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- Capítulo 32
O Patinho Feio do Day-Care
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Art by: Urswurs |
O grupo
continuava sua travessia pela Rota 117 em direção a Verdanturf. Já estavam
praticamente na metade do caminho, em um dia onde Ruby havia feito bons
progressos com sua equipe para o contest que se aproximava, especialmente com
Clamperl, membro mais recente do time. O garoto estava confiante de que com as
técnicas do Pokémon molusco ele poderia criar combinações interessantes para
atrair a atenção dos jurados e conquistar sua segunda fita. Zinnia o
aconselhava sobre como interagir com seus companheiros de equipe, e Sapphire
era quem mais estava fazendo as coisas por conta própria, enfrentando alguns
treinadores e Pokémons selvagens para se manter afiada para quando chegassem a
Lavaridge.
— Você
precisa dar tempo ao tempo — a mais velha orientava o coordenador, que ainda
tinha certo receio com um de seus parceiros de equipe. — Tentar forçar uma
aproximação com o Treecko agora não vai ser positivo. O que você tem que fazer
é focar em treinar os seus outros Pokémons e ir interagindo aos poucos com ele.
— Mas eu
deixo o Treecko bem à vontade, e não fizemos quase nenhum progresso.
— Você o
rejeita, é bem diferente. Você tem medo de lidar com o temperamento ranzinza do
Treecko, e por isso o mantém afastado. Dê atenção a ele, sem forçar amizade.
Pergunte coisas simples, como se ele está bem, se precisa de alguma coisa, se
quer mais comida e se quer treinar com você e os outros. São pequenos gestos
que vão demonstrando de pouco em pouco que você quer que ele seja parte do
grupo. Com o tempo ele vai acabar cedendo. E é aí que você pode começar a
tentar criar mais intimidade.
— Eu e
Dante demoramos muito pra nos entender — Sapphire entrou na conversa. — Foi
depois que eu compreendi que estava tentando fazer tudo do meu jeito que nós
começamos a melhorar a relação entre nós dois. Seria bom você tentar entender
como seu Treecko se sente, e como ele quer fazer as coisas.
— Bom,
tudo que eu sei é que ele não gosta muito das apresentações artísticas. Ele
prefere batalhas mesmo. Tanto é que em Slateport ele foi muito bem, e parecia
bem à vontade no palco.
— Então
por que não coloca ele pra batalhar mais? Eu preciso praticar mais pra poder
enfrentar o Ginásio de Lavaridge. Vocês dois podiam ser nossos parceiros de
treino.
— É uma
boa ideia que a Sapphire deu agora — concordou a draconid. — Batalhar é uma boa
maneira de criar um vínculo com seus companheiros.
— Você é
bem mais experiente do que eu, a gente vai acabar sendo esmagado!
— Não
exagera Ruby. É só um treino — disse Zinnia. — E se for o caso eu te dou umas
orientações pra você poder se sair bem. Vamos procurar um lugar pra poder começar
o treino.
Achar o
melhor lugar era difícil. A Rota 117 era uma das estradas intermunicipais mais
bonitas de Hoenn. A estrada de terra era margeada por fileiras de árvores altas
e em alguns pontos o gramado era mais alto. Dois pequenos lagos, um de cada
lado da rota, fazia com que o caminho parecesse uma ponte construída pela
própria natureza, deixando o local mais fresco. Por isso não era incomum ver
algumas pessoas usando o local para correr e caminhar, servindo até como área
de treino para atletas.
Sapphire
encontrou uma clareira povoada por duas árvores frutíferas, mas para a decepção
do grupo o local já estava ocupado por duas meninas que também já faziam sua
pausa pro almoço. O que elas faziam ali trajando uniformes de escola era um
mistério que ficaria na cabeça dos três. Já o trecho final da rota indicava aos
viajantes que a cidade de Verdanturf se aproximava devido aos canteiros de
flores construídos perto da entrada da cidade.
Tão logo
o trio encontrou o local, Sapphire e Ruby começaram os preparativos para o
treinamento após uma breve pausa para respirar melhor. Zinnia já se colocava
entre os dois, projetando um campo de batalha improvisado e em seguida se
colocando do lado de fora na reta da linha que dividia a arena em duas.
