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Notas do Autor - Capítulo 20


E ainda deu tempo de postar um último capítulo nesse ano de 2019! kkkkkkkkkkk

Eu queria ter terminado a Omega Saga esse ano, depois as coisas foram se enrolando e passei a almejar pelo menos concluir o arco de Slateport até esse período acabar, mas não deu. Ficou faltando um capítulo pra alcançar a segunda meta, mas pelo menos podemos terminar mais esse ano com a certeza de que a fic caminha bem apesar dos imprevistos, e vamos com foco total para fechar essa primeira temporada em 2020, quem sabe ainda no primeiro semestre.

Este vigésimo capítulo (olha só, consegui chegar a 20 de novo!) trouxe uma reviravolta que até mesmo eu fui pego de surpresa. Vou confessar a vocês uma coisa. Não era pra revelação da identidade da Miriam pra Ruby e Sapphire acontecer na Omega Sala. Ela a princípio aconteceria logo no começo da Alpha Saga, daria um burburinho tremendo que ia rachar o trio e os separar por um longo tempo. Mas eu simplesmente não consegui encontrar uma maneira de separá-los. Acho que os três se destacam muito bem juntos, cada um extrai o melhor dos outros dois. É uma química que mesmo vocês leitores têm percebido e comentado comigo lá no Discord. Passei a perceber o quanto o Ruby precisa da Sapphire e da Miriam, o quanto a Sapphire precisa do Ruby e da Miriam, e o quanto a Miriam precisa do Ruby e da Sapphire. Então meu plano de fazê-los brigar nessa altura da história acabou indo por água abaixo kkkkkkkkkkk Óbvio que eles deverão enfrentar desavenças futuramente, mas acho que o momento não era esse. Logo, adiantei um pouco mais essa questão da Miriam. Pelo menos já amarra essa ponta solta logo. Então já vamos avançar com isso e resolver essa história mal contada de uma vez por todas.

Esse capítulo foi uma contribuição de Hoenn para o evento da equipe chamada Ethan Week — pelo próprio nome vocês já percebem que foi ideia daquele louco do Dento. Mas se por causa dele consegui postar mais um capítulo, então valeu a pena kkkkkkkk Fora que o Ethan combina bem com as loucuras que acontecem em AEH, apesar de que dessa vez ele quase jogou três adolescentes na fila da forca... Tomei bastante cuidado para não fugir da essência do personagem. Claro que teve mudanças na personalidade por ele ter envelhecido um pouco, mas sempre consultei o Dento para ter certeza de que as características mais marcantes estavam sendo mantidas. E ele disse que estava tudo certo, não apontou nenhum erro. Espero que pra vocês tenha ficado assim também.

No mais eu só posso desejar a todos um ótimo fim de ano. Que a gente consiga em 2020 fechar essa bendita primeira temporada, e que Ruby, Sapphire e Miriam continuem amadurecendo, assim como todos nós.

Valeu, galera! Agradeço muito a quem tem se mantido firme até aqui.

A gente se fala! õ/


Capítulo 20

Pânico no museu!


Ruby e Sapphire voltavam de uma manhã de treinos na Rota 110, pois o garoto se preparava para seu próximo contest. Miriam não havia acompanhado a dupla. Preferiu ficar no Centro Pokémon dizendo que havia acordado se sentindo indisposta.

Com a competição se aproximando o menino ficava mais nervoso. Seu humor estava bastante instável, pois agora sentia cada vez mais o peso de ser visto como um novato promissor após sua atuação em Rustboro. Repetir o resultado anterior, porém, não seria o suficiente. Era preciso vencer desta vez para manter viva a chance de conseguir uma vaga no Grande Festival.

— Vai ser um contest focado em batalhas dessa vez, não é? — Sapphire tentava acalmar o companheiro ajudando-o a pensar na melhor estratégia. — Por que não tenta usar o Treecko agora? Ele parece te obedecer quando é algo mais voltado para combates.

— O problema é como eu vou convencê-lo a batalhar usando os golpes de forma artística. Ele é um metido a brutamontes. Não sei se vai topar a ideia.

