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Roxanne


Roxanne é a líder do ginásio da cidade de Rustboro, combinando sua função com o cargo de professora na Academia Pokémon da cidade, que é responsável por preparar aspirantes a treinadores para o futuro. É uma mulher jovem, porém possui grande maturidade e uma atitude séria para lidar com diversas situações, chegando algumas vezes a passar uma impressão de severidade. No entanto, é uma pessoa compreensiva e sente prazer em ajudar os treinadores mais jovens a descobrirem os caminhos para evoluir. Gosta de aplicar testes rígidos aos seus desafiantes, pois acredita que assim ela consegue extrair o verdadeiro potencial dos mesmos ao forçá-los a se adaptarem em situações de adversidade, sendo essa busca por resiliência o principal foco de seu ginásio. Se tratando de sua vida pessoal, é uma pessoa bastante reservada, evitando sempre que possível os holofotes apesar de sua fama como uma das líderes mais difíceis. Enfrentar o seu ginásio é literalmente ter que lidar com uma pedreira.

O método de seleção de desafiantes para o seu ginásio envolve a aplicação de uma prova teórica, onde os treinadores precisam mostrar que dominam os conhecimentos básicos da profissão. Do contrário, não são considerados aptos a enfrentá-la. Roxanne é uma treinadora que sempre prezou por conhecimento, tomando-o como uma característica fundamental para quem quer alcançar patamares maiores. Por isso sempre foi uma devoradora de livros. Possui um interesse por história, que combinou perfeitamente com o fato de ela utilizar Rock-type como especialidade.

Primeira aparição:

Capítulo 6 - O Bosque Petalburg

Especiais:

A Gym Leader's Life

Equipe:

 


Nomes da equipe:

Sten (Geodude): palavra que significa "pedra" em algumas línguas nórdicas.

Hans (Nosepass): referência a Hans Christian Ørsted, cientista dinamarquês que deu contribuições importantes no estudo do Electromagnetismo.


Líderes de Ginásio

Art by: Zeiphyr

Os líderes de ginásio são treinadores de alto nível selecionados para avaliar a capacidade dos treinadores que decidem desafiar a Liga Pokémon. Suas responsabilidades vão muito além de providenciar batalhas aos seus desafiantes como simples obstáculos para se chegar ao objetivo final. Eles também são conhecidos por transmitir conhecimentos e passar para os treinadores suas filosofias, objetivando torná-los mais preparados e maduros para enfrentar grandes desafios. Muitas vezes eles não recebem a importância que merecem, mas nem por isso deixam de realizar seu trabalho com a excelência esperada de alguém que ocupa este cargo.

Abaixo você pode conferir as fichas de cada líder de ginásio de Aventuras em Hoenn. Basta clicar no líder que você deseja para ser direcionado para sua página.




Notas do Autor - Capítulo 9


E assim encerramos uma etapa de 5 capítulos postados de forma rápida — quatro pertencentes ao plot principal e um especial. Agora daremos uma pequena parada por duas razões. A principal é que estou me encaminhando para o final da faculdade, e por conta disso acabei ficando sobrecarregado. A outra razão consiste em eu ganhar tempo para produzir outro volume de capítulos que possam ser lançados em sequência. Cheguei à conclusão de que Hoenn caminha melhor assim do que se eu ficar lançando um capítulo a cada década. Eu fico mais produtivo sabendo que tenho conteúdo pronto para postar por bastante tempo.

O capítulo 9 serviu para recolocar o trio nos eixos depois da batalha de ginásio, além de dar início ao processo de evolução do Ruby trazendo uma nova integrante para o time dele e fazendo-o dar seus primeiros passos na relação com o Jeff. Miriam também ganhou uma nova integrante no seu time, que era justamente a Mudkip que Birch deixou aos cuidados de Sapphire. E também aproveitei para introduzir o Wally na história. Eu queria muito trabalhar com ele, mas ainda não tinha encontrado uma brecha para colocá-lo. Lembram que nos primeiros capítulos foi mencionado um amigo de infância do Ruby que se mudou para Hoenn antes dele? Alguns leitores ficaram curiosos e me perguntaram, e aí está! É o próprio Wally!

Agora estamos nos aproximando do primeiro contest do Ruby. Faz muito tempo desde a última vez que escrevi um capítulo de contest, e sinceramente eu não sei bem como eu vou fazer este ainda. Mas vou dar tempo ao tempo, e aos poucos as coisas vão clareando.

Capítulo 9

Velho amigo

A leste de Rustboro estava localizada a Rota 116, uma estrada de terra no pé da montanha que abrigava o Túnel Rusturf, que recebia esse nome por ligar as cidades de Rustboro e Verdanturf. Além da vista do grande morro a paisagem era cercada por farta vegetação, o que tornava a vista ainda mais incrível. O tempo era ótimo, um sol forte brilhava, mas o vento corria suave pelo caminho refrescando os viajantes que lá se aventuravam.


Sapphire descansava de sua batalha de ginásio enquanto Miriam tentava ajudar Ruby a se entender com seu Pokémon. O menino liberou o Treecko, que tão logo saiu da Pokéball já se virou de costas para o seu treinador. No entanto ele acabou ficando de frente para Miriam, que o observou por um momento e deu um sorriso tentando se aproximar dele.

— Que bonitinho! Oi pequenino, como vai? — ela estendeu a mão, mas não obteve resposta do lagarto.

O que essa mina tem na ideia? Ela é doida? — pensou Jeff olhando para ela sem entender nada.

— Os iniciais de Hoenn são uns amores — disse Miriam. — Pelo menos o Torchic e o Treecko. Eu ainda não vi o de água.

Sapphire então se lembrou do Mudkip que seu pai tinha lhe dado. Ela havia prometido que encontraria um treinador confiável para cuidar dele. E que cuidaria dele até lá, coisa que não fez.

— Miriam, eu tenho uma boa e uma má notícia.

— O que aconteceu? — perguntou a garota confusa.

— A boa notícia é que eu tenho o inicial de água comigo.

— Sério? Isso é fantástico! — Miriam então vibrou de emoção, até se lembrar que nem tudo seria tão bom quanto ela imaginava. — Espera, e a ruim?

Sapphire abriu um sorriso sem graça, pois hesitava bastante para admitir seu completo descuido.

— Então... A má notícia é que eu esqueci que ele estava comigo. Tipo, desde que eu e o Ruby saímos da cidade onde recebemos nossos iniciais.

Ruby por um momento quis rir, mas logo percebeu que era tão culpado por aquela situação quanto Sapphire. Ela podia ser descuidada por natureza, mas ele é quem mantinha a ordem no grupo com seu senso de organização e compromisso. Não só isso, mas ter em posse um Pokémon que estava há dias sem receber cuidados e sequer comida era um problema muito sério.

Miriam prontamente correu até onde estavam suas coisas, abriu sua mochila e de dentro dela sacou alguns itens com bastante pressa.

— Está esperando o que? Libere o Pokémon logo!

Sapphire jogou a Pokéball do Mudkip, e quando ele se materializou estava deitado no chão, imóvel e com as patas para cima. Não esboçava nenhuma reação. Os três jovens observavam a pequena criatura com um misto de preocupação e nojo, já assumindo que o pior havia acontecido.

— Então... — Ruby resolveu quebrar o silêncio. — Morreu?

Miriam aproximou-se cuidadosamente do Mudkip, e tentou tocá-lo com um graveto.

— Waaaaaaaaaaah — o Pokémon repentinamente grunhiu.

— DIVINO ARCEUS QUE ME PROTEGE DO PERIGO! — a garota jogou o graveto para cima e correu para trás de Ruby.

— Acho que está vivo... — disse o garoto enquanto tentava soltar seus ombros das mãos de Miriam.

Sapphire rapidamente providenciou água para a criaturinha. Miriam revirou a sua mochila procurando por ração, e assim conseguiram alimentar o pequeno anfíbio antes que a situação se agravasse.

Além de Jeff, Dan e Olivia estavam fora das Pokéballs de seus treinadores. O Torchic permanecia isolado, e não dava muita ideia por mais que Olivia tentasse alguma aproximação.

— Relaxa, doçura — o Treecko a envolveu em um de seus braços. — Esse mané é meio biruta das ideias! Vem dar uma volta com o Jeff que eu garanto sucesso.

— Dan, me ajuda...

Dan respirou fundo, já sem paciência, e resolveu dar fim àquele incômodo.

— Olivia, não enche. E você — ele então voltou sua atenção para Jeff. — Deixa ela em paz.

Dan caminhou para outro lugar, largando os dois Pokémons de planta sem entender nada.

— Vai entender, bicho temperamental — Jeff sussurrou.

