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Notas do Autor - A Gym Leader's Life 1


Olá, pessoal!

Chegamos a três semanas seguidas de postagem! Realmente um marco inesperado, mas seguimos firmes e fortes! O cronograma que preparei para o mês de Fevereiro já foi cumprido, então a missão foi bem sucedida. Para Março já temos dois capítulos prontos, a aguardada primeira batalha de ginásio de Sapphire na semana que vem e mais um que será postado no dia 16. Sim, eu resolvi dar um intervalo de uma semana entre as publicações dos capítulos 8 e 9, pois assim eu ganho tempo para deixar mais conteúdo pronto. Estou escrevendo todos os dias ainda, as coisas estão indo bem, mas estou com alguns trabalhos da faculdade acumulados, então é normal que o ritmo acabe desacelerando um pouco. Mas sem pânico, está tudo sob controle!

Sobre o especial, era um capítulo que já estava pronto desde o ano passado, assim como o capítulo 6. A Gym Leader's Life é uma série de especiais que, como o próprio nome já sugere, foca nos líderes de ginásio. Ela nasceu com uma proposta diferente, se eu não me engano era o Canas de Sinnoh e o Lino, primeiro autor de Hoenn, que fariam esse trabalho em conjunto. Eu não me lembro, faz bastante tempo. Mas a proposta deles na época seria apenas capítulos dos líderes em dias normais. O Lino saiu da equipe e o Canas não quis continuar com a série, então como eu estava reiniciando Hoenn eu vi uma oportunidade de fazer algo desse tipo. Pedi permissão ao Canas para usar o nome do especial, e ele aceitou.

A proposta dessa série aqui em Hoenn, no entanto, será um pouco diferente da original. Eu pretendo mostrar um pouco do passado dos líderes, como eles chegaram ao cargo, ou o que os motivou a seguir esse sonho de comandar um ginásio. Eu espero que gostem desse primeiro capítulo da Roxanne, e se as coisas continuarem caminhando bem como estão em breve já teremos mais um líder pra Sapphire desafiar e um especial novo para ler, não é?

Aliás, tenho que agradecer ao Canas novamente. Além de gentilmente ceder o nome do especial para ser usado aqui em Hoenn, ele ainda fez uma fanart incrível para ilustrar uma cena do primeiro capítulo dessa série. Fico muito honrado de poder usar uma arte que ele fez só para este especial, porque mesmo o cara sendo fã declarado da Roxanne não muda o fato de que isso dá muito trabalho de fazer. Valeu, bro! Você é o cara!

Vou ficando por aqui, pois não quero me alongar muito nas notas. Para encerrar, vou deixar aqui uma novidade, que é um grupo da Aliança no Discord. Estamos colocando para dentro o pessoal que frequenta o blog, comentando sempre e marcando presença — até porque estes são os que a gente consegue identificar. É um grupo livre, não só para os membros da equipe, mas também para leitores que queiram interagir por lá. Já temos 4 leitores fazendo parte, e se você tem interesse em entrar não hesite em mandar um e-mail para mim ou para o Dento (meu e-mail está na página de Contato e o do Dento se eu não me engano está na página da Área do Leitor em Johto).

Bom, eu disse que não ia me alongar, mas acabei fazendo justamente o contrário. Mas foi por uma boa causa. Vocês leitores também são parte da equipe, então também merecem esse canal de interação maior. No blog não dá pra conversar, né? Mas lá vai ser legal, podem confiar!

Até a próxima semana! õ/

A Gym Leader's Life - Capítulo 1

Roxanne


Já passava das dez horas da noite quando a bibliotecária da Academia Pokémon de Rustboro começou a trancar as portas para encerrar o expediente. Antes de ir embora, verificou mais uma vez se estava tudo em ordem, mas se surpreendeu ao ver que ainda havia uma presença estranha no local. Ou não tão estranha quanto parecia. Mais uma vez, estava sentada à mesa uma jovem moça de cabelos castanhos e olhos curiosos, vidrados em sua leitura noturna.

— Roxanne, minha querida... — a bibliotecária suspirou. — Já está tarde. Por que não vai descansar um pouco?

— Perdão, senhora Bianucci! — a moça se levantou, constrangida. — Eu acabei sentando para estudar e perdi a noção do tempo! Não era minha intenção atrapalhá-la. Mil desculpas!

— Não estou irritada — disse a senhora. — Na verdade estou preocupada, pois você tem dormido muito pouco ultimamente. A exaustão pode acabar fazendo mal à sua saúde.

— Entendo. Me desculpe por preocupá-la. Prometo que vou me cuidar mais — Roxanne então pegou o livro que estava lendo. — Se não se importa, vou levar este aqui para casa hoje. Estou quase terminando, e por isso não quero perder a linha de raciocínio.

A bibliotecária a olhou com desconfiança. Roxanne era uma devoradora de livros como nunca se viu igual. Por isso bastava uma capa bem feita com um título chamativo para que ela esquecesse da vida para enterrar a cara naquelas páginas. Rustboro era uma cidade grande, a maior metrópole de toda Hoenn, e apesar de suas vantagens também tinha seus perigos.

O crescimento demográfico desenfreado da cidade aumentou os índices de violência nos anos anteriores. Naquela época, próxima às festas de fim de ano, os assaltos se tornavam ainda mais frequentes, e de fato o jeito distraído de Roxanne preocupava Bianucci.

— Gostaria de uma carona até a sua casa? Estou de carro hoje.

— Não é muita contramão para a senhora? — indagou Roxanne, um pouco sem jeito.

— De forma alguma! Sua casa fica a dois quarteirões de distância da minha. Posso levá-la sem problemas.

Roxanne então aceitou a oferta de Bianucci, e assim pôde chegar a casa em segurança. Era um apartamento simples, porém funcional. Já fazia quase um ano desde que a garota deixou para trás a sua vida antiga com a família em Oldale, e se mudou para um grande centro a fim de alçar vôos mais altos.

Tinha obsessão pelo conhecimento, e queria acumulá-lo o quanto fosse possível. Queria ser professora. De qualquer coisa. Não se importava com qual área gostava mais. Apenas queria ensinar aos outros e ser admirada por isso, da mesma forma que sempre admirou seus professores. Ela sempre foi estudiosa, a fome por livros corria em suas veias desde jovem. E quando chegou a Rustboro, se viu diante de uma oportunidade.