— Tudo depende de como você vai lidar com ele. Você tem que dar espaço pra ele se sentir ouvido também. Tenho certeza que se um respeitar o outro as coisas vão caminhar pra frente. A minha relação com o Torchic melhorou de uns tempos pra cá, apesar de ainda ter que corrigir algumas coisas. E ele parece ser mais cabeça dura do que o Treecko.

— Não sei, Sapphire. Eu tenho medo de usá-lo em um contest e passar vergonha por ele não querer me obedecer. Mas a Skitty não se daria bem em uma competição de batalhas como essa, e a Clamperl ainda não tive tempo de ver quais os atributos que ela tem.

Os dois começaram a caminhar de volta para Slateport. Já se aproximava do meio-dia quando chegaram ao do Centro Pokémon e foram surpreendidos por Ethan saindo às pressas pela porta da frente.

— Aonde você vai? — Sapphire perguntou, fazendo o rapaz parar de imediato.

— Parece que aconteceu alguma coisa no Museu Oceânico. Eu vou lá olhar. Se quiserem ir depois a gente se encontra, eu vou adiantar aqui, fui!

Os dois ficaram observando o garoto sumir de vista ao dobrar a esquina. Ruby já estava estranhando a situação, e seu descontentamento ficou evidente quando mais uma vez o ímpeto de sua amiga o deixou com um mau pressentimento.

— Eu quero ir lá.

— Alô, Terra para Sapphire! Eu não sei se ficou muito claro para você, mas o Ethan acabou de dizer que aconteceu um problema lá. O que é que você quer fazer indo até o local? Pode ser perigoso.

— Ethan é um treinador experiente e já teve alguns feitos incríveis quando viajava como a gente. Não sei se você sabe, mas ele esteve envolvido em vários incidentes com a Team Rocket em Johto.

— E você acha que vai me convencer a ir até lá agora que disse que ele é um ímã de catástrofe?

Da porta do Centro Pokémon saiu Miriam, visivelmente desanimada e aparentando estar sem energia. Provavelmente não havia dormido bem aquela noite. Com olheiras profundas e o cabelo levemente desarrumado a mais velha encarou os outros dois com seu semblante de má vontade.

— O que vocês dois estão discutindo?

— Miriam, eu sei que dentro dessa sua cabeça existe um pouco de juízo! — esbravejava Ruby. — Poderia convencer Sapphire de que é uma má ideia irmos até um lugar que o Ethan claramente disse que está com algum problema acontecendo?

— Onde é?

— O Museu Oceânico — Sapphire respondeu.

— Vamos lá ver o que houve, eu não aguento mais ficar aqui sem nada pra fazer. Acho que pegar um pouco de ar e ver alguma novidade vai me ajudar a ficar melhor.

As meninas saíram andando na frente, deixando apenas Ruby observando perplexo as duas se afastarem.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — gritou. — Eu tenho cara de idiota?

Chegando ao local se depararam com fitas da polícia para conter a aproximação de pessoas curiosas. Ao verem as autoridades o trio percebeu que a situação era bem mais séria do que imaginavam. Poderiam estar lidando com criminosos. Não só isso, mas todo o cenário ao redor os levava a crer que se tratava de uma crise envolvendo até mesmo reféns.

Estavam tentando olhar para o interior do museu, mas as cortinas haviam sido fechadas de forma a impossibilitar a visão do prédio. Perceberam então um chamado de Ethan, que estava na esquina escondido atrás da parede do prédio.

— Aqui, rápido! — chamou o rapaz.

Os três se aproximaram dele, que os levou para fora do campo de visão das pessoas que se aglomeravam na fachada do museu. Se certificando de que não estavam sendo vistos ou ouvidos, Ethan começou a falar.

— Parece que tem alguns baderneiros arrumando confusão lá dentro. O que acham de invadirmos o local e botar pra quebrar?

— Ficou louco? — Ruby repreendeu. — E se forem perigosos?

