Postado por : ShadZ Mar 17, 2023

 Para o outro lado do horizonte


Ethan estava em um restaurante na rua principal de Slateport, aproveitando o horário para almoçar. Havia chegado à cidade poucas horas antes, mas levou algum tempo para fazer o check-in no Centro Pokémon e organizar a sua estadia na cidade. Enquanto comia o rapaz assistia o noticiário em seu PokéNav, usando fones de ouvido para não incomodar as pessoas que estavam próximas.


Ele então se assustou quando o vídeo foi pausado sozinho e cerca de meio segundo depois o aparelho começou a vibrar indicando uma chamada telefônica, cujo nome que aparecia na tela, em letras garrafais, era “mozão”.


Visivelmente constrangido, o rapaz se debruçou em cima do PokéGear temendo que alguém visse a alcunha gravada na tela. Quando percebeu que era seguro, não tardou em atender a ligação.


— Oi, meu bem — atendeu forçando um tom de alegria, disfarçando o nervosismo. — Eu tava com saudade.


Se estivesse mesmo teria me ligado pelo menos uma vez nessas últimas três semanas — a voz soou descontente do outro lado da linha.


— Desculpa Amy, eu estive atolado de coisas pra fazer ultimamente.


Tipo entrar de peito aberto em um museu tomado por criminosos? Você não muda nunca.


— Mas eu ajudei a resolver o problema, é isso que importa. Não sou mais um treinador iniciante, e tenho experiência lidando com os Roc...


Vamos deixar essa conversa pra depois, Ethan. Sei que é inconveniente interromper sua jornada assim tão de repente, mas você é quem está mais próximo de onde estou agora. Preciso da sua ajuda.


Após uma breve conversa a ligação foi encerrada. Ethan guardou o PokéNav de volta na mochila, e em seguida juntou as mãos pensativo. Amy havia requisitado que o rapaz voasse com urgência de volta para Johto, levando consigo dois treinadores para ajudá-los a resolver um problema que estava ocorrendo em Alto Mare.


As regiões de Johto e Hoenn eram muito próximas. Crenças da mitologia antiga diziam, inclusive, que ambos os continentes um dia já foram um só, mas haviam sido separados pela fúria dos deuses que até os tempos atuais eram cultuados por muitos povos.


O rapaz não sabia como resolver aquele impasse. Onde ele arrumaria dois treinadores para ajudá-los a conter a possível ação de uma organização criminosa? Mesmo bons treinadores precisavam ter experiência lidando com esse tipo de coisa, e aqueles que ele sabia que preenchiam esses requisitos em Hoenn eram ocupados com funções importantes como liderar ginásios, guardar a Elite ou a Batalha da Fronteira.


Ethan sabia que não conseguiria se forçar a encontrar uma resposta naquele momento, então voltou sua atenção para o noticiário da manhã que era transmitido pelo seu PokéNav.


A cidade de Mauville passou a noite na escuridão devido a um ataque simultâneo das organizações Aqua e Magma na usina de Nova Mauville. Os danos, no entanto, foram minimizados graças à ação rápida e conjunta da Elite com líderes de ginásio e alguns treinadores. A chegada da Polícia Internacional deu um fim ao atentado, mas os criminosos conseguiram escapar.


— De novo esses caras... — Ethan observava com atenção a tela do aparelho. — Como eu suspeitei, os treinadores de primeiro escalão daqui estão sempre muito ocupados. Treinadores comuns não têm como enfrentar esse tipo de coisa.


Estamos nos aproximando dos treinadores que conseguiram parar o ataque — a repórter prosseguia com a matéria. — O Campeão Steven Stone, os líderes de ginásio Wattson e Roxanne, a chefe de operações da Polícia Internacional e Cérebro da Fronteira Anabel, além de quatro bravos treinadores civis que auxiliaram no contra-ataque.


Os olhos de Ethan se arregalaram ao ver dois rostos conhecidos na tela. O rapaz abriu um largo sorriso ao ver que sua busca havia terminado antes mesmo de começar.


Dois deles foram embora antes que pudéssemos filmá-los, mas os outros dois permanecem aqui e podemos aproveitar para entrevistá-los — a jornalista se aproximava de Ruby e Sapphire, mesmo com os dois mais novos em visível desconforto, até que Roxanne interviu.