— Bom,
vai ser aquele treino simples. Um contra um, as regras vocês já sabem — Zinnia
alongava os braços, se preparando para arbitrar a batalha.
Sapphire
lançou Dante ao campo de batalha. O Combusken saiu de sua Pokéball já alerta
para iniciar a sessão de treinos. Ruby, ainda hesitante, sacou a Pokéball onde
seu Treecko estava e o liberou do outro lado da arena improvisada.
O
pequeno lagarto olhou a sua volta, percebendo o cenário se desenhando para uma
batalha. Ele logo se animou para poder mostrar seu verdadeiro potencial mal
aproveitado, mas ficou estático ao ver a forma evoluída de um Pokémon do tipo
fogo bem na sua frente. Ele então olhou para trás e encarou Ruby, que ficou
incomodado.
— Você é
idiota por acaso? Tá querendo me matar, seu pivete de merda?
Ruby
percebeu que Treecko soltava alguns grunhidos baixos e indecifráveis, mas algo
dizia ao garoto que seu parceiro não estava satisfeito. Zinnia foi quem o
despertou de seus pensamentos.
— Não é
hora de ter dúvidas! Seu foco tem que ser em vencer a batalha!
— O que
foi Jeff? Não me diga que está nervoso por ter que me enfrentar! Pode ficar
tranquilo, é só um treino. Prometo que vou tentar não te machucar muito — Dan
parecia se divertir com o desconforto do lagarto.
— Cala a
sua boca! — o Treecko rebateu apontando pro seu desafeto. — Você pode ter
crescido um pouco, mas continua sendo um frango metido a besta!
Os dois
se encaravam de forma que conseguiam entender que estavam na mesma frequência.
Tanto Dan quanto Jeff estavam ansiosos por aquela sessão de treino onde um
poderia ir com tudo pra cima do outro. Apesar das provocações, cada um dos dois
nutria certo respeito pelo outro como os dois membros mais antigos daquele
grupo.
Já no
lado dos treinadores, Zinnia e Sapphire tentavam encorajar Ruby a batalhar sem
se colocar muito sob pressão. O garoto ainda tinha um pouco de medo de se
envolver naqueles combates, mas nas poucas vezes em que foi exigido ele havia
se saído bem. Para as meninas, ele devia investir em melhorar nesse ponto, até
porque outros contests focados em batalhas poderiam acontecer no futuro, ou até
mesmo havia o risco de aparecer novas situações que o obrigasse a se defender
como em Slateport.
— Não se
pressione muito, é só um treino — disse Zinnia. — A hora de errar e aprender é
agora.
— Tenta
ficar mais leve e sentir a maneira como a batalha flui. Você vai conseguir
enxergar melhor o que tá acontecendo e vai poder deduzir os próximos passos —
Sapphire completou. — Vamos, você começa. Já dê uma ordem pro Treecko pensando
nas possibilidades de contra-ataque que eu tenho, e em como você pode anular
cada uma.
— Isso é
impossível! A menos que eu leia a sua mente eu não tenho como saber o que você
vai estar pensando.
— Você
não precisa ler a mente de ninguém, Ruby — disse a draconid. — Ela está falando
sobre conhecer os pontos fortes do seu oponente. É como um jogo de xadrez.
Observe ela e o Dante em ação, veja de quais atributos eles podem tentar tirar
mais vantagem.
— Vai
logo, começa!
Ruby não
conseguia ficar calmo, mas sabia que não tinha saída. Ele parecia ser o único a
não se sentir confortável naquela situação. Até mesmo o Treecko estava gostando
da ideia de batalhar, então ele se sentia responsável por fazer aquele
sacrifício para tentar melhorar sua relação com o companheiro de equipe. Então
ele respirou fundo e decidiu enfim tomar a iniciativa.
— Vamos
Treecko, comece atacando com Pound!
—
Contra-ataque diretamente com Flame Charge!
Dante
pegou impulso do chão e disparou com o corpo envolto em chamas para atacar o
oponente de forma direta. Jeff, que já tinha se projetado na direção do
Combusken não podia mais desviar e foi atingido em cheio. Seu ataque, muito
mais fraco, foi anulado com facilidade pela diferença de força entre os dois.