— Não esquenta! Eu já lidei com criminosos de verdade quando tinha a idade de vocês. Um bando de arruaceiros vai ser moleza. Vamos!

Quando que Ethan pulou o muro Sapphire foi atrás dele animada. Miriam sequer sabia se tinha a intenção de entrar na confusão, apenas pulou atrás dos dois por impulso. Ruby ficou aflito, sem saber o que fazer.

— Droga, agora se eu for visto sozinho aqui eu vou parecer suspeito! O que eu faço? — disse esfregando a cabeça com as duas mãos, até que acabou pulando junto. — Droga, esses três vão me pagar por isso!

Com muita dificuldade o garoto conseguiu dar um pulo que possibilitou pelo menos que ele colocasse as mãos em cima do muro. Fazendo um esforço tremendo finalmente colocou seu corpo para cima, em seguida pulando para o outro lado e por muito pouco não torcendo o tornozelo ao cair de mau jeito.

Com rapidez Sapphire o puxou para detrás de uma parede, onde qualquer ângulo de visão de quem estava na rua não alcançava. Os três se reuniram em torno de Ethan, que começou a passar as orientações.

— Vamos entrar por aqui, a barra parece que tá limpa.

O cômodo por onde entraram era uma sala de almoxarifado que naquele momento estava vazia. Aquela região do prédio parecia estar tranquila para que andassem de um setor para o outro até chegarem perto da zona de ação. Quando se aproximaram da porta que dava para o saguão principal do museu foi que conseguiram ver a situação por uma fresta.

Ruby, Sapphire e Miriam, principalmente, tiveram um choque ao verem inúmeras pessoas trajadas com uniformes que carregavam o símbolo da Team Aqua, responsável por uma desagradável situação que vivenciaram a caminho de Dewford poucas semanas atrás. Os três estavam trêmulos, e Ethan logo percebeu. Com sua experiência, tentou acalmá-los.

— Não precisam se preocupar. Essas organizações criminosas seguem um padrão muito comum. As roupas deles indicam que são agentes de baixo escalão. Vai ser moleza!

Ao tentar abrir a porta o rapaz sentiu seu braço ser segurado com força, levando um puxão de volta. Miriam o encarava com uma expressão severa.

— Isso não é brincadeira, Ethan. Tem pessoas sendo mantidas como reféns ali.

— Não por muito tempo. Vamos impedir esses bandidinhos de quinta categoria e libertar o museu e os reféns.

— Esses bandidinhos de quinta categoria a quem você se refere quase mataram a gente há um mês! Eles não vão dar nenhuma brecha pra gente fazer o que bem entender.

A discussão se tornou mais alta, e os quatro foram surpreendidos pela aparição de dois membros da facção com Mightyenas em posição de ataque. Os caninos exagerados dos Pokémons aliados aos seus rosnados intimidadores foram mais que o suficiente para que os invasores se rendessem sem oferecer resistência alguma.

Todos eles foram levados para o saguão principal, onde se encontravam os demais reféns. Agora eles estavam sob os olhares de pelo menos doze guardas inimigos que fariam o que fosse necessário para conter qualquer tentativa de resistência por parte dos civis que eram mantidos presos dentro do prédio.

— Achei esses quatro tentando escapar — disse um dos membros da Team Aqua enquanto os rendia em um canto.

— Bom trabalho, envie pelo menos três agentes para vasculharem o restante do prédio — respondeu outro dos criminosos, que estava do outro lado do salão. — Pode ser que haja mais gente escondida. Não podemos deixá-los ir pra rua, ou isso pode acabar atrapalhando nossos planos.

O tempo passava devagar, a tensão em cada nervo dos três mais novos era asfixiante. Ethan, no entanto, parecia bem tranquilo. O rapaz ajoelhou-se de costas para o trio e sussurrou a ideia que lhes dava a certeza de que o que viria a seguir era nada menos que caos e destruição.

— Dá pra fazer tudo sem machucar ninguém, mas pra isso vou precisar da ajuda de vocês — disse o treinador. — Venham comigo pra me dar cobertura, mas quando estiverem sozinhos em situações como essa não façam sob hipótese alguma o que eu estou prestes a fazer agora.

