Archive for 18_02
Notas do Autor - A Gym Leader's Life 1
Olá, pessoal!
Chegamos a três semanas seguidas de postagem! Realmente um marco inesperado, mas seguimos firmes e fortes! O cronograma que preparei para o mês de Fevereiro já foi cumprido, então a missão foi bem sucedida. Para Março já temos dois capítulos prontos, a aguardada primeira batalha de ginásio de Sapphire na semana que vem e mais um que será postado no dia 16. Sim, eu resolvi dar um intervalo de uma semana entre as publicações dos capítulos 8 e 9, pois assim eu ganho tempo para deixar mais conteúdo pronto. Estou escrevendo todos os dias ainda, as coisas estão indo bem, mas estou com alguns trabalhos da faculdade acumulados, então é normal que o ritmo acabe desacelerando um pouco. Mas sem pânico, está tudo sob controle!
Sobre o especial, era um capítulo que já estava pronto desde o ano passado, assim como o capítulo 6. A Gym Leader's Life é uma série de especiais que, como o próprio nome já sugere, foca nos líderes de ginásio. Ela nasceu com uma proposta diferente, se eu não me engano era o Canas de Sinnoh e o Lino, primeiro autor de Hoenn, que fariam esse trabalho em conjunto. Eu não me lembro, faz bastante tempo. Mas a proposta deles na época seria apenas capítulos dos líderes em dias normais. O Lino saiu da equipe e o Canas não quis continuar com a série, então como eu estava reiniciando Hoenn eu vi uma oportunidade de fazer algo desse tipo. Pedi permissão ao Canas para usar o nome do especial, e ele aceitou.
A proposta dessa série aqui em Hoenn, no entanto, será um pouco diferente da original. Eu pretendo mostrar um pouco do passado dos líderes, como eles chegaram ao cargo, ou o que os motivou a seguir esse sonho de comandar um ginásio. Eu espero que gostem desse primeiro capítulo da Roxanne, e se as coisas continuarem caminhando bem como estão em breve já teremos mais um líder pra Sapphire desafiar e um especial novo para ler, não é?
Aliás, tenho que agradecer ao Canas novamente. Além de gentilmente ceder o nome do especial para ser usado aqui em Hoenn, ele ainda fez uma fanart incrível para ilustrar uma cena do primeiro capítulo dessa série. Fico muito honrado de poder usar uma arte que ele fez só para este especial, porque mesmo o cara sendo fã declarado da Roxanne não muda o fato de que isso dá muito trabalho de fazer. Valeu, bro! Você é o cara!
Vou ficando por aqui, pois não quero me alongar muito nas notas. Para encerrar, vou deixar aqui uma novidade, que é um grupo da Aliança no Discord. Estamos colocando para dentro o pessoal que frequenta o blog, comentando sempre e marcando presença — até porque estes são os que a gente consegue identificar. É um grupo livre, não só para os membros da equipe, mas também para leitores que queiram interagir por lá. Já temos 4 leitores fazendo parte, e se você tem interesse em entrar não hesite em mandar um e-mail para mim ou para o Dento (meu e-mail está na página de Contato e o do Dento se eu não me engano está na página da Área do Leitor em Johto).
Bom, eu disse que não ia me alongar, mas acabei fazendo justamente o contrário. Mas foi por uma boa causa. Vocês leitores também são parte da equipe, então também merecem esse canal de interação maior. No blog não dá pra conversar, né? Mas lá vai ser legal, podem confiar!
Até a próxima semana! õ/
A Gym Leader's Life - Capítulo 1
Roxanne
Já
passava das dez horas da noite quando a bibliotecária da Academia Pokémon de
Rustboro começou a trancar as portas para encerrar o expediente. Antes
de ir embora, verificou mais uma vez se estava tudo em ordem, mas se surpreendeu
ao ver que ainda havia uma presença estranha no local. Ou não tão estranha
quanto parecia. Mais uma vez, estava sentada à mesa uma jovem moça de cabelos
castanhos e olhos curiosos, vidrados em sua leitura noturna.
—
Roxanne, minha querida... — a bibliotecária suspirou. — Já está tarde. Por que
não vai descansar um pouco?
—
Perdão, senhora Bianucci! — a moça se levantou, constrangida. — Eu acabei
sentando para estudar e perdi a noção do tempo! Não era minha intenção
atrapalhá-la. Mil desculpas!
— Não
estou irritada — disse a senhora. — Na verdade estou preocupada, pois você tem
dormido muito pouco ultimamente. A exaustão pode acabar fazendo mal à sua
saúde.
—
Entendo. Me desculpe por preocupá-la. Prometo que vou me cuidar mais — Roxanne
então pegou o livro que estava lendo. — Se não se importa, vou levar este aqui para
casa hoje. Estou quase terminando, e por isso não quero perder a linha de
raciocínio.
A
bibliotecária a olhou com desconfiança. Roxanne era uma devoradora de livros
como nunca se viu igual. Por isso bastava uma capa bem feita com um título
chamativo para que ela esquecesse da vida para enterrar a cara naquelas
páginas. Rustboro era uma cidade grande, a maior metrópole de toda Hoenn, e
apesar de suas vantagens também tinha seus perigos.
O
crescimento demográfico desenfreado da cidade aumentou os
índices de violência nos anos anteriores. Naquela época, próxima às festas de fim de ano, os
assaltos se tornavam ainda mais frequentes, e de fato o jeito distraído de
Roxanne preocupava Bianucci.
—
Gostaria de uma carona até a sua casa? Estou de carro hoje.
— Não
é muita contramão para a senhora? — indagou Roxanne, um pouco sem jeito.
— De
forma alguma! Sua casa fica a dois quarteirões de distância da minha. Posso
levá-la sem problemas.
Roxanne
então aceitou a oferta de Bianucci, e assim pôde chegar a casa em segurança.
Era um apartamento simples, porém funcional. Já fazia quase um ano desde que a
garota deixou para trás a sua vida antiga com a família em Oldale, e se mudou
para um grande centro a fim de alçar vôos mais altos.
Tinha
obsessão pelo conhecimento, e queria acumulá-lo o quanto fosse possível. Queria
ser professora. De qualquer coisa. Não se importava com qual área gostava mais.
Apenas queria ensinar aos outros e ser admirada por isso, da mesma forma que
sempre admirou seus professores. Ela sempre foi estudiosa, a fome por livros
corria em suas veias desde jovem. E quando chegou a Rustboro, se viu diante de
uma oportunidade.