— Desde
quando seu Combusken sabe essa técnica? Eu não vi vocês usando em momento
algum!
— Ele
aprendeu faz poucos dias, mas ainda estamos praticando pra ele pegar o jeito —
Sapphire sorria triunfante. — Vem pra cima, eu sei que vocês dois têm mais do
que apenas isso!
Ruby
observava seu Treecko se levantar com dificuldade. Já era incrível ver que seu
companheiro tomou todo aquele dano de um ataque contra o qual tem desvantagem e
ainda assim não foi derrotado de primeira.
O
lagarto aos poucos foi se recompondo, até que conseguiu se assegurar de que
conseguiria se manter de pé para batalhar por mais tempo.
—
Treecko, nós temos que reconhecer que estamos em desvantagem, em praticamente
todos os quesitos. O Dante é mais forte, mais rápido e tem a vantagem de tipo
nessa batalha.
Jeff olhou
para seu treinador com uma expressão contrariada. Não gostava de ser criticado,
mas logo que o garoto voltou a falar ele percebeu que não era bem aquilo que
ele imaginava que estava por vir.
— Você
estar nessa desvantagem é culpa minha, pois nunca treinamos pra isso. E da
mesma forma que você está em desvantagem contra o seu adversário eu estou em
desvantagem contra a Sapphire. Eu sempre tive meu pai como alguém a se espelhar
em quesito de batalhas, mas nunca parei pra realmente aprender algo sobre isso.
Sempre achei que teorias eram o suficiente, então li muito sobre estratégias e
métodos de treinamento achando que só isso bastava. Sapphire nunca estudou
nada, e apenas com a experiência prática ela já desenvolveu um autocontrole e
uma visão tática que eu nunca sonharia em ter fazendo as coisas do jeito que
faço.
O garoto
respirou fundo. Em seu subconsciente ele tentava ganhar tempo com aquelas
palavras enquanto tentava encontrar uma solução para aquele problema.
— Mas eu
não sou nenhuma dessas crianças que brincam de treinador no pátio da escola com
Rattatas e Pidgeys recém capturados. Eu tenho conhecimento, só preciso me
acostumar a colocá-los em prática. Não vamos deixar eles saírem cantando
vitória tão cedo. A gente tem muita coisa boa pra mostrar também!
Jeff
ainda não havia visto Ruby se portar daquela maneira. Mesmo conhecendo seus
limites e sabendo dos seus defeitos, o garoto também conseguia demonstrar
confiança naquilo que ele tinha como qualidade. Olhando de relance para seu
treinador, o lagarto fez um aceno discreto com a cabeça, mas que foi percebido
pelo menino. Era o sinal que Ruby precisava para saber que aquela batalha seria
diferente do que estava esperando.
— Parece
que vamos ver um bom trabalho em equipe entre vocês dois, finalmente — disse
Sapphire. A menina tinha um sorriso eufórico, sabendo que teria um bom desafio
pela frente. — Mas não espere que eu e o Dante vamos ficar comovidos com a nova
amizade entre vocês. Agora mesmo é que a gente sabe que não vai dar pra pegar
leve. Vocês vão ter que aguentar o tranco!
— Manda
tudo que vocês têm, caso contrário podem acabar tendo uma surpresa desagradável
— Ruby rebateu a provocação. — Treecko, inicie com o Quick Attack!
Jeff se
impulsionou do ponto onde estava para correr na direção de Dante, mas seu
movimento não era em linha reta, o que fazia com que o Combusken tivesse mais
dificuldade para tentar prever onde seria o ponto de onde sairia o ataque. A
movimentação irregular do lagarto, em movimentos em ziguezague, tinha como
objetivo confundir seu adversário.
Mas Dan
era bem mais experiente, e conseguia se manter calmo o bastante para agir
apenas ao detectar uma mudança no padrão de movimento do Treecko. Quando isso
ocorreu, através de um impulso extra quando ele já estava quase no alcance de
seu alvo. Com um comando de Sapphire, o Combusken se esquivou com um salto por
cima do oponente, deixando-o passar em linha reta e pousando em seu ponto cego.
— Agora,
Ember!
Sem ter
como reagir a tempo de se desviar Jeff foi atingido pela rajada de brasas,
recebendo um dano considerável.