Após aguardar o momento oportuno onde todos os guardas prestavam atenção em lugares diferentes o rapaz sacou uma Pokéball do bolso com rapidez e liberou um Pokémon com aproximadamente a mesma altura que ele. Seu corpo era dividido entre uma parte amarela do lado da barriga e uma coloração azul-esverdeada do lado das costas. Além da estatura, sua própria pose era imponente, mais ainda quando a criatura acendia vigorosas chamas na região de sua nuca.

Os membros da Team Aqua voltaram seus olhares para a origem da comoção. Ethan sorria confiante, pois agora que havia encontrado uma brecha para colocar seu melhor parceiro em batalha as coisas se tornariam bem menos complicadas. Miriam, Sapphire e Ruby, no entanto, continuavam temerosos.

— Tinha treinadores aqui esse tempo todo! Ninguém revistou esses aí — gritou um dos criminosos. — Impeçam eles a qualquer custo!

— Eu já dei a minha cartada, agora é a vez de vocês — disse Ethan para os três. — Se quiserem sair daqui sãos e salvos terão que lutar. E os outros reféns não são treinadores para se defenderem. Não é legal deixar todo mundo aqui sendo detido por esses patifes. Se vocês estão comigo, ótimo. Se não é melhor se afastarem, eu posso acabar pegando um pouco pesado e não é incomum sobrar pra quem estiver por perto.

Sapphire foi a primeira dos três mais novos a tomar a iniciativa e sacar sua Pokéball, liberando sua Shroomish para o confronto.

— Não tem jeito. Ou a gente entra na briga ou vamos ficar pra sempre dependendo dos outros — a menina então se virou para Miriam. — Aproveita que a gente não tá em um barco dessa vez!

Miriam teve sua mente invadida pelas memórias daquela noite em alto-mar. O medo e a impotência ainda estavam muito vivos em sua memória. “Uma desafiante da Batalha da Fronteira não pode mostrar fraqueza, um membro da Polícia Internacional muito menos”, pensou consigo mesma. Olhava ao redor, vendo a expressão de medo e desamparo estampada em cada refém, e aos poucos seu sangue começava a ferver. Era seu dever proteger aquelas pessoas, era sua profissão. Era pra isso que estava em Hoenn esse tempo todo.

Uma Nidoqueen apareceu no saguão, que começava a se transformar em um campo de batalha. Por sorte nenhum artefato do museu estava naquela área, que era apenas a entrada do prédio. A criatura se colocou à frente de Typhlosion e Shroomish, dando a entender que estaria assumindo uma posição de comando.

— Não precisa dizer mais nada. Essa é uma batalha que eu vou levar pro lado pessoal.

Ruby era quem ainda estava com receio de entrar em batalha. Conhecia algumas nuances por conta de ter assistido muitas batalhas do seu pai e aprendido bastante com ele, mas não mudava o fato de que era um coordenador, e seu foco principal não era aquele. Mas não tinha como voltar atrás. Ele se sentia mais seguro ao ver suas companheiras de viagem com Pokémons mais preparados para lutar, acompanhadas de um treinador veterano. De forma tímida, e até mesmo receosa, sacou sua Pokéball. Olhou para o dispositivo sendo chacoalhado por sua mão trêmula, mas decidiu que tinha que ir em frente.

— Não achei que fosse fazer isso tão cedo...

De sua Pokéball foi revelado o Treecko, Pokémon inicial e membro mais problemático da equipe do garoto. Por outro lado, era o que aparentava ser o mais forte. O lagarto analisou a situação e presumiu que era a chance de ouro que ele tanto aguardava.

— Hora de chutar umas bundas! — disse Ethan. — Que bom que resolveram tomar uma iniciativa nessa briga.

— Não é como se a gente tivesse alguma escolha — Ruby retrucou. — Quero que saiba que se nós não sobrevivermos a essa missão suicida eu vou atormentar você pela eternidade, onde quer que sua alma vá.