Ela estava parada em frente à janela de seu apartamento. As cortinas abertas permitiam que ela visse o movimento naquele início de madrugada. Apesar de todas as noites dormindo tão pouco, Roxanne não se sentia cansada. Longe disso, só pensava consigo mesma se terminaria o livro de uma vez ou se prepararia um chá para aproveitar o final. E o clima mais frio do final do ano a fez optar pelo chá. Foi até a cozinha, e de um dos armários retirou todos os itens necessários para preparar sua bebida.

Não tinha muito jeito para cozinha, mas Roxanne não deixava que isso afetasse seu humor. Pelo contrário, achava cômico o quanto ela tinha dificuldades para preparar um simples chá. E enquanto esperava a água ferver ela se recordava de algumas coisas de seu passado, muito diferente daquela vida nova na capital de Hoenn.

Ao terminar de limpar a bagunça que fez na pia da cozinha, a jovem mulher pegou o chá preparado, o colocou dentro de um bule e o levou até a mesa da sala, onde estavam os livros que ela teimava em terminar de ler antes de ir para a cama. Matemática, física, história, o que viesse pela frente era um bom assunto para ela. Mas foi com o passar do tempo que ela se deparou com seu tema preferido: arqueologia. Um sorriso involuntário se fez em seu rosto, ao mesmo tempo em que era tomada por uma curiosidade sobre-humana. Terminou de ler o livro em cerca de duas horas. E não estava nem um pouco com sono. Enquanto a madrugada tratava de aquietar a metrópole de seus ruídos incômodos, Roxanne analisou a capa do próximo livro por onde iria se aventurar. E para a sua surpresa ali estava um assunto que nunca teve interesse.

O livro tinha uma capa antiquada em tom vinho, com seu título gravado em letras douradas. Seu nome era "Introdução à Criação Pokémon", de autoria de um homem chamado Samuel Oak. Um nome que lhe parecia familiar. Provavelmente alguém que já tinha aparecido na televisão ou algo do tipo. Quando abriu o livro, um pedaço de papel caiu de dentro dele. Roxanne o desdobrou cuidadosamente, revelando o que parecia ser um bilhete assinado por Bianucci.

"Você sempre diz que nunca se cansa de conhecer assuntos novos, então desta vez eu tratei de esconder um livro entre os seus pedidos. Este é um assunto que nunca vi você procurando na biblioteca, então espero que seja uma leitura especial. E um lembrete de que devemos estar sempre buscando por novidades. Não precisa entregá-lo de volta, pois ele não pertence à biblioteca. Eu o comprei para te dar de presente. Boa leitura."

Roxanne ficou um pouco sem graça, porque realmente não tinha interesse em criação Pokémon ou qualquer outra área similar à dos treinadores. Mas aquele era um presente recebido de alguém que apreciava muito, e achou que seria ingratidão de sua parte simplesmente jogá-lo em um canto e deixar que o tempo se encarregasse de fazê-la esquecer.

— Bem, como a senhorita Bianucci disse, não vai me fazer mal ler um pouco sobre algo novo — disse a moça, após beber um gole de seu chá.

Seus olhos passeavam devagar entre as linhas de cada página, sem muita pressa. Aos poucos, a mente deixava de embaralhar as informações, e passava a focar melhor no conteúdo daquele livro. No fim das contas não era tão desinteressante quanto Roxanne acreditava. Pelo contrário, ali havia muitas informações que despertavam cada vez mais curiosidade nela. Inclusive algumas delas se interligavam com conceitos e fatos que ela tinha acabado de ler no livro sobre arqueologia.

— Então eles realmente existiram... — conversava consigo mesma na solidão daquela sala. — Eu acreditava que esses Pokémons eram apenas mitos.

Quando se deu conta, já amanhecia. Roxanne se assustou com a claridade invadindo o seu apartamento, justo quando havia terminado o livro. Não viu o tempo passar, de tanto que estava entretida com a leitura. Por sorte era sábado, então podia simplesmente descansar durante o dia. Apenas tratou de arrumar as coisas e pegar os livros para que pudessem ser devolvidos à biblioteca o quanto antes.

Assim que chegou à biblioteca da cidade já foi direto ao encontro de Bianucci para devolver os livros. Porém, como já era esperado, antes de ir embora começou a andar entre as estantes e então ia coletando cada vez mais livros. Foi de encontro ao balcão da biblioteca, e Bianucci fora completamente tapada da visão da garota por uma enorme pilha que ela acabaria lendo no fim de semana.

A senhora apenas sorriu. Já não se espantava mais com Roxanne, pois ela já se acostumara com os gostos e comportamentos da menina. Porém se assustou ao perceber que praticamente todos os livros tratavam do mesmo assunto: criação Pokémon.

— Acho que fiz a escolha certa ao presenteá-la com aquele livro — disse.

— Para ser bem sincera eu nunca tive interesse nessa área — Roxanne explicava. — Mas, ao ler aquele livro que a senhora me deu, eu percebi que os Pokémons possuem vários mistérios, e muitas coisas que eu acreditava que eram apenas histórias são reais. Por isso estou querendo me aprofundar no assunto. Não só isso, mas acho que já tenho em mente que eu deva me tornar uma treinadora, embora eu ainda não tenha uma licença para isso...

Bianucci parou de carimbar os livros por um momento. Puxou uma das gavetas do balcão e de lá retirou um panfleto simples, que entregou para Roxanne.

— O que é isso? — perguntou a jovem.

— Vá até este lugar. É a Academia Pokémon de Rustboro, uma escola especial para aspirantes a treinadores. Eles devem estar em recesso por conta do fim de ano, mas acho que você já pode se inscrever em uma das novas turmas que vão começar em breve. Eles vão colocá-la em uma classe de alunos com sua faixa de idade. E se eu te conheço, você já estará com um nível de conhecimento tão avançado quando o curso começar que vai concluí-lo num piscar de olhos. Ao se formar eles vão conferir a você sua licença de treinadora.

Roxanne abriu um largo sorriso naquele momento. Não era uma cena muito comum, visto que ela sempre levava uma expressão de serenidade no rosto. Assim que concluiu a troca dos livros ela foi embora para casa. Naquela tarde ela descansaria da noite que passara em claro, mas assim que acordasse estaria lendo novamente. Dessa vez sobre sua mais nova área de interesse.