Ela
estava parada em frente à janela de seu apartamento. As cortinas abertas
permitiam que ela visse o movimento naquele início de madrugada. Apesar de
todas as noites dormindo tão pouco, Roxanne não se sentia cansada. Longe disso,
só pensava consigo mesma se terminaria o livro de uma vez ou se prepararia um chá para
aproveitar o final. E o clima mais frio do final do ano a fez optar pelo chá.
Foi até a cozinha, e de um dos armários retirou todos os itens necessários para
preparar sua bebida.
Não
tinha muito jeito para cozinha, mas Roxanne não deixava que isso afetasse seu
humor. Pelo contrário, achava cômico o quanto ela tinha dificuldades para
preparar um simples chá. E enquanto esperava a água ferver ela se recordava de
algumas coisas de seu passado, muito diferente daquela vida nova na capital de
Hoenn.
Ao
terminar de limpar a bagunça que fez na pia da cozinha, a jovem mulher pegou o
chá preparado, o colocou dentro de um bule e o levou até a mesa da sala, onde
estavam os livros que ela teimava em terminar de ler antes de ir para a cama.
Matemática, física, história, o que viesse pela frente era um bom assunto para
ela. Mas foi com o passar do tempo que ela se deparou com seu tema preferido:
arqueologia. Um sorriso involuntário se fez em seu rosto, ao mesmo tempo em que
era tomada por uma curiosidade sobre-humana. Terminou de ler o livro em cerca
de duas horas. E não estava nem um pouco com sono. Enquanto a madrugada tratava
de aquietar a metrópole de seus ruídos incômodos, Roxanne analisou a capa do
próximo livro por onde iria se aventurar. E para a sua surpresa ali estava um assunto
que nunca teve interesse.
O
livro tinha uma capa antiquada em tom vinho, com seu título gravado em letras
douradas. Seu nome era "Introdução à Criação Pokémon", de autoria de
um homem chamado Samuel Oak. Um nome que lhe parecia familiar. Provavelmente
alguém que já tinha aparecido na televisão ou algo do tipo. Quando abriu o
livro, um pedaço de papel caiu de dentro dele. Roxanne o desdobrou
cuidadosamente, revelando o que parecia ser um bilhete assinado por Bianucci.
"Você sempre diz que nunca
se cansa de conhecer assuntos novos, então desta vez eu tratei de esconder um
livro entre os seus pedidos. Este é um assunto que nunca vi você procurando na
biblioteca, então espero que seja uma leitura especial. E um lembrete de que
devemos estar sempre buscando por novidades. Não precisa entregá-lo de volta,
pois ele não pertence à biblioteca. Eu o comprei para te dar de presente. Boa
leitura."
Roxanne
ficou um pouco sem graça, porque realmente não tinha interesse em criação
Pokémon ou qualquer outra área similar à dos treinadores. Mas aquele era um
presente recebido de alguém que apreciava muito, e achou que seria ingratidão
de sua parte simplesmente jogá-lo em um canto e deixar que o tempo se
encarregasse de fazê-la esquecer.
— Bem,
como a senhorita Bianucci disse, não vai me fazer mal ler um pouco sobre algo
novo — disse a moça, após beber um gole de seu chá.
Seus
olhos passeavam devagar entre as linhas de cada página, sem muita pressa. Aos
poucos, a mente deixava de embaralhar as informações, e passava a focar melhor
no conteúdo daquele livro. No fim das contas não era tão desinteressante quanto
Roxanne acreditava. Pelo contrário, ali havia muitas informações que
despertavam cada vez mais curiosidade nela. Inclusive algumas delas se
interligavam com conceitos e fatos que ela tinha acabado de ler no livro sobre
arqueologia.
—
Então eles realmente existiram... — conversava consigo mesma na solidão daquela
sala. — Eu acreditava que esses Pokémons eram apenas mitos.
Quando
se deu conta, já amanhecia. Roxanne se assustou com a claridade invadindo o seu
apartamento, justo quando havia terminado o livro. Não viu o tempo passar, de
tanto que estava entretida com a leitura. Por sorte era sábado, então podia
simplesmente descansar durante o dia. Apenas tratou de arrumar as coisas e
pegar os livros para que pudessem ser devolvidos à biblioteca o quanto antes.
Assim
que chegou à biblioteca da cidade já foi direto ao encontro de Bianucci para
devolver os livros. Porém, como já era esperado, antes de ir embora começou a
andar entre as estantes e então ia coletando cada vez mais livros. Foi de
encontro ao balcão da biblioteca, e Bianucci fora completamente tapada da visão
da garota por uma enorme pilha que ela acabaria lendo no fim de semana.
A
senhora apenas sorriu. Já não se espantava mais com Roxanne, pois ela já se
acostumara com os gostos e comportamentos da menina. Porém se assustou ao
perceber que praticamente todos os livros tratavam do mesmo assunto: criação
Pokémon.
— Acho
que fiz a escolha certa ao presenteá-la com aquele livro — disse.
— Para
ser bem sincera eu nunca tive interesse nessa área — Roxanne explicava. — Mas, ao ler aquele livro que a senhora me deu, eu percebi que os Pokémons possuem vários
mistérios, e muitas coisas que eu acreditava que eram apenas histórias são
reais. Por isso estou querendo me aprofundar no assunto. Não só isso, mas acho
que já tenho em mente que eu deva me tornar uma treinadora, embora eu ainda não
tenha uma licença para isso...
Bianucci
parou de carimbar os livros por um momento. Puxou uma das gavetas do balcão e
de lá retirou um panfleto simples, que entregou para Roxanne.
— O
que é isso? — perguntou a jovem.
— Vá
até este lugar. É a Academia Pokémon de Rustboro, uma escola especial para
aspirantes a treinadores. Eles devem estar em recesso por conta do fim de ano,
mas acho que você já pode se inscrever em uma das novas turmas que vão começar
em breve. Eles vão colocá-la em uma classe de alunos com sua faixa de idade. E
se eu te conheço, você já estará com um nível de conhecimento tão avançado
quando o curso começar que vai concluí-lo num piscar de olhos. Ao se formar
eles vão conferir a você sua licença de treinadora.
Roxanne
abriu um largo sorriso naquele momento. Não era uma cena muito comum, visto que
ela sempre levava uma expressão de serenidade no rosto. Assim que concluiu a
troca dos livros ela foi embora para casa. Naquela tarde ela descansaria da
noite que passara em claro, mas assim que acordasse estaria lendo novamente.
Dessa vez sobre sua mais nova área de interesse.
