossegar quando
tivesse a sua inscrição realizada para o próximo contest. Suas companheiras de
viagem e Ethan acompanhavam o coordenador que seguia na frente de todos,
caminhando de forma desajeitada, sem conseguir esconder o nervosismo.
Levou
pouco tempo para que chegassem ao Contest Hall. A fachada estava lotada de
gente, mal dava para ver a porta de entrada. Os quatro foram se espremendo
entre as pessoas para poder passar e ver o motivo de tanta comoção.
Uma
bela garota acenava para todos os presentes, ao mesmo tempo em que concedia uma
entrevista para uma emissora de televisão. Seus olhos azuis tinham um tom claro
que combinavam com os cabelos turquesa. Seu rosto era moldado por linhas finas
e sua beleza reforçada por uma maquiagem que parecia ter levado horas para ser
feita.
— Não
acredito! — Ruby exclamou, boquiaberto. — É a...
— Ei
Lisia, aqui! — Ethan acenou para a garota, interrompendo o mais novo.
A
menina olhou de imediato para a direção de onde vinha a voz familiar, e quando
viu Ethan deu um breve aceno para ele, seguido de um gesto indicando que já
iria lhe dar atenção. Ruby voltou seu olhar para o rapaz com expressão de total
descrença.
— A
sua velha amiga é a Lisia?
— Sim
— ele respondeu.
— A
top coordenadora mais popular de Hoenn.
—
Aham.
—
Sobrinha de Wallace, ex-Campeão da Elite de Hoenn e um dos mais incríveis
coordenadores que o mundo já viu.
— Ela
mesma.
Ruby
apertou os dois ombros de Ethan, forçando-o a olhar diretamente em seus olhos.
— Nos
apresente e eu terei uma dívida de gratidão eterna com você!
— Ei,
calma! — o mais velho foi afastando as mãos do garoto de si. — Não é pra tanto,
eu posso te apresentar a ela sim.
Com o
fim da entrevista de Lisia a multidão foi se dissipando, uma vez que os
seguranças dela a rodearam e se prepararam para voltar para dentro do Contest
Hall. Ethan aproveitou a oportunidade para se aproximar, seguido pelo trio.
Os
guarda-costas fizeram menção de bloquear a passagem do quarteto, mas a
coordenadora gesticulou indicando que eram pessoas confiáveis.
— Há
quanto tempo, Ethan! — a voz de Lisia era suave e graciosa, harmonizando
perfeitamente com sua aparência angelical. A impressão que se tinha é que ela
era talvez o mais próximo que um ser humano podia chegar da perfeição. — Eles
estão com você?
—
Estão sim — respondeu o rapaz. — Estes são Sapphire, uma velha amiga, e os
companheiros de viagem dela, Miriam e Ruby, que também é coordenador.
Lisia
ficou intrigada ao ouvir o nome do garoto e olhou diretamente para ele. Ruby
sentiu seu coração bater mais forte, não se imaginava prendendo a atenção de
uma das inspirações para sua escolha de carreira.
— Você
é um dos debutantes que conseguiu o pódio em Rustboro, não é? Adorei as
apresentações de vocês três. Foram incríveis. Eu gostaria de ter assistido de
perto, mas não pude comparecer pois não estava me sentindo muito bem no dia. Eu
falhei com meu dever em meu primeiro contest como jurada, mas garanto que aqui
em Slateport eu vou me redimir com vocês.
Ruby
ficou vermelho como uma Tamato Berry.
Aquele reconhecimento inesperado foi o suficiente para quase enfartar ali
mesmo, naquela calçada. Não sabia onde esconder a cara.
— E-eu
sou um... Um... Um grande fã seu! É um-ma honra saber que você gostou d-da
minha apresentação!
Sapphire
e Miriam observavam a cena como se estivessem tendo o melhor dia de suas vidas.
Ver Ruby lutar daquela forma para não externalizar seus sentimentos em público
era um verdadeiro troféu por todas as vezes que foram vítimas da frieza do
amigo. Seus rostos estavam tão vermelhos quanto o de Ruby, mas era devido ao
esforço sobre-humano que faziam para não cair na risada.
— Por
favor, me diz que você tem uma câmera — disse a morena.