Os meses aos poucos foram passando. As pessoas da Academia ficavam cada vez mais intrigadas com a aluna superdotada que lá estava. Não tirava sequer um nove. Apenas gabaritava todas as provas, de forma impecável. Era a jovem extremamente inteligente, porém com a aparência desleixada e feição de uma noite mal dormida, típica de uma nerd da velha guarda, já que não conseguia arrumar tempo para se cuidar por conta de estar sempre presa aos livros. Por vezes era até chamada de "demônio" pelos outros estudantes, mas parecia não se importar muito com isso.

Como previsto por Bianucci, Roxanne não demorou a pular turmas e se formou com distinção. Foi então que surgiu sua primeira grande oportunidade de se firmar em sua nova cidade: a Academia a havia convidado para se tornar uma instrutora.

No exato momento em que recebera o convite, Roxanne se lembrou de seu antigo objetivo ao chegar a Rustboro. Agora ela se encontrava em uma encruzilhada. Qual caminho escolheria? O velho sonho de transmitir conhecimento aos mais jovens, ou as batalhas repletas da adrenalina que sonhava encontrar quando se redescobriu? Por mais que o cargo ligasse as duas coisas, não poderia fazê-las da maneira que gostaria. Afinal, não poderia sair de Rustboro e deixar os seus alunos sem aula.

Precisava de tempo para pensar. Roxanne poderia se considerar uma pessoa feliz e quase realizada, pois as suas oportunidades mais visadas estavam totalmente em aberto à sua frente. Porém, a árdua tarefa de ter que escolher apenas uma, ignorando completamente a outra, era algo que a deixava em angústia.

Colocou seu casaco e saiu de novo. Talvez uma caminhada a ajudasse a refrescar a mente, lhe dando mais tranquilidade para enfim poder fazer a sua escolha. Não era uma escolha trivial, como escolher a disciplina que irá lecionar ou o Pokémon inicial que levará para suas viagens. Era seu futuro que estava ali, e com ele sua felicidade e realização pessoal. Passava pelos cafés de esquina, e olhava as vitrines das lojas. Todas as pessoas trabalhavam, e pareciam convictas de que seus lugares eram aqueles. Obviamente haveria alguns insatisfeitos com a vida profissional, nada fora do normal. Mas Roxanne não queria fazer parte daquele grupo. Foi então que resolveu ir ao lugar que sempre lhe concedeu as respostas para os seus mais complicados enigmas.

Dessa vez não foi até as estantes onde estavam o reduto de conhecimento que a acompanhou durante sua estadia na cidade. Andou até a recepção, onde Bianucci a observava com curiosidade.

— Acho que estou presa a um dilema.

Roxanne explicou tudo com calma. Bianucci certas vezes soltava um leve riso ao ver que suas previsões tinham se concretizado, e manteve a calma a todo momento, tentando contagiar a garota aflita com sua serenidade característica de uma pessoa com longa vivência.

— O dinheiro de reserva que eu juntei enquanto estava em Oldale está se esgotando. Acho que vou ter que aceitar esse emprego de uma forma ou outra — dizia, carregando consigo um semblante de preocupação. — Não conseguiria me sentir bem comigo mesma se fizesse meus pais me sustentarem em uma cidade como esta, onde o custo de vida é muito mais alto.

Bianucci bebeu um gole do café que estava em uma pequena mesa de canto atrás do balcão. A senhora ajeitou seus óculos de maneira delicada, indicando que parecia estar bem localizada quanto a uma solução para o problema de sua amiga. Mas não era bem o caso.

— Se está esperando que eu tenha a resposta para este problema, sinto em dizer que não é verdade. Mas eu posso te dar um conselho que vai te ajudar a encontrar essa resposta com mais facilidade.

— E qual seria?

— Ouça seu coração, minha querida. E tenha em mente que você ainda é jovem. Oportunidades não vão faltar, e você ainda tem tempo de tomar um caminho diferente caso não se sinta bem com o primeiro. É normal que tenhamos dúvidas quando temos boas opções pelo caminho, mas o mais sensato a se fazer é ir na direção que parece ser a mais estável no momento, e nunca deixar de se atentar ao outro caminho, caso surja de lá uma oportunidade melhor.

— Acha que eu devo aceitar o convite para ser instrutora na Academia?

— Eu já fui uma jovem cheia de dúvidas como você, e vou responder a sua pergunta com outra pergunta: como pode ter tanta certeza de que será infeliz se você nem ao menos começou a trabalhar nessa área para saber se é verdade? Uma vez lá dentro você terá a real noção de como as coisas funcionam, e se no fim das contas aquilo não for o que te satisfaz, basta apenas seguir pelo outro caminho.

• • • 

Três meses se passaram desde que Roxanne aceitou o convite para assumir o cargo de instrutora da Academia Pokémon. Seu desempenho era notável o suficiente para que fosse considerada uma das melhores professoras a passar por lá, senão a melhor. A impressão que se tinha por parte dos alunos era a de que não havia nada que ela não pudesse explicar.

O sinal podia ser ouvido ao longo de toda a instituição, declarando o fim das aulas daquele dia. Roxanne foi a última a deixar a sala, como sempre, e se dirigiu até a diretoria para deixar os relatórios da semana. Aproveitando que naquele dia estava saindo mais cedo, resolveu passar na biblioteca. O trabalho agora tomava seu tempo, e, portanto, não conseguia aproveitar a vida há algumas semanas.

No caminho para o local, Roxanne passou pelo ginásio da cidade, que estava fechado há alguns dias. A temporada da Liga Pokémon havia acabado, e aparentemente o líder de Rustboro havia se aposentado. A mulher então notou um aviso na entrada do local, e parou para ler a mesma. Se surpreendeu ao ver que era uma nota oficial emitida pelo Comitê da Liga Pokémon, informando que em breve abririam testes para que ocupassem a vaga.

Era a oportunidade que estava esperando de demonstrar que dominava o assunto, tanto na teoria como na prática. Seu título de melhor aluna e melhor professora da Academia agora poderiam finalmente serem postos à prova. Abriu mão de seu tempo extra de folga e correu para a rota ao sul da cidade. Dessa vez não iria se preparar através dos livros, mas sim com treinamento pesado com seu time.