Os
meses aos poucos foram passando. As pessoas da Academia ficavam cada vez mais
intrigadas com a aluna superdotada que lá estava. Não tirava sequer um nove. Apenas
gabaritava todas as provas, de forma impecável. Era a jovem extremamente
inteligente, porém com a aparência desleixada e feição de uma noite mal
dormida, típica de uma nerd da velha guarda, já que não conseguia arrumar tempo
para se cuidar por conta de estar sempre presa aos livros. Por vezes era até
chamada de "demônio" pelos outros estudantes, mas parecia não se
importar muito com isso.
Como
previsto por Bianucci, Roxanne não demorou a pular turmas e se formou com
distinção. Foi então que surgiu sua primeira grande oportunidade de se firmar
em sua nova cidade: a Academia a havia convidado para se tornar uma instrutora.
No
exato momento em que recebera o convite, Roxanne se lembrou de seu antigo
objetivo ao chegar a Rustboro. Agora ela se encontrava em uma encruzilhada. Qual
caminho escolheria? O velho sonho de transmitir conhecimento aos mais jovens,
ou as batalhas repletas da adrenalina que sonhava encontrar quando se
redescobriu? Por mais que o cargo ligasse as duas coisas, não poderia fazê-las
da maneira que gostaria. Afinal, não poderia sair de Rustboro e deixar os seus
alunos sem aula.
Precisava
de tempo para pensar. Roxanne poderia se considerar uma pessoa feliz e quase
realizada, pois as suas oportunidades mais visadas estavam totalmente em aberto
à sua frente. Porém, a árdua tarefa de ter que escolher apenas uma, ignorando
completamente a outra, era algo que a deixava em angústia.
Colocou
seu casaco e saiu de novo. Talvez uma caminhada a ajudasse a refrescar a mente,
lhe dando mais tranquilidade para enfim poder fazer a sua escolha. Não era uma
escolha trivial, como escolher a disciplina que irá lecionar ou o Pokémon
inicial que levará para suas viagens. Era seu futuro que estava ali, e com ele
sua felicidade e realização pessoal. Passava pelos cafés de esquina, e olhava
as vitrines das lojas. Todas as pessoas trabalhavam, e pareciam convictas de
que seus lugares eram aqueles. Obviamente haveria alguns insatisfeitos com a
vida profissional, nada fora do normal. Mas Roxanne não queria fazer parte
daquele grupo. Foi então que resolveu ir ao lugar que sempre lhe concedeu as
respostas para os seus mais complicados enigmas.
Dessa
vez não foi até as estantes onde estavam o reduto de conhecimento que a
acompanhou durante sua estadia na cidade. Andou até a recepção, onde Bianucci a
observava com curiosidade.
— Acho
que estou presa a um dilema.
Roxanne
explicou tudo com calma. Bianucci certas vezes soltava um leve riso ao ver que
suas previsões tinham se concretizado, e manteve a calma a todo momento,
tentando contagiar a garota aflita com sua serenidade característica de uma
pessoa com longa vivência.
— O
dinheiro de reserva que eu juntei enquanto estava em Oldale está se esgotando.
Acho que vou ter que aceitar esse emprego de uma forma ou outra — dizia,
carregando consigo um semblante de preocupação. — Não conseguiria me sentir bem
comigo mesma se fizesse meus pais me sustentarem em uma cidade como esta, onde
o custo de vida é muito mais alto.
Bianucci
bebeu um gole do café que estava em uma pequena mesa de canto atrás do balcão.
A senhora ajeitou seus óculos de maneira delicada, indicando que parecia estar
bem localizada quanto a uma solução para o problema de sua amiga. Mas não era
bem o caso.
— Se
está esperando que eu tenha a resposta para este problema, sinto em dizer que
não é verdade. Mas eu posso te dar um conselho que vai te ajudar a encontrar
essa resposta com mais facilidade.
— E
qual seria?
— Ouça
seu coração, minha querida. E tenha em mente que você ainda é jovem.
Oportunidades não vão faltar, e você ainda tem tempo de tomar um caminho
diferente caso não se sinta bem com o primeiro. É normal que tenhamos dúvidas
quando temos boas opções pelo caminho, mas o mais sensato a se fazer é ir na
direção que parece ser a mais estável no momento, e nunca deixar de se atentar
ao outro caminho, caso surja de lá uma oportunidade melhor.
— Acha
que eu devo aceitar o convite para ser instrutora na Academia?
— Eu
já fui uma jovem cheia de dúvidas como você, e vou responder a sua pergunta com
outra pergunta: como pode ter tanta certeza de que será infeliz se você nem ao
menos começou a trabalhar nessa área para saber se é verdade? Uma vez lá dentro
você terá a real noção de como as coisas funcionam, e se no fim das contas
aquilo não for o que te satisfaz, basta apenas seguir pelo outro caminho.
• • •
Três
meses se passaram desde que Roxanne aceitou o convite para assumir o cargo de
instrutora da Academia Pokémon. Seu desempenho era notável o suficiente para
que fosse considerada uma das melhores professoras a passar por lá, senão a
melhor. A impressão que se tinha por parte dos alunos era a de que não havia
nada que ela não pudesse explicar.
O
sinal podia ser ouvido ao longo de toda a instituição, declarando o fim das
aulas daquele dia. Roxanne foi a última a deixar a sala, como sempre, e se
dirigiu até a diretoria para deixar os relatórios da semana. Aproveitando que
naquele dia estava saindo mais cedo, resolveu passar na biblioteca. O trabalho
agora tomava seu tempo, e, portanto, não conseguia aproveitar a vida há algumas
semanas.
No
caminho para o local, Roxanne passou pelo ginásio da cidade, que estava fechado
há alguns dias. A temporada da Liga Pokémon havia acabado, e aparentemente o
líder de Rustboro havia se aposentado. A mulher então notou um aviso na entrada
do local, e parou para ler a mesma. Se surpreendeu ao ver que era uma nota
oficial emitida pelo Comitê da Liga Pokémon, informando que em breve abririam
testes para que ocupassem a vaga.
Era a
oportunidade que estava esperando de demonstrar que dominava o assunto, tanto
na teoria como na prática. Seu título de melhor aluna e melhor professora da
Academia agora poderiam finalmente serem postos à prova. Abriu mão de seu tempo
extra de folga e correu para a rota ao sul da cidade. Dessa vez não iria se
preparar através dos livros, mas sim com treinamento pesado com seu time.