—
Previsível demais — disse Dan com um sorriso debochado.
Jeff se
segurou para não cair na provocação do rival. Respirou fundo para amenizar o
dano das brasas, se virou para Dan e o olhou fixamente enquanto aguardava a
ordem de Ruby.
— Pound!
— Não
deixa ele tomar a iniciativa! Sand-Attack! — Sapphire gritou.
— Ele
vai tentar cegar você! — alertou Ruby. — Cancele o ataque e desvie!
A
tentativa de esquivar o ataque foi bem sucedida, mas a experiência de Sapphire
e Dante era bem maior, o que os possibilitou prever a troca dos adversários
para a defensiva. Sem que Jeff pudesse se recompor do pouso após saltar para
desviar da areia, o Combusken aumentou a pressão sobre ele e o levou ao chão
com um golpe forte.
Jeff
sentia o ar faltar já que Dan pisava forte em seu peito para mantê-lo
imobilizado. A batalha parecia estar resolvida.
Mas antes
que Dante pudesse finalizar seu oponente, o grupo foi interrompido por uma moça
que os abordou com uma expressão angustiada. Ela estava ofegante, sinal de que
havia chegado até eles depois de correr bastante. Entre uma arfada e outra, ela
balbuciava o que parecia ser um pedido de ajuda.
— Por
favor... Preciso que venham... Depressa! — disse, ainda tentando repor o
oxigênio enquanto se apoiava com as mãos nos joelhos.
Ruby e
Zinnia trocaram olhares confusos, mas diferente deles Sapphire tomou a frente
para acudir a mulher.
— O que
aconteceu? — indagou a menina numa tentativa de forçar urgência para que a
pessoa lhes explicasse o que estava acontecendo sem muitos rodeios.
— Um dos
Pokémons que eu cuido subiu em uma árvore e agora não consegue descer. Eu
também não consigo subir lá porque meus joelhos não são muito bons. Algum de
vocês conseguiria ir até lá buscá-la?
— Como é
o temperamento desse Pokémon? — Zinnia questionou. — Se ele for agressivo vai
ser mais complicado de estranhos como nós nos aproximarmos.
— Não se
preocupem com isso. Ela é amigável, apenas um pouco hiperativa. Não vai
machucar nenhum de vocês.
A mulher
guiou o trio até o local onde seria feito o resgate. Era uma árvore bem alta, e
em um dos galhos estava uma Skitty. De início todos estranharam que apenas a
moça estava preocupada, pois a criaturinha felina tinha uma expressão
descontraída em seu rosto, como se estivesse bem à vontade ali em cima.
— E aí?
Quem vai? — Zinnia perguntou, já dando um tom de que não seria ela.
— Não
olha pra mim, se vocês não vão subir aí eu muito menos — Ruby também recusou
prontamente.
— Isso
aí pra mim vai ser moleza — Sapphire tomou a frente com um ar triunfante. — Se
afastem!
A garota
dobrou os joelhos e apoiou os braços no chão, se posicionando como se fosse
competir em uma corrida de atletismo. Ruby, Zinnia e a moça mal tiveram tempo
de reagir quando a menina disparou na direção da árvore e com dois passos
largos pegou impulso de subida no tronco da árvore apenas com os pés. Em um
breve instante ela já estava lá em cima.
— Como
você fez isso? — Ruby perguntou surpreso.
—
Segredo — disse Sapphire com um tom debochado e já se virando para a Skitty. —
Ei, para de preocupar sua dona e vamos descer, tá bem?
A garota
agarrou a felina e desceu do galho, conseguindo amortecer a queda como se
tivesse pulado apenas um pequeno degrau. Entregou a criatura no colo da moça,
que a agradeceu aliviada.
—
Salvando uma Skitty de cima da árvore... Parece até aqueles bombeiros da
televisão — comentou Zinnia.
— Bem,
eu tenho lá meu talento pra essas coisas — Sapphire ria cruzando os braços
atrás da cabeça, demonstrando estar bastante relaxada.
— Eu nem
sei como agradecer vocês — disse a moça enquanto se aproximava com Skitty em
seu colo. — Falando nisso, deixa eu me apresentar. Meu nome é Lydia. Eu ajudo
meu irmão a administrar uma Creche Pokémon logo ali no começo da estrada pra
quem sai de Mauville. Se vocês estiverem vindo de lá devem ter notado um
pequeno rancho na beira da estrada.