—
Infelizmente não, e eu me odeio muito por isso agora — Sapphire respondeu.
Lisia
continuava sorridente. A alegria radiante da celebridade contagiava qualquer um
que passasse por perto, exceto Ruby que não conseguia se manter calmo.
—
Estou torcendo muito para que uma nova geração de coordenadores apareça e
coloque um pouco de emoção nos contests — disse a moça. — Quero ver vocês repetindo as atuações de Rustboro nesse fim de semana.
Depois
de mais alguns minutos de conversa o trio saiu do Contest Hall e seguiu em
direção à feira ao ar livre. Ethan havia ficado com Lisia para colocar a
conversa em dia com sua velha amiga.
Ruby
mal conseguia falar qualquer coisa devido à euforia que tomava conta de si
naquele momento.
— Ela
sabe quem eu sou — o menino praticamente babava olhando pra cima, sequer
prestando atenção na rua. — A Lisia gostou da minha primeira apresentação.
— É
uma boa ideia então você parar de sonhar acordado e já definir o seu cronograma
de preparação para o contest — Sapphire alertou. — Escolha qual membro do seu
time vai participar e comece os ensaios o quanto antes.
— Eu
sei, eu sei. Já estou com algumas ideias em mente. Amanhã cedo eu vou começar a
trabalhar nelas.
Quando chegaram à entrada da área da feira Sapphire e Ruby ainda conversavam
distraídos, quando a menina esbarrou seu ombro em um garoto que vinha na
direção oposta. Seu olhar cansado e enfurecido o fazia parecer mais
intimidador, fazendo os três ficarem em estado defensivo.
—
Presta atenção por onde anda! — disse com a voz áspera, saindo logo em seguida
carregando as sacolas com as compras que havia feito.
— O
que foi isso? — Miriam indagou em descrença. — Aguentem aí, vocês dois. Eu vou
trocar uma ideia com aquele idiota.
— Não
precisa — Sapphire segurou firme o ombro da amiga, evitando que ela fosse tirar
satisfação com o garoto. — Você tem andado muito tensa ultimamente. Extravasar
dessa forma só vai te fazer mal. Vamos aproveitar o que tem de bom na cidade,
ok?
— Ok,
certo — disse a mais velha, enfim se acalmando. — Mas da próxima vez nem tente
me impedir. Eu não gosto de gente que acha que pode fazer esse tipo de
grosseria sem motivo.
Enquanto
seus dois amigos se dirigiam para dentro da feira, Sapphire ficou observando o
garoto se distanciando, até que desaparecesse atrás das outras pessoas que
vinham para o mesmo local que ela visitaria naquele momento.
A
menina não se prolongou muito. Deixou a sua insatisfação reprimida de lado e
decidiu que seria mais proveitoso seguir o que ela mesma havia sugerido a
Miriam minutos atrás.
Em
poucas horas o grupo estava abastecido com os itens necessários para seguir
viagem. Os três, satisfeitos com o dinheiro economizado, rumaram de volta para
o Centro Pokémon para guardar os itens adquiridos. Durante as horas que se
passaram no período da tarde Sapphire e Ruby aproveitaram um pouco da praia da
cidade, mas Miriam permaneceu no Centro Pokémon relaxando.
Ao
final da tarde a menina resolveu seguir para o evento da Batalha da Fronteira
do qual Ethan havia lhe contado mais cedo. Pegou informações com a recepcionista do
Centro Pokémon para saber o local e para lá seguiu.
— Não queria estar indo até lá, mas preciso
saber se as informações que tenho do torneio ainda estão atualizadas —
pensou enquanto caminhava pelas ruas estreitas da cidade.
Quando
chegou ao local a cidade já começava a ser tingida de tons alaranjados. Alguns
postes começavam a se acender para a chegada da noite. O prédio onde
aconteceria o encontro dos participantes era simples, algo que lembrava um
salão de festas. A garota passou pela porta automática e se surpreendeu ao ver
a quantidade de gente que estava lá, desde desafiantes até pessoas que
trabalhavam na organização da competição.
Pessoas
conversavam por todos os lados. A interação entre os treinadores desafiantes
era constante uma vez que o modelo da Batalha da Fronteira não realizava
batalhas entre eles, o que diminuía a ocorrência de rivalidades mais
acaloradas.