Após estabilizar a situação de Mudkip, Miriam também resolveu liberar os Pokémons que tinha consigo. Ruby e Sapphire se surpreenderam ao ver uma enorme Nidoqueen, que tinha junto consigo um Venomoth. Eram as formas finais de suas linhas evolutivas, o que confirmava que Miriam era uma treinadora mais experiente. Os dois, no entanto, apenas se isolaram dos demais, ficando juntos em outro canto da área.

— São um pouco fechados no começo, mas conforme forem conhecendo vocês melhor eles vão ficar mais à vontade — disse Miriam enquanto terminava de guardar suas coisas.

Miriam então caminhou até o Mudkip e o virou novamente com a barriga para cima. Ruby e Sapphire não entenderam a atitude estranha da menina, até que ela segurou as patas traseiras do Pokémon aquático.

— Espera um minuto — disse Ruby já fazendo uma expressão de desgosto. — O que você pensa que está fazendo?

— Já disse que tenho o objetivo de conciliar as carreiras de treinadora e criadora? Pois bem, estou fazendo meu trabalho.

Miriam abriu vagarosamente as patas do Pokémon, deixando seus dois companheiros de viagem perplexos com a cena.

— Você é doente por acaso? — Sapphire indagou de forma desesperada.

— Doente eu não sou não, mas olha só. Esse Mudkip é menina!

— Que constrangimento! — Ruby bateu na própria testa.

— Relaxa, gente! Eu só queria saber o sexo dela. O que vocês pensaram que eu ia fazer?

— A gente pode mudar de assunto? — Sapphire quase implorava.

Art by: ZandraArt
Sapphire então ouviu algo se mexendo por trás dos arbustos. Imediatamente ela chamou Olivia para perto de si, e caminhou devagar para averiguar a fonte daquela movimentação. Ela se afastou de Ruby e Miriam, e quando chegou perto do lugar de onde vinha o som, se deparou com uma criatura peculiar.

Era um pequeno ser quadrúpede, com bastante pelos. Sua coloração era marrom por todo o corpo exceto a ponta da cauda e em volta do pescoço, que possuíam uma coloração mais próxima a creme. Suas orelhas eram compridas e estavam erguidas, sinal de que a criatura estava tentando prestar atenção em algo.

— Quem diria que eu ia encontrar um Eevee logo aqui? — Sapphire sorriu e logo fez um sinal para sua Shroomish se preparar para entrar em combate. — Parece que hoje é o meu dia de sorte!

Sapphire então se mostrou para o pequeno Pokémon, mas foi surpreendida ao ver que na mesma hora um garoto da sua faixa de idade apareceu do outro lado. Ele possuía um aspecto frágil, e não parecia ser grande coisa. Seus cabelos verdes eram um pouco bagunçados, e suas roupas eram bem fechadas, o que fazia a menina se perguntar como ele não sofria com o calor de Hoenn.

O menino não demorou muito a perceber que Sapphire tinha a intenção de pegar o Eevee para ela, e logo entrou em desespero.

— Por favor, me deixe explicar! — ele chamou sua atenção. — Eu sei que o Eevee é um Pokémon raro, e você está tentando capturar, mas eu estou perseguindo ele desde o começo da rota! Eu sou um treinador novato, e ainda estou tentando montar o meu time para enfrentar o meu primeiro ginásio...

Enquanto se encaravam os dois sequer notaram que o Eevee havia sumido de vista. Sapphire sequer sabia o que dizer naquela situação, pois nunca imaginou que um dia tivesse que lidar com algo parecido. Foi salva de ter que improvisar uma frase quando Ruby e Miriam chegaram logo atrás.

— Sapphire, o que aconte... — Ruby interrompeu a própria fala ao se surpreender com o garoto a sua frente — Wally?

— Ruby, que bom ver você! — o menino correu para cumprimentar o moreno. — Quem diria que eu ia encontrar você aqui?

Miriam e Sapphire observavam a cena curiosas, e olhavam para Ruby como quem esperava uma explicação. Sentindo que não tinha escolha, o garoto resolveu apresentá-las ao seu conhecido.

— Meninas, este é o Wally. Um amigo meu de lá de Johto. Mas ele já mora aqui em Hoenn há um bom tempo — ele se virou para o menino, e resolveu ignorar o fato de que ele parecia ligeiramente desconfortável. — Wally, estas são Sapphire e Miriam, duas treinadoras que conheci há pouco tempo e que estão viajando junto comigo.

As meninas o cumprimentaram, e Wally apenas acenou com a cabeça de forma tímida. Antes que o menino pudesse dizer algo, ele olhou a sua volta, dando por falta de algo.

— Onde foi parar aquele Eevee?

• • •

Drake estava em sua sala no prédio da Elite, verificando alguns documentos sem tirar os olhos do mesmo. O retrato na parede trazia de volta tempos antigos, onde ele ainda jovem posava ao lado de seus Pokémons segurando um troféu. Lembrava com satisfação daqueles tempos, e agora apenas contava os dias para se aposentar. Queria terminar a sua carreira por cima, mantendo seu renome como um dos treinadores mais temidos de Hoenn.

Despertou de seu transe ao ouvir batidas na porta. As pessoas que lá trabalhavam sabiam que o velho não gostava de ser incomodado, logo ele imaginou que poderia ser algo importante.

— Entre.

Da porta surgiu Wallace, o que imediatamente fez Drake se levantar de onde estava sentado para prestar o devido cumprimento.

— Não precisa disso tudo, Drake — explicou Wallace. — Por que não me trata com menos formalidade?

— Porque um tratamento tão íntimo não combina com o cargo que o senhor ocupa.

— Sinceramente, você gostava de ser tratado como um ser superior quando era o Campeão?

Drake fez um breve silêncio. Parecia não ter como contra-argumentar Wallace. O homem então caminhou de volta ao local onde estava, se sentou e colocou os pés cruzados acima da mesa. Abriu uma garrafa de licor e lá ficou.

— Eu odiava essa porcaria — ele então abaixou a aba de seu chapéu, de forma que seus olhos não pudessem mais ser vistos.

— Eu prefiro você assim — disse Wallace. — Apesar de eu não achar adequado beber no trabalho...

— Bom, nada é perfeito.

Wallace apenas riu. Drake podia não ter os melhores modos, mas era um homem bastante competente, e sua lealdade à Elite era inquestionável. Mas o Campeão logo mudou sua expressão para uma mais séria.

— O que eu vim falar com você é um assunto um pouco delicado. É uma tarefa que eu preciso que você faça.

— Não pode ser outro membro? — o velho questionou.

— Acredito que isso é mais do seu interesse.

Drake decidiu deixar o desleixo de lado, e se acertou em sua cadeira para ouvir com mais atenção o que Wallace tinha a dizer. O mais jovem jogou para trás seus cabelos azulados e explicou a situação.

— Recebi um contato dos draconids. A líder da tribo me informou que a Guardiã desapareceu, e que provavelmente isso está mais para uma fuga do que um sequestro.

— Como assim? — Drake se levantou de imediato, batendo suas mãos com força na mesa. — O que essa garota tem na cabeça pra fazer isso?

— Eu não sei, mas isso pode se tornar um problema muito sério se não for resolvido logo. Eu sei que você tem um passado com os draconids, então por isso eu pensei que você estaria mais apto a realizar essa tarefa, que é buscar a Guardiã e levá-la de volta em segurança para sua tribo.

Drake massageava as têmporas de forma agressiva. Era visível a condição de estresse sob o qual havia se colocado. Apesar de já ter ouvido histórias de uma herdeira do posto de Guardião desobediente, não imaginava que a situação pudesse chegar a um ponto tão crítico.

— Com certeza não foi sequestro. Essa garota tem um parafuso a menos.

— Vai atrás dela? — perguntou Wallace.

— E que escolha eu tenho? Não posso deixar essa menina andando por aí. Ela deve ficar com os draconids, ou pode haver um desequilíbrio na ordem natural das coisas. Quando o garoto que venceu a Liga vem nos desafiar?

— Na sexta-feira.

— Então diga aos draconids para aguardarem até lá. Assim que resolvermos esse problema eu vou iniciar as buscas.

• • •

O trio estava sentado no mesmo local de antes, mas agora acompanhados por Wally. O menino fazia diversas perguntas a Ruby, ao mesmo tempo que explicava o que mudou desde que chegou a Hoenn. Há muito tempo não se viam, e ele queria colocar a conversa em dia.

— Me diz uma coisa — Ruby agora mantinha um tom de preocupação. — Como sua família deixou você sair em uma jornada, e sozinho ainda por cima? Porque você sabe...

— Se está falando da minha asma, eu já consegui me tratar. Óbvio que ainda não tenho tanta saúde quanto outras pessoas por conta do tempo que levei me tratando, mas hoje eu estou livre de riscos.