Os dias foram passando até a data marcada. E lá estava Roxanne, pronta para prestar sua audiência e mostrar que era mais do que qualificada para aquele cargo. Entre os auditores estava Drake, detentor do título de Campeão de Hoenn. Queria impressioná-lo, e conseguiu. Suas habilidades e o conhecimento que possuía sobre o tipo pedra mostraram a todos que a vaga já tinha uma forte candidata a ocupá-la. E ao final do dia ninguém havia conseguido realizar um teste mais convincente do que a garota. Ela estava aprovada.

Depois de alguns anos Roxanne havia construído a péssima fama de trucidar os seus desafiantes, coisa que ia muito além da superioridade de seus Pokémons, mas que também era fruto de seu intelecto avançado, que lhe dava uma capacidade de criação de estratégias e improviso que dificilmente eram rompidas, a não ser que o desafiante em questão fosse realmente talentoso. Sua alcunha de "Dama de Pedra" não era mero capricho popular.

E certo dia ela podia ser vista caminhando por um parque na cidade acompanhada de Bianucci, sua velha amiga desde os tempos em que frequentava a biblioteca como se fosse sua segunda casa.

— Ouvi dizer que você terá um desafio amanhã — comentou a idosa.

— Sim, é verdade. A temporada mal começou e já estou trabalhando bastante no ginásio. Ainda bem que me preparei durante o recesso da Liga.

— Então presumo que será mais um treinador que irá para casa frustrado?

— Dessa vez eu não tenho certeza — confessou a menina.

Bianucci parou por um momento, refletindo sobre a resposta que acabara de ser dada por Roxanne. A mais jovem então parou e ficou a observar sua acompanhante naquela caminhada de fim de tarde.

— Quando você tem dúvidas como esta é porque a batalha vai ser das boas — disse Bianucci, rindo de leve. — Este desafiante em particular deve ser bem talentoso.

— Pode ter certeza que sim.

Passado um tempo, Roxanne chegou ao seu apartamento. Dada a escuridão da noite, ela acendeu as luzes da sala para poder enxergar melhor. Porém, logo desistiu da ideia e as apagou novamente, caminhando em seguida para o canto da sala e acendendo apenas um pequeno abajur. Achava que a iluminação baixa a fazia relaxar. Ela se jogou no sofá e pegou o controle remoto de um aparelho de som. Ao ligá-lo, escutava-se apenas um jazz instrumental com o volume baixo no apartamento, em harmonia com o barulho do trânsito da metrópole ao fundo. Aquele era o momento de descansar.

E na manhã seguinte lá estava ela, lendo mais um de seus livros enquanto bebia um chá, na mesma mesa onde leu o livro dado por Bianucci e começou a ter os devaneios de se tornar uma treinadora. Era seu momento de relaxar antes do grande desafio que viria pela frente, onde iria testar as habilidades de um desafiante promissor, como há muito tempo não via.

— Estou ansiosa para você me mostrar o que sabe, Sapphire — e então voltou a beber o chá.

Art by: CanasOminous

FIM DO CAPÍTULO

 

Notas do Autor - Capítulo 7


Aí estamos! Duas semanas em sequência, quem diria? Claro, não ficaremos nesse ritmo para sempre, mas pelo menos as duas próximas estão garantidas. Acredito que o capítulo 9 fique pronto antes de ainda essa semana, mas mesmo que seja o caso eu não vou postá-lo imediatamente na semana seguinte ao 8. Vou abrir um intervalo de uma ou duas semanas para continuar produzindo com uma margem de segurança. As coisas estão indo bem, e nesse ritmo acredito que teremos mais capítulos prontos em breve, mas prefiro não arriscar a postar tudo e depois ficar sem nada guardado de novo.

Sobre o capítulo, nele nós pudemos notar uma espécie de teste classificatório para a batalha de ginásio. Isso foi inspirado no mangá Pokémon Adventures - Ruby & Sapphire, mas pretendo estender esse conceito para todos os ginásios (eu disse pretendo, mas sinceramente até agora só consegui pensar no desafio do Brawly). São pequenos testes prévios para medir o nível de preparação dos treinadores, e ver se eles estão aptos a enfrentar os líderes. Bem parecido com que vimos no anime na temporada das Ilhas Laranja também. Acho legal essas avaliações, pois conseguem medir se os desafiantes possuem os atributos necessários para se tornarem treinadores completos, e a cada ginásio vencido esses conhecimentos vão se acumulando. Dessa forma o ginásio deixa de ser apenas um "vou lá, batalho e venço para pegar a insígnia", e se torna algo mais elaborado.

Sapphire passou no teste de admissão, e vai poder enfrentar a Roxanne. Miriam mostrou que também tem seus méritos, e o Ruby... Bom, deixa pra lá.

Espero que tenham passado um bom carnaval, e divirtam-se com a leitura.

Ah, e só mais uma coisa! Hoje, dia 17 de Fevereiro, a Aliança está completando 7 anos de existência! Eu e o Canas só nos tocamos nisso depois de um bom tempo conversando no Discord.

De qualquer forma ele fez um post muito daora a respeito, lá no blog de Sinnoh. Quem quiser dar uma lida, pode clicar aqui para ir direto ao post.

Acho que é isso por hoje. Até a próxima!

Capítulo 7

Teste de admissão


Ruby e Sapphire sentiam seus ouvidos doer com o barulho incessante das buzinas dos carros que congestionavam o trânsito do centro da cidade. Para Miriam, aquele choque de realidade era menor, pois sua cidade natal, apesar de ser de médio porte, era movimentada em função do porto que a tornava uma importante rota comercial. Aquele era quase um mundo diferente para os viajantes. Jamais haviam se deparado com uma cidade tão imensa, mas ao mesmo tempo que estavam espantados seus olhares eram de quem estava maravilhado com a cena.

Rustboro era a capital e maior cidade de Hoenn, mas certamente não tomava o termo "selva de concreto" para si. As ruas eram ornamentadas, as construções exuberantes e bem elaboradas com um estilo arquitetônico que só se via por ali, as pessoas saindo das lojas contentes, com inúmeras sacolas de compras nas mãos. Além de tudo isso, praças com monumentos históricos, teatros e anfiteatros, bibliotecas, museus e a imponente Academia Pokémon, uma escola de treinadores das mais renomadas do mundo. A cidade explodia cultura para qualquer lado que se olhasse, e imediatamente injetava na mente dos dois novatos a sensação de querer ficar lá para sempre.