Os
dias foram passando até a data marcada. E lá estava Roxanne, pronta para
prestar sua audiência e mostrar que era mais do que qualificada para aquele
cargo. Entre os auditores estava Drake, detentor do título de Campeão de
Hoenn. Queria impressioná-lo, e conseguiu. Suas habilidades e o conhecimento
que possuía sobre o tipo pedra mostraram a todos que a vaga já tinha uma forte
candidata a ocupá-la. E ao final do dia ninguém havia conseguido realizar um
teste mais convincente do que a garota. Ela estava aprovada.
Depois de alguns anos Roxanne havia construído a péssima fama de trucidar os seus
desafiantes, coisa que ia muito além da superioridade de seus Pokémons, mas que
também era fruto de seu intelecto avançado, que lhe dava uma capacidade de
criação de estratégias e improviso que dificilmente eram rompidas, a não ser
que o desafiante em questão fosse realmente talentoso. Sua alcunha de
"Dama de Pedra" não era mero capricho popular.
E
certo dia ela podia ser vista caminhando por um parque na cidade acompanhada de
Bianucci, sua velha amiga desde os tempos em que frequentava a biblioteca como
se fosse sua segunda casa.
— Ouvi
dizer que você terá um desafio amanhã — comentou a idosa.
— Sim,
é verdade. A temporada mal começou e já estou trabalhando bastante no ginásio.
Ainda bem que me preparei durante o recesso da Liga.
—
Então presumo que será mais um treinador que irá para casa frustrado?
—
Dessa vez eu não tenho certeza — confessou a menina.
Bianucci
parou por um momento, refletindo sobre a resposta que acabara de ser dada por
Roxanne. A mais jovem então parou e ficou a observar sua acompanhante naquela
caminhada de fim de tarde.
—
Quando você tem dúvidas como esta é porque a batalha vai ser das boas — disse
Bianucci, rindo de leve. — Este desafiante em particular deve ser bem
talentoso.
— Pode
ter certeza que sim.
Passado
um tempo, Roxanne chegou ao seu apartamento. Dada a escuridão da noite, ela
acendeu as luzes da sala para poder enxergar melhor. Porém, logo desistiu da
ideia e as apagou novamente, caminhando em seguida para o canto da sala e
acendendo apenas um pequeno abajur. Achava que a iluminação baixa a fazia
relaxar. Ela se jogou no sofá e pegou o controle remoto de um aparelho de som. Ao
ligá-lo, escutava-se apenas um jazz instrumental com o volume baixo no apartamento,
em harmonia com o barulho do trânsito da metrópole ao fundo. Aquele era o
momento de descansar.
E na manhã seguinte lá estava ela, lendo mais um de seus livros
enquanto bebia um chá, na mesma mesa onde leu o livro dado por Bianucci e
começou a ter os devaneios de se tornar uma treinadora. Era seu momento de
relaxar antes do grande desafio que viria pela frente, onde iria testar as
habilidades de um desafiante promissor, como há muito tempo não via.
—
Estou ansiosa para você me mostrar o que sabe, Sapphire — e então voltou a
beber o chá.
Art by: CanasOminous
Notas do Autor - Capítulo 7
Aí estamos! Duas semanas em sequência, quem diria? Claro, não ficaremos nesse ritmo para sempre, mas pelo menos as duas próximas estão garantidas. Acredito que o capítulo 9 fique pronto antes de ainda essa semana, mas mesmo que seja o caso eu não vou postá-lo imediatamente na semana seguinte ao 8. Vou abrir um intervalo de uma ou duas semanas para continuar produzindo com uma margem de segurança. As coisas estão indo bem, e nesse ritmo acredito que teremos mais capítulos prontos em breve, mas prefiro não arriscar a postar tudo e depois ficar sem nada guardado de novo.
Sobre o capítulo, nele nós pudemos notar uma espécie de teste classificatório para a batalha de ginásio. Isso foi inspirado no mangá Pokémon Adventures - Ruby & Sapphire, mas pretendo estender esse conceito para todos os ginásios (eu disse pretendo, mas sinceramente até agora só consegui pensar no desafio do Brawly). São pequenos testes prévios para medir o nível de preparação dos treinadores, e ver se eles estão aptos a enfrentar os líderes. Bem parecido com que vimos no anime na temporada das Ilhas Laranja também. Acho legal essas avaliações, pois conseguem medir se os desafiantes possuem os atributos necessários para se tornarem treinadores completos, e a cada ginásio vencido esses conhecimentos vão se acumulando. Dessa forma o ginásio deixa de ser apenas um "vou lá, batalho e venço para pegar a insígnia", e se torna algo mais elaborado.
Sapphire passou no teste de admissão, e vai poder enfrentar a Roxanne. Miriam mostrou que também tem seus méritos, e o Ruby... Bom, deixa pra lá.
Espero que tenham passado um bom carnaval, e divirtam-se com a leitura.
Ah, e só mais uma coisa! Hoje, dia 17 de Fevereiro, a Aliança está completando 7 anos de existência! Eu e o Canas só nos tocamos nisso depois de um bom tempo conversando no Discord.
De qualquer forma ele fez um post muito daora a respeito, lá no blog de Sinnoh. Quem quiser dar uma lida, pode clicar aqui para ir direto ao post.
Acho que é isso por hoje. Até a próxima!
Capítulo 7
Teste de admissão
Ruby e
Sapphire sentiam seus ouvidos doer com o barulho incessante das buzinas dos
carros que congestionavam o trânsito do centro da cidade. Para Miriam, aquele
choque de realidade era menor, pois sua cidade natal, apesar de ser de médio
porte, era movimentada em função do porto que a tornava uma importante
rota comercial. Aquele era quase um mundo diferente para os viajantes. Jamais
haviam se deparado com uma cidade tão imensa, mas ao mesmo tempo que estavam
espantados seus olhares eram de quem estava maravilhado com a cena.
Rustboro
era a capital e maior cidade de Hoenn, mas certamente não tomava o termo
"selva de concreto" para si. As ruas eram ornamentadas, as
construções exuberantes e bem elaboradas com um estilo arquitetônico que só se
via por ali, as pessoas saindo das lojas contentes, com inúmeras sacolas de
compras nas mãos. Além de tudo isso, praças com monumentos históricos, teatros
e anfiteatros, bibliotecas, museus e a imponente Academia Pokémon, uma escola
de treinadores das mais renomadas do mundo. A cidade explodia cultura para
qualquer lado que se olhasse, e imediatamente injetava na mente dos dois novatos a sensação de querer ficar lá para sempre.
—
Vocês precisam ver é como isso aqui fica à noite! — disse um senhor de idade
enquanto passava pelo trio, o que os deixou imaginando como idosos tinham mais
facilidade para puxar assunto com qualquer pessoa.