Wally então tirou uma Pokéball de seu bolso e a acionou, revelando uma pequena criatura que ele trazia consigo. Era um Ralts, Pokémon nativo da região de Hoenn, porém encontrado em outros lugares.

— Estive em Petalburg para te visitar quando soube que havia vindo pra cá, mas seu pai me disse que você já havia partido dois dias antes. Ele me ajudou a capturar este Ralts e fazer dele meu primeiro Pokémon, já que o laboratório de Littleroot estava sem nenhum que pudesse ser entregue a um treinador iniciante.

— Ele parece ser interessante — Ruby analisava o pequeno Pokémon de cima a baixo, estudando cada detalhe.

— Ele é bem calmo, mas tem algumas habilidades interessantes. É do tipo psíquico.

— Mas você pegou a sua licença de treinador? — Sapphire questionou. — Sem ela você não pode reservar quartos de graça no Centro Pokémon, por exemplo.

— Sim, como eu já tinha o Ralts comigo o tio Norman me levou até o laboratório para tirar a licença. Lá eles me falaram sobre você também. Disseram que tinha partido junto com o Ruby.

— Está mais para o contrário — disse o coordenador expressando lamentação. — A ideia foi dela.

— Mas você queria, do contrário não teria aceitado — Sapphire rebateu.

— Bem Wally, eu fico feliz que já esteja curado — Ruby tornou a falar. — Mas mesmo assim, tente não forçar muito as coisas. Pelo menos no início.

O garoto acenou positivamente com a cabeça, enquanto dava um sorriso sincero. Wally compreendia que seu amigo estava preocupado, embora ele jamais admitisse isso.

— Agora uma coisa que me deixou curiosa foi o fato de você estar perseguindo um Eevee — comentou Miriam. — Até onde eu sabia eles não habitavam Hoenn.

— O fluxo migratório de treinadores de várias regiões tem aumentado nos últimos anos — Sapphire explicava, tomando para si a atenção dos três. — Da mesma forma que muitos treinadores daqui saem para disputar as ligas de outras regiões, muitas pessoas de longe estão vindo competir na Liga de Hoenn. Devido a isso algumas espécies de outros lugares acabaram proliferando por aqui. Há dez anos realmente não existiam Eevees em Hoenn, hoje eles são bem comuns nessa rota.

— Eu ouvi falar nisso — disse Wally. — De qualquer forma eu ainda não desisti dele. Só tenho o Ralts por enquanto, e preciso montar uma equipe forte para começar a coletar minhas insígnias.

Sapphire ao ouvir aquilo ficou animada. Já conseguia imaginar Wally como futuro adversário na Liga Pokémon.

— Quer dizer que vai competir na Liga então?

— Sim, estou em Rustboro para enfrentar o ginásio da Roxanne e conseguir minha primeira insígnia — disse o menino.

Sapphire sorriu disfarçadamente, caminhou até sua mochila e de lá tirou seu estojo de insígnias. Abriu o objeto e mostrou a Insígnia da Pedra que havia conquistado.

— Isso aqui é uma lembrancinha de quando fui ao ginásio ontem — a garota estufava o peito orgulhosa.

— Uau, então você já conseguiu derrotar a Roxanne? — Wally estava maravilhado, não tirava os olhos daquela insígnia brilhante. — Sapphire, você parece ser uma treinadora incrível.

— Ah, isso não foi nada!

— Essa garota precisa de um chá de humildade — Ruby resmungou, fazendo Miriam rir.

A conversa se estendeu por mais alguns minutos, quando Wally se levantou e pegou suas coisas.

— Preciso voltar a procurar aquele Eevee. Mas se vocês estiverem hospedados no Centro Pokémon nós podemos nos ver mais tarde. Boa sorte no treinamento de vocês.

Wally se despediu dos três viajantes e voltou para dentro da mata a procura do Pokémon que havia escapado. Sapphire voltou a se recostar no tronco de alguma árvore para aproveitar o seu dia de folga, enquanto Miriam e Ruby começavam a acertar os problemas que o menino possuía para que ele pudesse iniciar seus treinamentos para o contest que aconteceria em poucos dias.

O garoto se colocou frente a frente com seu Treecko, que não parecia muito animado para interagir naquele momento. Ruby olhou para Miriam, que acenou de forma positiva, e então voltou sua atenção para o pequeno réptil, estendendo a mão para ele.

— Sei que não começamos muito bem, e eu ainda não sei o motivo, mas estou disposto a conhecer você melhor para que possamos entender melhor um ao outro. O que me diz?

Jeff observou seu treinador por um breve momento, até que cedeu e apertou a mão dele com sua pata dianteira, indicando uma breve trégua.

— Ótimo, parece que temos um começo — afirmou Miriam. — Me diz uma coisa, você só tem o Treecko mesmo?

— Sim, apenas ele.

— Então acho que está na hora de ampliar sua equipe.

Os dois começaram a procurar algum Pokémon que pudesse se encaixar na equipe de Ruby. Eles foram para dentro das árvores, tendo que encarar a grama cuja altura batia em suas cinturas. O garoto estava bastante desconfortável com aquela situação, pois temia que pudesse ser atacado por alguma criatura mais agressiva.

— E se tiver algum Pokémon venenoso esperando para dar o bote?

— Não existem Pokémons venenosos nessa rota, seu fresco! — Sapphire berrou da beira da estrada. — Agora vai logo fazer o seu trabalho e completa esse time!

— Não foi ela que disse que não existiam Eevees aqui antes? E agora existem! — o garoto resmungava. — Eu não tenho plano de saúde, quero ver o que ela vai fazer pra poder pagar minha internação.

— Fica calmo, Ruby — Miriam tentava passar segurança ao amigo. — Eu sei como lidar com essa mata mais fechada. Não vou deixar nada de ruim acontecer, confia em mim.

Ainda contrariado Ruby deu a mão a Miriam, que o puxou para dentro dos arbustos. Sutilmente a menina deixou que o amigo caminhasse na frente enquanto ela segurava um galho quebrado. Com um sorriso maligno a garota passou levemente a ponta do objeto entre as pernas do menino, que deu o berro mais alto que podia, se agarrando à primeira árvore que apareceu em sua frente.

— MIRIAM, ALGUMA COISA PASSOU ENTRE AS MINHAS PERNAS! — ele estava em pânico, agarrando a árvore com força como se fosse sua própria mãe.

A menina então começou a rir, e logo mostrou o objeto que segurava. Ruby ficou vermelho, tanto de vergonha como de raiva, arrancou o galho da mão da amiga e o quebrou com o joelho.

— Muito engraçado! Vocês não amadurecem mesmo!

— Desculpa, não deu pra evitar! — disse a garota enquanto gargalhava com a cena.

— Você vai me ajudar ou não?

— Ok, ok, não precisa de tanto estresse!

Poucos passos foram dados para a frente, até que Ruby parou de forma brusca e se virou para Miriam esbravejando novamente.

— Eu já falei pra parar!

Miriam com uma expressão confusa em seu rosto apenas levantou os braços, mostrando que não havia mais nada em suas mãos, no mesmo momento em que o garoto sentiu novamente algo se arrastando entre suas pernas.

Ao notar que a menina não tinha culpa de nada, Ruby correu desesperado de volta para a estrada, dando berros de socorro que assustaram Sapphire. Miriam veio logo atrás, também preocupada com o que poderia haver ali.

— O que aconteceu? — Sapphire se levantou com o susto.

— Alguma coisa realmente passou pelas minhas pernas! — Ruby berrava enquanto se escondia atrás da amiga.

— O que aconteceu? — Miriam saiu dos arbustos preocupada. — Ruby, se isso for alguma vingancinha sua eu vou te dar uma surra!

— Eu não estou brincando, droga! Passou algum bicho perto de mim, eu tenho certeza!

Logo atrás dos dois surgiu um pequeno Pokémon felino, de pelagem rosada e um sorriso travesso. A criatura correu para perto de Ruby e começou a se esfregar nas pernas do garoto, acariciando-o.

— Nossa, que monstro — disse Sapphire com tom de ironia, enquanto Miriam tentava segurar o riso. — Esse aí com certeza deve ser venenoso. Chamem as autoridades!

Ruby caminhou para o outro lado da estrada, mas o pequeno Pokémon o seguia. Não importa aonde fosse, não conseguia se livrar da criaturinha inconveniente. Já estava prestes a perder a paciência.

— O que eu faço?

— Aceite o seu destino, agora você é a mamãe desse Skitty — Sapphire se satisfazia a cada oportunidade de zombar do garoto.

— Skitty, é? — Ruby agora olhava o pequeno ser de cima, sendo encarado de volta.