— Ah,
então era isso aquele casarão de campo que eu vi — disse Ruby, parecendo
reconhecer o local.
— Creche
Pokémon? Como assim? O que é isso? — Sapphire não fazia a mínima ideia do que
Lydia estava falando, até que o próprio Ruby esclareceu a dúvida.
— Uma
Creche Pokémon é um local onde treinadores podem deixar seus Pokémons
temporariamente. São muito usadas quando não podemos levar algum Pokémon com a
gente para algum lugar específico ou quando queremos acasalar dois Pokémons
para poder ter um filhote. A diferença desses lugares para o sistema de
armazenamento é que no sistema eles continuam sendo mantidos nas Pokéballs,
sendo trazidos para fora apenas para se alimentarem, enquanto nas creches eles
possuem uma rotina de treinos básicos para que os Pokémons se mantenham em
atividade durante o período em que os treinadores estão ausentes. Claro que o
desenvolvimento é um pouco mais lento do que se estivessem treinando
diretamente com seus treinadores, mas dependendo da situação pode compensar
bastante.
—
Exatamente, garotinho! — disse Lydia dando um estalo com os dedos. — Você
conhece bastante sobre as creches!
— Quando
eu morava em Johto uma vez a minha turma de escola fez uma excursão onde
conhecemos uma creche perto de Goldenrod. É uma das mais famosas de lá.
— Ah,
claro! Eu sei qual é. A creche que tem em Goldenrod é uma das mais conhecidas
no ramo, e ela tem um padrão de qualidade que é referência. Mas eu garanto que
a nossa é tão boa quanto! Se não estiverem fazendo nada podem vir conhecer as
nossas instalações. E acabei de ter uma ideia! Como agradecimento por terem me
ajudado a recuperar a Skitty, considerem-se convidados para almoçar com a
gente!
Tendo
passado a manhã inteira sem comer desde o café da manhã, era difícil para o
grupo recusar um convite como aquele. Não só teriam uma refeição de graça como
também conseguiriam guardar alguns mantimentos por mais tempo, o que ajudaria
nas economias.
Lydia os
guiou até as instalações da creche. Como Ruby havia notado, era um rancho com
território vasto, com os campos e pastos sumindo no horizonte — Lydia dizia que
o território ia até o pé da montanha. Ao entrarem na casa eles logo foram
recebidos por um rapaz que se parecia muito com a moça. Os mesmos cabelos
azulados e os traços os fizeram logo perceber que ambos eram gêmeos.
— Este é
meu irmão Isaac. Eu faço os trabalhos mais voltados para cuidar dos Pokémons.
Ele sempre foi o mais inteligente lá em casa, então é quem cuida da parte
administrativa.
— Apesar
de que hoje estou trabalhando na criação também, porque é domingo e os outros
funcionários estão de folga — disse o rapaz, em seguida dando um aceno para os
convidados. — Prazer.
A mesa
era simples, mas tinha comida o bastante para os cinco se servirem à vontade.
Os Pokémons também comiam uma ração especial feita pela creche, e pareciam
estar gostando muito. Entre os treinadores e os gêmeos, a refeição era
acompanhada de uma conversa mais descontraída.
— Três
insígnias é realmente impressionante — disse Isaac enquanto via Sapphire exibir
suas conquistas. — Quando eu tentei sair em jornada só consegui uma. Eu nunca
tive muito jeito pra treinar meus Pokémons, sendo bem sincero.
— E você
conseguia batalhar muito bem — disse Lydia. — Treinar um time deve ser
realmente difícil.
Sapphire
ficava um pouco sem graça ouvindo aquilo. Para ela chegar àquele nível foi algo
tão natural, e ela sentia que havia tanto caminho a percorrer, que nem ao menos
tinha noção do quanto já tinha progredido. Ser um treinador de alto nível não
era mesmo algo que qualquer pessoa poderia alcançar. Isso a fazia se perguntar
em seu interior até onde conseguiria ir, ou se pelo menos chegaria a disputar a
Liga.