— Ele
provavelmente percebeu que não somos daqui... — observou Ruby, fazendo Sapphire
cair na risada.
— Acho
que ficou muito na cara mesmo. Estamos aqui como um bando de patetas só olhando
pra todos os lados sem fazer nada.
— E
então... — interrompeu Miriam. — Não é melhor a gente ir fazer o check-in no Centro
Pokémon?
O trio
caminhou até o local, onde fizeram as reservas de quartos para que tivessem
hospedagem durante toda a estadia na cidade. Miriam aproveitou para realizar
sua inscrição como competidora da Batalha da Fronteira, recebendo um guia
melhor elaborado, com as informações a respeito das localizações de cada instalação,
juntamente de uma espécie de cartão eletrônico para ser usado como um
identificador da participante.
Passado
algum tempo, por volta de uma hora, os três já tinham se estabelecido no quarto
reservado, e por isso ficaram mais à vontade para voltar às ruas de Rustboro.
Com mais calma podiam observar a beleza da cidade, ou pelo menos aquela área
central onde se encontravam naquele momento. Sapphire então decidiu desdobrar
um pedaço de papel que estava guardado em um de seus bolsos. Era um pequeno
mapa da cidade que havia conseguido no Centro Pokémon, e poderia usá-lo para
localizar o ginásio com mais facilidade. Queria logo marcar o seu primeiro
desafio.
E
assim ela seguiu pelas ruas, com Ruby e Miriam andando logo atrás. Depois de
alguns quarteirões chegou ao seu destino. Uma construção bem maior que as casas
ao redor, porém com altura menor que os edifícios espalhados pela cidade. Sua fachada se assemelhava a um museu, e de fato funcionava como
tal, segundo informações que Sapphire lia no mapa que usava.
Sem
hesitar, ela caminhou até a entrada do local, que era protegida por um porteiro
e alguns seguranças que rondavam o pátio principal. O porteiro carregava
consigo uma expressão cansada, enquanto lia um jornal sem sequer perceber a
aproximação dos visitantes.
— Oi,
com licença... — Sapphire se colocou na ponta dos pés e acenou o braço
levantado para ser percebida pelo homem, que estava no alto de uma guarita.
— Não
estamos recebendo visitas hoje — disse o porteiro, em tom seco.
—
Estou aqui para desafiar o líder do ginásio. Sou uma treinadora.
O
porteiro então abaixou o jornal para, enfim, fazer contato visual com os três.
Ao olhar a cara de Sapphire ele arqueou uma das sobrancelhas, e com um tom de
sarcasmo tratou de dar fim às pretensões da menina.
— Que
bonitinha. Você por acaso já realizou o teste de admissão?
—
Teste de admissão?
— Sim,
menininha. Roxanne só recebe desafiantes que passam em um processo seletivo
realizado duas vezes por mês na Academia Pokémon. É um teste de conhecimentos
básicos para treinadores que seleciona aqueles que têm o mínimo de preparo para
enfrentar um líder de ginásio. Sabe como é, não podemos deixar qualquer um
entrar aqui para batalhar. Quando era permitido, às vezes tinha criança saindo daqui chorando...
Sapphire
engoliu seco ao ouvir a última frase. Ouvia muitas histórias de jovens
treinadores sendo liquidados ao enfrentar o ginásio de Rustboro, mas sempre
imaginou que fossem boatos. Logo em seguida pensou que o porteiro estava querendo intimidá-la, e tentou relaxar. Porém, logo a enorme porta da frente
se abriu, revelando uma mulher de cabelos castanhos que caminhava em direção à
rua. Seus traços eram de uma moça jovem, e seu olhar demonstrava que era uma
pessoa séria, assim como as roupas que vestia, que eram parecidas com as de uma
professora. Ela parou por um momento para falar com o porteiro.
—
Estou indo.
—
Claro, senhorita — cumprimentou o porteiro. — Tenha um ótimo dia. Espero vê-la
novamente em breve.
A
mulher já se preparava para virar as costas, porém notou a presença dos três
jovens no local, e se deixou levar pela curiosidade.
—
Vocês seriam desafiantes para o ginásio?
— Na
verdade apenas eu — respondeu Sapphire, que logo apontou para o porteiro. — Mas
ele me disse que é necessário prestar um exame de admissão antes.
— Sim,
é verdade. Você deve ir até a recepção da Academia Pokémon, que fica a três
quarteirões daqui, e lá fazer a inscrição para prestar a avaliação. Estou indo
para lá agora, inclusive, para finalizar a preparação da próxima prova.
O
silêncio permaneceu no local. Os três ficaram surpresos com a coincidência de
estarem de frente para uma das responsáveis por formular o exame que Sapphire teria
que prestar.
— Só
um momento — Ruby decidiu quebrar o silêncio. — Você então trabalha diretamente
para o ginásio, e não só para o museu? Você tem contato com a tal líder Roxanne
que esse homem citou?
A
mulher não conseguiu conter um leve riso. Ela olhou para cada um dos três,
ainda sorrindo, e respondeu prontamente.
— Sim,
eu tenho. Se quiserem eu posso levá-los até a Academia para fazerem a
inscrição. Podem pegar uma carona comigo.
Sendo
assim os quatro entraram em um belo carro preto, que possuía um motorista
particular ao volante. A mulher se sentou no banco da frente, deixando os três
convidados juntos na parte de trás do veículo. Assim que todos colocaram os
cintos de segurança, o carro partiu a caminho da Academia. Enquanto as ruas se
passavam no curto trajeto, Sapphire então resolveu matar sua curiosidade.
— Com
licença — disse se dirigindo à mulher. — Que tipo de líder é a Roxanne?
A moça
então parou por um momento, procurando palavras que pudessem descrever a futura
rival da menina.
— O
que posso dizer sobre a Roxanne é que ela é o tipo de pessoa que leva muito a
sério tudo o que faz, e só permite passar por seus desafios aqueles que ela
realmente tem a certeza de que aprenderam o que é importante. Seja como
professora ou como líder de ginásio. Ela tende a admirar os desafiantes fortes,
e também sabe reconhecer um treinador com potencial. Me diga, qual o seu nome?
— Me
chamo Sapphire, e venho da cidade de Littleroot.
A
mulher pareceu surpresa ao ouvir aquilo. Ela então virou-se para Sapphire com
um olhar curioso.
— Você
por acaso é filha do Professor Birch?