Eles estão exaustos do ocorrido desta noite. São treinadores de muito valor e potencial que mesmo com nossas orientações para não se envolver nesse problema acabaram vindo por conta própria — explicava a líder de ginásio, claramente afastando qualquer pensamento do público de que a Liga Pokémon seria responsável por mandar dois adolescentes para enfrentar criminosos. — Pedimos para que seja respeitado o momento de descanso deles, e qualquer dúvida pode ser tirada comigo, Wattson, Steven ou Anabel.


Ethan riu ao ver aquela situação. A desobediência juvenil que tantas vezes o colocara em perigo, mas que também lhe trouxe glórias e o reconhecimento por ter ajudado a acabar com as operações da Team Rocket em Johto, agora era vista pelo rapaz em uma nova geração de treinadores.


— Amy, encontrei o que você queria — Ethan sussurrou, antes de fechar o modo de televisão do PokéNav para abrir o modo de telefone.


• • •


Cerca de dois dias se passaram após o ocorrido em Mauville. Ruby e Sapphire ainda tiravam um tempo de descanso na cidade para que pudessem recuperar as energias e aliviar a carga de estresse que tiveram no ocorrido.


A garota tomava banho, enquanto seu companheiro de viagem organizava e contava os suprimentos para se certificar de que não estava faltando nada.


— Poções, berries, Pokéballs, repelentes... — tudo que Ruby separava após a contagem era registrado em um bloco de notas, pois o garoto gostava de ter máximo controle sobre os recursos da equipe. — Hm... Não parece estar faltando muita coisa. Talvez elixir? Alguns antídotos também.


Seus pensamentos foram interrompidos com o barulho da porta do banheiro se abrindo. Sapphire voltava ao quarto já vestida, mas ainda esfregando a toalha na cabeça para tirar o excesso de água dos cabelos.


— Você vai acabar dando um troço se continuar se preocupando demais com essas coisas. Por que não relaxa um pouco? Temos tempo ainda antes de irmos para Verdanturf.


— Pra eu deixar o estoque de lado e no último dia de estadia a gente sair desesperado tendo que comprar tudo em uma única manhã? Não, obrigado. As duas últimas vezes foram mais que suficiente.


Sapphire se sentou na poltrona no canto do quarto e começou a mexer em seu PokéNav. Seus pés estavam pra cima do assento, fazendo com que a menina ficasse escondida atrás dos próprios joelhos.


— Também tem o fato de que aquela tal de Zinnia vai voltar no dia que formos embora pra seguir viagem com a gente. Ainda que eu ache inconveniente estarmos na presença de uma estranha de uma hora pra outra, não seria elegante deixá-la esperando.


Só então Ruby percebeu que o quarto ficou em silêncio. Sapphire não havia retrucado como de costume. Em vez disso seguia atenta ao PokéNav, com os dedos se movendo como quem digitava algo na tela.


— Pode tirar a cara desse aparelho quando eu estiver falando com você? Isso é falta de educação!


— Ok, “mãe” — Sapphire respondeu em tom de ironia. — Eu estava conversando com o Ethan. Ele disse que está vindo para Mauville e quer conversar pessoalmente com nós dois.


— Ótimo! Mais um esquisito. Com tanta gente louca se amontoando ao meu redor daqui a pouco eu abro um circo.


A dupla deixou o quarto e se dirigiu para o refeitório do Centro Pokémon, onde Ethan havia combinado de encontrar com eles. Estavam sentados aguardando, e após poucos minutos o rapaz apareceu, já os cumprimentando e se sentando junto.


— Que bom ver vocês de novo — disse o veterano. — E aí, Sapphire? Já derrotou o velho Wattson?


— Já sim! Em breve estarei indo para Lavaridge para conquistar minha quarta insígnia.


— Eu queria te dar umas dicas sobre esse ginásio, mas o antigo líder se aposentou. Parece que quem assumiu foi a neta dele, mas não dá pra ter certeza de que o estilo de batalha vai ser o mesmo.


— Não precisa se preocupar. Estamos bem mais preparados desde a última vez que nos vimos. Apesar de não fazer tanto tempo assim muita coisa aconteceu, e consegui entender um pouco mais o que eu precisava corrigir.


Ethan sorriu para a menina. Sapphire havia amadurecido, e mesmo tendo visto a menina poucas semanas antes, o rapaz já percebeu uma mudança até mesmo na forma de falar.


— Pois é sobre isso que vim conversar com vocês.


Sapphire e Ruby ficaram confusos com o que Ethan havia dito. Os dois trocaram olhares curiosos e resolveram voltar a atenção ao mais velho. Não questionariam nada naquele momento, apenas deixariam o rapaz falar para depois fazer perguntas.