O garoto pegou o Pokémon e o ergueu sobre sua cabeça. Ficava olhando a cara travessa que sorria para ele, e logo sorriu de volta.

— Até que você é uma fofura. Vai ser uma grande estrela de contests!

— Vai ficar com ele? — indagou Sapphire.

— Ela — Miriam interrompeu a conversa, ajeitando os óculos. — É menina.

— Miriam, você já cogitou se internar em um hospício? — Ruby agora a olhava com cara de nojo, ignorando os argumentos dela de que aquilo era "ciência". — Sim, eu acho que vou ficar com ela.

O garoto paparicava bastante a pequena Skitty, causando surpresa nas meninas. Afinal, ainda não o tinham visto se dando tão bem com um Pokémon antes. Era provável que a vitória de Sapphire no ginásio de Rustboro tivesse causado algum impacto nele, o deixando motivado a melhorar também.

— Notou algo de diferente nele? — Sapphire perguntou.

— Sim, e acho que podemos tirar proveito disso — Miriam sorria ao analisar o afeto quase instantâneo do menino com sua nova companheira. — Podemos usar essa personalidade mais aberta da Skitty para criar uma ponte entre o Ruby e o Treecko.

— Acha que ela e o Treecko vão se dar bem?

— Acredito que sim.

Começava a entardecer quando resolveram voltar para Rustboro. Ruby teve um primeiro dia de treinos voltado para construir uma relação inicial com seu time, especialmente no sentido de eliminar a desconfiança que havia entre ele e o Treecko. Miriam o auxiliava, passando sua experiência como treinadora para que ele pudesse entender que tipo de abordagem funcionaria melhor em cada situação.

Ao chegar ao Centro Pokémon os três entregaram seus Pokémons aos cuidados da enfermaria, e subiram para os quartos que haviam reservado. Após um banho revigorante Ruby desceu até o refeitório do local, enquanto as meninas ainda se arrumavam. Já era noite quando chegou ao saguão. Wally estava entrando naquele exato momento.

— Boa noite, Ruby.

— Boa noite — ele respondeu com um aceno. — Como foi o treinamento durante a tarde?

— Foi muito proveitoso. Sinto que estou quase preparado para enfrentar o ginásio. Ainda vou ter que ficar na cidade mais uma semana, pois perdi a última prova de seleção. Mas pelo menos já consegui ampliar a minha equipe, e estamos começando a nos entender melhor.

Wally sacou uma Pokéball dos bolsos e a mostrou para Ruby. Era o Eevee que ele havia passado o dia procurando. Tinha conseguido a captura já no final do dia, mas estava feliz por ter sido um bom treinamento de resistência para o menino e seu Ralts.

— Já tem em mente para qual evolução você vai treiná-lo?

— Ainda não. Prefiro que seja algo para eu e ele decidirmos juntos. Mas tenho certeza de que vamos chegar a um consenso. Até porque eu vou dar prioridade à vontade dele. Meu dever como treinador é adaptar o time para que todos os membros se sintam confortáveis para batalhar do jeito que gostam.

Aquelas palavras ficaram presas na cabeça de Ruby. Wally tinha razão. Talvez a melhor coisa que pudesse fazer era dar aos seus Pokémons a liberdade de se expressarem, e tentar desenvolver as estratégias de acordo com suas preferências. Era o que Miriam vinha dizendo a ele há algum tempo, mas ainda não tinha assimilado essa necessidade. Se der ouvidos aos seus companheiros de equipe, pode ser que o oposto também começasse a acontecer.

— Wally, graças a você eu acho que comecei a entender algumas coisas que estavam me causando dúvidas — Ruby colocou as mãos nos ombros do amigo, mostrando um brilho confiante em seus olhos. — Talvez agora eu tenha a solução para meu maior problema!

— Bom... De nada, eu acho...

O garoto desejou boa noite ao seu amigo e caminhou de volta para seu quarto. Lá chegando, pegou de dentro de sua mochila um caderno onde começou a fazer algumas anotações. Assim ficou até tarde da noite, quando caiu no sono sem ao menos preparar a cama para dormir.

E assim passou o resto da noite, abraçado ao caderno e com um sorriso triunfante no rosto, como quem agora tinha respostas que poderiam ditar o início de uma escalada que só poderia dar bons frutos no futuro. Ruby agora sabia bem o que fazer, e só precisava dali em diante encontrar a melhor maneira de fazer aqueles pensamentos se tornarem realidade.

Ele só precisava trabalhar para tornar a vitória possível. Estava começando a descobrir como pensar como um coordenador. Dali em diante seria aliar essas ideias a trabalho duro para obter sucesso. O contest que se aproximava já não era tão assustador quanto antes.

FIM DO CAPÍTULO 9

  

Olivia


Olivia é a Shroomish capturada por Sapphire no Bosque Petalburg, quando ela se dirigia para Rustboro. Foi uma importante força no time para derrotar Roxanne na primeira batalha de ginásio de sua treinadora.

Ela possui uma personalidade bastante retraída, e essa timidez a impede de conversar normalmente com quem quer que seja. Mesmo assim possui grande determinação e consegue superar suas inseguranças quando a situação exige coragem, tudo pelo bem de sua equipe. Como é típico de um Pokémon do tipo planta, possui um leque de técnicas dos mais variados tipos, o que a torna bastante útil para várias estratégias.

Primeira aparição:

Capítulo 6 - O Bosque Petalburg

Curiosidades:

• Na AEH antiga, Shroomish era um Pokémon designado para fazer parte do time da Miriam. Com as mudanças planejadas para a nova versão da história, passou a fazer parte do time de Sapphire;

• Tanto seu nome como sua personalidade são inspiradas na personagem Olivia, do jogo Fire Emblem Awakening;

Notas do Autor - Capítulo 8

Emerald Log - Rustboro Gym Battle by Fellduck
Art by: Fellduck

Finalmente! Chegamos à primeira batalha de ginásio de Sapphire, e logo um desafio bem complicado. Roxanne não é do tipo que facilita para os novatos, e a nossa querida protagonista acaba de sentir na pele o que é a vida de treinador de verdade. Mas o que importa é que no final ela conseguiu sua primeira insígnia!

Essa batalha foi um teste de fogo — ou de pedra — para mim, pois eu precisava achar um jeito de fazer o Torchic vencer essa batalha sem ter alguma fórmula milagrosa na manga. Algo como poder da amizade ou outras saídas improvisadas só para levar o protagonista à vitória, que é o que chamam de "deus ex-machina". Eu quero fazer as coisas mais realistas, de modo que se não tiver jeito os protagonistas não vencem a batalha, seja a Sapphire, a Miriam, o Ruby ou quem quer que seja.

Tive que revirar várias vezes a página do Torchic na Bulbapedia, e vi que ele podia usar Low Kick. Mas isso entra nas soluções improvisadas. Quais as chances da Sapphire pegar um inicial com um Egg Move que vai dar a ela vantagem logo de cara no primeiro ginásio? Bem baixas, eu suponho. Então logo descartei a ideia, ainda bem. Foi então que surgiu a possibilidade de usar não um ataque, mas uma habilidade do Dan que poderia dar uma chance de vitória a ele. Por já estar com o HP baixo de tanto tomar pancada do Hans, ele acabou ativando a habilidade Blaze, que muitos de nós já vimos nos jogos, mas acabamos não dando tanta atenção assim. Como a Miriam comentou na história, a habilidade Blaze aumenta em 50% o poder de ataques de fogo do Dan por ele estar com baixo HP. E o Dan sendo Pokémon de fogo e usando o Ember, um golpe do tipo fogo, ainda é presenteado com o STAB — Same Type Attack Bonus — aumentando em mais 50%. Então façamos as contas.

Base power do Ember + 50% de Blaze + 50% de STAB
40 + 20 + 20 = 80

O Dan literalmente dobrou o seu poder de ataque durante a batalha. E mesmo que ataques de fogo ainda sejam cortados pela metade contra Pokémons de pedra, isso só significa que ele conseguiu usar o Ember com seu poder real contra o Nosepass. Isso já ajuda bastante. É como se não fosse um ataque pouco efetivo.

E vocês achando que o ShadZ não é cultura...

E a Olivia? Curtiram ela? Vocês esperavam que o Shroomish da Sapphire fosse um cara, não é? Há! Peguei vocês! Na quarta eu vou postar a página com a ficha dela, então vocês vão poder ter mais informações sobre essa nova personagem que veio para fortalecer o time da nossa caçadora de insígnias preferida!

E é isso, espero que tenham gostado. Com isso encerro uma sequência de quatro semanas de capítulos seguidos. Eu estava devendo essa pra vocês por todo o tempo que fiquei sem atualizar o blog. O capítulo 9 já está pronto, mas teremos uma semana de pausa agora. No lugar dele vou postar apenas a ficha da Roxanne mesmo, mas dia 16/03 ele estará postado.