Os capangas da Team Aqua colocaram em batalha Poochyenas, Mightyenas, Zubats, Golbats e um ou outro Octillery. Eram pelo menos dez adversários para os quatro lidarem. Porém, a desvantagem numérica não parecia ser algo que deixasse Ethan apreensivo. Pelo contrário, ele parecia estar gostando.

— Vamos fazer o seguinte — disse Ethan. — Eu e Miriam temos Pokémons de nível mais alto, podemos cuidar dos caras que estão usando Octillery, Golbat e Mightyena. Sapphire e Ruby, vocês vão contra os que estão com Poochyena e Zubat, porque eles parecem estar em um nível menor.

— Tá dizendo que eu não tenho capacidade de batalhar contra os de alto nível? — Sapphire retrucou.

— Você até tem, por já ter duas insígnias. Mas o Ruby não parece ter treinado muito para batalhas, pois o foco dele são os contests. Você vai dar cobertura pra ele. Não se contenham, isso é uma batalha de risco real. Se soltem para poder extrair o máximo de poder dos seus parceiros. Se precisarem de ajuda Typhlosion e Nidoqueen vão interceder.

Não era como uma batalha comum ou um desafio de ginásio. Os Aquas estavam dispostos a limpar a área de problemas o mais rápido possível. Por isso se tornavam impulsivos na hora de atacar.

— Vocês não vão ficar de conversa fiada! Octillery, use o Octazooka!

Quando o adversário tomou a iniciativa do ataque Ethan agiu com rapidez. Seu raciocínio fazia parecer que ele tinha muito tempo para executar sua defesa, algo que os outros três ainda não tinham.

— Tai, Desvie! — o disparo feito pelo Pokémon aquático então passou reto enquanto o Typhlosion inclinou seu tronco para permitir que o ataque passasse reto e saísse por uma janela, estilhaçando o vidro. — Cubra o campo de visão deles com Smokescreen!

A nuvem preta que se formou entre os dois lados da zona de conflito era densa, impedindo qualquer um de ter visão sobre seu inimigo. Os criminosos se mantinham em alerta, aguardando qualquer ataque que viesse do outro lado. Ethan já tinha memorizado o posicionamento de cada um dos oponentes, assim como seu Typhlosion. Os dois já sabiam onde atacar.

— Vocês três, troquem suas posições! Se alguém do outro lado memorizou onde nós estávamos antes de lançarmos a fumaça pode ser que vocês sejam alvo de ataques furtivos. Essa técnica é uma faca de dois gumes, ela tira a visão de todos. Tai, já sabe onde eles estão, certo? Ataque com Fire Pledge!

Enquanto o bombardeio de chamas atingia os Pokémons adversários, e algumas vezes até seus respectivos treinadores, Miriam tinha a brecha que precisava para entrar de vez na briga. Queria sua revanche mais que qualquer outra coisa. Era a sua vez de se vingar pela terrível noite que passou por causa deles. Era hora de dar o troco.

Ela e sua Nidoqueen ouviram um bater de asas grandes vindo do outro lado da fumaça. Na mesma hora focaram aquela direção.

— É ali mesmo. Atravesse a fumaça e derrube esse aí com Body Slam!

O Golbat que fazia todo aquele barulho não teve tempo de reagir. A Nidoqueen o acertou com todo o seu peso, mandando o morcego para cima do seu treinador, que caiu para trás junto com o impacto. A fumaça então começou a se dissipar. Somente Typhlosion já tinha tirado de combate três adversários, Nidoqueen deu conta do quarto. Faltavam seis, e agora Ruby e Sapphire entravam na briga com Treecko e Shroomish.

Do lado de fora já começava a se ouvir tremores e quebradeira. Os membros da Team Aqua que guardavam a entrada do museu com Mightyenas e Crawdaunts acabaram tendo a atenção dispersa pelo barulho inesperado vindo do interior do museu. Eles então foram acertados por esferas de energia projetadas contra si, dando passagem a uma mulher de cabelos roxos e um Alakazam que agora caminhavam em direção à entrada.