— Eu vi no noticiário que vocês estiveram envolvidos no incidente de Nova Mauville.


— Espera! A gente apareceu na televisão? — Ruby se desesperou. — Se meus pais tiverem visto que estive envolvido naquele caos eles vão ter um surto!


— Os meus também — Sapphire coçou a cabeça demonstrando estar sem graça.


— Isso é normal, vocês ainda são novos. Já perdi a conta de quantas vezes deixei minha mãe preocupada com as minhas loucuras — Ethan ria de forma mais descontraída. — Às vezes eu achava que se sobrevivesse à Team Rocket, ela é quem ia acabar me matando.


— E como você contornou isso? Como você conseguiu não deixá-la tão preocupada? — indagou Ruby.


— Ficando mais forte.


A resposta de Ethan foi tão objetiva que não restava dúvidas de que ele tinha plena convicção no que estava falando. O coordenador sequer conseguiu fazer qualquer contestação naquele momento.


— Bem, mas o que isso tem a ver com o que você quer conversar com a gente?


— Vocês lidaram com duas organizações criminosas ao mesmo tempo, auxiliando em uma tarefa que apenas treinadores poderosos como líderes de ginásio e o Campeão poderiam executar. E se saíram muito bem. Roxanne elogiou vocês, e ela não é de fazer isso. Ainda mais quando descumprem uma ordem dela.


— Pelo visto ela contou tudo na entrevista, né? — Sapphire cochichou para Ruby.


— Dito isso eu vou ser bem direto. Estamos com um problema em Johto, mais precisamente na cidade de Alto Mare, que não é distante daqui de Hoenn. Tanto que dá pra cruzar o mar em um helicóptero e chegar bem rápido. De Dewford é possível ver a faixa de terra pertencente ao lugar. Me foi incumbida a tarefa de levar como reforço para nossa equipe treinadores qualificados que eu tivesse conhecido em Hoenn.


— E você realmente acredita que somos esses treinadores qualificados? Você conhece líderes de ginásio e cérebros da fronteira — retrucou Sapphire.


— Eles estão sempre ocupados com afazeres importantes. Mas deixa eu dizer uma coisa. Eu acredito que vocês são capazes de nos ajudar.


Tanto Sapphire quanto Ruby ficaram relutantes com o convite. Sair para outra região, ainda que em um local próximo de onde estavam, poderia atrasar muito o planejamento de viagem deles, que já tinha sacrificado alguns dias dada a necessidade de descansarem por mais tempo em Mauville após os acontecimentos recentes.


Ethan percebeu a hesitação por parte da dupla, mas estava determinado a convencê-los a ir junto.


— A Amy disse que enviaria um avião pra nos buscar aqui, e depois nos trazer de volta.


— Lá vem você esfregar de novo na cara que a sua namorada é rica e famosa — resmungou Sapphire.


— Famosa? — Ruby indagou intrigado.


— Vamos, não vai ser demorado — disse o rapaz. — Sapphire, olha há quanto tempo a gente se conhece! Alguma vez eu já te arrastei pra algum problema?


— Museu de Slateport te traz lembranças? — Sapphire rebateu com tom de ironia.


— Você tem alguma moral pra falar isso? Você estava adorando — Ruby atravessou a conversa.


— Cala a boca, Ruby. Certo, Ethan. Se vamos para Johto precisamos saber o que está acontecendo.


— A Amy não me deu muitos detalhes, mas deve ser algo bem simples. Alto Mare é uma cidadezinha bem pacata, apesar de ser um ponto turístico. Não costuma acontecer muita coisa por lá.


Deixando o mais velho na mesa, Ruby e Sapphire foram para um canto mais afastado do refeitório para conversar sobre o convite. Os dois ainda pareciam desconfiados, mas logo que voltaram à mesa Ethan ficou satisfeito por ouvir uma resposta positiva.


— Tudo bem, nós vamos — disse Sapphire. — Mas você tem que nos prometer que não vamos demorar. Eu e Ruby temos que seguir viagem, pois ainda temos insígnias e fitas para coletar. Tanto a Liga Pokémon quanto o Grande Festival têm prazo para inscrição de desafiantes.


— E também não vamos nos envolver em nenhuma loucura que coloque nossas vidas em risco.


— Ótimo! Eu vou falar com a Amy então. Amanhã de manhã estaremos partindo. Vou pedir pra ela encaminhar o avião para o aeroporto daqui de Mauville, assim não vamos precisar nos deslocar muito.