— Sim,
eu sou — a menina riu levemente, enquanto coçava a parte de trás da cabeça. —
Mas não posso afirmar que puxei esse lado intelectual dele. Eu gosto mais do ar
livre do que ficar trancada em casa com livros. Mas consegui aprender algumas
coisas ajudando meu pai com algumas pesquisas de campo.
—
Entendo — a mulher agora esboçava um sorriso evidente. — Nesse caso, existe uma
grande chance da Roxanne acabar gostando de você.
Após
alguns minutos o carro parou em frente à Academia. Era uma construção bem
diferente dos padrões de Rustboro. As paredes de concreto com formas clássicas
esculpidas agora davam espaço à modernidade, tudo com um toque contemporâneo. A
mulher parecia se divertir com as expressões de espanto de Sapphire, Ruby e
Miriam, que mal podiam acreditar que um prédio daqueles fora construído no
tempo em que viviam.
—
Chegamos. Esta é a Academia Pokémon de Rustboro, que tem como foco auxiliar a
formação de grandes treinadores, criadores e pesquisadores Pokémon — dizia ao
sair do carro junto com os três acompanhantes. — Sapphire, você poderá realizar
a inscrição na recepção mesmo. Haverá uma pessoa para atendê-la com relação ao
exame.
—
Certo, vou agora mesmo.
— E
vocês dois? — agora a mulher virou-se para Miriam e Ruby. — Não pretendem fazer
o exame também?
—
Estamos apenas acompanhando a Sapphire. Eu sou coordenador — disse Ruby.
— E eu
sou uma treinadora, mas não pretendo disputar a Liga esse ano — complementou
Miriam. — Vim para Hoenn por causa da Batalha da Fronteira.
—
Entendo. Mesmo assim eu sugiro que façam a prova, só para testar seus
conhecimentos mesmo. Vocês podem acabar aprendendo coisas importantes para o
futuro.
Miriam e Ruby trocaram olhares rapidamente, e depois pareceram concordar com a ideia.
—
Nesse caso acho que vamos fazer a prova sim. Obrigado pela sugestão — disse
Ruby sorrindo.
—
Certo. Bom, eu tenho que ir agora. Estou indo para uma reunião. A prova será
daqui a dois dias, mas como se trata de conhecimentos básicos vocês não deverão
ter muito trabalho para se preparar. Desejo-lhes boa sorte, especialmente para
você, Sapphire. Estarei no aguardo para ver suas habilidades quando for
desafiar o ginásio.
A mulher enfim entrou no local, enquanto o trio permaneceu no pátio
principal encarando o prédio. Dos três, Sapphire era a quem parecia estar mais
distante. Sua mente trabalhava a todo vapor com os mais variados pensamentos do
que poderia acontecer a partir do momento em que ela cruzasse a porta de entrada.
Era chegada a hora, logo a frente estava seu primeiro desafio para ingressar de
vez na vida que ela mesma escolheu. Não podia voltar atrás.
A
menina cerrou os punhos, e após uma respiração profunda começou a caminhar até
a Academia. Ao passar pela entrada, acompanhada de Ruby e Miriam, Sapphire
andou até o balcão de recepção do lugar. O funcionário que os atendeu foi
buscar os formulários para que eles preenchessem com as informações necessárias
para a inscrição do exame. Ao final do processo, eles receberam um documento de
comprovação, para ser exibido no exame, que seria realizado em dois dias a
partir daquele momento, provando que eles eram candidatos.
Os
três então saíram do prédio da Academia, e caminharam de volta à rua. Cada um
guardou seu comprovante em suas respectivas mochilas, para que não houvesse o
risco dos mesmos se perderem no caminho de volta ao Centro Pokémon.
— Acho
que deveríamos estudar para nos prepararmos, não é? — Miriam sugeriu.
— Sim!
— Sapphire respondeu prontamente. — Eu não posso falhar nesse exame de jeito nenhum!
• • •
Birch
estava sentado em uma das mesas de seu laboratório, lendo um dos relatórios
daquela semana entregues por um de seus assistentes. Ele já estava desligado do
mundo exterior, quando foi despertado pelo som de batidas na porta. Ao abrir,
surpreendeu-se ao dar de cara com Norman, que estava de passagem por
Littleroot.
—
Posso entrar? — perguntou o líder.
—
Claro, à vontade! — Birch respondeu enquanto abria a porta para que o amigo
pudesse passar.
—
Resolvi aproveitar para ver um velho amigo. Como estão as coisas aqui no
laboratório?
—
Estão bem mais tranquilas depois que a Sapphire partiu, mas ela realmente faz
falta — disse o pesquisador rindo. — Ela era muito útil com as pesquisas de
campo, e pude avançar em várias teses por conta dela.
Norman
caminhou até o sofá que ficava de frente para onde Birch estava sentado, e lá
se acomodou. Parecia estar um pouco cansado, mas nada que um dia de folga não
pudesse resolver.
— A
minha casa também está um pouco estranha sem o Ruby. Às vezes consigo ouvir a
voz dele me dizendo que algo lá está desorganizado. Essas crianças não nos
deixam em paz nem quando estão longe. Onde será que eles estão agora?
— Dado
o tempo que eles partiram, é possível que já estejam próximos a Rustboro, mas
não tenho certeza. Tudo depende se o ritmo deles é mais rápido ou devagar.
A
conversa parou por um momento, com os dois olhando fixamente para a parede.
Estavam pensando no que o futuro poderia reservar para seus filhos, até que
Norman quebrou o silêncio.
— Acha
que eles podem chegar longe? — perguntou.
—
Potencial eles têm, mas tudo vai depender da dedicação e do compromisso deles.
Por mais talentosos que possam ser, eles não podem passar a vida toda achando
que estão em um jogo de videogame ou algo do tipo. Mas eu acredito que eles já
possuam essa mentalidade.
—
Mudando de assunto, o que acha de passar lá em casa na sexta da semana que vem?
— disse Norman. — Vamos assistir juntos o desafio do novo campeão da Liga
contra a Elite.
— Já
que me convidou eu aceito. Estou precisando dar um descanso, tenho trabalhado sem
parar nas últimas semanas. Ainda tenho que orientar alguns treinadores novos
que estão chegando para buscar o primeiro Pokémon.
— Fique
tranquilo, lá em casa você vai relaxar. Vou comprar algumas cervejas e
deixá-las guardadas então.
— Por
favor, eu ia justamente pedir isso — Birch caiu na risada, em seguida tirando
dinheiro do bolso e entregando a Norman. — Aqui está a minha parte. Se você vai
me receber na sua casa, então me deixa pelo menos pagar metade.