Zinnia
por outro lado sorria de forma discreta ao ver a reação de Sapphire. A draconid
parecia saber as dúvidas que rondavam a cabeça da menina naquele momento, e
sabia que grande parte da evolução dela se dava pelo fato de que ela aprendeu a
reconhecer seus próprios limites.
Isaac
permaneceu reflexivo por um breve momento, até que um estalo se fez em sua
mente. Quando foi desperto de seus próprios pensamentos, o rapaz se virou para
a irmã.
— Ei
Lydia, uma treinadora como a Sapphire que já tem três insígnias pode ser capaz
de dar um jeito nele.
— Nele... — a moça tentava se lembrar de
quem o irmão estava falando, mas não demorou muito para conseguir. — Ah! Você
quer dizer o...
— Isso
mesmo! Acho que a experiência dela vai ser o suficiente pra resolver esse
problema.
—
Desculpa interromper vocês dois, mas quem é ele?
— Sapphire se via confusa.
Os
gêmeos se viraram para ela sorrindo com confiança, o que assustou ainda mais a
garota. Parecia que outra tarefa cairia no colo dela, e pela forma como eles
falavam seria algo mais complicado dessa vez.
— Bom,
aqui e em outras creches acontece algumas vezes de treinadores deixarem os
Pokémons deles aqui e não voltarem para buscar — explicou Isaac. — Muitas vezes
o treinador não quer mais manter o Pokémon, mas tem medo de largá-lo na
natureza por achar que eles não estando mais habituados à vida selvagem não vão
conseguir se virar sozinhos.
— Alguns
pensam que isso não é ilegal, mas ainda é considerado abandono. E prejudica
nossos serviços, já que teremos que prover uma maior quantidade de suprimentos
pra manter aquele Pokémon vivo, abrigado e saudável do que o que foi planejado
previamente — Lydia complementou, sem esconder um tom de frustração na voz.
— Na
maioria das vezes conseguimos reencaminhar esses Pokémons para outros
treinadores que passam por aqui, mas agora estamos com um carinha mais
complicado — Isaac então notou um tom de relutância nos visitantes. — Não se
preocupem, quando digo que ele é complicado não significa que é bravo ou algo
do tipo. Ele apenas... Está em uma “frequência diferente”...
— A
maioria dos treinadores que tentou adotá-lo desistiu logo de cara. Mas você
parece ser muito habilidosa, Sapphire. Por que não faz uma tentativa com ele?
Sapphire
a princípio ficou em dúvida. Não tinha como saber se conseguiria se dar bem com
um Pokémon que não conhecia. Era bem diferente de quando fazia contato com um
Pokémon selvagem, onde logo de cara ela conseguia definir o perfil dele e
decidir se queria capturá-lo ou não. Agora o que estaria a aguardando era uma
completa incógnita.
A menina
voltou seu olhar para Ruby, procurando algum tipo de resposta, mas viu que o
amigo estava tão confuso quanto ela. Virou para o outro lado onde estava
Zinnia, esta parecendo mais tranquila.
— Todo
Pokémon tem seu valor — disse a mais velha, escorada na cadeira. — Tentar não
dói. De repente a gente descobre o que há com ele.
Após
terminar o almoço todos se dirigiram até a área externa onde os Pokémons
deixados sob os cuidados da creche ficavam. Mesmo para os menos detalhistas era
possível perceber que a estrutura do local era boa, com bastante espaço para
que as criaturas ficassem à vontade mesmo quando estivesse cheio, os
recipientes de comida e água eram bem limpos, e o território era dividido para
que eles pudessem ter o maior número possível de áreas simulando diferentes
habitats, permitindo que a creche pudesse receber vários tipos de clientes.
O grupo
foi guiado até uma área cortada por um córrego raso. Era possível ver alguns
Pokémons comuns de se ver naquele tipo de habitat, como Lotads e Surskits, mas
quem chamava mais atenção era um pequeno pato de penugem amarelada sentado em
cima de uma pedra. Ele tinha um olhar fixado para uma direção específica, mas
quem quer que tentasse olhar para o mesmo local acabaria não vendo nada.
— Esse
aí é o famoso — disse Lydia.
— Um
Psyduck? Não sabia que tinha essa espécie aqui em Hoenn — Ruby questionou.