Até lá, pessoal! õ/

Capítulo 8

Resiliência
Art by: Mints
Roxanne aguardava paciente no altar em frente ao campo de batalha. O horário combinado se aproximava e o local já demonstrava ter concluído todos os preparativos para o confronto que estava por vir. Atrás dela, duas estátuas imensas representavam a glória milenar dos Pokémons do tipo pedra — à sua esquerda um Kabutops, e à direita um Omastar, ambos cuidadosamente esculpidos à mão. As lâminas letais de um, bem como a concha espiral do outro, eram as marcas registradas de uma geração já extinta, um tesouro perdido e com quase todos os vestígios varridos pelo tempo.

As claraboias permitiam que a luz do dia entrasse no ginásio sem maiores complicações, tornando o ambiente um pouco mais próximo do natural. A líder se virou para a estátua do Omastar e parou para observá-la por alguns segundos, contemplando aquilo que para ela era mais que uma simples máquina do tempo, mas também representava toda uma cultura.

— Me empreste sua força — disse em voz baixa, a fim de não ser ouvida.

Quase que como em uma cena de filme, Roxanne se virou ao ouvir as grandes portas do ginásio se abrirem, revelando Sapphire. A feição tensa da garota tinha seu ápice nas mãos trêmulas e nos olhos azuis que piscavam sem parar. A mulher logo notou a inquietude de sua desafiante, mas preferiu não comentar a respeito.

Por outro lado, mil coisas se passavam na cabeça da treinadora. Não fazia muito tempo desde que saiu em jornada e seu primeiro grande teste já estava à sua frente. Havia evoluído como treinadora desde que deixou Littleroot para trás, mas ela ainda tinha dúvidas se realmente estava apta a enfrentar alguém com um nível de conhecimento de Roxanne. Olhou para os lados e viu Ruby e Miriam consigo, ambos demonstrando confiança.

— Você não vai precisar de uma segunda tentativa. Está mais do que preparada — afirmou Miriam. — Basta se lembrar do que treinamos.

— Pode deixar — respondeu a menina, enquanto alongava os braços. — Só estou um pouco ansiosa, por esta ser a minha primeira vez desafiando um líder de ginásio.

Roxanne avaliava com atenção o comportamento de sua desafiante. Certamente já tinha visto muitos iguais ao longo de sua carreira como líder, e por isso se mantinha calma, pois aquilo já era natural para ela. Foi então que a mulher desceu e se dirigiu ao campo de batalha. A cada passo que ela dava, o coração de Sapphire batia mais forte, como se estivesse para acontecer a batalha de sua vida. Afinal, o resultado daquele desafio é que diria se a novata estaria apta ou não a seguir como treinadora.

— Seja bem vinda ao ginásio de Rustboro, Sapphire — cumprimentou a líder. — As regras são simples. Cada uma de nós usará dois Pokémons em batalha. Vence aquela que derrotar a equipe adversária. Você pode realizar quantas trocas quiser durante o confronto. Alguma dúvida?

O tempo parecia passar cada vez mais devagar. Era como se tudo estivesse em câmera lenta aos olhos da garota. Sapphire sentia como se seu coração subisse pela garganta, de modo que as fortes pulsações podiam ser sentidas por todo o seu corpo. O clima estava ameno naquele dia, mas ela começava a suar como se estivesse no auge do verão.

Ela então engoliu seco, respirou fundo numa tentativa de se tranquilizar, e por fim cerrou o punho mostrando a si própria que já não tinha mais tempo para dúvidas. Não havia volta. Dali sairia para a glória ou para o fracasso.

— Nenhuma — disse com a voz firme, tentando passar confiança. — Estou pronta.

As duas treinadoras lançaram suas Pokéballs para o campo de batalha. Do lado de Sapphire, a Shroomish que havia capturado no Bosque Petalburg se colocava na linha de frente. Do outro, um robusto Geodude assumia a guarda do ginásio. Possuía um olhar sério, enfatizado pelos fortes braços cruzados. Era claramente um oponente para se evitar em um combate físico.

A Shroomish armou sua guarda, mas se manteve distante. Parecia esperar uma iniciativa vindo de seu adversário, que apenas ficou parado na mesma pose com a qual entrou em campo. E foi surpreendida por uma pergunta direta.

— Como se chama, garota? — indagou o Geodude, com a voz firme. — Gosto de saber o nome dos meus adversários.

Ela congelou. Não esperava uma conversa com seu adversário. Estava ali para lutar, e tinha se preparado apenas para isso. Sua voz trêmula indicava seu nervosismo intenso, mas de forma alguma ela deixava seu posto. Precisava fazer aquilo e honrar sua equipe.

— O-Olivia... — sussurrou, tentando olhar para qualquer lugar que não fosse a face daquele Geodude.

— Olivia... — murmurou o combatente de pedra. — Me chamo Sten. Gostaria de dizer que não tenho intenção alguma de machucá-la ou fazer algum mal, porém tenho um dever a cumprir aqui. Fui designado para defender este lugar, portanto atacarei se você representar uma ameaça.

Os dois se encaravam por alguns últimos instantes antes de iniciarem a batalha. Não era possível saber se Sten realmente esperava que sua adversária desistisse ali, antes mesmo de tentar. Mas apesar da aparência frágil e da personalidade evasiva, Olivia sabia que teria que tentar.

— E-eu também tenho um dever a cumprir — dizia, fazendo um leve esforço para conseguir olhar nos olhos de seu oponente. — Preciso levar a vitória à minha equipe!

Sten se admirou com a mudança de postura da pequena Shroomish. Não esperava que por trás daquela timidez existisse uma forte determinação.

— Você não é tão indefesa quanto parece, garota — dizia o defensor de pedra enquanto estalava os dedos de sua mão. — Vou acabar tendo que lutar sério.

O juiz designado para acompanhar a batalha levantou as bandeiras que estava segurando, autorizando a batalha a começar. Sten tratou de ir em direção a Olivia, em uma tentativa de reduzir a distância entre eles. A Shroomish em vez de tentar se esquivar imediatamente preparou um ataque para surpreender o Geodude, mas acabou sendo acertada por um forte Tackle e acabou caindo para trás.

— Você está com os reflexos baixos ainda. Deveria ter tentado uma evasiva em vez de um contra-ataque — disse Sten.

Olivia se levantou sem dizer nada. Além de sua habitual timidez, a própria batalha em si já lhe exigia total foco. Porém, ao ficar de pé novamente, ela sorriu de maneira discreta, o que chamou a atenção de Sten, que logo foi atingido por uma dor incômoda, enquanto ela parecia se recuperar do baque inicial.

— O que significa isso?

Sten percebeu então algumas pequenas ervas grudadas em torno dele. Tentava puxá-las, mas não conseguia removê-las. Deduziu que aquela era a fonte do problema.

— Entendi, você se deixou ser atacada para que tivesse mais precisão em contra-atacar. Então este é o Leech Seed... Foi uma boa estratégia.

Roxanne observava o comportamento de Sapphire e Shroomish no campo de batalha. Mesmo ela foi pega de surpresa com a postura apresentada pela sua adversária naquele turno. Estava começando a se animar com a possibilidade de ter encontrado uma desafiante realmente promissora, e queria levá-la ao limite.

— Foi um bom movimento surpresa, fazendo uso da boa base defensiva de um Shroomish — dizia a líder. — Mas é bom não abusar dessa vantagem, ou isso pode acabar se tornando uma complicação futuramente.

— Eu estou ciente, sei até onde vai o limite dos meus companheiros de equipe — respondeu Sapphire com um tom determinado.

— "Companheiros de equipe"... — Roxanne então deu um riso disfarçado. — Você realmente é mais madura que a maioria dos desafiantes que vêm até aqui. Muitos deles não compreendem que não existe uma relação de hierarquia entre o treinador e os Pokémons. Nós apenas os guiamos. Treinadores amadores querem centralizar o comando do time, acham que são eles que têm que ditar as regras. Por isso fracassam tão cedo. Vamos ver até onde você vai, Sapphire. O Sten também possui um forte atributo defensivo.

— Sten? Você deu um nome para o seu Geodude? — Sapphire ficou curiosa, para ela dar nomes aos Pokémons parecia algo infantil.

— É o nome dele, mas não fui eu que o batizei assim — explicou Roxanne, fazendo a menina ficar confusa. — Pelo visto você ainda não chegou a esse nível. Você vai entender em breve. Sten, use o Tackle mais uma vez!