— Vocês precisam ver é como isso aqui fica à noite! — disse um senhor de idade enquanto passava pelo trio, o que os deixou imaginando como idosos tinham mais facilidade para puxar assunto com qualquer pessoa.

— Ele provavelmente percebeu que não somos daqui... — observou Ruby, fazendo Sapphire cair na risada.

— Acho que ficou muito na cara mesmo. Estamos aqui como um bando de patetas só olhando pra todos os lados sem fazer nada.

— E então... — interrompeu Miriam. — Não é melhor a gente ir fazer o check-in no Centro Pokémon?

O trio caminhou até o local, onde fizeram as reservas de quartos para que tivessem hospedagem durante toda a estadia na cidade. Miriam aproveitou para realizar sua inscrição como competidora da Batalha da Fronteira, recebendo um guia melhor elaborado, com as informações a respeito das localizações de cada instalação, juntamente de uma espécie de cartão eletrônico para ser usado como um identificador da participante.

Passado algum tempo, por volta de uma hora, os três já tinham se estabelecido no quarto reservado, e por isso ficaram mais à vontade para voltar às ruas de Rustboro. Com mais calma podiam observar a beleza da cidade, ou pelo menos aquela área central onde se encontravam naquele momento. Sapphire então decidiu desdobrar um pedaço de papel que estava guardado em um de seus bolsos. Era um pequeno mapa da cidade que havia conseguido no Centro Pokémon, e poderia usá-lo para localizar o ginásio com mais facilidade. Queria logo marcar o seu primeiro desafio.

E assim ela seguiu pelas ruas, com Ruby e Miriam andando logo atrás. Depois de alguns quarteirões chegou ao seu destino. Uma construção bem maior que as casas ao redor, porém com altura menor que os edifícios espalhados pela cidade. Sua fachada se assemelhava a um museu, e de fato funcionava como tal, segundo informações que Sapphire lia no mapa que usava.


Sem hesitar, ela caminhou até a entrada do local, que era protegida por um porteiro e alguns seguranças que rondavam o pátio principal. O porteiro carregava consigo uma expressão cansada, enquanto lia um jornal sem sequer perceber a aproximação dos visitantes.

— Oi, com licença... — Sapphire se colocou na ponta dos pés e acenou o braço levantado para ser percebida pelo homem, que estava no alto de uma guarita.

— Não estamos recebendo visitas hoje — disse o porteiro, em tom seco.

— Estou aqui para desafiar o líder do ginásio. Sou uma treinadora.

O porteiro então abaixou o jornal para, enfim, fazer contato visual com os três. Ao olhar a cara de Sapphire ele arqueou uma das sobrancelhas, e com um tom de sarcasmo tratou de dar fim às pretensões da menina.

— Que bonitinha. Você por acaso já realizou o teste de admissão?

— Teste de admissão?

— Sim, menininha. Roxanne só recebe desafiantes que passam em um processo seletivo realizado duas vezes por mês na Academia Pokémon. É um teste de conhecimentos básicos para treinadores que seleciona aqueles que têm o mínimo de preparo para enfrentar um líder de ginásio. Sabe como é, não podemos deixar qualquer um entrar aqui para batalhar. Quando era permitido, às vezes tinha criança saindo daqui chorando...

Sapphire engoliu seco ao ouvir a última frase. Ouvia muitas histórias de jovens treinadores sendo liquidados ao enfrentar o ginásio de Rustboro, mas sempre imaginou que fossem boatos. Logo em seguida pensou que o porteiro estava querendo intimidá-la, e tentou relaxar. Porém, logo a enorme porta da frente se abriu, revelando uma mulher de cabelos castanhos que caminhava em direção à rua. Seus traços eram de uma moça jovem, e seu olhar demonstrava que era uma pessoa séria, assim como as roupas que vestia, que eram parecidas com as de uma professora. Ela parou por um momento para falar com o porteiro.

— Estou indo.

— Claro, senhorita — cumprimentou o porteiro. — Tenha um ótimo dia. Espero vê-la novamente em breve.

A mulher já se preparava para virar as costas, porém notou a presença dos três jovens no local, e se deixou levar pela curiosidade.

— Vocês seriam desafiantes para o ginásio?

— Na verdade apenas eu — respondeu Sapphire, que logo apontou para o porteiro. — Mas ele me disse que é necessário prestar um exame de admissão antes.

— Sim, é verdade. Você deve ir até a recepção da Academia Pokémon, que fica a três quarteirões daqui, e lá fazer a inscrição para prestar a avaliação. Estou indo para lá agora, inclusive, para finalizar a preparação da próxima prova.

O silêncio permaneceu no local. Os três ficaram surpresos com a coincidência de estarem de frente para uma das responsáveis por formular o exame que Sapphire teria que prestar.

— Só um momento — Ruby decidiu quebrar o silêncio. — Você então trabalha diretamente para o ginásio, e não só para o museu? Você tem contato com a tal líder Roxanne que esse homem citou?

A mulher não conseguiu conter um leve riso. Ela olhou para cada um dos três, ainda sorrindo, e respondeu prontamente.

— Sim, eu tenho. Se quiserem eu posso levá-los até a Academia para fazerem a inscrição. Podem pegar uma carona comigo.

Sendo assim os quatro entraram em um belo carro preto, que possuía um motorista particular ao volante. A mulher se sentou no banco da frente, deixando os três convidados juntos na parte de trás do veículo. Assim que todos colocaram os cintos de segurança, o carro partiu a caminho da Academia. Enquanto as ruas se passavam no curto trajeto, Sapphire então resolveu matar sua curiosidade.

— Com licença — disse se dirigindo à mulher. — Que tipo de líder é a Roxanne?

A moça então parou por um momento, procurando palavras que pudessem descrever a futura rival da menina.

— O que posso dizer sobre a Roxanne é que ela é o tipo de pessoa que leva muito a sério tudo o que faz, e só permite passar por seus desafios aqueles que ela realmente tem a certeza de que aprenderam o que é importante. Seja como professora ou como líder de ginásio. Ela tende a admirar os desafiantes fortes, e também sabe reconhecer um treinador com potencial. Me diga, qual o seu nome?

— Me chamo Sapphire, e venho da cidade de Littleroot.

A mulher pareceu surpresa ao ouvir aquilo. Ela então virou-se para Sapphire com um olhar curioso.

— Você por acaso é filha do Professor Birch?