— Seja lá quem causou toda essa comoção lá dentro criou a distração perfeita. Nos deu a oportunidade de abrir caminho sem colocar os civis em risco — disse a mulher ao andar para a porta principal acompanhada de alguns policiais.

— Senhorita Anabel, qual procedimento adotar agora?

— A proteção dos reféns é a prioridade, extraiam todos! Mandem equipes para os outros lados do quarteirão para reforçar o perímetro! Não deixem ninguém escapar.

Ao entrar no saguão do museu, Anabel se deparou com o caos que havia dominado o local. Uma batalha múltipla ocorria lá dentro, complicando qualquer tentativa da mulher assimilar o que estava exatamente acontecendo e como as coisas chegaram àquele ponto. Foi surpreendida então ao ver Miriam envolvida no conflito, lutando contra os criminosos.

— Miriam? O que ela está fazendo?

Anabel então percebeu que um Golbat se aproximava para pegar a garota e a Nidoqueen pelas costas. As duas estavam distraídas com o oponente que enfrentavam no momento. A mulher agiu rápido para evitar o golpe furtivo que poderia colocar sua subordinada em perigo.

Psychic! — ordenou para seu Alakazam, que prontamente executou o ataque.

Ao sentir o ataque disparado em suas costas, Miriam se virou para ver o que havia acontecido. Seu espanto foi visível ao se deparar com Anabel entrando no meio da confusão. Antes que pudesse falar qualquer coisa a mulher já tratou de se impor.

— Depois conversamos sobre isso. Diga para os seus amigos me ajudarem a dar cobertura até que os outros oficiais extraiam os reféns.

— Certo.

Conforme os reféns eram removidos do meio daquele campo de batalha os integrantes da Team Aqua começavam a perceber que não poderiam segurar aquele contra-ataque por muito tempo.

— Iniciar o plano de retirada! — comandou um dos líderes da equipe após receber alguma informação por escuta.

O mesmo golpe que Ethan usara no começo do confronto, o Smokescreen, agora era usado em larga escala por cada Octillery que a equipe possuía. A visibilidade dos policiais e dos treinadores que os enfrentavam foi prejudicada, e mesmo abafado pela fumaça que tomava o museu era possível ouvir a gritaria do lado de fora.

Quando a fumaça se dissipou, alguns minutos depois, todos perceberam que já não havia a presença de nenhum membro da Team Aqua no prédio. Alguns dos reféns ainda estavam lá, porém já acompanhados por oficiais da polícia.

Anabel observava o salão quase vazio com uma expressão séria, mas não parecia estar alterada. Ela era conhecida pela sua serenidade, então não estaria externando sua frustração mesmo com a falha em deter os criminosos. Pelo menos a sua prioridade, que era garantir a segurança e libertação dos reféns, havia sido alcançada.

Do lado de fora a imprensa marcava presença relatando o ocorrido. O prefeito da cidade estava concedendo entrevistas, pois havia aparecido durante a crise para tentar negociar com a organização criminosa, mas não havia obtido sucesso.

O trio estava junto de Ethan, que vibrava com aquela experiência que não tinha há tempos. Enfrentar bandidos parecia ser algo que o deixava animado. Ruby e Sapphire estavam um pouco nervosos, mas também eufóricos com aquela adrenalina. O garoto havia conseguido comandar seu Treecko e abater um Pokémon dos inimigos, coisa que ele jamais imaginou que conseguiria fazer. Sapphire derrubou pelo menos outros três.

Miriam era a única que não sorria com a situação. Sabia que lidar com criminosos não era o conto de fadas que seus amigos faziam parecer. A verdade é que ela julgava que tiveram a sorte ao lado deles o tempo todo naquele ato de imprudência, e para piorar a situação se aproximava a última pessoa que ela gostaria de ver naquele momento.