Sten avançou novamente contra Olivia, porém a Shroomish foi mais rápida e conseguiu se esquivar. Ela então se virou de imediato para localizar onde o Geodude foi parar após a tentativa de ataque, e ao encontrá-lo lançou uma nuvem de poeira de cor alaranjada.

Percebendo a ameaça que vinha em sua direção, Sten conseguiu se proteger se locomovendo para fora do raio de ação do ataque. Por pouco não foi pego, a ponta de seus dedos de uma mão foi atingida e ficaram dormentes. O ser de pedra percebeu que se tratava da técnica Stun Spore, e se fosse totalmente atingido pelos esporos estaria em apuros. Porém, antes que pudesse respirar em alívio, ele começou a sentir uma dor forte pelo corpo e por um momento foi atingido por uma tontura. Eram as ervas daninhas que Olivia havia implantado nele antes.

— Vou ter que terminar isso depressa — sussurrou preocupado.

Em um primeiro momento, Sten se encolheu de forma que seu corpo ficasse semelhante a uma esfera. Era a técnica Defense Curl, usada para aumentar o seu potencial de defesa. Não queria correr riscos.

Percebendo que o adversário estava se fortalecendo, Olivia resolveu intervir se dirigindo até ele. Era a sua vez de atacar, e ao se aproximar de Sten ela tentou segurar um dos braços dele. O Geodude recuou depressa, pois sabia que se fosse pego por Olivia ele poderia ter problemas.

Miriam e Ruby estavam sentados nas arquibancadas do ginásio, observando o desenrolar da batalha. Ruby parecia ansioso, enquanto Miriam observava cada movimento realizado na arena esperando por alguma coisa que pudesse descobrir.

— Impressionante, a Sapphire não consegue tomar o controle da batalha, mas também não está deixando a Roxanne ditar o ritmo. Agora a Shroomish dela está começando a pressionar o Geodude.

— Ela é boa — disse Ruby sem tirar os olhos do combate. — Ela tem chances de vencer mesmo!

Olivia tentou mais uma vez utilizar o Stun Spore, mas novamente Sten conseguiu se esquivar. Mas ao sair do alcance da nuvem de esporos ele não percebeu que a Shroomish apareceu por trás dele, provavelmente tendo pego um atalho pelo meio do próprio ataque, que não a afetava.

Ela se segurou no Geodude, e uma aura esverdeada tomou conta dos dois. Enquanto Sten berrava de dor, Olivia tentava prendê-lo com mais força para que ele não escapasse. Quando finalmente largou o Pokémon rochoso, ela se afastou, enquanto ele foi ao chão enfraquecido. Havia sido um ataque altamente danoso para o defensor do ginásio.

— Sempre tem um engraçadinho para vir aqui achando que vai vencer com Absorb — resmungava o Geodude ainda se reerguendo. — Como eu odeio esse golpe...

Olivia apenas observava a reação de seu adversário, esperando para ver se ele ainda era capaz de fazer algo que pudesse ameaçá-la. Mas estava mais tranquila, pois agora ela possuía o controle da batalha.

— EU NÃO VOU ACEITAR SER DERROTADO POR ISSO! — berrou Sten após se levantar, erguendo os braços em uma pose que se assemelhava a de alguém querendo exibir os músculos.

O que Olivia não esperava era que rochas começassem a surgir por trás de Sten, e uma a uma logo foram sendo arremessadas em sua direção. O Rock Throw era uma das técnicas mais poderosas dos Pokémons do tipo pedra, e se a acertasse Olivia estaria em sérios apuros. Por cerca de dois minutos o ataque continuou incessante, e Olivia era atingida com força por várias pedras, o que a deixou em um estado tão ruim quanto o de seu adversário.

— Eu não queria que tivesse chegado a esse ponto, garota — disse Sten, já ofegante. — Mas você não me deixou escolha.

— Não tem problema, eu não vim aqui achando que seria um passeio no parque — respondeu a Shroomish, que parecia lutar para permanecer de pé.

Olivia estava começando a sentir os efeitos da exaustão. Ainda que Sten não fosse tão veloz, manter distância de um adversário era sempre algo trabalhoso. E em seu estado atual, ela sabia que apenas um golpe do seu adversário poderia significar o fim daquela batalha. Ela estava ofegante, mas tentava ao máximo manter o foco no combate, até que abriu levemente a guarda.

Sten se moveu em sua direção com a intenção de dar o golpe final, aproveitando a brecha cedida pela garota. Foi então que, superando sua exaustão, Olivia com muito esforço conseguiu esboçar um sorriso vitorioso. Sten logo percebeu a emboscada e tentou parar o ataque, mas já era tarde demais.

— Acabou! — disse a menina.

Mais uma vez Olivia o agarra para absorver sua energia, mas agora com um poderoso Mega Drain, uma carta que ela possuía na manga. A aura verde agora era um pouco mais escura, porém muito mais intensa. O golpe foi tão forte que Sten sequer conseguiu expressar dor de forma que sua expressão era de quem gritava, mas a voz não saía.

Quando o ataque cessou, Olivia largou o Geodude que foi ao chão sem poder ao menos amortecer a queda. Enfraquecido, Sten olhava sua adversária do chão, uma posição que não fazia parte da sua rotina normal. Não queria acreditar que fora derrotado, mas era a realidade que teria que aceitar.

— Bem que eu disse que você não era tão inocente quanto parecia, garota — disse, com um pouco de esforço. — Você é forte.

Sten foi derrotado, e Olivia estava revigorada dado o efeito do Mega Drain. Sapphire tinha agora a vantagem do confronto, mas Roxanne não demonstrava nervosismo ou preocupação, o que deixava a menina apreensiva.

— Não me recordo da última vez em que o Sten foi derrotado logo no primeiro round. Talvez eu tenha me descuidado, mas isso não muda o fato de que você tem um potencial enorme — a líder agora retornava o Geodude para sua Pokéball e se preparava para entrar com seu segundo membro.

Sapphire não dizia nada. Não conseguia. Ela não conseguia se sentir aliviada mesmo Olivia tendo vencido e com os danos minimizados. Ela tinha uma sensação estranha com relação à segunda Pokéball de Roxanne. Não sabia o que poderia vir dali.

Ela e sua Shroomish viram assumir o campo de batalha uma figura rochosa maior que a de Sten. Este possuía um grande nariz vermelho e seus braços não pareciam estar ligados ao corpo, mas sim atraídos ao mesmo como se fossem ímãs. Seus olhos permaneciam fechados, passando uma perigosa sensação de serenidade.

— E mais essa agora? — resmungou a treinadora.

Sapphire sacou sua Pokédex e viu que a escolha de Roxanne se tratava de um Nosepass, um Pokémon bastante incomum mesmo em Hoenn, sua região nativa.

A estatura bem maior que a de Olivia era intimidadora, mas ela não se deixou abater. O Nosepass estava imóvel no campo de batalha, e não dizia uma palavra sequer. A Pokémon de planta também não se mexia, estava esperando que o outro fizesse o primeiro movimento. Passado algum tempo o Nosepass decidiu se pronunciar.

— Se precisei vir à arena, então o Sten foi derrotado... — ele suspirou profundamente antes de prosseguir. — Posso dizer que hoje temos adversários mais qualificados.

Olivia permaneceu quieta. A verdade é que ela não sabia o que fazer naquele momento. Não conhecia o adversário, ele era diferente de qualquer coisa que já tivesse visto. Teria que esperar ele tomar a iniciativa para estudá-lo melhor.

— Eu não vou poder me distrair com você — disse o Nosepass. — Vou ter que ir com tudo.

Ele avançou em direção de Olivia para acertar um Tackle, da mesma forma que Sten havia feito no começo do outro round. Percebendo isso, a Shroomish preparou novamente o Leech Seed para ser implantado em seu adversário. Porém, o Nosepass percebeu a tática e imediatamente mudou a trajetória para trás de uma das rochas que estavam espalhadas pelo campo de batalha.

Olivia o perdeu de vista e não sabia o que poderia acontecer dali em diante. Ela se surpreendeu ao ouvir um barulho parecido com o de uma explosão, mas era nada menos que a rocha a sua frente onde o Nosepass havia se escondido, que se partiu em vários pedaços, porém ainda consideravelmente grandes, que foram sendo lançados em sequência quase ininterrupta.

A força do impacto foi tamanha que Olivia foi arremessada vários metros para trás. Enquanto tentava se levantar, o Nosepass se colocou logo a sua frente. A expressão serena dele não mudava, e de certa forma isso era o bastante para colocar terror na Shroomish. Era como se ele dissesse que não importava o que ela fizesse, aquela batalha já estava decidida.

Ela tentou se levantar para fugir rápido, mas o Nosepass ergueu seus braços indicando um novo ataque. De repente Olivia se viu cercada por rochas de todos os lados, sem ter como sair dali. Era uma verdadeira prisão. Seu oponente então resolveu lhe prestar um ato de cortesia antes dar um fim àquela agonia.