— Sim, eu sou — a menina riu levemente, enquanto coçava a parte de trás da cabeça. — Mas não posso afirmar que puxei esse lado intelectual dele. Eu gosto mais do ar livre do que ficar trancada em casa com livros. Mas consegui aprender algumas coisas ajudando meu pai com algumas pesquisas de campo.

— Entendo — a mulher agora esboçava um sorriso evidente. — Nesse caso, existe uma grande chance da Roxanne acabar gostando de você.

Após alguns minutos o carro parou em frente à Academia. Era uma construção bem diferente dos padrões de Rustboro. As paredes de concreto com formas clássicas esculpidas agora davam espaço à modernidade, tudo com um toque contemporâneo. A mulher parecia se divertir com as expressões de espanto de Sapphire, Ruby e Miriam, que mal podiam acreditar que um prédio daqueles fora construído no tempo em que viviam.


— Chegamos. Esta é a Academia Pokémon de Rustboro, que tem como foco auxiliar a formação de grandes treinadores, criadores e pesquisadores Pokémon — dizia ao sair do carro junto com os três acompanhantes. — Sapphire, você poderá realizar a inscrição na recepção mesmo. Haverá uma pessoa para atendê-la com relação ao exame.

— Certo, vou agora mesmo.

— E vocês dois? — agora a mulher virou-se para Miriam e Ruby. — Não pretendem fazer o exame também?

— Estamos apenas acompanhando a Sapphire. Eu sou coordenador — disse Ruby.

— E eu sou uma treinadora, mas não pretendo disputar a Liga esse ano — complementou Miriam. — Vim para Hoenn por causa da Batalha da Fronteira.

— Entendo. Mesmo assim eu sugiro que façam a prova, só para testar seus conhecimentos mesmo. Vocês podem acabar aprendendo coisas importantes para o futuro.

Miriam e Ruby trocaram olhares rapidamente, e depois pareceram concordar com a ideia.

— Nesse caso acho que vamos fazer a prova sim. Obrigado pela sugestão — disse Ruby sorrindo.

— Certo. Bom, eu tenho que ir agora. Estou indo para uma reunião. A prova será daqui a dois dias, mas como se trata de conhecimentos básicos vocês não deverão ter muito trabalho para se preparar. Desejo-lhes boa sorte, especialmente para você, Sapphire. Estarei no aguardo para ver suas habilidades quando for desafiar o ginásio.

A mulher enfim entrou no local, enquanto o trio permaneceu no pátio principal encarando o prédio. Dos três, Sapphire era a quem parecia estar mais distante. Sua mente trabalhava a todo vapor com os mais variados pensamentos do que poderia acontecer a partir do momento em que ela cruzasse a porta de entrada. Era chegada a hora, logo a frente estava seu primeiro desafio para ingressar de vez na vida que ela mesma escolheu. Não podia voltar atrás.

A menina cerrou os punhos, e após uma respiração profunda começou a caminhar até a Academia. Ao passar pela entrada, acompanhada de Ruby e Miriam, Sapphire andou até o balcão de recepção do lugar. O funcionário que os atendeu foi buscar os formulários para que eles preenchessem com as informações necessárias para a inscrição do exame. Ao final do processo, eles receberam um documento de comprovação, para ser exibido no exame, que seria realizado em dois dias a partir daquele momento, provando que eles eram candidatos.

Os três então saíram do prédio da Academia, e caminharam de volta à rua. Cada um guardou seu comprovante em suas respectivas mochilas, para que não houvesse o risco dos mesmos se perderem no caminho de volta ao Centro Pokémon.

— Acho que deveríamos estudar para nos prepararmos, não é? — Miriam sugeriu.

— Sim! — Sapphire respondeu prontamente. — Eu não posso falhar nesse exame de jeito nenhum!

• • •

Birch estava sentado em uma das mesas de seu laboratório, lendo um dos relatórios daquela semana entregues por um de seus assistentes. Ele já estava desligado do mundo exterior, quando foi despertado pelo som de batidas na porta. Ao abrir, surpreendeu-se ao dar de cara com Norman, que estava de passagem por Littleroot.

— Posso entrar? — perguntou o líder.

— Claro, à vontade! — Birch respondeu enquanto abria a porta para que o amigo pudesse passar.

— Resolvi aproveitar para ver um velho amigo. Como estão as coisas aqui no laboratório?

— Estão bem mais tranquilas depois que a Sapphire partiu, mas ela realmente faz falta — disse o pesquisador rindo. — Ela era muito útil com as pesquisas de campo, e pude avançar em várias teses por conta dela.

Norman caminhou até o sofá que ficava de frente para onde Birch estava sentado, e lá se acomodou. Parecia estar um pouco cansado, mas nada que um dia de folga não pudesse resolver.

— A minha casa também está um pouco estranha sem o Ruby. Às vezes consigo ouvir a voz dele me dizendo que algo lá está desorganizado. Essas crianças não nos deixam em paz nem quando estão longe. Onde será que eles estão agora?

— Dado o tempo que eles partiram, é possível que já estejam próximos a Rustboro, mas não tenho certeza. Tudo depende se o ritmo deles é mais rápido ou devagar.

A conversa parou por um momento, com os dois olhando fixamente para a parede. Estavam pensando no que o futuro poderia reservar para seus filhos, até que Norman quebrou o silêncio.

— Acha que eles podem chegar longe? — perguntou.

— Potencial eles têm, mas tudo vai depender da dedicação e do compromisso deles. Por mais talentosos que possam ser, eles não podem passar a vida toda achando que estão em um jogo de videogame ou algo do tipo. Mas eu acredito que eles já possuam essa mentalidade.

— Mudando de assunto, o que acha de passar lá em casa na sexta da semana que vem? — disse Norman. — Vamos assistir juntos o desafio do novo campeão da Liga contra a Elite.

— Já que me convidou eu aceito. Estou precisando dar um descanso, tenho trabalhado sem parar nas últimas semanas. Ainda tenho que orientar alguns treinadores novos que estão chegando para buscar o primeiro Pokémon.

— Fique tranquilo, lá em casa você vai relaxar. Vou comprar algumas cervejas e deixá-las guardadas então.

— Por favor, eu ia justamente pedir isso — Birch caiu na risada, em seguida tirando dinheiro do bolso e entregando a Norman. — Aqui está a minha parte. Se você vai me receber na sua casa, então me deixa pelo menos pagar metade.