Norman
aceitou o dinheiro, mesmo estando sem jeito, e logo tratou de se despedir do
pesquisador.
— Bem,
eu preciso voltar para Petalburg. Não posso largar o ginásio por muito tempo, e
também não quero atrapalhar o seu trabalho. Te espero na sexta então. Leve
Cecilia. Helena tem trabalhado demais nos projetos dela, então é bom ter alguém pra distraí-la um pouco de vez em quando. Tenho certeza de que ela vai adorar a visita.
— Pode
deixar — disse Birch ainda sentado, enquanto acenava para o amigo que partia.
Após a
saída de Norman, Birch ficou sentado por mais um tempo refletindo.
— O
desafio da Elite... Aquele garoto que venceu a última Liga é incrível. Será que
algum dia a Sapphire vai chegar tão longe?
• • •
Após
dois dias se preparando para o exame Sapphire, Miriam e Ruby chegam à Academia
Pokémon. Era chegada a hora de colocar seus conhecimentos a prova,
especialmente a primeira, que estava lá por precisar passar naquele teste para
ter o direito de enfrentar Roxanne.
Quando
todos os candidatos estavam na sala esperando a prova começar, um dos instrutores
chamou a atenção de todos para que pudesse explicar alguns detalhes do
processo.
—
Inicialmente eu gostaria de dar as boas vindas a todos os candidatos, e desde
já os parabenizo pela iniciativa de tentar enfrentar o ginásio de Rustboro. O
exame terá três horas de duração, e todas as questões são de múltipla escolha.
O tema do exame, como já informado, é um conjunto de conhecimentos básicos
essenciais para um treinador. Não podemos permitir que alguém vá disputar a
Liga Pokémon sem saber a maioria dessas informações. Não preciso avisar a vocês
que colas têm como consequência a eliminação imediata do candidato. Serão
aprovados aqueles com nota igual ou superior a 7,0 de um total de 10,0 — ele
então olhou para a porta da sala, e percebeu a presença de uma pessoa. — É só
isso que tenho a dizer. Porém, antes de iniciarmos, vocês receberão algumas
palavras da líder do ginásio de Rustboro, Roxanne.
Da
porta surgiu ninguém menos que a mulher que havia dado carona para Sapphire,
Ruby e Miriam no dia em que estiveram no ginásio, deixando os três pasmos com a
situação. Ela notou a expressão do trio, sorriu e então caminhou até o local
onde estavam os instrutores, se colocando a frente deles e voltada para os
candidatos.
— Como
líder do ginásio de Rustboro, gostaria de agradecer a todos os presentes por
vir tentar o exame de admissão para desafiar o ginásio. É um ato, acima de
tudo, de coragem e autoconfiança que todo treinador precisa ter, principalmente
quando se tem um objetivo tão ambicioso quanto buscar uma vaga na Liga Pokémon.
Tenho certeza que todos aqui se prepararam bastante, e estarei aguardando os
aprovados para marcarmos a data das batalhas. Boa sorte a todos.
Roxanne
então saiu da sala, e a partir dali os instrutores começaram a distribuir as
provas para que o exame tivesse início. Assim que o relógio da sala apontou o
horário combinado para o início do exame o sinal foi dado para que os
candidatos virassem suas provas e enfim começassem o teste. O barulho das
provas sendo folheadas e algumas pontas de caneta já sendo arrastadas pelas
folhas de papel já podia ser ouvido. No entanto, todos os presentes permaneciam
em silêncio, o que ajudava a aumentar a tensão no local.
Ao
término do tempo limite, as provas foram sendo recolhidas pelos instrutores. Os
candidatos permaneciam na sala, agora mais soltos, podendo ficar de pé para
esticar as pernas e conversando entre si para tentar disfarçar a apreensão.
Passaram-se
quase duas horas após o fim do exame. A impressão era a de que já estavam por uma eternidade
naquele local. Todos aguardavam com ansiedade o resultado do exame de aptidão,
e era impossível prever o que aconteceria. Por mais confiantes ou pessimistas que
os candidatos pudessem estar, tudo ali não passava de puro achismo. Não dava
para ter certeza de nada, e não existiam resultados improváveis, sejam
positivos ou negativos.
O
instrutor então volta à sala onde o exame foi aplicado. Dentre os candidatos a
desafiar o ginásio, várias expressões diferentes podiam ser vistas. Algumas
confiantes, outras já pareciam ter desistido daquela tentativa. Apesar de não
possuírem a mesma intenção, Ruby parecia tranquilo com o andamento da prova,
enquanto Miriam estava um pouco mais nervosa.
—
Aqueles que tiraram a nota acima de 7,0 estão aptos a enfrentar o ginásio de
Rustboro. Estes podem se dirigir à secretaria para retirar seus certificados,
que deverão ser mostrados no local e dia da batalha. Quanto aos
desclassificados, podem tentar novamente daqui a duas semanas. Até lá estudem
bastante. A biblioteca da cidade está à disposição de vocês, e lá encontrarão
material de estudo suficiente para se prepararem para o próximo exame.
Agradecemos a participação de todos, e agora entregaremos seus resultados.
O
homem passava de mesa em mesa entregando os resultados aos candidatos, que um a
um iam exibindo sorrisos ou olhares de reprovação. Assim que recebeu seu exame,
Sapphire não deixou de esconder um sorriso vitorioso, e matou a curiosidade de
seus amigos exibindo um belo 9,0. Miriam então foi encoberta pela sombra do
instrutor e gelou na mesma hora, porém foi surpreendida ao ver um 7,0 marcado
em seu resultado.
— Eu
passei? — indagou, enquanto coçava os olhos a fim de certificar-se de que não
estava sendo enganada por eles. — EU PASSEI, NÃO ACREDITO!
—
Acalme-se, Miriam... — ia dizendo Sapphire, antes de ser interrompida pela
garota.
— Dra.
Miriam pra você! Eu sou uma pessoa altamente instruída. Meu nível acadêmico é
reconhecido!
Faltava
apenas Ruby. O garoto sorria orgulhoso, dando sinais de que confiava plenamente
em suas capacidades. Desde pequeno devorava os incontáveis livros que seu pai
possuía em casa. Conhecia os mais avançados termos técnicos e sabia tudo sobre
treinamento e criação Pokémon. Ou melhor, quase tudo.
Ao se
deparar com sua nota sua expressão vitoriosa desabou em uma fração de segundos.