— Acabei de me lembrar que não me apresentei a você — dizia o Nosepass. — Meu nome é Hans. Lembre-se disso se planeja me enfrentar novamente.

Hans então fez um movimento final, e a horrível cena da jaula de rochas se fechando contra Olivia chocou a todos os presentes no local. Eles haviam acabado de presenciar o Rock Tomb, uma das técnicas mais violentas do tipo pedra.

Sapphire ficou sem palavras. Tudo que conseguia sentir era medo. Por um momento se viu presa naquelas rochas no lugar de sua Shroomish. Sua voz sequer saída, era como se sua garganta tivesse travado, o que lhe causava a sensação de falta de ar.

— Não se preocupe, apesar do nome o Rock Tomb quando usado em batalhas de nível iniciante não são suficientes para matar um Pokémon — Roxanne sorria triunfante. — Sua Shroomish vai ficar bem.

Sem muito esforço a líder havia conseguido anular a vantagem que Sapphire teve tanto trabalho para construir. Elas estavam de volta à igualdade, e a situação era ruim para a garota, que além de ser menos experiente seu último Pokémon tinha desvantagem contra o tipo pedra e sequer a obedecia direito.

Sapphire sacou a Pokéball de Dan, mas tinha muitas dúvidas se poderia sair dali vencedora. Tudo dependeria da boa vontade do Torchic, mas exatamente por isso ela já não estava tão confiante.

— Bom, eu não tenho muita escolha, a não ser tentar — resmungou a menina. — Torchic, saia!

Dan saiu de sua Pokéball já com uma expressão de má vontade. Ele esperava que Olivia pudesse ter resolvido a batalha toda por ter vantagem contra o tipo pedra dos adversários, mas pelo visto teria que trabalhar naquele dia. Logo a sua frente estava Hans, o observando.

O Torchic olhou para o lado e viu os vestígios do Rock Tomb onde até pouco tempo atrás Olivia esteve presa e quase fora esmagada. Ele não gostava de jaulas, e encarou Hans com desprezo. O Nosepass tentou se apresentar.

— Saudações. Eu me chamo... — dizia, antes de ser interrompido.

— Não tenho interesse em apresentações — Dan atravessou de forma ríspida. — Vamos terminar logo com isso.

— Não é muito fã de protocolos? Ou será só rebeldia mesmo? — Hans analisava. — Conheço tipos como o seu. Não vai durar muito se continuar assim.

Hans iniciou a ofensiva se lançando para um golpe físico em Dan. O Torchic desviou, mostrando ser mais ágil que Olivia, e assim que se viu fora do raio de ação do defensor do ginásio atacou com uma rajada de brasas. Hans foi acertado, porém conseguiu resistir, já que fogo não lhe causava tanto dano.

Percebendo que seria uma batalha travada a distância, já que o Torchic levava desvantagem no porte físico, Hans atacou com Rock Throw. Dan desviava bem das pedras enquanto procurava abrigo em uma das rochas do campo de batalha. Quando conseguiu cobertura foi surpreendido por rochas surgindo do chão e o cercando. Deu um salto rápido e se esquivou para fora da zona de perigo.

— Achei que poderia enganá-lo, como fiz com a sua amiga — disse Hans. — Mas já notei que você é mais experiente.

— Truques baratos não vão funcionar comigo — rebateu o Torchic.

Sapphire estava apreensiva, pois sabia que estava em desvantagem. Sentia sua confiança se esgotando aos poucos. Se tratando de força física, seu Torchic não tinha chances contra o Nosepass de Roxanne, e o único ataque a distância que poderia ser usado não era tão efetivo. Precisava encontrar uma estratégia, ou teria sérios problemas.

— Como vai fazer para sair dessa, Sapphire? — Roxanne perguntou.

A desafiante não deu resposta. Não conseguia pensar em nada, pois a ansiedade não deixava sua mente trabalhar. Roxanne notou a inquietação da menina, e tentava incentivá-la.

— O que eu tento passar para os treinadores que vêm aqui me desafiar é que eles precisam saber se adaptar às situações mais complicadas. De acumular pequenos detalhes a seu favor para sair de uma situação de desvantagem. Isso se chama resiliência. Você só será digna de receber a insígnia se provar que tem esse atributo.

Adaptação era a palavra que rodeava a mente de Sapphire a todo momento. Desde a explicação de Roxanne a menina começou a focar no que ela poderia levar vantagem. Dan se esquivava dos ataques e tentava contra-atacar da maneira que era possível. Percebendo aquilo, a mente de Sapphire começou a clarear, e agora ela tinha uma possibilidade a ser testada.

— Se não dá pra vencer na força, a gente vai usar a velha tática do "bater e correr“ — sussurrou a garota.

Dan pareceu entender o recado. Não gostava de ter que seguir as ordens de Sapphire, mas naquelas circunstâncias era o que podia tentar caso não quisesse levar uma surra do Nosepass. Ele se colocou em posição ofensiva, e pela primeira vez naquela batalha começou a correr em direção a seu oponente.

Hans se preparou para receber um ataque direto, mas se surpreendeu ao ver o Torchic mudar de direção de forma repentina. De repente o pequeno Pokémon de fogo sumiu de sua vista, e a primeira coisa que o Nosepass fez foi se virar na direção onde estava seu ponto cego. Porém, quando conseguiu se virar, Dan já tinha preparado o Ember, e tão logo as brasas foram disparadas em direção a Hans, o Pokémon de pedra recebeu o ataque diretamente, sem sequer ter a chance de preparar a guarda.

Sapphire sorriu triunfante. Era sua primeira investida bem sucedida contra aquele Nosepass. Procurava manter a calma para pensar em novas maneiras de aproximação. O Pokémon de Roxanne podia ser mais forte, mas em velocidade o Torchic levava enorme vantagem. Ela podia usar aquilo a seu favor, e infligir dano aos poucos no adversário.

Hans começava a entender as intenções do seu oponente. Por conta de sua velocidade superior, Dan era bem mais ágil, e por isso ele tinha mais vantagem no combate a curta distância. O Nosepass teria que se manter afastado para não sofrer mais danos, mas tinha muita dificuldade em conter a aproximação do Pokémon de fogo.

Dan, por outro lado, estava gostando da ideia. Seu adversário, mesmo sendo mais forte, começava a parecer desorientado com os insucessos em tentar pará-lo. Era hora de continuar atacando. O Torchic atirou brasas mais uma vez, porém a uma distância maior. Hans utilizou o Rock Tomb como escudo, fazendo as brasas colidirem com as rochas. Dan aproveitou a falta de visibilidade do Nosepass e correu em direção a ele para um novo golpe.

Distraído, Hans não percebeu o Torchic saltando por cima das rochas e mergulhando em sua direção para lhe atacar diretamente. Dan colocou toda a sua força concentrada em seu bico e acertou um Peck no Nosepass, que não conseguiu sequer reagir ao ataque surpresa.

— Isso! — vibrou Sapphire, enquanto Roxanne observava sem alterar sua expressão.

— Nossa, esse Torchic da Sapphire é muito forte! — Miriam disse eufórica.

— Eu sinceramente tenho mais medo dele do que do Treecko... — Ruby comentou.

Hans caiu para trás com a força do ataque, e devido a seu peso um pequeno buraco se formou no chão abaixo dele. Quando se levantou, ele direcionou seu olhar para Dan. Ao contrário da expressão serena mostrada quando foi chamado à arena, o Nosepass agora mantinha os olhos abertos. Sua atenção estava redobrada, e tudo indicava que ele não daria mais tantas aberturas para ser atacado.

— Parece que eu realmente o subestimei, garoto — admitiu Hans, começando a demonstrar sinais de cansaço. — Eu vou ter que tomar mais cuidado.

— Não pense que só prestando mais atenção vai conseguir anular meus ataques — Dan estava mais confiante. — Eu sou mais rápido.

— Não adianta ser mais rápido se você é desatento.

Quando se deu conta, Dan já estava envolto pela prisão de rochas de Hans. Estava preso no Rock Tomb, e só não fora finalizado ainda porque essa não era a vontade de seu oponente.

— Antes de terminar com isso eu vou te dizer uma coisa — falou Hans, já com mais segurança em sua voz. — Agora você vai entender o que é um guardião do ginásio. Estarei esperando por sua revanche.

Hans movimentou os braços e a prisão de rochas se fechou. O ginásio ficou em silêncio por alguns segundos. Todos estavam à espera da confirmação do fim da batalha. O próprio juiz ameaçou o gesto de encerramento, porém acabou voltando atrás ao perceber uma movimentação dentro das rochas. O Nosepass observava a prisão do Rock Tomb sem muita desconfiança, mas se surpreendeu ao ver que de dentro dela começava a sair uma grande quantidade de fumaça.