Norman aceitou o dinheiro, mesmo estando sem jeito, e logo tratou de se despedir do pesquisador.

— Bem, eu preciso voltar para Petalburg. Não posso largar o ginásio por muito tempo, e também não quero atrapalhar o seu trabalho. Te espero na sexta então. Leve Cecilia. Helena tem trabalhado demais nos projetos dela, então é bom ter alguém pra distraí-la um pouco de vez em quando. Tenho certeza de que ela vai adorar a visita.

— Pode deixar — disse Birch ainda sentado, enquanto acenava para o amigo que partia.

Após a saída de Norman, Birch ficou sentado por mais um tempo refletindo.

— O desafio da Elite... Aquele garoto que venceu a última Liga é incrível. Será que algum dia a Sapphire vai chegar tão longe?

• • •

Após dois dias se preparando para o exame Sapphire, Miriam e Ruby chegam à Academia Pokémon. Era chegada a hora de colocar seus conhecimentos a prova, especialmente a primeira, que estava lá por precisar passar naquele teste para ter o direito de enfrentar Roxanne.

Quando todos os candidatos estavam na sala esperando a prova começar, um dos instrutores chamou a atenção de todos para que pudesse explicar alguns detalhes do processo.

— Inicialmente eu gostaria de dar as boas vindas a todos os candidatos, e desde já os parabenizo pela iniciativa de tentar enfrentar o ginásio de Rustboro. O exame terá três horas de duração, e todas as questões são de múltipla escolha. O tema do exame, como já informado, é um conjunto de conhecimentos básicos essenciais para um treinador. Não podemos permitir que alguém vá disputar a Liga Pokémon sem saber a maioria dessas informações. Não preciso avisar a vocês que colas têm como consequência a eliminação imediata do candidato. Serão aprovados aqueles com nota igual ou superior a 7,0 de um total de 10,0 — ele então olhou para a porta da sala, e percebeu a presença de uma pessoa. — É só isso que tenho a dizer. Porém, antes de iniciarmos, vocês receberão algumas palavras da líder do ginásio de Rustboro, Roxanne.

Da porta surgiu ninguém menos que a mulher que havia dado carona para Sapphire, Ruby e Miriam no dia em que estiveram no ginásio, deixando os três pasmos com a situação. Ela notou a expressão do trio, sorriu e então caminhou até o local onde estavam os instrutores, se colocando a frente deles e voltada para os candidatos.

— Como líder do ginásio de Rustboro, gostaria de agradecer a todos os presentes por vir tentar o exame de admissão para desafiar o ginásio. É um ato, acima de tudo, de coragem e autoconfiança que todo treinador precisa ter, principalmente quando se tem um objetivo tão ambicioso quanto buscar uma vaga na Liga Pokémon. Tenho certeza que todos aqui se prepararam bastante, e estarei aguardando os aprovados para marcarmos a data das batalhas. Boa sorte a todos.

Roxanne então saiu da sala, e a partir dali os instrutores começaram a distribuir as provas para que o exame tivesse início. Assim que o relógio da sala apontou o horário combinado para o início do exame o sinal foi dado para que os candidatos virassem suas provas e enfim começassem o teste. O barulho das provas sendo folheadas e algumas pontas de caneta já sendo arrastadas pelas folhas de papel já podia ser ouvido. No entanto, todos os presentes permaneciam em silêncio, o que ajudava a aumentar a tensão no local.

Ao término do tempo limite, as provas foram sendo recolhidas pelos instrutores. Os candidatos permaneciam na sala, agora mais soltos, podendo ficar de pé para esticar as pernas e conversando entre si para tentar disfarçar a apreensão.

Passaram-se quase duas horas após o fim do exame. A impressão era a de que já estavam por uma eternidade naquele local. Todos aguardavam com ansiedade o resultado do exame de aptidão, e era impossível prever o que aconteceria. Por mais confiantes ou pessimistas que os candidatos pudessem estar, tudo ali não passava de puro achismo. Não dava para ter certeza de nada, e não existiam resultados improváveis, sejam positivos ou negativos.

O instrutor então volta à sala onde o exame foi aplicado. Dentre os candidatos a desafiar o ginásio, várias expressões diferentes podiam ser vistas. Algumas confiantes, outras já pareciam ter desistido daquela tentativa. Apesar de não possuírem a mesma intenção, Ruby parecia tranquilo com o andamento da prova, enquanto Miriam estava um pouco mais nervosa.

— Aqueles que tiraram a nota acima de 7,0 estão aptos a enfrentar o ginásio de Rustboro. Estes podem se dirigir à secretaria para retirar seus certificados, que deverão ser mostrados no local e dia da batalha. Quanto aos desclassificados, podem tentar novamente daqui a duas semanas. Até lá estudem bastante. A biblioteca da cidade está à disposição de vocês, e lá encontrarão material de estudo suficiente para se prepararem para o próximo exame. Agradecemos a participação de todos, e agora entregaremos seus resultados.

O homem passava de mesa em mesa entregando os resultados aos candidatos, que um a um iam exibindo sorrisos ou olhares de reprovação. Assim que recebeu seu exame, Sapphire não deixou de esconder um sorriso vitorioso, e matou a curiosidade de seus amigos exibindo um belo 9,0. Miriam então foi encoberta pela sombra do instrutor e gelou na mesma hora, porém foi surpreendida ao ver um 7,0 marcado em seu resultado.

— Eu passei? — indagou, enquanto coçava os olhos a fim de certificar-se de que não estava sendo enganada por eles. — EU PASSEI, NÃO ACREDITO!

— Acalme-se, Miriam... — ia dizendo Sapphire, antes de ser interrompida pela garota.

— Dra. Miriam pra você! Eu sou uma pessoa altamente instruída. Meu nível acadêmico é reconhecido!

Faltava apenas Ruby. O garoto sorria orgulhoso, dando sinais de que confiava plenamente em suas capacidades. Desde pequeno devorava os incontáveis livros que seu pai possuía em casa. Conhecia os mais avançados termos técnicos e sabia tudo sobre treinamento e criação Pokémon. Ou melhor, quase tudo.

Ao se deparar com sua nota sua expressão vitoriosa desabou em uma fração de segundos.