—
CINCO? — berrou o garoto, chamando a atenção dos presentes na sala. Ele logo se
levantou e dirigiu sua palavra ao instrutor. — Com licença, eu acho que houve
um erro no meu resultado!
O
instrutor pegou o exame das mãos de Ruby e começou a revisar a correção
realizada pela Academia. Após alguns instantes o rapaz devolveu o exame ao
garoto.
—
Sinto muito, mas a correção está correta. Este foi o seu resultado final. Se
quiser tentar novamente, sugiro que estude mais um pouco.
"Estude
mais um pouco". As últimas palavras do instrutor ecoavam na mente de Ruby.
Aquele havia sido o golpe de misericórdia no orgulho do garoto, de forma que
ele precisou ser carregado para fora da sala por Miriam e Sapphire. Pouco tempo
depois eles estavam sentados em um banco em uma das praças da cidade. Ruby
ficava encarando a pequena fonte central jorrar água para cima de dentro de uma
estátua de dois Barboachs entrelaçados. A expressão desiludida do garoto era
visível, uma vez que não estava acostumado a fracassos, especialmente quando se
tratava de seu nível de conhecimento sobre determinado assunto.
— Ei,
relaxa — disse Sapphire enquanto tocava o ombro de seu amigo, em uma tentativa
de confortá-lo. — Nós sabemos que você é inteligente, e conhece bastante sobre
Pokémons.
—
Então pode me explicar por que eu fui reprovado? — normalmente a fala seria
pronunciada de forma mais ríspida, mas o desânimo de Ruby era tamanho que ele
sequer conseguia alterar o tom de sua voz para um que não fosse o de total
desinteresse naquela conversa.
— É
porque você passou muito tempo lendo e pouco praticando — interveio Miriam,
atraindo a atenção do garoto. — Você precisa conviver mais com seus Pokémons,
batalhar lado a lado com eles, interagir com eles. Falando sério, eu nem sei
quais são os Pokémons que você tem, mesmo tendo te conhecido já há alguns dias.
Ruby
sabia que Miriam tinha razão. Era um detalhe tão básico, tão óbvio, que ele não
conseguia nem mesmo se perdoar por tê-lo deixado passar despercebido daquela
maneira. Inclusive porque seu pai repetia essas mesmas palavras até a exaustão
quando ia ensiná-lo algo novo. Mas só de pensar naquele Treecko mal-humorado
Ruby já começava a entender que ele deixou esse detalhe escapar de propósito.
— No
meu caso isso é um pouco mais complicado do que parece — resmungou o garoto.
— Não
entendi — Miriam fez uma expressão confusa.
—
Miriam, eu acho que sei o que está acontecendo — Sapphire interveio. — Ruby, se
o problema está na personalidade do seu Treecko, então você precisa se adaptar
a ele. Tente dar a ele um pouco mais de liberdade, como eu fiz com o Torchic.
Talvez isso ajude.
— Não
sei, às vezes eu tenho a sensação de que ele vai sair da Pokéball à noite e me
matar. Ele realmente não gosta de mim.
—
Queria que ele já viesse te amando? — perguntou Miriam. — Nem com outras
pessoas as coisas funcionam desse jeito. Você precisa conquistar a confiança
dele. Mostre que você o escuta, e com o tempo as razões do comportamento do seu
Treecko vão aparecer.
— Como
posso fazer isso?
— Eu
vou te ajudar batalhando com você, pois assim eu posso analisar o Treecko. Mas
não agora. Daqui até o dia da batalha contra a Roxanne eu estarei ajudando a
Sapphire a se preparar. Mas logo que ela terminar a batalha nós vamos dar um
jeito na sua relação com o seu Pokémon.
Ruby
abriu um sorriso tímido. Ele não sabia como seria esse teste, tampouco como o
seu Treecko reagiria a isso. Mas Miriam era mais experiente que ele, e de certa
forma passava mais segurança ao dizer que ia ajudá-lo.
— Tudo
bem então, temos um acordo.
Os
três chegaram ao Centro Pokémon ao final do dia para poder descansar. Assim que
alcançaram a recepção, Sapphire foi notificada de que sua batalha contra
Roxanne havia sido marcada para acontecer em quatro dias. Seria um período importante
para se preparar para o desafio, então ela tratou logo de subir para o quarto e
recuperar as energias. Ruby chegou a sugerir que fossem a um dos cafés da
cidade para relaxarem, mas a garota parecia levar a sério o que estava por vir.
E deveria.
— Não
vale a pena focar somente nos ginásios, você tem que sair e relaxar um pouco —
disse Ruby, mostrando certa preocupação.
—
Preciso me concentrar agora, senão eu não vou conseguir treinar bem —
Sapphire respondeu enquanto se sentava na cama do quarto reservado e tirava a
bolsa onde carregava seus itens. — Prometo que quando eu resolver o meu desafio
no ginásio nós vamos sair para nos divertir um pouco.
Quem
permanecia mais quieta naquele momento era Miriam, o que era algo raro. Ela
estava sentada em uma cadeira, lendo alguns papéis usando a luz de um abajur, e
parecia estar bastante concentrada.
— E
você, o que está fazendo? — Sapphire ficou curiosa. — Não é normal você estar
tão quieta assim.
— Eu
estava vendo os locais da Batalha da Fronteira. São sete edifícios ao todo. Um
deles é perto daqui...
Miriam apoiou as mãos na escrivaninha para se levantar mais rápido.
Então ela se virou para Sapphire.
—
Parece que os próximos dias de treinamento não serão só pra você — Miriam agora
tinha um sorriso que demonstrava excitação, mas também um pouco de nervosismo.
— E eu não vou poder pegar leve.
— E
quem disse que eu queria que você pegasse leve? — Sapphire se animou com a
situação, pois se Miriam ia batalhar sério então era sinal de que o treinamento
seria produtivo.
Ruby
mantinha um sorriso disfarçado ao ver as duas companheiras entusiasmadas, mas
logo voltou à sua expressão de preocupação. Se perguntava se algum dia ele
conseguiria carregar a mesma determinação e confiança de suas amigas, e sentia
que se não fizesse alguma coisa ele rapidamente ficaria para trás. Não queria
ser apenas um coordenador normal. Queria se tornar o protagonista de sua
própria história. E sabia que para alcançar isso precisaria trabalhar muito
duro.
O
tempo passava, e os primeiros desafios do trio de viajantes se aproximavam. Era
hora de cada um esquecer um pouco o ar deslumbrante do início da jornada, e
passar a focar em seus objetivos. Dali em diante eles estariam de frente para
os obstáculos que determinariam se eles são capazes de continuar.