— Na
verdade eles não são nativos daqui mesmo, mas há uns anos abriram um Safari
perto de Lilycove, e aproveitaram para colocar lá algumas espécies de outras
regiões como um atrativo pra atrair treinadores pra lá — Isaac explicava. —
Psyduck é uma dessas espécies, mas esse aí provavelmente já é nascido aqui em
Hoenn, então dá pra considerá-lo como um conterrâneo nosso.
— Ele
parece meio... Lerdo — Sapphire não sabia exatamente o que fazer com aquele
Pokémon.
— Bom,
você não gostaria de tentar treiná-lo? Talvez ele tenha um potencial que a
gente não é capaz de enxergar. Pode ser que conviver com um treinador que sabe
como desenvolver as habilidades dele seja positivo.
— Bom,
pelo que a gente ficou sabendo o ginásio de Lavaridge é especializado em
Pokémons de fogo — disse Ruby. — Pode ser uma boa ideia você ficar com o
Psyduck.
— É
verdade, mas será que vai dar tempo de treinar ele até lá? — Sapphire ainda se
questionava. — Eu sei que ainda temos muito tempo até chegar lá, que tem a
passagem por Verdanturf e tudo mais, mas o problema é que ele parece ter um
ritmo mais lento.
— Se não
der pra prepará-lo pro ginásio de Lavaridge, paciência — disse Zinnia. —
Continua o treinamento tendo o ginásio seguinte como foco.
— E
então? Topa? — Lydia já estava com a Pokéball pertencente ao Psyduck em suas
mãos, pronta para entregá-la a Sapphire.
Ainda
relutante, a treinadora concordou com a proposta. Um membro novo no time era
sempre bem-vindo, e se conseguisse treiná-lo bem poderia se beneficiar de uma
equipe mais forte e versátil. Mas acima de tudo sentia que não podia deixar
aquele Psyduck ali, onde continuaria sendo um Pokémon abandonado. Ao menos com a
garota ele poderia começar a sentir que alguém o desejava.
Ou era
essa a ideia que vagava na mente da menina. O pequeno Psyduck permanecia alheio
a tudo em seu entorno. Sapphire respirou fundo e o trouxe para dentro da
Pokéball. Ela sabia que teria muito trabalho pela frente.
FIM DO CAPÍTULO
Um capítulo tranquilo até, vemos o Ruby tentando se conectar com o Jeffinho, pois já era hora, né. Ele sabe sobre batalhas, ele quer conectar com o Pokémon dele, dá para sentir isso, mas também dá para ver que vai ser um longo caminho até lá, mas vai ser satisfatório e que venha o próximo concurso, pois sei que meu menino Ruby vai tirar de letra.
ReplyDeleteOlha só, a creche da Rota 117, o primeiro lugar onde breedei um ovo (foi por acidente, mas ocorreu). Uma paradinha leve e suave e nos aprofundamos mais ainda e somos apresentados à um psicopato, digo, Psyduck que ninguém quis cuidar, pobrezinho. Não tem problema, Psyduck, a Sapphire tem muito amor para te dar e você será o maior Psyduck que esse mundo já viu.
Finalmente o Rubinho tá tomando vergonha na cara e tentando conversar com o lagartixo. Cedo ou tarde essa birra mútua tem que acabar, né? Senão podem esquecer o Grande Festival, que esse daí não chega nem na terceira fita. Mas o Ruby já sabe a parte do problema que é culpa dele, então digamos que isso aí já é meio caminho andado pra resolver a situação.
DeleteEssa creche que eu também já usei muito na vida. E que agora vou começar a usar muito de novo, porque estou montando a living dex de Hoenn kkkkkk Mas sei lá, eu achei interessante fazer essa parada por aqui. É algo que comumente eu não faria, mas eu às vezes sinto falta desses capítulos mais tranquilinhos nas minhas histórias, nem que seja pra eles terem uma tarde inteira jogada fora fazendo altos nada. Mas longe de ser o caso aqui, pois a Sapphire conseguiu um novo membro pra equipe! Psicopato joins the gang! Agora é só a Sapphy aprender a andar no tempo dele, porque ela vai precisar de paciência kkkkkk
Até a próxima! õ/