Anabel parou logo a sua frente, o que chamou a atenção dos três treinadores que estavam com a garota naquela hora. Ela tinha sua expressão de tranquilidade habitual, mas Miriam a conhecia há tempos, sabia que por debaixo daquela máscara de serenidade havia um sentimento de indignação. Podia notar isso pelos braços cruzados de sua chefe. Anabel só fazia isso quando algo não estava dentro do que ela julgava correto.

— Por que não me reportou que isso estava acontecendo? — perguntou a líder da equipe policial, o que causou estranheza em Ruby e Sapphire.

— Digamos que foi um “convite de última hora” — a garota respondeu, olhando de relance para Ethan com uma expressão de desagrado. O rapaz apenas sorria sem graça.

— O que você fez foi muito sério. Colocou seus amigos e também os reféns em risco. Pensei que já tínhamos conversado sobre as chances disso acontecer.

Sapphire de imediato tomou a frente para intervir.

— Eu não sei qual a relação entre vocês, muito menos por que você está responsabilizando só a Miriam pelo que aconteceu. Mas cada um de nós veio por vontade própria.

— Bem, eu... — Ruby já se preparava para questionar quando foi acertado no braço por um soco de Sapphire. — AU!

Anabel deu um suspiro longo. Não podia mais permitir que aquela situação tivesse continuidade.

— Bem, eu vou me apresentar para vocês, exceto os que já me conhecem, como Ethan e Miriam — a mulher então iniciou sua introdução. — Meu nome é Anabel. Sou coordenadora de operações da Polícia Internacional. Também sou treinadora, atuo como um dos Cérebros da Fronteira.

Ruby e Sapphire mantinham a atenção a cada palavra que Anabel proferia. Perceberam que estavam lidando com alguém importante. A mulher então continuou sua explicação, que viria com uma informação inesperada.

— Aproveitei que a Batalha da Fronteira seria realizada aqui em Hoenn esse ano para iniciar uma investigação em torno das atividades suspeitas da Team Aqua e da Team Magma, outra organização similar que atua aqui na região. A Miriam é uma das minhas subordinadas. Ela realiza um trabalho de investigação em campo, coletando informações sobre o paradeiro e as atividades desses criminosos. Para manter a segurança ela tem atuado sob disfarce, por recomendação minha, fingindo ser uma treinadora que veio para Hoenn desafiar a Batalha da Fronteira. Dessa forma ela poderia entrar livremente no local onde eu aceito meus desafiantes para relatar tudo que fosse necessário. Ela é uma agente nova que recrutei esse ano. Agora eu tive que desfazer o disfarce que ela estava usando, a partir do momento em que vocês se envolveram com ela. Não posso permitir que treinadores novatos tenham suas vidas colocadas em risco por conta do nosso trabalho. Nós pedimos sinceras desculpas.

Os dois não podiam acreditar no que acabaram de ouvir. Miriam não tinha onde enfiar a cara, só tentava olhar para qualquer lugar que não fossem os olhos dos seus companheiros de viagem.

— Isso é verdade? — Sapphire perguntou para sua amiga, ainda chocada.

— Sim, é verdade — Miriam respondeu, ainda desviando o olhar. Sua voz começava a ficar embargada. — Eu precisava manter isso em segredo para que vocês não se envolvessem demais, e mesmo assim eu não fui capaz de impedir vocês de arriscarem suas vidas hoje. Para falar a verdade eu nem tentei. Eu não imaginava que era a Team Aqua envolvida nesse problema de hoje, mas mesmo depois de ter descoberto eu não fiz nada para manter vocês seguros.

Os dois permaneceram em silêncio, bem como Anabel e Ethan. Miriam continuou.

— Eu vou entender vocês se começarem a me odiar agora. Mas eu estava cumprindo ordens. Eu não sou a pessoa que vocês sempre acharam que eu era. Depois de tudo o que fizeram por mim eu continuei a mentir pra vocês.

— Vamos? — Anabel já chamava a garota para irem embora, quando Sapphire chamou a atenção de ambas.

— Esperem!

A garota se colocou à frente de Miriam. Ruby caminhou para o lado dela, um pouco desconfiado por tudo o que acabara de ouvir.

— Eu estou sentindo muita raiva de você agora.