— CINCO? — berrou o garoto, chamando a atenção dos presentes na sala. Ele logo se levantou e dirigiu sua palavra ao instrutor. — Com licença, eu acho que houve um erro no meu resultado!

O instrutor pegou o exame das mãos de Ruby e começou a revisar a correção realizada pela Academia. Após alguns instantes o rapaz devolveu o exame ao garoto.

— Sinto muito, mas a correção está correta. Este foi o seu resultado final. Se quiser tentar novamente, sugiro que estude mais um pouco.

"Estude mais um pouco". As últimas palavras do instrutor ecoavam na mente de Ruby. Aquele havia sido o golpe de misericórdia no orgulho do garoto, de forma que ele precisou ser carregado para fora da sala por Miriam e Sapphire. Pouco tempo depois eles estavam sentados em um banco em uma das praças da cidade. Ruby ficava encarando a pequena fonte central jorrar água para cima de dentro de uma estátua de dois Barboachs entrelaçados. A expressão desiludida do garoto era visível, uma vez que não estava acostumado a fracassos, especialmente quando se tratava de seu nível de conhecimento sobre determinado assunto.

— Ei, relaxa — disse Sapphire enquanto tocava o ombro de seu amigo, em uma tentativa de confortá-lo. — Nós sabemos que você é inteligente, e conhece bastante sobre Pokémons.

— Então pode me explicar por que eu fui reprovado? — normalmente a fala seria pronunciada de forma mais ríspida, mas o desânimo de Ruby era tamanho que ele sequer conseguia alterar o tom de sua voz para um que não fosse o de total desinteresse naquela conversa.

— É porque você passou muito tempo lendo e pouco praticando — interveio Miriam, atraindo a atenção do garoto. — Você precisa conviver mais com seus Pokémons, batalhar lado a lado com eles, interagir com eles. Falando sério, eu nem sei quais são os Pokémons que você tem, mesmo tendo te conhecido já há alguns dias.

Ruby sabia que Miriam tinha razão. Era um detalhe tão básico, tão óbvio, que ele não conseguia nem mesmo se perdoar por tê-lo deixado passar despercebido daquela maneira. Inclusive porque seu pai repetia essas mesmas palavras até a exaustão quando ia ensiná-lo algo novo. Mas só de pensar naquele Treecko mal-humorado Ruby já começava a entender que ele deixou esse detalhe escapar de propósito.

— No meu caso isso é um pouco mais complicado do que parece — resmungou o garoto.

— Não entendi — Miriam fez uma expressão confusa.

— Miriam, eu acho que sei o que está acontecendo — Sapphire interveio. — Ruby, se o problema está na personalidade do seu Treecko, então você precisa se adaptar a ele. Tente dar a ele um pouco mais de liberdade, como eu fiz com o Torchic. Talvez isso ajude.

— Não sei, às vezes eu tenho a sensação de que ele vai sair da Pokéball à noite e me matar. Ele realmente não gosta de mim.

— Queria que ele já viesse te amando? — perguntou Miriam. — Nem com outras pessoas as coisas funcionam desse jeito. Você precisa conquistar a confiança dele. Mostre que você o escuta, e com o tempo as razões do comportamento do seu Treecko vão aparecer.

— Como posso fazer isso?

— Eu vou te ajudar batalhando com você, pois assim eu posso analisar o Treecko. Mas não agora. Daqui até o dia da batalha contra a Roxanne eu estarei ajudando a Sapphire a se preparar. Mas logo que ela terminar a batalha nós vamos dar um jeito na sua relação com o seu Pokémon.

Ruby abriu um sorriso tímido. Ele não sabia como seria esse teste, tampouco como o seu Treecko reagiria a isso. Mas Miriam era mais experiente que ele, e de certa forma passava mais segurança ao dizer que ia ajudá-lo.

— Tudo bem então, temos um acordo.

Os três chegaram ao Centro Pokémon ao final do dia para poder descansar. Assim que alcançaram a recepção, Sapphire foi notificada de que sua batalha contra Roxanne havia sido marcada para acontecer em quatro dias. Seria um período importante para se preparar para o desafio, então ela tratou logo de subir para o quarto e recuperar as energias. Ruby chegou a sugerir que fossem a um dos cafés da cidade para relaxarem, mas a garota parecia levar a sério o que estava por vir. E deveria.

— Não vale a pena focar somente nos ginásios, você tem que sair e relaxar um pouco — disse Ruby, mostrando certa preocupação.

— Preciso me concentrar agora, senão eu não vou conseguir treinar bem — Sapphire respondeu enquanto se sentava na cama do quarto reservado e tirava a bolsa onde carregava seus itens. — Prometo que quando eu resolver o meu desafio no ginásio nós vamos sair para nos divertir um pouco.

Quem permanecia mais quieta naquele momento era Miriam, o que era algo raro. Ela estava sentada em uma cadeira, lendo alguns papéis usando a luz de um abajur, e parecia estar bastante concentrada.

— E você, o que está fazendo? — Sapphire ficou curiosa. — Não é normal você estar tão quieta assim.

— Eu estava vendo os locais da Batalha da Fronteira. São sete edifícios ao todo. Um deles é perto daqui...

Miriam apoiou as mãos na escrivaninha para se levantar mais rápido. Então ela se virou para Sapphire.

— Parece que os próximos dias de treinamento não serão só pra você — Miriam agora tinha um sorriso que demonstrava excitação, mas também um pouco de nervosismo. — E eu não vou poder pegar leve.

— E quem disse que eu queria que você pegasse leve? — Sapphire se animou com a situação, pois se Miriam ia batalhar sério então era sinal de que o treinamento seria produtivo.

Ruby mantinha um sorriso disfarçado ao ver as duas companheiras entusiasmadas, mas logo voltou à sua expressão de preocupação. Se perguntava se algum dia ele conseguiria carregar a mesma determinação e confiança de suas amigas, e sentia que se não fizesse alguma coisa ele rapidamente ficaria para trás. Não queria ser apenas um coordenador normal. Queria se tornar o protagonista de sua própria história. E sabia que para alcançar isso precisaria trabalhar muito duro.

O tempo passava, e os primeiros desafios do trio de viajantes se aproximavam. Era hora de cada um esquecer um pouco o ar deslumbrante do início da jornada, e passar a focar em seus objetivos. Dali em diante eles estariam de frente para os obstáculos que determinariam se eles são capazes de continuar.

FIM DO CAPÍTULO 7


  

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