• • •


Amy estava reunida com Richard e Ellie em uma suíte reservada no hotel da cidade, onde discutiam os primeiros passos a serem tomados na tentativa de rastrear as atividades de quem estivesse atrás do Duo da Eternidade.


A guardiã de Oblivia tinha olheiras profundas, indicando que havia dormido muito pouco na noite anterior. Amy providenciou café para o casal através do serviço de quarto, aguardou os dois recuperarem um pouco da energia e por fim deu início às discussões.


— Muito bem, ainda que eu não tenha tido o retorno de Ethan, nós precisamos ser rápidos e traçar logo o plano de ação para interceptar a tentativa de posse dos guardiões de Alto Mare. Ellie, você ontem me disse que já tinha uma suspeita. Poderia contar um pouco mais sobre?


— Muito tempo atrás, durante a minha adolescência, um grupo de criminosos atuava onde vivíamos. Eram aqueles que chamamos de Pinchers. Eram mercenários que capturavam Pokémons raros para contrabando, se aproveitando da rica fauna da região de Oblivia para manter os negócios funcionando. Mas depois descobrimos que eles eram comandados por um grupo muito mais poderoso, chamado Societea. Eu acredito que há uma chance de que sejam os remanescentes os responsáveis pela ameaça a Latios e Latias.


Amy mantinha a concentração, atenta a cada detalhe contado por Ellie. Richard, por sua vez, demonstrava certo desconforto ao ouvir as suspeitas de sua esposa.


— Isso não está encaixando — disse o homem. — A Societea deixou de existir. Os membros dela desapareceram, e mesmo que de alguma forma tenham sobrevivido a idade deles já era avançada na época. Não faz o menor sentido.


— Richard, você está se esquecendo de que existia todo um sistema para manter a Societea de pé.


— Remanescentes dos Pinchers? Mesmo que existam eles não conseguiriam reconstruir a Societea. Precisariam de recursos que apenas os quatro membros originais tinham.


— Recursos financeiros e tecnológicos? — Amy questionou. — Existem diversas organizações que teriam interesse em investir nos planos deles, dependendo de quais fossem. Ainda que seja difícil que eles estejam reativados, é sempre bom não sair descartando possibilidades logo de cara. Precisamos coletar mais informações.


No momento em que terminou de falar Amy percebeu que seu PokéGear vibrava com uma chamada. Ela pediu licença aos seus visitantes para atender a chamada. Pouco mais de três minutos se passaram desde que havia atendido, e então a Campeã volta com a notícia que recebera.


— Ethan fez contato. Ele está pronto para vir pra cá e vai trazer dois treinadores como reforço. Vou dar início aos preparativos. Estou encaminhando um avião para buscá-lo em Hoenn agora. Ele deve chegar amanhã de manhã.


FIM DO CAPÍTULO


  



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  1. É engraçado demais ver o personagem Ethan e a opinião deles sobre esses novos jovens da confusão.

    Ele também já foi assim quando mais novo e agora dá para sentir um certo peso de responsabilidade no personagem, mas ainda mantendo a sua essencia.

    Não consigo explicar sem deixar o comentário gigantesco, então irei mante-lo curto, mas acho que você entendeu o que eu quis dizer. Estou gostando de como trabalha com o personagem.

    E a relação dele com a Amy, cheff kiss, não poderia imaginar diferente.

    A história vai se se desenrolando e ficando interessante, gosto de capítulos assim também que vão direto ao ponto, sem muita baderna me fazendo partir ansioso para o próximo e graças a Deus tem ainda vários para ler.

    Um Abraço e até a próxima!

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    1. O Ethan tem uma dualidade nesse papel que ele faz agora. Ele é mais velho e mais experiente, então o esperado é que ele preze pela segurança dos mais novos. Mas ao mesmo tempo ele é um patetão que gosta de dar uma de herói e acha o máximo a ideia de ensinar as crianças a fazer o mesmo kkkkkkkkkkk Quando você ler a primeira temporada de AEH você vai ver que esse especial não é a primeira vez que ele leva Ruby e Sapphire pra uma zona de guerra :v

      Amy é a patroa, apenas! Ela manda, quem tem juízo obedece. Ponto final, e ai de quem fizer cara feia pra ela kkkkkkkkkkk

      Agora as introduções estão propriamente feitas, daqui pra frente as coisas vão começar a andar um pouco mais depressa.

      Valeu pela presença e pelo apoio, meu caro!

      Até a próxima! õ/

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