As palavras de Sapphire acertaram com um peso enorme a consciência de Miriam. Ela já esperava por aquilo, mas mesmo assim não tinha força suficiente para se defender de algo daquele tipo. Mas sua companheira de viagem logo tratou de explicar tudo o que sentia.

— Eu estou sim com raiva de você ter escondido sua identidade verdadeira. Mas eu sei que era o seu dever. Então não é esse o principal motivo.

— Então qual o motivo da raiva? — Miriam questionou curiosa.

— Eu estou com raiva de você ter dito que a pessoa que esteve com a gente esse tempo todo não era você. Aquela era você de verdade. Você só parece ter se convencido do contrário. Não interessa se você é treinadora, policial ou o que quer que seja, apenas não negue quem você é de verdade!

Lágrimas tímidas tomaram o rosto da garota. Toda a sua pose de força como a menina de Vermilion que se fazia de durona por querer ser igual ao Tenente Surge desmoronava diante de si. Não sabia a razão daquela atitude de Sapphire, endossada por Ruby. Não merecia ser perdoada pelos dois. A frase seguinte de sua amiga foi a que mais a surpreendeu. Nem mesmo Anabel esperava por aquilo.

— Vamos? — Sapphire perguntou, imitando a policial de propósito.

— Infelizmente ela não vai poder seguir viagem com vocês — disse Anabel.  — É muito arriscado.

— Se riscos fossem o suficiente para nos impedir de alguma coisa, eu e o Ruby sequer teríamos saído de casa. A gente sabe que não vive em nenhuma utopia. Somos responsáveis pelas nossas decisões.

— Ela não é culpada por nos envolvermos nisso tudo — Ruby começou a falar. — E por isso ela vai seguir com a gente. Nem a Sapphire e nem eu estamos contentes com essa situação. Eu me sinto enganado, para falar a verdade. Mas antes de qualquer ação a gente precisa colocar as verdades na mesa, e só aí tiramos uma conclusão.

Anabel respirou fundo ao ver toda aquela cena. Estava diante de uma situação que não era comum para ela. Ter suas decisões contestadas era praticamente impossível, uma vez que todos a julgavam como a mais inteligente. Ela então olhou para Miriam, aguardando algum posicionamento da menina, que não demorou muito a acontecer.

— Se eles estão dispostos a me dar a chance de me explicar, então eu quero atendê-los. Quero continuar desafiando a Batalha da Fronteira, quero ir até o fim com essa jornada.

— E como ficaria a sua investigação? Seria uma oportunidade única de alavancar a sua carreira.

— Eu sei que isso era muito importante, mas agora que parei para analisar melhor eu preciso dar pesos diferentes às coisas que quero realizar pra minha vida. Anabel, eu agradeço muito por ter me aceitado na sua equipe, mas eu estou pedindo dispensa do meu estágio. Eu decidi que vou me dedicar exclusivamente à carreira de treinadora.

A mulher fechou os olhos por um instante. A apreensão era enorme por parte dos três jovens viajantes. A decisão final da chefe foi dada sem enrolações.

— Bom, acho que não tenho como te impedir. Uma pena, você é muito talentosa, mas deve seguir os seus sonhos. Se é ser uma treinadora o que vai te fazer feliz, então eu aceito seu pedido de dispensa. Mas me prometa uma coisa.

— Diga.

— Quando for a vez de você me enfrentar, quero que dê tudo que tem. Use esse tempo para evoluir o máximo que puder, porque quando esse dia chegar eu vou batalhar com mais empenho do que jamais batalhei com outro desafiante.

Com um último aperto de mãos Anabel e Miriam selaram a promessa de que dariam o melhor de si dali em diante, para que tudo terminasse com uma batalha memorável. A garota agora renascia em sua jornada em Hoenn com a melhor experiência que ela poderia ter, que era a de aproveitar aquela longa viagem sendo ela mesma. Não havia mais nada a esconder. Sua consciência há muito tempo não ficava tão leve.

FIM DO CAPÍTULO 20

  


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