Miriam viu Ethan conversando com outra pessoa ao longe, mas preferiu caminhar para
outro lado. Não estava com muita vontade de socializar com outras pessoas, só
queria encontrar um lugar onde pudesse buscar informações sobre o torneio e
voltar para o seu quarto reservado no Centro Pokémon.
A
menina continuou caminhando pelos corredores até acessar uma área que não
estava movimentada. Só havia duas pessoas conversando, e quando ela percebeu quem
eram seu corpo paralisou.
— O
que foi? Quer falar algo com a gente? — a primeira perguntou, uma menina loira
com cabelos presos em dois coques e trajando vestes de luta.
—
Greta, perdão por interromper nosso assunto dessa forma, mas ela é uma
conhecida minha, e preciso falar com ela — disse a segunda, que tinha um ar
mais sereno e se vestia com roupas muito mais elegantes. — Podemos continuar
nossa conversa mais tarde?
— Ah,
claro. Sem problemas.
Quando
a garota loira se afastou das duas e o corredor ficou vazio, a mulher ajeitou
seu cabelo lilás para trás da orelha, e falou em um tom cuidadoso para que
ninguém mais ouvisse.
—
Venha comigo.
Miriam finalmente começou a se mover. Não porque havia se acalmado, mas sim porque era
impossível recusar qualquer ordem daquela mulher. As duas entraram em uma sala
particular, e assim que a porta foi fechada a mulher girou a chave na fechadura,
deixando as duas trancadas.
— Pela
sua cara de espanto você não veio até aqui para me encontrar — disse enquanto
se servia de uma xícara de café.
—
Senhorita Anabel, eu não imaginava que você estaria aqui hoje.
— Não
recebo notícias de você tem um bom tempo. Você também não respondeu minhas
mensagens e não enviou nenhum relatório sobre as investigações.
— Não
foi possível.
—
Porque você realmente estava incomunicável, ou porque você se deixou levar pela
vida de aventureira?
Anabel
se sentou no sofá de couro preto ao centro da sala, gesticulando logo em
seguida para que Miriam fizesse o mesmo. A menina se sentou com as mãos
pressionando os próprios joelhos numa tentativa de esconder que suas pernas
estavam trêmulas.
— Não
precisa ficar tensa, eu não tenho a menor intenção de te aplicar uma punição ou
algo do tipo — Anabel fez uma pausa e tomou um gole do seu café. — Entendo que
uma jovem na sua idade tem ambições como treinadora, mas foi você quem escolheu
ser minha estagiária. E nós precisamos da sua ajuda.
— Eu
sei, eu cometi um erro ao te deixar sem informações por tanto tempo.
— Eu
soube o que aconteceu com o barco do Briney na rota para Dewford. E eu soube
que você estava lá pelas descrições que recebi dos passageiros. O importante é
que você está bem, mas deveria ter me relatado esse incidente.
—
Fiquei com medo de que você me tirasse dessa missão de campo se soubesse que eu
tinha me envolvido em alguma situação de risco. Eu sei que foi
irresponsabilidade minha não ter te contado o que aconteceu, mas eu queria
muito seguir viajando.
— Isso vai muito além de negligenciar o seu trabalho. Ao não me relatar o incidente, você atrasou nosso rastreamento dos criminosos, e isso deixa todos em risco, incluindo seus novos amigos. Eu não vou tirar você da
missão, mas preciso que você colabore melhor daqui em diante. Temos que ter o
máximo de informação possível se quisermos antecipar os movimentos da Team Aqua e da
Team Magma.
Anabel
se levantou do sofá e caminhou em volta da sala por um breve instante. Parou de
costas para a menina por alguns segundos, cruzou os braços e se virou de volta
para sua subordinada.
— Você
realmente se apegou aos seus dois companheiros de viagem?
— Sim.
— E
por quanto tempo você pretende se esconder deles atrás dessa identidade dupla?
A
menina ficou em silêncio.
— Uma
hora eles vão ter que saber a verdade — Anabel respirou fundo. — E cedo ou
tarde você terá que escolher entre o seu dever e a sua vida pessoal, Miriam.