Sapphire, que já estava praticamente derrotada, teve sua atenção atraída para o foco daquela situação, justamente o local onde seu Torchic fora aprisionado. As rochas estavam começando a deformar, tomando uma consistência bem menos sólida ao mesmo tempo que tomavam uma coloração incandescente.

Percebendo a ameaça, Hans se deslocou alguns passos para trás, e ficou no aguardo do que aconteceria. De repente, as rochas parcialmente derretidas explodiram liberando vestígios para todos os lados. De dentro delas saiu Dan, exausto e com ferimentos por todo o corpo, porém ainda de pé.

— Quem vai precisar pedir revanche é você — disse o Torchic enquanto tentava estabilizar a própria respiração.

Pela primeira vez em muito tempo Hans estava assustado. Não conseguia imaginar como aquele minúsculo Torchic poderia ter resistido ao Rock Tomb. Não só isso, como ainda conseguiu gerar um calor infernal e quebrar a prisão de dentro, fazendo parecer uma verdadeira erupção vulcânica.

Miriam se levantou vibrando. Mesmo Ruby estava eufórico, apesar de ser mais reservado. Suas mãos estavam fechadas com força, suas pernas sacudiam enquanto estava sentado e não conseguia tirar seus olhos da batalha.

— EU ESTOU DELIRANDO! ESSE TORCHIC É UM NINJA! — Miriam já estava aos berros. — BOTA PRA QUEBRAR NESSA BAGAÇA QUE EU SÓ SAIO DAQUI COM O PRÉDIO EM CHAMAS! UUUUUHHL!

— Eu sempre atraio esse tipo de gente, ou é só impressão minha? — questionou o menino enquanto cobria o rosto envergonhado.

Dan correu na direção de Hans mais uma vez, era hora de ir com tudo. Já estava bem debilitado, por sorte havia resistido ao último golpe, mas agora não podia mais se dar o luxo de receber ataques. Tinha que encontrar uma brecha logo.

Hans usou o Rock Tomb, porém dessa vez para erguer uma parede de pedras a sua frente. Dan tentou romper a barreira com o Ember. Embora não tenha conseguido quebrar a defesa, as rochas sofreram danos severos.

— É impressão minha, ou o Ember do Torchic ficou mais forte? — indagou Ruby.

— Eu não conheço bem a espécie dos Torchics, mas alguns Pokémons de fogo possuem uma habilidade especial chamada Blaze — explicava Miriam, ainda sem tirar os olhos da batalha. — Essa habilidade aumenta os ataques do tipo fogo quando eles estão enfraquecidos. Não só torna o Pokémon mais forte, como dá um aviso ao treinador para ser cauteloso.

Hans desceu a parede de pedras e viu que Dan estava a sua frente, posicionado para uma nova investida. Sabia que não podia atacar de qualquer jeito, ou acabaria cedendo uma abertura para ser golpeado novamente. Decidiu por atacar novamente com o Rock Tomb. O Torchic saltou logo que percebeu as rochas se fechando a sua volta, porém não havia notado que o Nosepass imediatamente mudou o ataque para um Rock Throw.

O fato de Dan estar no ar impossibilitava a evasiva, e por isso ele acabou sendo acertado com força pelas rochas lançadas. Ele foi arremessado para trás e caiu no chão rolando para perto de Sapphire, que o encarava com preocupação. Com bastante esforço conseguiu se levantar, enquanto Hans apenas aguardava a próxima investida.

— Já estou ficando sem paciência — murmurou o Torchic antes de sair novamente para o ataque.

Mais uma vez ele corria em direção a Hans, cada vez mais furioso. Novas pedras eram lançadas na medida em que Dan se aproximava, mas ele conseguia se esquivar uma vez que percebera o padrão de ataque de seu oponente. Quando se aproximou o bastante estufou o peito para lançar o ataque, mas Hans se atirou em sua direção usando o Tackle.

Dan, no entanto, conseguiu em um ato de puro reflexo contra-atacar com Ember, acertando o Nosepass diretamente. Hans sentia seu corpo rochoso ardendo com o calor das brasas cada vez mais quentes, sentia como se fosse derreter ali mesmo. Por fim, o Torchic não perdoou o descuido do adversário e com um Scratch o jogou de volta ao chão com toda a força que podia.

Hans tentava se reerguer, mas seu corpo já pesava mais do que o normal, sinal do desgaste que sofrera naquele confronto. Após encarar o Torchic mais uma vez, finalmente cedeu.

— Nosepass está inconsciente — oficializou o juiz de batalha. — A vitória é da desafiante Sapphire.

A garota estava sem palavras. Não acreditava que finalmente havia terminado, e conseguiu sair de seu primeiro grande desafio com uma vitória, algo muito raro entre os treinadores iniciantes. Roxanne caminhou até ela, enquanto seus dois amigos desciam das arquibancadas para cumprimentar a amiga que se sagrou vencedora.

Miriam lhe deu um abraço forte, enquanto Ruby a cumprimentou de uma maneira mais reservada. Por fim, Roxanne parou à sua frente e estendeu a mão, onde estava um pequeno objeto metálico, mas que brilhava intensamente quando recebia a pouca luz do dia que entrava no ginásio.


— Você pode ser filha do Birch, mas venceu essa batalha por mérito próprio — disse a líder sorrindo. — Com muito orgulho eu lhe confio uma Insígnia da Pedra, prova de que você passou pelo desafio do ginásio de Rustboro. Parabéns.

Logo que a adrenalina baixou, Sapphire não se aguentou e desabou em lágrimas. A menina chorava incansavelmente, enquanto seus dois amigos e Roxanne sorriam. Vencer aquela batalha era a prova de que Sapphire era capaz de seguir seu sonho, e naquele momento ela tirava um imenso peso dos ombros. Se deu o direito de sentir um pouco de alívio depois de toda a tensão que teve que suportar naquela batalha. Sabia que era apenas o começo, mas naquele breve momento era como se já se considerasse vencedora.

Assim que Roxanne notificou a Liga Pokémon sobre o resultado da batalha, uma quantia em dinheiro foi depositada na conta de Sapphire pela vitória. Era um dinheiro dado para ajudar a menina a comprar suprimentos para seguir viagem, mas a treinadora resolveu usar parte daquele montante para fazer algo diferente. Quando ela disse que levaria os dois companheiros para uma das famosas pizzarias de Rustboro naquela noite, quase foi a vez de Ruby cair no choro. Há tempos ele não comia alguma besteira comum para as pessoas normais. Mas naquela noite seria permitido. Afinal, todos precisam de uma folga de vez em quando.

Passadas algumas horas a noite caiu na cidade, e os três já estavam sentados à mesa, esperando pelo pedido. Trajavam roupas melhores, que carregavam consigo para esse tipo de ocasião.

— Não achei que ia conseguir uma insígnia logo na primeira tentativa — Sapphire não conseguia conter o sorriso. — Vou dar um descanso e depois já volto treinando forte para o segundo ginásio!

— Você e o Torchic pareciam estar se entendendo melhor hoje — comentou Ruby. — Talvez ele já esteja começando a se acostumar a você.

— Não é bem isso. Nós só chegamos à conclusão de que se a gente não trabalhasse junto, a gente ia acabar perdendo.

— Mas de qualquer forma vocês já chegaram a um consenso — Miriam argumentou. — Isso já é um grande avanço.

Ruby não conseguiu se conter ao ver a euforia da companheira, e resolveu que era a hora dele também começar a se mexer, ou acabaria ficando para trás.

— Acho que também está na hora de eu começar a acertar as coisas com o Treecko — disse o menino. — Tenho um contest em breve, e vou precisar dele. Miriam, eu aceito a sua ajuda.

Miriam se surpreendeu ao ver que Ruby resolveu se impor contra as dúvidas que o cercavam. Ela sorriu gentilmente, feliz em ver que ele também queria seguir em frente.

— Será um prazer te ajudar. Começamos amanhã.

Sapphire conseguiu sua primeira insígnia após uma dura batalha contra Roxanne e assim deu um importante passo para seu objetivo de competir na Liga Pokémon. Pela primeira vez ela e seu Torchic conseguiram trabalhar em equipe, o que mostrava que não era impossível os dois se entenderem.

Esse sucesso contagiou Ruby, que agora está disposto a resolver seus problemas com Treecko e conseguir competir em seu primeiro contest. Com a experiência de Miriam, talvez o rapaz pudesse obter uma resposta. Ele estava prestes a descobrir se também conseguiria dar um passo adiante.

FIM DO CAPÍTULO 8

  

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